Ópio
O ópio é a única droga que foi motivo declarado para uma guerra. No
século 17, a British East India Company produzia ópio na Ídia e o
vendia em grande quantidade para a China. Até que, em 1800, o Imperador Ch'ung
Ch'en proibiu o consumo da droga, que se alastrava pelo território chinês
como uma verdadeira epidemia. Todavia o contrabando prosseguiu e, em 1831,
a venda de ópio em Cantão atingiu o equivalente a 11 milhões de dólares,
enquanto que o comércio oficial deste porto chinês não passou dos sete
milhões de dólares.
A insistência do governo chinês em reprimir o uso e a venda da droga levou o
país a um conflito com a Inglaterra, conhecido como a Guerra do Ópio. Ela
começou em março de 1839, durou quase três anos e terminou com a vitória dos
ingleses, que obrigaram a China a liberar a importação da droga e a pagar
indenização pelo ópio confiscado e destruído em todos esses anos, além de
ceder Hong Kong. Como resultado, em 1900, metade da população adulta
masculina da China era viciada em ópio.
Uma das substâncias mais viciantes que existe, o ópio é produzido a partir
da resina extraída das cápsulas de sementes de papoula, (Papaver
somniferum), planta originária da Ásia Menor e cultivada na Turquia,
Irã, Índia, China, Líbano, Grécia, Iugoslávia, Bulgária e sudoeste da Ásia,
onde se localiza o famoso Triângulo Dourado. A droga é feita retirando-se
um líquido leitoso das cápsulas da papoula, que, depois de secado, resulta
numa pasta amarronzada, que então é fervida para se transformar em ópio.
Processamentos posteriores do ópio resultam em morfina, codeína, heroína e
outros opiáceos.
No mercado ilegal, o ópio é vendido em barras ou reduzido a pó e embalado em
cápsulas ou comprimidos.
Ele não é fumado e sim inalado pelos usuários, já
que em contato direto com o fogo o ópio perde suas propriedades narcóticas.
A droga também é comida e consumida como chá ou, no caso de comprimidos,
dissolvida sob a língua. Uma dose moderada faz com que o usuário mergulhe
num relaxado e tranquilo mundo de sonhos fantásticos. O efeito dura de três
a quatro horas, período em que o usuário se sente liberado das ansiedades
cotidianas, ao mesmo tempo em que seu discernimento e sua coordenação
permanecem inalterados. Nas primeiras vezes, a droga provoca náuseas,
vômitos, ansiedade, vertigens e falta de ar, sintomas que desaparecem à
medida que o uso se torna regular. O consumidor freqüente torna-se passivo
e apático, seus membros parecem cada vez mais pesados e sua mente envolve-se
numa onda de letargia.
Como os seus derivados, o ópio provoca tolerância no organismo, que passa a
necessitar de doses cada vez maiores para se sentir normal. O aumento da
dosagem leva ao sono e à redução da respiração e da pressão sangüínea,
podendo evoluir, em caso de overdose, para náusea, vômito, contração
das pupilas e sonolência incontrolada, passando à coma e morte por falha
respiratória. A overdose pode ser causada não apenas por um aumento
da dosagem de ópio, mas também pela mistura da droga com álcool e barbitúricos.
Como o ópio causa grave dependência, o consumidor habitual pode morrer em
razão da síndrome de abstinência, caso o uso da substância seja suspenso
abruptamente.
Especialistas afirmam que a inalação casual da droga dificilmente causa
vício, embora seja desconhecido o ponto exato em que a pessoa se torna
dependente de ópio. Uma vez viciado, o indivíduo deixa de sentir o estupor
originalmente produzido pela droga, passando a consumir ópio apenas para
escapar dos terríveis sintomas da síndrome de abstinência, que duram de
um a dez dias e incluem arrepios, tremores, diarréias, crises de choro, náusea,
transpiração, vômito, cólicas abdominais e musculares, perda de apetite,
insônia e dores atrozes. Pesquisas recentes indicam que os opiáceos podem
causar mudanças bioquímicas permanentes a nível molecular, fazendo com que
o ex-viciado se mantenha predisposto a retornar ao vício mesmo após anos de
privação do uso de opiáceos.
O ópio possui diversos alcalóides, entre eles a morfina, principal responsável
pelo efeito narcótico. Outros alcalóides fazem do ópio um agente anestésico,
e por milhares de anos a droga foi utilizada como sedativo e tranquilizante,
além de ser ministrada como remédio para disenteria, diarréia, gota,
diabetes, tétano, insanidade e até ninfomania. O ópio também já foi
considerado medicamento útil na alcoolismo, sendo que no século 19 milhares
de alcoólatras passaram a consumir preparados de opiáceos para se livrar da
bebida, mas apenas trocavam uma droga por outra.
Retirado da Revista Planeta de julho de 86.
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