Calango
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Produzido por Skank, Dudu Marota
e Gauguin |
Samuel Rosa /Chico Amaral
Deus lá de cima sabe
muito bem
Qual a minha sina; o que que me convém
Bicho do mato ela veio comigo
Teve ninho, carinho, broa, abrigo
Labutei na roça, labutei no milharal
Labutei passando bem
Labutei passando mei mal
Bruma do cérebro dela de repente
Brus tão brusca, bruscamente
Deixa de gostar, deixa de tratar bem
Começa a gostar de deixar de me tratar bem
Minha manhosa, nhem nhem nhem
Eu só penso nela, ela só em se mudar.
Quanto mais eu brigo mais me grudo aqui
Quanto mais eu fujo mais eu tô apaixonado
Bruma no cérebro dela de repente
Brus tão brusca, bruscamente
Dois guris dos oito que a gente tem
Ela apanhou na rua com alguém
Mesmo assim eu fui pai pros pobrezinhos
Na lei da humildade conforme Jesus Cristo
Mas vem esse ódio em câmera lenta
Brrr a serpente pinotiza e me tenta
Eu procuro uma razão em cada ato meu
Deve ser my own fall, deve ser só eu
Que amolação, que amolação
Meu Deus essa mulher só me deu amolação
Samuel Rosa / Chico Amaral
Funk lá no morro da Mangueira Essa menina tá dizendo sim, eu sei Noite bamba, tudo à beça Baião na rampa do Cruzeiro Essa menina tá dizendo don't worry Cause everything is gonna be alright Everything, every tune will be played by night Reggae lá na rádio do Café Rapaziada que tiver afim vai lá Eu vou ficar com Jackie Se é que Jackie vai pra lá E se não for, já foi O bonde do desejo segue rumo Caixa, bumbo e sexo Saudade na rampa do mundo Seu nome é Jackie, Jackie Tequila Seu nome é Jacqueline Misty Tequila Jackie foi nascer numa cabana e Noa Noa Sol do Taiti na pele, nowboah Seu pai cruzou o mar, duas filhas na canoa Coco pra beber e leite de leao Jackie é uma menina tão bonita que enjoa Enjôo de vertigem, viagem de avião Hálito de virgem, dois olhos de amendôa Vaca, cadela, macaca e gazela Linda toda, toda linda ela Toda beleza se reconhece nela Jackie Tequila, coca-cola e água Égua, língua, míngua minha mágoa.
Samuel Rosa / Chico Amaral
Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola, meu, por caridade
Uma esmola pro ceguinho, pro menino
Em toda esquina tem gente só pedindo
Uma esmola pro desempregado
Uma esmolinha pro preto pobre doente
Uma esmola pro que resta do Brasil
Pro mendigo, pro indigente
Ele que pede, eu que dou, ele só pede
O ano e mil novecentos e noventa e tal
Eu tô cansado de dar esmola
Qualquer lugar que eu passe é isso agora
Essa quota miserável da avareza
Se o país não for pra cada um
Pode estar certo
Não vai ser pra nenhum
Não vai não, não vai não, não vai não
No hospital, no restaurante,
No sinal, no Morumbi
No Mário Filho, no Mineirão
Menino me vê começa logo a pedir
Me dá, me dá, me dá um dinheiro aí!
Samuel Rosa / Chico Amaral
Iça iça vela do barco Mar do atlântico sul Marinheiro João do Arco Anjo do céu azul Iça iça âncora vela Três milhas do atol Sol na nuca e o corpo dela Ofusca a luz do sol Quem avista a ilha do amor No mar só se dá bem Um peixe que eu pesquei me fisgou Fui seu peixe também Roupa lavada no varal Cega minha visão Moça do batalhão naval Pega na minha mão Tempestade vai e vem vai Firme no leme marinheiro Ela me quer, eu já não choro mais Vou correr pelo mundo inteiro Me dá um beijo Porque um beijo é uma reza Pro marujo que se preza Oa oa balanço do mar Oa oa amor vida boa Oa oa vento dá na vela Oa oa me leva pra ela.
Samuel Rosa / Chico Amaral
Fazendo cerca na Fazenda do Rosário Resto de toco velho mandado pelo vigário Meu camarada, eu moro aqui do lado O terreno que tu cerca, já tá cercado Não entendi a assertiva do compadre Se é lei chama o doutor Se é milagre chama o padre É muito simples, tu veja ali na frente Tá vendo o laranjal, minha cerca passa rente Que dia quente, tem feito muito calor Daqui há pouco meu vizinho vê um disco voador Se visse até pedia para descer Quem sabe se um marciano Consegue te esclarecer Ô meu compadre, cê tá vendo assombração Cê num é advogado, cê num é tabelião Nem por isso eu deixei de fazer o justo So o sujeito enxerga torto O direito dá um susto Tu cerca a terra, tu cerca até o mundo Então cerca a tua filha, toda noite aqui no fundo Pois te conto um segredo Cê não conta pra ninguém Andam vendo tua mulher com o dono do armaz ém Maledicência, eu já tô acostumado Até dizem que o senhor é incapacitado Eu tomo chuva, tomo ar puro de manhã Minha saúde é de ferro, pergunte para sua irmã Nunca se está a salvo da falação alheia Eis que um tipo parvo vem falar na minha oreia Martelo prego, torniqueto com serrote Acerca do homem cego, quem tem vista dá o mote Terequitem, ô pra cá você não vem Terequitem, que eu conserto a ti também (Te prego um prego também)
Roberto Carlos / Erasmo Carlos
É proibido fumar - diz o aviso que eu li É proibido fumar, pois o fogo pode pegar Mas nem adianta o aviso olhar Pois a brasa que agora eu vou mandar Nem bombeiro pode apagar Eu pego uma garota e canto uma canção Nela dou um beijo com empolgação Do beijo sai faisca e a turma toda grita Que o fogo pode pegar Nem bombeiro pode apagar O beijo que eu dei nela assim Nem bombeiro pode apagar Garota pegou fogo em mim Sigo incendiando bem contente e feliz Nunca respeitando o aviso que diz Que é probido fumar
Samuel Rosa /
Lelo Zaneti /
Chico Amaral
Te ver e não te querer É improvável, é impossível Te ter e ter que esquecer É insuportável, é dor incrível É como mergulhar num rio e não se molhar É como não morrer de frio no gelo polar É ter o estômago vazio e não almoçar É ver o céu se abrir no estio e não me animar É como esperar o prato e não salivar Sentir apertar o sapato e não descalçar É ver alguém feliz de fato sem alguém pra amar É como procurar no mato estrela do mar É como não sentir calor em Cuiabá Ou como no Arpoador não ver o mar É como não morrer de raiva com a política Ignorar que a tarde vai vadia e mítica É como ver televisão e não dormir Ver um bichano pelo chão e não sorrir É como não provar o néctar de um lindo amor Depois que o coração detecta a mais fina flor
Samuel Rosa / Chico Amaral
Chega disso! Não vou pudê! Já toquei, agora vou, agora go!! I gotta go, now. Agora! Bamba quando sai o samba ligo o automático Solidariedade, caridade e senso prático Signo de touro, tudo que por dentro é ouro Aflora a batucada na barriga da manhã É no palácio, é no casebre. É no sobrado e é na moita Bem bom do bimbilim, big bang do bumbum A minha nega gosta, chega e se encosta A noite inteira all night long Hum, all night long Desci lá do Cruzeiro na batida da guitarra Neguinha da frente quis saber onde era a farra Eu disse meu irmão, onde tiver tomado eu tô Umbuzal, Taquaril, um buraco do Brasil!
Samuel Rosa / Chico Amaral
Chuva sobre chuva, noite e dia só chovia E eu descia para a rua No meio da avenida um amigo me via Aonde você vai, Sam? Vou ali, depois te conto Chuva tão sem graça, tudo que aborrece passa Logo o sol ensolarava Passando pela praça uma gata me mata Aonde você vai, Sam? Vou ali depois te beijo Um pregador me prega Me prega o seu asco, um saco E eu já tava no inferno Um pregador moderno. Blusão de couro em vez de terno Aonde você vai, filho? Vou ali, depois me humilho Cineclube à tarde, filme de Godard e Bergman Nunca mais vou esquecer Te conheci na vaida, te conheci num fim de ano Aonde você vai, Sam? Vou ali, depois te amo Baixo e guitarra, noite e dia só farra Que saudade de uma missa No adro da igreja meu amor se divertia Aonde você vai, Sam? Vou ali e volto um dia Aonde você vai, Sam? Os dias são muitos Aonde você vai, well? Podemos ir juntos?
Samuel Rosa / Chico Amaral
Açucar no cais do
porto
É na estiva, é na estiva
Às vezes me sinto morto
A alma morta, a carne viva
Podiam me esquecer
É tudo igual, é todo dia
Disputas na estivagem
Viver de amor, calor e briga
Il Capo é um bom selvagem
Empurra o fardo com a barriga
Podiam reconhecer
Alguém mais fraco sucumbia
Mas eu aguento a carga do vapor
Sou calejado, sou estivador
As putas do porto partem
Na convulsão dos dias quentes
Que voltem, que fartem
Com meu coraçãzinho ardente
Podiam lembrar de mim
Alguém sincero lembraria
Mas eu seguro a carga do vapor
Sou calejado, sou estivador.
Samuel Rosa / Chico Amaral
Pacato cidadão, te chamei a atenção Não foi a toa não, não C´est fini la utopia, mas a guerra todo dia Dia a dia não Tracei a vida inteira planos tão incríveis Tramo a luz do sol Apoiado em poesia e em tecnlogia Agora à luz do sol Pra que tanta tevê, tanto tempo pra perder Qualquer coisa que se queira saber querer Tudo bem, dissipação de vez em quando é bão Misturar o brasileiro com o alemão Pra que tanta sujeira nas ruas e nos rios? Qualquer coisa que se suje tem que limpar Se você não gosta dele, diga logo a verdade Sem perder a cabeça, sem perder a amizade Consertar o rádio e o casamento Corre a felicidade no asfalto cinzento Abolir a escravidão do caboclo brasileiro Numa mão educação, na outra dinheiro Pacato cidadão Ô pacato da civilização