"Se exite alguém que deu ao que hoje se chama heavy metal melódico, inquestionável contribuição, esse alguém é Kai Hansen. Inicialmente vocalista e guitarrista do Helloween (depois apenas guitarrista), Hansen deu ao mundo as maiores pérolas já concebidas pelo gênero. Quando decidiu cair fora do Helloween, montou uma banda de qualidade no mínimo equivalente, o grandioso Gamma Ray. Com o Gamma, Hansen provou que era a alma do Helloween, pois sua saída coincidiu com o declínio do grupo, ao mesmo tempo que seu novo conjunto ocupava espaço no coração de todos os fãs de metal melódico do mundo. Hoje, a banda conta uma formação ligeiramente competente da de quando foi formada, mas igualmente competente e eficiente como poucas no quesito melodia metálica. São eles, o já citado Hansen (G/V), Dirk Schlächter (B), Henjo Richter (G/K) e Dan Zimmermann (D). Foi com os dois primeiros que a BRIGADE foi bater papo. O resultado você lê a seguir."
ROCK BRIGADE - [p/ Dirk] Você voltou
a tocar baixo após um tempo tocando guitarra. Como tem sido?
DIRK SCHLÄCHTER - Muito mais legal.
Eu levei muito tempo para tomar a decisão de voltar a tocar baixo,
e foi uma decisão acertada. Para mim, é muito mais divertido
tocar baixo.
RB - [p/ Dirk] Você já tinha
tocado baixo em alguma outra banda?
SCHLÄCHTER - Quando eu conheci o
Kai [Hansen], há uns sete ou oito anos, eu era baixista. Eu troquei
o baixo pela guitarra apenas para o Gamma Ray, assim, já tinha experiência
de ter tocado baixo em bandas.
RB - [p/ Kai] E quanto aos vocais? Quando
Ralf Scheepers deixo o grupo você decidiu imediatamente retornar
aos vocais?
KAI HANSEN - Em princípio, nós
pensamos em trazer outro vocalista, mas todos na banda já tinham
se acostumado novamente com meus vocais. No período em que estivemos
sem vocalista, eu comecei a cantar nos ensios e minha volta foi um processo
natural. Mesmo enquanto Ralf esteve na banda, eu cantava. Todos moramos
em Hamburgo e Ralf em Stuttgart, a setecentos quilômetros de distância,
por isso, eu cantava em alguns ensaios e demos. Portanto, foi meio óbvio
[eu assumir o posto]. Quer dizer, pensamos em trazer alguém, mas
não encontramos ninguém que fosse legal.
RB - Vocês chegaram a testar alguns
vocalistas?
HANSEN - Não, não fizemos
nenhum teste. Teve um cara, que tem os vocais meio parecidos com de Michael
Kiske [ex-Helloween], que queria entrar no Gamma Ray, mas, no final das
contas, decidimos continuar com os meus vocais.
RB - O que deu para vocês sentirem
sobre o Brasil?
HANSEN - Deu pra perceber que temos alguns
fãs bastante fiéis aqui (*e eu sou um deles!!!), pessoas
que parecem gostar bastante da nossa música e que, com isso, passam
um sentimento muito legal para nós. As pessoas me dizem: "Pô,
esperei dez anos pra ver você tocando aqui." E isso é muito
legal, é bom ver que o Gamma Ray não é encarado como
um simples projeto que eu iniciei após o Helloween, e sim como uma
banda de verdade, que é respeitada.
*comentário de Renato Rossi
RB - O que você pode dizer a respeito
de seu projeto-paralelo, o Iron Savior?
HANSEN - Na verdade, este é mais
um projeto do Piet [Sielck], eu atuo mais ou menos como um convidado. Eu
sou um amigo de longa data de Piet, por isso, aceitei fazê-lo. Mas
o Gamma Ray é o grupo pricipal.
RB - Você pretende tocar ao vivo
com o Iron Savior?
HANSEN - Sim, assim que tivermos algum
tempo livre, queremos tocar ao vivo. Vai ser difícil arrumar um
intervalo para isso acontecer, mas estamos planejando algumas apresentações.
RB - Em Time To Break Free [faixa de "Land
Of The Free"], Michael Kiske participou como vocalista. Você continuou
tendo contato com ele após a saída do Helloween?
HANSEN - Demorou um pouco para voltarmos
a ter contato, pois estavam rolando muitas merdas em relação
ao Helloween, em todos os sentidos. Eu estava mais preocupado com o Gamma
Ray, por isso, então, passamos um tempo sem ter muito contato. Só
sabíamos a respeito um do outro através da imprensa, e o
que líamos nem sempre eram coisas boas. À medida que a situação
no Helloween tornava-se insustentável, Michael me ligou um dia e
disse: "Eu estou cheio disso tudo, quero me livrar desta merda toda." Foi
legal, porque foi na época do lance como Ingo [Schwichtenberg, ex-batera
do Helloween, que acabou cometendo suicídio]. O que acabou nos reaproximando
foi isso, pois nós dois estávamos muito preocupados com Ingo.
Tivemos uma conversa longa, falamos do passado, de muitas coisas que aconteceram
e vimos que podíamos nos dar bem muito facilmente. Quando ele ouviu
a música, ele gostou tanto que pediu para nós se posia cantar.
Foi o que rolou.
RB - Vocês chegaram a pensar em trazê-lo
para ser membro da banda?
HANSEN - Não, não. As pessoas
chegaram a comentar que eu estava querendo trazê-lo para a banda,
e nós mesmos brincamos com isso, mas nunca cogitamos seriamente
a possibilidade. O Michael mudou muito o direcionamento de seu estilo musical
e, já na época do Helloween, tínhamos muitas discusões
a respeito do direcionamento musical. Eu queria as coisas bem metal, Michael
[Weikath] queria de outro jeito e Michael [Kiske] de outro também.
Então não teria sido bom trazer essas coisas para o Gamma
Ray. É legal trabalhar junto com ele de vez em quando, como amigos,
mas é só isso.
RB - Você tem um estúdio na
Alemanha, é promotor de shows, empresário e canta na sua
própria banda. Como você arruma tempo prea tudo isso?
HANSEN - Não sei. Ás vezes
é demais mesmo. Eu sou um músico, mas não quero me
envolver com esses empresários-estrelas que gastam todo o nosso
dinheiro, por isso, somos nossos próprios empresários. Fora
isso, quebramos um galho para outras bandas de vez em quando, produzindo-as.
Assim, estamos sempre ocupados, nunca descansamos.
RB - Vocês participaram do Tributo
ao Judas Priest. O que vocês acham desses tributos?
HANSEN - Eu acho que é um lance
legal de se fazer, é como uma homenagem. Sei que alguns desses tributos
são uma porcaria, mas, por exemplo, o tributo ao Judas é
muito legal, pois todas as bandas são boas e fizeram um ótimo
trabalho.
SCHLÄCHTER - Acho que todas as bandas
de heavy metal devem muito às raízes do gênero. Por
isso, acho que a maioria dos tributos, mesmo os ruins, foram feitos com
a melhor das intenções.
RB - Se houvesse um tributo ao Gamma Ray,
que bandas vocês gostariam que participassem?
HANSEN - Acho que se isso acontecer, todas
as bandas a participar serão bandas que ainda são novas,
ainda desconhecidas. Caso aconteça, esse tributo só será
feito daqui a uns cinco anos, por isso, os grupos a participarem, que serão
conhecidos então, ainda não são.
RB - Os Estados Unidos são um mercado
bastante difícil para bandas do estilo do Gamma Ray. Vocês
têm interesse de conquistar os EUA ou já desistiram de tentar?
SCHLÄCHTER - É claro que temos
interesse de conseguir uma fatia desse mercado, mas as modas que assolam
os EUA tornam isso muito difícil.
HANSEN - De qualquer forma, o underground
metálico lá está forte como sempre foi. Existe interesse
por bandas como o Gamma Ray, mas no underground. Há muito tempo,
nos anos 80, o metal atingiu seu pico nos EUA e era mais fácil perceber
o interesse das pessoas pelo estilo. Como isso não ocorre mais,
as pessoas dizem que o estilo está morto. Mas ainda existem bandas
como Metallica e Megadeth, que mudaram, mas ainda são bandas de
metal. Por isso, não dá pra dizer que o metal morreu nos
EUA, apenas mudou. E existem muitas pessoas no underground interessadas
pelo estilo. Assim que esse underground aumentar outra vez, uma grande
companhia se interessará por lancá-lo no mercado. Uma vez
no mercado, se tornará moda de novo e todo círculo se completará,
A Inglaterra é uma merda assim também.
RB - Como você compararia os diversos
públicos para os quais os vocês já tocaram?
HANSEN - Dá pra traçar um
paralelo de semelhança entre os públicos da Espanha, da Itália
e da Grécia, por exemplo, com o da América do Sul. As pessoas
cantam alto, se divertem mesmo. Já no Japão, eles gostam
muito da música também, mas não é aquela coisa
exagerada.