Última atualização em 13/05/1998 / Volta para home page
"O Crime" é o título provisório para um vídeo interativo que está sendo desenvolvido na cadeira de Linguagem de Vídeo do curso de pós-graduação da PUCRS. Este ensaio é um primeiro contato com uma questão fundamental para o processo: como traçar uma relação possível entre a linguagem do cinema e do computador? Acompanhe na home page relatos do processo dia a dia da produção deste projeto. |
por Roberto Tietzmann abstract: Griffith and Kay are role models for both filmmakers and interface designers in their concern for "getting the message through". The somewhat static interface paradigm which reigns today needs to be widened in order to incorporate the dynamic storytelling characteristics of the film medium. Quando uma área se encontra em expansão, desperta o interesse de milhares de pessoas. Os livros de história reservam seu espaço a apenas uns poucos eleitos. O consenso é raro. Mais raro ainda é atingí-lo antes de morrer. Esses dois cavalheiros conseguiram. D.W. Griffith sintetizou a linguagem cinematográfica como a conhecemos hoje. Embora tenha produzido seus filmes em uma época de grande experimentação e muitas vezes não possa reclamar a "descoberta" de elementos do cinema, Griffith os usou de forma sem par entre os cineastas de seu tempo. Seu filme "Nascimento de uma Nação" lançou as bases do cinema moderno. E isso antes de 1920! Alan Kay é conhecido por bem menos pessoas. Assim como o cinema quando Griffith começou a trabalhar, a área de Kay não era vista como uma área "séria", "merecedora de respeito". Kay é um pioneiro da produção de interfaces homem-computador. Suas criações remontam aos anos 70, e lançaram as bases para os sistemas que dominam o mundo: Macintosh e Windows. Traçar um paralelo entre computadores e cinema é algo que pode parecer completamente disparatado. São tão diferentes! Cinema é imersão, movimento, entretenimento. O bom filme é aquele que faz você esquecer que está assistindo, mesclando-se com a história sendo contada e só voltando à Terra duas horas depois. Já os computadores... qual foi a última vez que você pôde dizer isso do seu Word? É melhor conhecer os propósitos de um produto antes de julgá-lo. Para estabelecer os objetivos buscados com o projeto d'"O Crime", é bom esclarecer um pouco sobre como aquilo que aparece nas telas dos computadores planeta afora foi parar lá. O que aparece na tela de um computador, com que nos relacionamos, tem o nome de "interface". E é a chave para o esclarecimento. Em uma simplificação rápida, as interfaces que temos hoje são derivadas de sistemas de automação de escritórios que foram revolucionários (e nunca se deram bem no mercado) nos anos 70 e início dos 80. Tais interfaces buscavam mimetizar um ambiente de trabalho para diminuir o estranhamento com o computador. A mesa do usuário seria replicada na tela. Fazendo uma grande elipse de tempo, foi assim que os textos ganharam ícones que os davam uma aparência de folha de papel, o programa de "calculadora" um ícone que parecia uma calculadora, os diretórios viraram "pastas" em um "arquivo", etc. Feito uma mesa de trabalho, as interfaces que trabalham com tais metáforas também esperam a ação do usuário para então responder. Caso contrário, ficam paradas. Nelson Rodrigues decretaria: "São sonsas, e todo cuidado é pouco com as sonsas!". Nada mais verdadeiro. Nada mais distante do que a experiência de assistir uma história contada com imagens em movimento. As interfaces foram se desenvolvendo em direções mais abstratas com o tempo. Absorveram elementos do design gráfico com a chegada de cores e maior resolução gráfica. Passaram a contar com mais e mais poder de processamento, possibilitando uma experiência mais prazerosa para os usuários. Ainda assim, o que acontece se experimentarmos romper com estas convenções de estabilidade, previsibilidade e pouco movimento das interfaces tradicionais? E se decidirmos representar coisas que não acontecem em um espaço bidimensional, como na tela de um Windows, mas sim em eventos efêmeros? Ligados ao tempo, como uma história? Mais importante que ater-se aos computadores, é perceber que a chave do tesouro está em expandir a gramática visual usada para contar histórias na direção de poder contá-las valendo-se também da intervenção dos espectadores. Isso vai mais além, mais longe do que tocar um CD-ROM em um Mac ou um PC. Aponta para uma fronteira onde ainda não há muitas respostas. E cujas perguntas a experiência com "O Crime" visa começar a responder. É neste momento que precisamos fazer mr.Kay e mr.Griffith darem as mãos, tomando ciência das possibilidades de uma narrativa com recursos de interação e contando-a de forma interessante e buscando a clareza na comunicação. Algo essencial e que nenhum dos dois mestres jamais abriu mão. |