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Invasão Alienígena? Corta Essa! / última atualização em 07/11/1998 |
por Roberto Tietzmann / todos os direitos reservados, reprodução proibida.
Volta e meia o cinemão nos surpreende com a capacidade de reciclar a mesma fórmula ainda mais uma vez e soltar mais uma meia dúzia de filmes (um ou dois grandões e mais quatro imitações baratas do Roger Corman) sobre o mesmo tema na temporada.
Um belo exemplo disso foi o "Independence Day". Quantos neurônios o roteirista precisou gastar para escrever este filme? Pesquisas do sindicato dos roteiristas dos EUA apontam que apenas dois, e um deles em meio expediente. Bastou ligar o poderoso software automático de redação de roteiros e responder sem hesitar "Todos!!!" quando questionado "Qual clichê quer incluir?" pelo programa.
O que dá na vista desse filme é que ele é uma cola descarada de toda a mitologia de invasão alienígena e que não acrescenta nada ao tema que não tenhamos visto antes. E, mais do que isto, tudo que acontece no filme (ou pelo menos as suas partes menos desinteressantes) já tinham passado nos fliperamas do início dos anos 80. Surpreso?
Naqueles jovens dias quando os fliperamas eram um antro de que os pais tinham verdadeira ojeriza, o jogo "Space Invaders" fissurava a galera. O nome já diz tudo, mas vamos detalhar o "storyline" deste jogo: Um esquadrão de alienígenas está prestes a invadir a terra e você é a última linha de defesa. Eles estão em maior número e você precisa fazer por onde para defender seu planeta natal. Senão, Game Over!
Bom o suficiente para um fliperama prehistórico, inclusive porque para um fliper você tem de chegar e sacar o que está acontecendo na hora. A ficha dura poucos minutos (segundos até) e então se justifica uma "trama" baseada em estereótipos e fórmulas prontas. Você já viu um filme de invasão? Então eles são os maus, você é o bom. Atire e salve o planeta. Pronto!
Curiosamente, nestes videogames a lenha (e até em muitos de hoje), a ação dramática equivale a ação física. O conflito de tu-me-mata-ou-eu-te-mato é tudo o que existe. E a resolução do conflito é aberta em uma das pontas (se você ganhar esta fase vem outra mais difícil, até o infinito) e fechada apenas com a vitória da máquina, ou seja, o pouso dos alienígenas.
Pela distância que separa o jogo do filme (cerca de quinze anos) não é de duvidar que o roteirista tenha torrado alguma grana no fliperama e anos depois escrito um filme seguindo tim tim por tim tim os passos do game. Pelo menos para ele, foi o investimento de maior retorno da vida!
Agora, pra fazer virar um filme de duas horas e meia em cima disto... falta alguma coisa. Resolvido: tome melodrama! Quando o roteirista desta pérola não chupou do joguinho, chupou justo das novelas da Televisa. E tome cachorrinho que escapa das chamas, primeira-dama que morre, presidente que é herói e salva a pátria, puxação de saco para os milicos, etc. ao infinito.
Mas afinal, onde está o problema? A cultura pop é mesmo um monstro que devora a si mesmo cujos filhos incestuosamente fazem crias entre si. Os Beatles são regravados todo santo dia, clones do Space Invaders aparecem até hoje e vale o que dizia o Eclesiastes: "Não há nada de novo sob o sol".
Talvez, enfim, a indústria cultural trabalhe para uma massa com
memória curta. Para as pessoas que não viram os 580 filmes
de invasão alienígena que saíram antes do "Independence
Day". E que nunca jogaram "Space Invaders". Ainda assim esse
pessoal todo merece filmes melhores. Mesmo que partindo dos clichês
mais batidos!