E / E
raccontano che lui si trasformò / contam que ele se transformou
in albero e che fu / em árvore e que foi
per scelta sua che si fermò / por escolha sua que se fixou
e stava lì a guardare / e estava ali a olhar
la terra partorire fiori nuovi / a terra parir flores novas
"(...)Pois
muitas vezes desejara ser árvore, porque as árvores lhe
pereciam plenas de paz, força e dignidade.
Piktor transformou-se em uma árvore. Suas raízes cresciam terra
adentro, ele elevava-se às alturas, folhas e ramos emergiam de
seus membros. E com isto ele ficou muito satisfeito. Suas fibras
sedentas sugavam no fundo da terra fresca, e balouçava suas
folhas alto no azul."
Così / Assim
fu nido per conigli e colibrì / foi ninho para o coelho e o
colibrí
il vento gl'insegnò i sapori / o vento lhe ensinou os sabores
di resina e di miele selvatico / de resina e de mel selvagem
e pioggia lo bagnò / e chuva o banhou
"(...)Besouros moravam em sua casca, a seus pés moravam lebres e ouriços, e os pássaros habitavam seus ramos."
La mia felicità -
diceva dentro se stesso - / A minha felicidade - dizia dentro de
si mesmo-
ecco... ecco... l'ho trovata ora che / aqui está!...aqui
está!... a encontrei agora que
ora che sto bene / agora que estou bem
non ho più bisogno di nessuno / não tenho mais necessidade de
ninguém
ecco la bellezza della vita che cos'è / eis! a beleza da vida
que coisa é
"A Árvore
Piktor estava feliz, e não contava os anos que passavam .
Passaram-se muitos, muitos anos, antes de ele notar que sua
felicidade não era perfeita. Só lentamente aprendeu a ver com
olhos-de-árvore. Por fim, conseguiu ver, e ficou triste.
Viu que ao redor dele, no Paraíso, a maioria das criaturas se
transformava freqüentemente, sim, tudo fluía em uma torrente
mágica de eterna metamorfose. Viu flores se tranformarem em
pedras preciosas, ou saírem voando como pássaros cintilantes.
Viu a seu lado muita árvore sumir de repente: uma derreteu-se e
tornou-se fonte, outra se tornara um crocodilo, outra, agora,
peixe, nadava, indo embora, alegre e fresca, cheia de gozo, com
vivacidade, executando novos jogos em novas formas. Elefantes
trocavam de roupa com rochedos, girafas assumiam a forma de
flores. (Essa parte está no clip, nos desenhos que aparecem)
Mas ele, a Árvore Piktor, era sempre a mesma, não podia mais se
transformar. Desde que reconheceu isso, sua felicidade
desvaneceu-se; começou a envelhecer, assumindo cada vez mais
aquela postura cansada, grave e preocupada, que se pode observar
em muitas árvores velhas. Também em cavalos, pássaros, pessoas
e todas as criaturas, pode-se ver isso diariamente. Quando não
possuem o dom da transformação, com o tempo decaem em tristeza
e mágoa, e perdem a beleza."
Ma un giorno
passarono di lì / Mas um dia passaram por ali
due occhi di fanciulla / dois olhos de menina
due occhi che avevano rubato al cielo / dois olhos que tinham
roubado do céu
un pò della sua vernice / um pouco da sua cor
E senti tremar la sua radice / E sentiu tremer a sua raíz
"Certo dia,
errava por aquela região do Paraíso uma jovem de cabelos louros
e vestido azul. Cantando e dançando a loura corria entre as
árvores, e até então nunca pensara em desejar o dom da
transformaçao.
Muito macaco astuto sorria atrás dela, muito arbusto tocava-a
delicadamente com um ramo, muita árvore lhe lançou uma flor,
uma noz, uma maçã, sem que disso ela se apercebesse.
Quando a Árvore Piktor avistou a jovem, foi tomada de uma grande
saudade, um desejo de felicidade, como jamais sentira. E ao mesmo
tempo caiu em profunda reflexão, pois sentia que seu próprio
sangue lhe dizia:
- Pensa bem! Lembra-te nesta hora de toda a tua vida, encontra o
sentido disso tudo, ou será tarde demais, e nunca mais terás a
felicidade.
Ele obedeceu. Lembrou-se de toda a sua origem, seus anos como
homem, sua viagem ao Paraíso, e especialmente daquele instante
antes de se tornar árvore, aquele extraordinário momento em que
tivera nas mãos a pedra encantada. Naquela ocasião, como tinha
a escolha qualquer transformação, a vida ardera nele como
nunca! Pensou no pássaro que aquela vez rira, e na árvore com
Sol e Lua; e pressentiu que naquela ocasião perdera algo,
esquecera algo, e que o conselho da Serpente não fora bom.
A jovem ouviu um rumor nas folhas da Árvore Piktor, ergueu os
olhos para ela e sentiu, com súbita dor no coração, novos
pensamentos, non anseio, novos sonhos agitando-se em seu próprio
interior. Atraída por uma força desconhecida, ela se sentou
debaixo da árvore, que lhe parecia solitária, solitária e
triste, e não obstante bela, comovente e nobre em sua muda
tristeza; a canção de sua copa, em suave sussurro, soava
fascinando-a. Ela recostou-se no áspero tronco, sentiu a árvore
estremecer fundo, sentiu o mesmo frêmito no próprio coração.
O coração lhe doía singularmente, sobre o céu de sua alma
deslizavam nuvens, lentamente lágrimas pesadas corriam de seus
olhos. O que era aquilo? Por que precisava sofrer tanto? Porque o
coração anelava rebentar o peito, e fundir-se nela, e com ela,
com ele, o belo solitário?
A árvore estremeceu de leve até as raízes, tão fortemente
reunia em si todas as forças vitais, ao encontro da jovem, no
ardente desejo de união. Ah, fora ludibriado pela Serpente,
exilando-se para sempre, confinando-se solitário em uma árvore!
Ah, que cego, que tolo fora! Então não soubera de nada,
estivera tão alheio ao segredo da vida?(...) "
Quanto smarrimento
d'improvviso dentro sè / Quanta perda imprevista dentro de si
quello che solo un uomo senza donna sa che cos'è / aquilo que
só um homem sem mulher sabe que coisa é
e allungò i suoi rami / e alongou os seus ramos
per toccarla / para tocá-la
Capì che la
felicità non è mai la metà / Entendi que a felicidade não é
nunca a metade
di un infinito / de um infinito
Ora era insieme
luna e sole / Agora estavam juntos lua e sol
sasso e nuvola / pedra e nuvem
era insieme riso e pianto / estavam juntos riso e choro
o soltanto / ou apenas
era un uomo che cominciava a vivere / era um homem que começava
a viver
ora / agora
era il canto che riempiva / era o canto que preenchia
la sua grande / a sua grande
immensa solitudine / imensa solidão
era quella parte vera / era aquela parte verdadeira
che ogni favola d'amore / que toda fábula de amor
racchiude in sè / encerra em si
per poterci credere / para podermos crer
"(...)Não,
bem que ele o sentira e adivinhara aquela vez, obscuramente - ah,
e com tristeza e profunda compreensão pensava ele agora na
árvore, que era a um tempo Homem e Mulher! (...) A bela foi
arrebatada, tombou e uniu-se à árvore, emergiu do seu tronco
como um vigoroso ramo novo, e rapidamente cresceu até o cimo.
Agora estava tudo bem, o mundo estava em ordem, só agora fora
encontrado o Paraíso. Piktor já não era uma árvore velha e
triste, agora cantava bem alto, (...)
Estava transformado. E porque dessa vez alcançara a metamorfose
verdadeira, eterna, porque passara de uma metade ao Todo, a
partir dessa hora podia transformar-se o quanto quisesse. O
fluido mágico do vir-a-ser circulava continuamente pelo seu
sangue, e ele participava eternamente da incessante Criação.
Tornou-se Cervo, tornou-se Peixe, tornou-se Homem e Serpente,
Nuvem e Pássaro. Mas em cada forma era um todo, era um par,
tinha Lua e Sol, tinha em si Homem e Mulher, e como rios gêmeos
correu pelos países, e pairou no céu como uma dupla
estrela."
"Mal entrara
no Paraíso, Piktor deparou com uma árvore que era a um tempo
Homem e Mulher.Piktor saudou a árvore respeitosamente, e
perguntou:
- Você é a Árvore da Vida?
Mas quando a Serpente quis lhe responder em lugar da árvore, ele
se afastou e seguiu adiante. Olhava para tudo atentamente, tudo
lhe agradava tanto! E sentia, nitidamente, que estava na Pátria
e na Fonte da Vida.
E novamente viu uma árvore que era a um tempo Sol e Lua.
Piktor disse:
- Você é a Árvore da Vida?
O Sol acenou com a cabeça e riu, a Lua acenou com a cabeça e
sorriu. As mais maravilhosas flores miravam-no, com luzes e cores
variadas, com diversos olhos e rostos. Algumas lhe acenavam e
riam, outra lhe acenavam e sorriam, outra nada disso faziam:
calavam-se, ébrias, submersas em si mesmas, como que afogadas no
próprio perfume. Uma cantava a canção dos lilases, uma cantava
a canção de ninar azul-marinho. Uma das flores tinha grandes
olhos azuis, outra o fez lembrar seu primeiro amor. Uma tinha o
aroma do jardim da sua infância, como a voz da mãe, soava o seu
doce perfume. Outra riu para ele, e lhe estendeu uma comprida
língua curvilínea e rubra. Ele a lambeu; tinha um sabor forte e
silvestre de resina e mel, e também do beijo de uma mulher.
No meio de todas aquelas flores, estava Piktor, cheio de saudade
e temerosa alegria. Como se fosse um sino, seu coração batia
pesadamente, batia muito; seu desejo ardia saudosamente ansiando
pelo desconhecido, pelo magicamente pressentido.
Piktor viu pousado um pássaro, viu-o na relva pousado,
cintilando de cores, o belo pássaro parecia possuir todas as
cores. E perguntou ao lindo pássaro colorido:
- Oh, pássaro!, onde está a felicidade?
- A felicidade?- disse o belo pássaro, rindo com seu bico
dourado.- Oh, amigo, a felicidade está por toda parte, na
montanha e no vale, na flor e no cristal.
Com essas palavras, o alegre pássaro agitou sua plumagem, moveu
o pescoço, balançou a cauda, piscou os olhos, riu mais uma vez,
depois ficou pousado imóvel, pousado quieto na relva e vejam: o
pássaro, agora, se transformara em uma flor colorida, as
plumagens eram folhas, as garras, raízes. No brilho da cor, no
meio da dança, ele se fizera flor. Piktor o viu, espantado.
Logo depois a flor-pássaro moveu suas folhas e estames,
cansou-se outra vez de ser flor, já não tinha mais raízes,
moveu-se com leveza, alçou-se lentamente no ar, e tornou-se uma
borboleta luzente, que se movimentava flutuando, sem peso, toda
luz, toda um rosto iluminado. Piktor arregalava os olhos.
Mas a nova borboleta, a alegre e colorida
borboleta-flor-pássaro, o claro rosto colorido, voou em
círculos em torno do espantado Piktor, cintilou ao sol, baixou
suavemente sobre a terra, como um floco de neve, pousou junto aos
pés de Piktor, respirou docemente, tremeu um pouco as asas
cintilantes, e logo se transformou em cristal colorido, de cujas
extremidades se irradiava uma luz vermelha. A gema rubra brilhava
maravilhosamente na relva entre folhagens verdes, clara como sino
de festa. Mas sua Pátria, o interior da Terra, parecia
chamá-la; logo começou a diminuir ameaçando afundar. Então,
dominado por um desejo incontrolável, Piktor estendeu a mão
para a gema que desaparecia, e tomou-a para si. Comtemplou
encantado a sua luz mágica, que parecia iluminar seu coração
com o pressentimento da absoluta felicidade.
De súbito, no galho de uma árvore morta, enroscou-se a Serpente
e sibilou no ouvido de Piktor:
- A pedra te transformará no que quiseres. Diz-lhe depressa teu
desejo, antes que seja tarde!
Piktor assustou-se e teve medo de perder esta oportunidade de
alcaçar sua felicidade. Disse rapidamente a palavra, e
transformou-se em uma árvore. Pois muitas vezes desejara ser
árvore, porque as árvores lhe pareciam plenas de paz, força e
dignidade."