TV Crítica
06/05/02
No Reino da Hipocrisia
Democracia no Brasil representa a liberdade de concordar, nunca de discordar. Neste sábado, os telejornais informaram que a Polícia irá processar que participou da manifestação a favor da descriminação do uso da maconha por apologia ao uso de drogas. A polícia deve estar muito interessada no caso, pois seus membros sofreriam grandes perdas financeiras com a liberação do uso da maconha. Detalhe: o Rio de Janeiro é governado pelo PT de Fernando Gabeira.
No mesmo dia, o SBT apresentou o filme "The Butcher Boy", que mostra um garoto vítima de padre pedófilo. Desde a instituição do celibato na igreja católica, relata-se casos de abuso sexual e homossexualismo entre os membros do clero. Já no século IX a igreja instituía regras rígidas para deter os desvios de conduta de seus membros. Desde então, a cúpula adotou a prática de ocultar os escândalos envolvendo seus sacerdotes, nem que para isso as vítimas tivessem que ser acusadas de estarem possuídas por uma entidade maligna. No Brasil, os desvios de comportamento dos padres nunca tiveram repercussão por causa do poder exercido pela Igreja Católica. A atual onda de denúncias deve-se exclusivamente a posição tomada pelos estadunidenses de romper com a lei do silêncio. Nos EUA, a maioria da população é protestante.
Ainda no sábado, a Rede Globo praticamente ignorou as denúncias contra o candidato José Serra, publicadas na revista Veja, publicação ligada ao PFL. A Rede Globo apóia o PSDB, enquanto a Isto É fica ao lado do PMDB. "Prefiro subir a Serra do que descer ao fundo do mar", foi a frase dita por uma jornalista, na véspera do surgimento do escândalo. Até quinta-feira, toda a imprensa estava trabalhando em sintonia com os grandes bancos internacionais para criar um clima de pânico no mercado. Os telejornais informavam que as bolsas estavam caindo por causa do temor de uma provável vitória de Lula. Porém, o pânico era em parte causado pelo vazamento da matéria que denunciava irregularidades no processo de privatização da Vale do Rio Doce. Temia-se no mercado a repetição do caso Roseana Sarney, desta vez protagonizado por Serra. A imprensa ligada ao PFL deu grande destaque ao tema, acreditando que seria uma ótima desculpa para substituir o intragável Serra e garantir uma aliança entre PSDB, PFL, PPB e PMDB. No domingo, a Rede Globo ainda tentava preservar o nome de José Serra. Enquanto isso, a Rede Record (Garotinho) fazia a festa e o PFL intensifica os esforços para lançar a candidatura de Sílvio Santos.
No Reino da Hipocrisia 2
História verídica: no ano passado, comando da polícia militar invadiram um morro e assassinaram três indivíduos que se encontravam num bar, com mais de 50 balas. Centenas de pessoas presenciaram o fato, que pode ser observados dos edifícios que cercam a região. No dia seguinte, os principais jornais informaram que os três indivíduos eram traficantes e que teriam sido mortos por um grupo rival. Ninguém contestou a versão publicada nos jornais. No mesmo morro, um ponto de venda de drogas funciona numa praça, a menos de 100 metros de um posto da polícia militar. Aparentemente, os policiais trabalham como seguranças dos traficantes.
Este é a praticada adotada nas redações: as reportagens publicadas são baseadas exclusivamente nas informações passadas pela assessoria de imprensa da secretária de segurança pública ou pelo setor de comunicação da polícia. A história de que a população de determinadas favelas é controlada por grupos criminosos é mentirosa. No caso do Rio de Janeiro, existe o interesse político de alguns órgãos de imprensa em criar um clima de insegurança. Estratégia que é reforçada pela incompetência dos jornalistas. Não existe ética ou compromisso com a verdade.