O Lince da serra de Malcata

Com espécies raras, e em extincão, a Reserva Natural da Serra da malcata é o paraíso perdido ... pelo menos para alguns animais. Na raia das beiras e encostada a Espanha a serra mostra-se bela, silenciosa, mas carregada de vida. A luta pela sobrevivência não se restringe aos animais. Também os responsáveis lutam arduamente pela sua preservação e conservação.

Lince Português

A Reserva Natural da Serra da Malcata (R.N.S.M.) foi criada pelo Decreto-lei 294181, de 16 de Outubro. Como foi reforçado por um novo decreto regulamentar, esta foi constituída para a conservação dos habitats naturais, para apoiar todas as actividades tradicionais que se verificam na serra e desenvolver accões ligadas à educação ambientar.

Com uma área de cerca de dois mil hectares, abrange freguesias dos concelhos de Penamacor e do Sabugal. Deste último as freguesias abrano_idas são Sabugal, Malcata, Quadrazais, Vale de Espinho e Fóios.

É nesta reserva que nasce o rio Côa, a ribeira da Meimoa e a ribeira da Bazágueda, que correm por entre frondosos matagais, sobreiros e azinheiras.

A sua grande diversidade de fauna e flora deve-se a um clima de transição e rnicrocilmas que se fazem sentir nas diversas altitudes e latitudes.

Na área, em que os cumes variam entre os 425 e os 1078 metros, podem encontrar-se Giestas, matos, urze, carqueja, carvalho-neçlral na zona norte, rosmaninho e azinheira na sul.

A zona central da reserva destaca-se pela sua inigualável diversidade florística. No mesmo espaco coabita o carvalho, a Mnheira e o medronheiro. Obra divina ou não, ou mesmo do microclirna, vemos florir, numa harmonia única, a rosa-albardeira, a madresilva- das-boticas e o trovisco-fêmea. Ao conjunto acrescentamos, nas margens das correntes de água, freixos, amieiros e borrazeiras brancas e pretas.

Calma, a beleza não termina aqui! A isto juntam-se ainda pinhais, olivais e pequenas searas nas zonas periféricas.

Mas, nem só de vegetação se faz uma reserva. E os animais?

De entre a vasta lista destacam-se, pelo seu estatuto de proteccão, o abutre-negro, a cegonha-preta e o lince-ibérico, ex-libris da reserva.

Contudo, na área ainda podemos observar raposas, gatos-bravos, texugos, ginetas, doninhas, fuínhas, sacarrabos, coelhos-bravos, lebres, javalis, lontras, sapos, salamandras, víboras e cobras, milhafres, açores, águias-cobreiras, bufos-reais e perdizes-vermelhas, entre outras espécies.

A pensar no futuro

Todos eles sobreviveram à mão do homem que por ali habitou durante muitos séculos.

Agora, urge preservar e conservar o que restou. E é essa a preocupação do Governo e da União Europela. Neste momento', a atencão vai para o lince-ibérico que "foi considerado, pela União Internacional para a Conservacão da Natureza corno o carnívoro mais ameacado do mundo", diz-nos a presidente da Comissão lnstaladora da R.N.S.M., Sofia CasteiBranco Silveira.

O principal problema da reserva é a dificuldade que têm em trabalhar com o lince-ibérico. Trata-se ainda de uma espécie relalivarnente desconhecida e que necessita de um trabalho intensivo para se obterem resultados. Principalmente, ao nível da população do coelho.

Para tal, a Reserva Natural da Malcata porá em prática iniciativas com o objectivo de reverter a situacão. As iniciativas são integradas no projecto "Recuperação do habitar e das presas do lince-ibérico na Serra da Malcata" apresentado à União Europeia, no âmbito do Programa life. A aprovação deste projecio representa um orçamento de 108 mil contos para os quatro anos que tem de duracão. E o caso do lince é preocupante. Segundo, joana Cruz, bióloga, "estamos numa situação de pré extincão. Teremos dois a seis indivíduos que vagueiam pelo seu território, entre Portugal/Espanha, sem encontrarem o parceiro".

Segundo Sofia CastelBranco Silveira, "uma das questões relacionadas com o estado de ameaça da espécie é o desaparecimento do coelho, que constitui a base da sua dieta alimentar. Assim, as accões para a preservação do lince prendem-se com as melhorias das condições de alimento e abrigo artificial para o coelho, tais como pastagens, criação da área de centeio, abrigos artificiais, rejuvenescimento dos matos, fomentar e adensar a área de matagal com azinheira, limpeza". Pretende-se, em suma, diminuir os faciores de ameaça da espécie e criar condições para que se pondere a reinlroducão a longo prazo.

No entanto, para tal é necessária uma cooperação com investigadores espanhóis, apesar de esta ser difícil. Afinal, não há na Serra da Gala uma inslitulcão local que se apresente como interlocutor directo que diga o que está a ser feito a cada momento. A cooperação com os investigadores, também do Parque Nacional de Doñana, restringir-se-á à troca de informações, dados e estudos para uma possível captura e ré-introducão de lince na Malcata. Afinal, em Doñana existe lince em cativeiro.

Porém, este trabalho de quatro anos insere-se num trabalho que já tem dez anos. O programa life vem, segundo a responsável pela R.N.S.M., permitir, do ponto de vista financeiro, dotar a reserva de melhores meios para reforçar a possibilidade de trabalhar de forma intensiva na serra.

Nova realidade, novos pedidos

A caça furtiva ainda é um problema. Para o combater será implementado um sistema de vigilância, previsto desde o início no projecio.

E, para ilustrar as situacões de furtivismo, Sofia CasteiBranco Silveira afirma:"não há caçador nenhum desta região, entre os 40 e 50 anos que, num passado recente, não tenha participado numa caçada em que se tenha visto e capturado um lince". No entanto, passados que estão quase 20 anos sobre a instalação da reserva, a presidente da Comissão instaladora da Reserva, pensa que já comeca a haver sensibilidade por parte das pessoas. "Mas nunca chega", salienta.

De facto, a sensibilização e educação ambientar são vistos pela reserva como caminhos para a solução deste problema que se faz sentir em todo o país. As visitas de estudo têm esse car-ácier. Mas, feitas de acordo com os pedidos, estas transformaram-se com os tempos. Assim como o número e o perfil dos visitantes.

Em 97 o número de visitantes rondou os dois mil e 700, enquanto em 98 foram de três mil.

"Hoje já não uma escola que nos peca para visitar, apenas para merendar no parque e partir. Há maior exigência. Quando nos telefonam pedem uma accão de sensibilização e divulgação do que vão ver, jogos de contacto com a natureza, trilhos, peddypaper. Esta atitude torna-se para nós estimulante. São pessoas que, vindas de todo o país, estão cada vez mais interessadas em viver aquilo que temos", comenta a responsável.

Pois, quem não quer ir para o paraíso? Ainda mais se for terreno!

Patrícia Cardoso in Raia-Sabugal - Dezembro 1999<

 

Última Actualização: Abril 08, 2002.

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