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Maño - Nascido p'rós touros

Um homem que nasceu para os touros. Maño, 70 rijos anos, natural de Zamora, Espanha, não vê outra coisa na vida. Praças cheias de cor gente e palmas, os ingredientes que o fazem sentir-se «orgulhoso e superior às minhas próprias forças», adianta com um brilho negro nos olhos. Livre como uma ave, forte como um touro. Figura querida e popular na zona da raia, Manho tem por hábito percorrer todas as festas onde haja capeias. E a pé. Desde os 16 anos que se mete à estrada, em Portugal e Espanha, sem nunca aceitar uma única boleia. Conserva, por isso, destreza e agilidade suficientes para enfrentar de capa encarnada o touro. E a entrada na arena é como um ritual sagrado. Não aceita seja o que for para beber ou comer. «O estômago tem que estar vazio», sustenta.
Manho vai às capeias da raia há 52 anos. É uma figura emblemática e conhecido por andar quase sempre em tronco nu. À semelhança de anos anteriores, o popular "toureiro" não falhou uma única garraiada na raia. Uma dúzia, sem tirar nem pôr. Cumpriu a última este domingo em Aldeia Velha. Agora é a vez de trilhar os caminhos do seu país de origem. Na segunda-feira seguia, a pé, para Valladolid. Mais praças e mais touros o esperam. Manho vive disto despreocupada e apaixonadamente. «O meu amor é a "muleta"» diz enquanto mostra a velha capa guardada junto ao peito como se fora um bebé ou a esposa que nunca teve.
Aficionado até às raízes dos cabelos, gosta e admira todos os toureiros sejam eles espanhóis ou portugueses. Embora amador, sente-se um deles e considera-se como se fora uma figura do toureio internacional.
Os amigos são muitos, de cada canto recebe um abraço e os raianos têm-lhe carinho especial.
A conversa não se alonga, pois está a sair o primeiro touro da tarde. Entalado entre os pinhos que fecham a praça da aldeia, Manho em tronco nu, da cor da terra que trilha, prepara-se para enfrentar o "bicho". Depois do forcão erguido pelos rapazes da aldeia, Manho entra na praça sem se dar conta e dança com o touro até este cair de joelhos. A praça aplaude e cai uma chuva de "olés". Manho faz uma breve lide e retira-se, simplesmente.
Em toda a sua vida levou duas escornadas. Foi em 94. Uma em Cória, Espanha, e outra na Lageosa da Raia. Mas nada muda. As estradas da vida hão-de ser estas até que a terra lhe apague os sonhos. A festa dos touros é a sua única paixão e por ela anda, anda sem poiso certo.

Victor Amaral in Terras da Beira ,  29 Agosto 1996

 

Última Actualização: Abril 08, 2002.

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