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Todos ou Ninguém

 

Leda Ulysséa

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A Proposta Deste Livro

 

O objetivo deste livro é o de realçar a observação multidisciplinar – sob o aspecto social e o político – do panorama mundial e , especialmente , do mundo subdesenvolvido , onde a implementação , ora em curso , da macro-economia néo-liberal vem causando tanto sofrimento .

Poderia ser considerado excessivamente vasto o campo observado se não colocássemos que justamente o que procuramos descrever e interpretar é a feição universal , embora múltipla , do quadro que aparece como a etapa histórica deste momento .

A civilização tornou-se uma estrutura mundialmente caracterizada por traços presentes em todo o globo , os quais , embora funcionem de maneira diferente nas diversas áreas geo-políticas , são complementares , numa relação dialética .

Por exemplo : o nível de riqueza material é alto numa área porque é baixo em outra e qualquer esforço para diminuir a diferença parece aos ricos ameaçar a sua situação privilegiada .

Como é impossível , em consequência da veloz e eficiente tecnologia da comunicação , manterem-se os pobres ignorantes da sua inferioridade no quadro geral , resulta uma relação penosa de dominação/submissão .

O mesmo fenômeno ocorre dentro de cada sociedade nacional – ou cada mercado , como é hoje considerado na economia globalizada – , onde a propaganda comercial e institucional , embora bombardeando as mentes com a munição fabricada pelos que detêm o poder , não deixa entretanto os pobres isentos de uma consciência de marginalização social e política .

A fórmula mencionada , que aqui chamamos dominação/submissão , jamais se mostra uma relação pacífica , apresentando-se sempre com certo grau de tensão .

O novo entretanto é que , sendo a dominação exercida no nível material e no psicológico – através da propaganda comercial e institucional – , criou-se uma consciência geral , isto é , globalizada tal como a economia , e que vem acentuando o sofrimento .

Ao mesmo tempo que o acentua , também o torna mais próximo de uma expressão explosiva , como aliás está visto claramente através de dois fenômenos sociais de hoje .

Ao mencionar que são fenômenos sociais e políticos de hoje não quero dizer que já não existiam antes mas sim que agora são mais nítidos e guardam também uma relação dialética mais forte com as suas causas próximas .

São tais fenômenos – que exprimem melhor o diagnóstico da doença geral da sociedade humana em todo o planeta – a criminalidade , dentro das fronteiras nacionais , e o terrorismo , que se relaciona com os níveis de poder externos quanto aos estados como estão organizados , internamente e em suas relações internacionais .

Esta relação dominação/submissão vem gerando tensões novas tanto dentro dos espaços nacionais quanto no espaço somatório do mundo, globalizado pela produção e a comercialização dos bens e serviços .

Apesar da formação acadêmica regular , quero deixar claro que na presente obra não me move nenhum propósito de auto-afirmação no campo do saber formal.

Procuro antes chegar à consciência dos leitores desprovidos de esquemas teóricos , para produzir uma análise objetiva do que lhe acontece no momento, caracterizado por transformações inteiramente inesperadas .

A intenção ao apresentar este texto é de fornecer uma exegese assimilável pelo leitor carente de formação acadêmica , não procurando portanto nenhuma resposta de concursos e títulos .

Por isso mostra o trabalho a feição própria de alguém descomprometido com o formalismo acadêmico e profundamente interessado na felicidade de cada um .

Ao procurar uma fórmula da felicidade – afinal de contas o objetivo normal de pessoas e grupos , que buscam um porto onde fundear o seu barco – dedico-me a construir uma linguagem acessível aos que participam dessa cultura .

Não me refiro a um espaço cultural limitado por fronteiras nacionais mas à cultura presente , que se tornou comum a todo o mundo , pelo acentuado e rápido desenvolvimento técnico da comunicação .

Por outro lado não pretendo privilegiar nenhuma filosofia existencial nem crenças relativas a temas tão caros aos que se alinham em organizações religiosas – tais como a existência ou não-existência de Deus – , assim como também não encampo nenhuma filosofia política que por acaso pudesse tolher a minha expressão .

Seria aliás contraproducente porque as propostas lançadas como um novo caminho para a felicidade – seja em termos de filosofia existencial, seja em termos de prática política – se tornaram , com a repetida aplicação do modelo original a realidades mutantes , ideologias .

E as ideologias , embora funcionem eficazmente como motivação para o aliciamento e suporte para a luta política , é inútil e até prejudicial para o conhecimento objetivo que leve a uma prática útil .

Apresento-me assim como porta-voz bem intencionada dos que não conseguem verbalizar suas dificuldades e suas esperanças e almejo ser uma expositora compreendida da realidade social e política que envolve os habitantes deste planeta .

Neste momento essa expressão da vida planetária se encontra ameaçada de um desastre ecológico que paira igualmente sobre os homens , os animais , as plantas e as gemas , os mares e as atmosferas .

Essa ameaça diz respeito também aos sentimentos dos humanos , e é aí que eu me identifico com um propósito mais amplo , a compaixão , pois o sofrimento é vivido visceralmente por toda a coleção humana , ricos e pobres , poderosos e marginais .

Em entrevista à revista " L’Express " , o economista Daniel Cohen , autor do livro "Richesse du Monde , Pauvretés des Nations " (Essais, Flammarion ) , declara que " entramos numa sociedade onde é o vencedor que pega tudo".

A situação mundial porém , nos seus aspectos humanos de definição social e política, não parece indicar nenhum vencedor pois os sofrimentos causados entre os pobres , os que não podem pegar nada , se traduzem , já , em predisposição para uma saída explosiva que envolve a todos .

Não quero de modo algum referir-me a uma revolução popular , como foi planejado e concretizado em alguns polos políticos do mundo , seja no socialismo soviético , seja em países que seguiram um caminho de patriotismo desvairado , como Cuba .

O que se delineia já no horizonte político internacional e dentro de cada um dos espaços nacionais é algo diferente , inesperado até pelos próprios atores envolvidos , que apenas adotam um comportamento de náufragos : dentro das sociedades nacionais , a criminalidade e , nos espaços mundiais internacionais, o terrorismo .

Não se vê um caminho de possível compromisso entre adversários pois não se identificaram nitidamente os pontos de disputa , observando-se apenas o sofrimento presente em todos os lados , que não são apenas dois como num combate clássico .

Diante do impasse a que chegamos no mundo globalizado , com a guerra econômica mundializada e generalizada , pergunta-se : haverá um vencedor ?


ulyssea@unikey.com.br


Copyright: © 1997 Leda Ulysséa

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