A sede da Fazenda Colubandê, tema de estudo dos arquitetos Paulo F. Santos e Augusto Carlos da Silva Telles, entre diversos outros autores, constitui complexo arquitetônico de expressivo valos sócio-cultural, razão pela qual os gonçalenses devem sentir-se orgulhosos por manterem preservado aquele que é, sem dúvida "o mais importante exemplar da arquitetura rural brasileira".
De acordo com Paulo F. Santos, no seu livro intitulado "Quatro Séculos de Arquitetura", a sede da Fazenda do Colubandê está inserida na categoria de arquitetura civil, incluindo casas de chácara ou de campo, lembrando o arquiteto das "formas desativadas e acolhedoras bem como da feliz disposição no terreno em aclive; da capela; do muro e portão e da escada, esta fazendo conjunto com a varanda; e o estirado e enorme telhado sonolento que domina a composição, cuja dignidade e nobreza a situam num dos pontos mais altos dos quatro séculos de Arquitetura no Brasil e, ademais isso, o prestígio de ser uma das casas mais autenticamente brasileiras - o que pode ser constatado comparando-a com as reproduzidas nos Inventários da Academia de Belas Artes de Lisboa e na recente publicação Arquitetura Popular em Portugal".
Para que você possa aquilatar melhor a importância das chácaras ou casas de campo no contexto da história social brasileira, vale continuar citando Paulo Santos quando observa que "nenhum outro tipo de edificação exprimiu com tanta autenticidade a vida íntima da gente carioca (e, por certo, dos fluminenses) e o caráter regional de sua arquitetura, como 'a casa de chácara', referida por alguns viajantes, cujo programa abrangia: casa; senzala; jardim; horta; pomar; poço de água nativa com a cacimba; galinheiro; pombal; chiqueiro; estrebaria, com vaca, burro e cavalo; estrumeira; cocheira, com o carro rústico e a sege ou traquitana; e toda a sorte de bichos caseiros; cachorros, gatos, cabras, papagaios, viveiros de pássaros (até o mico, Debret observou ser inocente passa-tempo da dona-de-casa). Cada um desses elementos, sendo considerado não como acessórios, mas como peça de um sistema, que persistiu vivo e funcionando até princípios do presente século, e só o surgimento da idade industrial, introduzindo novos valores, acabaria por destruir".
A partir das observações precisas do arquiteto Paulo Santos é possível deduzir a importância da Fazenda do Colubandê enquanto patrimônio histórico, artístico, arquitetônico e até mesmo documental para o estudo da evolução da Arquitetura, não só no Estado do Rio de Janeiro com também no Brasil.
O outro autor a quem fizemos referência, o também arquiteto Augusto Carlos da Silva Telles, que organizou o "O Atlas dos Monumentos Históricos e Artísticos do Brasil", assim fala do patrimônio gonçalense: "A casa da Fazenda do Colubandê é de maior porte e talvez a de mais corretas proporções dentre as que se conhece. O avarandado, com elegantes colunas, estende-se por três lados da casa, repetindo-se, embora mais singelo, no pátio interno. A capela, com a invocação de Santana, fica dentro da área doméstica murada, mas desligada da casa. Tem elegante torre sineira e copiar (varanda contígua à casa, o mesmo que alpendre). O altar-mor é decorado com admirável talha, e as paredes laterais da capela-mor, com painéis de azulejos policromos de segunda metade de setecentos".
Construída provavelmente no final do Século XVIII, a Fazenda do Colubandê, com seus trinta e oito cômodos, incluíndo os quatros do subsolo que serviam de senzala aos escravos, ocupa de uma área de 28 mil metros quadrados. Seu último proprietário foi o Coronel Berlamino Siqueira, o Barão de São Gonçalo, cujos descendentes ali residiram até 1968. O valor arquitetônico que lhe é atribuido foi reconhecido publicamente em 1940, ao ser tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
A partir de 1968, quando foi desapropriada, a Fazenda do Colubandê recebeu os mais variados moradores. Inicialmente, o Country Club de São Gonçalo, que ali constituiu uma piscina. Depois, a Polícia Rodoviária, que realizou obras a fim de adaptá-la aos serviços de posto policial. Na época da fusão Guanabara/Rio de Janeiro, a área passou para a Polícia Militar, que em pouco tempo a devolveu ao Estado. O locatário seguinte foi a Secretaria de Agricultura, que pretendia a transformação da Colubandê em Museu da Flora, projeto paralisado por falta de recursos. O mais recente habitante foi o Corpo de Bombeiro, que há dois anos devolveu-a ao Estado.
No início da década de 1980 a luta pela preservação da Fazenda, bem como de sua transformação em espaço cultural, uniu cerca de dezoito associações de bairros vinculadas a Unibairros, mas apesar das campanhas de mobilização e até mesmo da restauração da seda da Fazenda executada pela Fundação Pró-Memória, Colubandê voltou a ser ocupada pelo Batalhão Florestal, de acordo com o Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural).
Só nos resta agora torcer para que a Polícia Militar, com seu Batalhão Florestal tenha a sensibilidade necessária para manter preservado aquele patrimônio para que continue sendo o mais importante exemplar da arquitetura rural brasileira.
São Gonçalo sediou alguns dos mais importantes hipódromos do Estado do Rio, a sociedade carioca atravessava a baía em busca de fortes emoções nos prados de São Gonçalo. Conheça um pouco mais aqui. Para voltar ao índice de História, clique aqui.
Revista Municípios do Brasil - Setembro/89, Agosto/90 e Setembro/95 - J.E.F. Editora Cultural Ltda.
Bibliografia:
São Gonçalo - Salvador Mata e Silva e Osvaldo Luiz Ferreira - Editora Belarmino de Mattos - 1993. - CDD-372.8909815.