História


Neves e seu esplendor

Neves é o mais antigo distrito de São Gonçalo, tendo sido o ponto alto da vida econônimca, social e política desta terra.

Surgiu de enormes fazendas localizadas à beira-mar, onde viveram senhores e escravos, que, à força de muito trabalho, deram início ao progresso do lugar. No Paiva, os terrenos fizeram parte de uma fazenda que se estendia pela orla marítima, indo até ao Porto da Vala. O dono de tal propriedade, segundo alguns, teria sido um cidadão conhecido por Chico Paiva que mais tarde veio a loteá-la, passando a administração para Joãozinho Paiva, um de seus filhos.

Toda a vida de Neves se concentrava em torno do Porto do mesmo nome, o qual se localizava justamente, no princípio da antiga Rua da Covanca, hoje Floriano Peixoto. O movimento portuário era feito através de faluas e lanchas que transportavam os produtos gonçalenses para o Rio de Janeiro. O transporte era feito por diveresos modos: numa época mais remota, com o auxílio de animais e carroças de bois, e já mais tarde, por via férrea. Não pode deixar de fazer menção, aos bondes a burro, cujos animais eram trocados no Barreto. Era um transporte coletivo.

A iluminação da cidade era a gás e das residências, feitas a querosene ou carbureto, sendo então, utilizados os lampiões e as lamparinas. Na mesma época, já serviam ao bairro, a E. F. Leopoldina, atual Rede Ferroviária Federal e a E. F. Maricá. Esta última, partia da Rua Oliveira Botelho indo até Cabo Frio, e os bondinhos a fogo. Este transporte pertencia a Transwal Rural Fluminense. Compunha-se de uma máquina que conduzia dois carros que iam de Neves a São Gonçalo, estendendo-se mais tarde até o Alcântara. Com a evolução dos tempos, foi esta condução aperfeiçoada, passando a ser puxada por máquina a motor a qual veio a ser transformada no bonde elétrico. O escoamento dos produtos eram auxiliados por outros Portos que ficavam na orla periférica do Bairro: Porto da Madama, Porto da Vala, Porto do Gradim, Porto Novo, Porto da Ponte, Porto da Pedra, Porto do Velho e Porto da Lira.

Neves foi sede do 10o Batalhão, berço da Guarda Nacional, instalado à Travessa Ana Soares. Naquele tempo os altos do oficialato também eram adquiridos através desta Guarda Nacional e, posteriormente reconhecidos pelas Forças Armadas, posto que, inestimáveis serviços foram prestados a Pátria, pelos seus componentes formados pela elite da sociedade de então. Coube a este 10o Batalhão, a responsabilidade de policiar a cidade.

Mais tarde, foi organizado a Polícia Civil tão operosa quanto a primeira; seus elementos foram tirados da elite e não eram remunerados.

Neves também possuiu a Guarda Noturna fundada pelo Capitão Rubens Orlandini, que durante muitos anos foi o seu Comandante. A sede primeiramente foi instalada na Rua das Neves ao lado da residência do Major Quirino.


Agricultura, Comércio e Indústria

A agricultada de Neves se resumia aos produtos hortigranjeiro, produzidos nas pequenas chácaras do local. Dos outros Distritos é que provinham os produtos que eram exportados, destacando-se: laranjas, goiabas, abacaxis e melancias, sendo que São Gonçalo, ocupou lugar de relevo na produção de laranjas.

O Comércio e a Indústria constituíram o "forte", motivo de todo o esplendor desde Distrito.

Os primeiros comerciantes foram dados ao comércio de tecidos. Muitos deles eram vistos a mascatear pelas ruas; outros foram prestamistas.

Antes da existência dos bares e botequins, houve as vendas de varanda; os tropeiros amarravam em frente às mesmas, os animais cansados das viagens que desde alta madrugada, vinham ao Porto das Neves. Enquanto isso faziam as compras necessárias aos seus lares. Tempo em que a carne seca era vendida a dez tostões o quilo.

Para os cereais eram usado o litro. Nesta época, o cafezinho era vendido nos quiosques, espécies de "biroscas"; também ali podiam ser comprados o pão, salame, cigarros e charutos.

Ainda na área comercial, há de ser ressaltado o Mercado de Neves, procurado por pessoas residentes em outras cidades, posto que, o pescado era vendido e até exportado para o Rio. Havia peixes de toda qualidade. O movimento era grande. Hoje, o velho mercado deu lugar às instalações do Batalhão da Polícia Militar.

A indústria mais antiga é a Companhia Hime, que até hoje se destaca dentre outras. Cobre uma grande área, tendo a sua entrada pela Rua Barão de São Gonçalo. Há muitos anos, pertencia ao Hime um setor que fabrica escovas e outro que produzia verniz e esmalte próprio para esmaltar panelas.


Vida Social

O Primeiro cinema teve o nome de Cassino das Neves, tornando-se depois o Cinema Neves. Enquanto se denominou Cassino das Neves, nele foram apresentadas peças teatrais, com a presença de um bom público. Era um teatro amador.

A festa máxima de Neves realizava-se todos os anos em 1 de maio, no Hime. Era oferecida pela própria companhia: os festejos se iniciavam às 7 horas e só terminavam às 24 horas. Não faltavam os fogos de artifício, os balões, a fogueira, a banda de música e farta distribuição de guloseimas aos operários e respectivas famílias.


Figuras Populares

Foram figuras populares e inesquecíveis, a Cabocla da Lira e o Velho Humberto, dois mendigos, porém educados, incapazes da prática de qualquer mal.


Clubes Carnavalescos

O Carnaval antigo era abrilhantado por grupos fantasiados. O primeiro a surgir em Neves, o Lira de Ouro tinha sede à entrada da antiga Rua da Lira, atual Ernesto Ribeiro. Ano depois, este grupo, deu lugar a um outro denominado Netos da Lira, o qual passou a competir com os grupos Sol Brilhante, Filho das Matas e Estrela de Ouro. Os encontros destes grupos nos dias consagrados ao Rei Momo, eram bastantes agressivos. Mais tarde formaram-se os ranchos, os blocos e as sociedades.

As batalhas de confete eram realizadas em quase todas as ruas do bairro. Algumas patrocinadas pela "A Comarca" e outras, pelos negociantes e famílias. Eram festas carnavalescas que atraíam multidões.

Havia também banhos à fantasia, no Paiva e deixaram saudades.


Outras Diversões

Em Neves houve três touradas: a primeira na Rua Oliveira Botelho, a antiga Rua das Neves, no lugar denominada Vaca Braba. Tornavam parte toureiros estrangeiros. A segunda, se realizou justamente onde hoje é o Cinema Neves. Apareciam toureiros estrangeiros e pegadores; também não faltavam, os forquetas. A terceira, funcionou à Rua Benjamin Constant, à moda espanhola. Tomavam parte toureiros portugueses e espanhóis. Tivemos ainda uma outra espécie de tourada à Rua Conego Goulart, com toureiros brasileiros e o falado "Boi na Corda", à Rua Floriano Peixoto; funcionavam aos domingos e até atraíam expectadores do Rio de Janeiro.

Nos terrenos do Hime, havia corrida de cavalos e rinha de galos.


A Imprensa

A Imprensa sempre se constitui em defesa do progresso dos povos, como porta-voz da vontade popular. Em Neves tivemos o Correio Gonçalense e a Comarca.

Passaram-se os anos. Aqui aconteceu o inesperado: enquanto o progesso tomou conta de várias regiões da cidade, Neves regrediu. Ocorreu alguma providência por parte de governantes, como o saudoso Joaquim Lavoura, que iluminou e asfaltou algumas ruas. Construiu também o Colégio Ernani Faria, que veio mudar para melhor, a paisagem do lugar.

Mas, para chegar Neves a ser o que já foi, muito trabalho há de ser feito.

No início do século a educação gonçalense figurava entre uma das melhores do Brasil, leia mais sobre esse assunto aqui. Para voltar ao índice de História, clique aqui.



Bibliografia:
São Gonçalo - Salvador Mata e Silva e Osvaldo Luiz Ferreira - Editora Belarmino de Mattos - 1993. - CDD-372.8909815.

Revista Municípios do Brasil - Setembro/89, Agosto/90 e Setembro/95 - J.E.F. Editora Cultural Ltda. Este texto, por Aída de Souza Maria.

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