História


A Senhora se diverte, a agradável visita da viajante Maria Graham

Embora não constituísse fato totalmente inusitado, não era muito comum visita de viajantes do sexo feminino pelo interior do Brasil. Além de Ida Pfeiffer, apenas temos conhecimento da inglesa Maria Graham, que deixou no seu "Diário de uma Viagem ao Brasil" interessantes anotações sobre a sua visita à então Freguesia de São Gonçalo oportunidade em que esteve hospedada na Fazenda da Nossa Senhora da Luz.

Maria Graham era possuidora de uma expressiva cultura geral além de apreciar as ciências naturais, pintura, desenho, história, literatura, artes e outros conhecimentos que muito comtribuíram para enriquecer ainda mais as suas narrativas e diários.

A sua passagem por São Gonçalo aconteceu no dia 1 de março de 1822 depois que retornara da Bahia, permanecendo ali na Fazenda de Nossa Senhora da Luz até o dia 4, quando tivera que retornar, para a sua tristeza, segundo deixou registrado: "Fiquei realmente muito triste - diz ela - pelo nascer do sol, ao ver os barcos prontos para levarem-nos de N. Sra. da Luz onde havia aproveitado nossos três dias tanto quanto possível, em boa companhia, com um amável anfitrião, o tempo livre e sem nenhuma obrigação, tal como poderia convir aos habitantes do castelo da indolência, onde cada qual vagabundeava da maneira mais agradável. Reinava ali a liberdade em toda pureza. Nem a palração, nem o enfaramento das solteironas, nem a beatice melancólica, podia murmurar contra nossa alegria. E, com língua venenosa, estragar nossos prazeres. Por quê? Não havia senão uma grande regra para todos: Agir com sabedoria, de modo que cada um realizasse o seu desejo".

Assim resumiu a inglesa Maria Graham sua permanência em São Gonçalo, legando-nos ainda um pintura sépia datada de 3 de março de 1822 em que retrata a sede da Fazenda de Nossa Senhora da Luz publicada no seu "Diário" e cujo original se encontra no Museu Britânico.

Antes de embarcar para a Fazenda de Nossa Senhora da Luz, Maria Graham faz referência ao Capitão Graham, seu marido, observando que o mesmo teve um leve ataque de gota, razão pela qual não teria desembarcado, desde a volta da Bahia; "mas - continua a escritora - como ele está hoje um pouco melhor, insistiu em que eu acompanhasse um grupo de nossos rapazes num excursão pela baía para ver uma fazenda e um engenho."

Em outra parte do seu "Diário" ela menciona: "O lugar para onde estamos indo é Nossa Senhora da Luz, cerca de doze milhas do Rio, para o fundo da baía, perto da boca do rio Guaxindiba, rio esse que nasce na serra de Itaipu, e ainda que seu curso direto seja somente de cinco minhas, suas voltas medem vinte ou mais. É navegável e suas margens são espantosamente férteis."

O primeiro dia de permanência de Maria Graham na Fazenda da Luz serviu para que fizesse um reconhecimento do local, assinalando ela que desembarcaram junto à casa: "mas como a praia é rasa e lamacenta fomos carregados para a praia pelos negros", diz ela. "Não há nada mais belo que a paisagem aqui. Da varanda, além do primeiro plano doméstico e pitoresco, vemos a ba&iacutea manchada de ilhas rochosas. Uma delas, chamada Itaoca, é notável por ter sido, na opinião dos índios, a residência de uma pessoa divina."

Como boa observadora que era, a inglesa faz anotações sobre tudo que achou de mais interessante em São Gonçalo, como por exemplo a produção de cerâmica, a fabricação de cestas e criação de aves por antigos escravos, já libertos pelo avantajar da idade, fato que causou impressão a Maria Graham ao ponto de anotar em uma das partes do seu "Diário" que gostaria de ter o talento de escrever uma novela a respeito dessa história de escravos; "mas os meus escritos, como os meus desenhos, não conseguem ir além da descrição da natureza e permito que melhores artistas possam aproveitar o assunto".

O fato é que a escritora e pintora inglesa Maria Graham nos prestou um grande serviço, tanto mediante os seus minuciosos "Diários" como também graças aos bons desenhos que nos legou, cujos originais se encontram no Museu Britânico.

Além de Maria Graham outros dois viajantes estrangeiros merecem destaque, são eles Augusto de Saint-Hilaire e John Luccock. Conheça mais sobre eles aqui. Para voltar ao índice de História, clique aqui.



Bibliografia:
São Gonçalo - Salvador Mata e Silva e Osvaldo Luiz Ferreira - Editora Belarmino de Mattos - 1993. - CDD-372.8909815.

Revista Municípios do Brasil - Setembro/89, Agosto/90 e Setembro/95 - J.E.F. Editora Cultural Ltda.

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