Convento de São Bernardo

Hoje em dia este convento é a Escola prática da GNR, situado onde antes se chamava alto da Fontedeira. Era de invocação de Nossa Senhora da Conceição e de monjas da Ordem de Cister. Foi fundado em 1518 pelo Bispo da Guarda, D. Jorge de Mello. Em 1530 já estava pronto o dormitório, casa do Capítulo, refeitório e as dependências necessárias. Em 19 de Agosto de 1531, foram assinados os estatutos pelo fundador que continuou as obras as quais estavam concluídas quando da sua morte em 1548. Deixou o bispo fundador uma grande fortuna que foi usufruída por D. Helena de Mesquita, e por D. António de Melo, seus próximos parentes; esta fortuna foi disputada por vários, sendo finalmente resolvido que, por renúncia dos herdeiros a favor do convento a fortuna do bispo lhes fosse restituída.
Nos últimos anos do Sec XVI fizeram-se grandes obras nos claustros, dormitórios e refeitórios novos. Em 1739 fizeram-se também importantes modificações.
Em 1776, as monjas abandonaram o convento, o qual foi novamente povoado e provido de obras importantes em 1779.
Extinto o convento pela morte da sua ultima freira, em Maio de 1878, foi este pedido para nele se instalar o seminário diocesano, o que foi permitido em 1879, a título provisório. Em 1880 instalou-se em parte do edifício o liceu que ali se conservou até 1887. Sofreu depois obras para adaptação a seminário , que continuou no edifício depois da sua posse definitiva em 1883. Em 1910 foi edifício destinado a quartel e secularizada a igreja.
Seguia o convento a regra de Cister ou de S. Bernardo e foi governado primeiramente por abadessas perpétuas. A primeira foi D. Branca de Vasconcelos e Melo, cuja sepultura cuja sepultura se encontra actualmente no transepto da igreja conventual. A segunda e ultima foi D. Joana de Melo, filha do fundador, que governou o convento por mais de cinquenta anos. Depois da morte de D. Joana de Melo, as abadessas foram eleitas trienalmente.
Para o recinto do convento entra-se por uma porta do século XVII, com o escudo da ordem de S. Bernardo; esta porta precede um extenso pátio ou adro cercado de muros, ao centro do qual estava uma fonte de mármore com a figura de Neptuno e dezasseis bicas, tendo sido substituída em 1883 pela actual.
A mesma alpendrada ou galeria que dá entrada é igreja conventual serve de limiar à portaria privativa do convento, situada à esquerda e comunicando com o aglomerado de edificações cuja aparência exterior não conserva vestígios da traça primitiva.
O tecto da galeria deste lado é liso. Ao fundo encontra-se o portal que dá ingresso ao interior do convento. É de mármore de Estremoz com ombreiras e verga molduradas, e a arquitrave sustentada por duas mísulas. Sobre esta encontra-se um frontão ladeado por duas urnas tendo ao centro um medalhão circular com as arma do Melos, entre duas elegantes volutas.
No friso pode ler-se a data de 1547, e as iniciais I.H.V.S. azulejos azuis e brancos do sec. XVIII, da mesma feição dos painéis da galeria emolduram o pórtico.
A seguir a esta porta está uma pequena casa com abóbada de laçaria com nervuras e ao centro o brasão dos Melos. Á direita, por um corredor entra-se para o primeiro claustro, ainda precedido por um átrio com o tecto de abóbada de nervuras.
As portas de comunicação são de esquinas chanfradas, em granito da região.
O primeiro claustro é um vasto quadrilátero ajardinado; ao centro existe uma fonte de granito com coluna, tanque e bacia, obra já do século XVII. O claustro é de dois andares com pavimentos lajeados e tijolados, restaurados.
Tem quatro arcos duplos de cada lado, separados exteriormente por contrafortes de cantaria aparelhada. No pavimento ou andar térreo, os arcos são de volta redonda com molduras chanfradas, sustentados por colunas cilíndricas com capiteis de decoração muito variada, fitomórfica e antropomórfica, tendo um deles quatro vezes repetidos o brasão com as armas dos Melos . As bases são simples, assentes sobre resguardos ou cortinas de granito esquinado que limitam o claustro.
No piso superior os arcos são de volta fortemente abatida, emoldurados por uma série de três chanfraduras sobrepostas de ambos os lados. Os capitéis são de configuração mais simples fitomórficos.
As abóbadas dos claustros tem nervuras moldadas, assentes sobre mísulas cilíndricas trabalhadas. As abóbadas do andar térreo são de volta abatida, e num dos lanços o tecto abatido é de simples esteira.
Nos ângulos do claustro, aos contrafortes sobrepõe-se gárgulas, onde caleiras despejam as águas pluviais. No pavimento superior deste claustro, notam-se nos ângulos quatro arcos fortemente abatidos, de esquinas chanfradas e assentes sobre mísulas.
Segue-se o segundo claustro, idêntico na disposição ao precedente, mas de menores dimensões. Tem três arcos duplos de cada lado. Os contrafortes são quadrados até meia altura e, seguidamente, pentagonais e de esquina saliente.
Os arcos do pavimento térreo têm capitéis com decoração variada e mais proeminentes que os do primeiro claustro. As mísulas em que se apoiam as nervuras das abóbadas são relevadas e decoradas profusamente.
Õ andar superior deste claustro semelhante ao anterior apresenta algumas modificações acrescentadas posteriormente.
Ligado à parte do norte está um varandim assente sobre arcos redondos de esquina, chanfrados e reforçados nos ângulos dos contrafortes dos cunhais. Em dois dos lados do claustro, erguem-se arcos de volta redonda abrangendo os grupos de arcos duplos, e assentes nos contrafortes exteriores. Estes arcos foram apostos para suporte e segurança das coberturas e telhados.
Numa lápide existente no andar superior deste claustro pode ler-se a seguinte inscrição: "Destero do Ejito na era de 1615"
As passagens para os claustros têm tectos com nervuras assentes sobre mísulas; as portas de comunicação são chanfradas e nas parede do claustro ainda se encontram portas com as ombreiras biseladas e recortadas como as da primitiva traça.
Neste claustro está situada a casa do capitulo, cuja entrada se faz por uma porta de moldura muito larga, ladeada por duas janelas de moldura duplamente chanfrada e de volta redonda; o arco da porta é de volta abatida.
A casa do capitulo é de abobada com nervuras salientes assentes sobre oito mísulas trabalhadas. Nos quatro cantos, as mísulas sustentam ramos de três feixes de nervuras que se encontram com as nervuras laterais quebrando os ângulos. Todas as nervuras que nascem das oito mísulas reunem-se ao centro onde, no bocete, se vê um escudo com as armas de D. Jorge de Melo. Oito florões esculpidos estão colocados nos cruzamentos das nervuras. Quatro janelas, cuja abertura é posterior à da estrutura primitiva iluminam a sala.
O pavimento é de tijolo. Ao fundo existem restos de um altar que foi coberto de azulejos de relevo.
Na casa do capitulo encontra-se a sepultura da abadessa D. Joana de Melo; campa em mármore com moldura saliente e a seguinte inscrição: "Aqui jaz Dona Joana / de Melo 2ª abadessa / perpetua deste / mosteiro foi abdª 50 anos / e 6 meses Faleceu a 19 de / junho de 1587 " Em campa rasa "Sª de Dona Mgdª da Silva Falcº a 3 de Frº da era de 1643 "
Os claustros estão regularmente conservados, posto que naturalmente danificados pela adaptação a quartel. A casa do capitulo notável construção do sec XVI, serve actualmente de auditório, sem se respeitarem as sepulturas das abadessas ali existentes; está pessimamente resguardada.

Neste texto não está contemplada a história da igreja do convento. Nesta se pode encontrar o maravilhoso tumulo de D. Jorge de Melo, Bispo da Guarda. Em breve também aqui colocarei algumas imagens e respectiva descrição

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João Cardoso 1998 com base no Inventário artistico de Portugal (Lisboa 1943)

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