Here are two letters written by Padre Ze, as he is known in Suzana, reflecting on the recent resumption of fighting in Bissau. Padre Ze has lived at the Catholic Mission of Suzana in Guinea-Bissau since 1968. (Click HERE for an English translation of the letters, courtesy of Arthur Bell.) Comunicado: Suzana 01.02.1999 Mais uma vez As rádios recomeçaram a falar de guerra na Guiné-Bissau. Às noticias já comunicadas há a acrescentar quanto segue. O apelo do Primeiro Ministro é dirigido a ambas as partes, diz que todos tinham assinado a retirada completa das forças estrangeiras presentes na Guiné até ao dia 7 e o inicio da actividade do Governo de unidade nacional até dia 14 e que, portanto, se devem respeitar os compromissos assumidos e que a ECOMOG cumpra o seu dever neste sentido. Mais uma vez a CEDEAO respondeu antes que terminasse o ultimato dado pela Junta Militar, pelo que esse ultimato caiu como o precedente - que dizia respeito ao prazo para a formação do governo de unidade nacional. No entanto a outra parte achou por bem atacar, proclamando à direita e à esquerda que quem tinha atacado era a Junta, que tinha imposto o ultimato. Nesta armadilha caiu, ao que parece, até o correspondente da rádio portuguesa. A rádio da Junta Militar na tarde de ontem falou de ataque conjunto de senegaleses e franceses às suas posições, pelo que tiveram de defender-se. Fala-se de dois mortos confirmados até ao meio-dia e diversos feridos que deram entrada no Hospital Central; outros (da Junta) foram levados para o Hospital de Canchungo. As coisas evoluem neste preciso momento(são 23.58, de 31.1) com armas pesadas a disparar de Bissau para Brá e para Cumura. A Junta convida a sair de Bissauzinho ou a encontrar refúgio. Diz que dentro em pouco responde ”forte e feio” e que não se deterá até que não veja cara dos que estão nas linhas avançadas inimigas. As informações que corriam ontem à tarde falavam de meia centena de mortos na linha da frente e várias dezenas de civis em Bissau. Não sabemos em que medida isto corresponde à verdade. A sensação é que desta vez vai até ao fim e MUITA GENTE ESTÁ DE ACORDO, porque viram que, cada vez que existiu uma trégua ou foi assinado um acordo, sempre serviu só para ganhar tempo para o lado do Nino e aliados, a dar espaço às pretensões do Senegal (que começou já em Abidjan, quando queria milhares de soldados aqui na fronteira, em território Guineense, naturalmente!...) e para aumentar o estado de sofrimento do povo da Guiné-Bissau. Uma pequena análise, se me é permitido. Também desta vez, quem tinha interesse em bloquear o processo de paz? A quem convinha? O povo da Guiné-Bissau já há muito tempo reprova a excessiva paciência da Junta Militar e mesmo a ingenuidade de ceder sempre, de acreditar na boa fé do Nino e sócios. Oiço-o dizer a todos até com raiva. Quem tem a ganhar com tudo isto é o Nino, ou melhor Abdou Diouff, que faz dançar o Nino como uma marioneta nas suas mãos. É preciso que alguém diga que o rei vai nu para que finalmente os outros também o digam? Está bem, se é preciso digo-o eu e assumo a responsabilidade. Não me digam que o Abdou Diouff não sabe que quem vendia as armas aos rebeldes era o Nino e o seu Ministro da Defesa (que era o antigo Presidente da Região do Cacheu e tinha muitas ligações com o outro lado da fronteira). Vi pessoalmente, no passado, camiões militares da Guiné-Bissau descarregarem arroz em Kassolol, a oito quilómetros daqui, com rebeldes a receberem-no. Nunca parei para perguntar o que faziam, mas fui depois informado de que se tratava. Só que , aceitando a versão segundo a qual o responsável pelo tráfico seria o Ansumane Mané, o Senegal consegue fazer crer que defende a Autoridade constituída e as instituições democráticas, em vez duma via livre para resolver , através da Guiné-Bissau, o seu problema de Casamance. Tudo com a benção de França, que precisa de colocar sobre a balança europeia a sua (presunta) influência em África, para contrabalançar o peso de outros Estados membros como por exemplo a Alemanha. E no jogo das influências em África o Senegal é o campeão de democracia de que a França se vangloria de Ter construído neste continente. Claro que, em tudo isto, a guerrilha inimiga na Casamance e a repressão levada a cabo pelo exército representam uma grande mancha a eliminar custe o que custar (aos outros). Não me digam que isto é ficção-cientifica. Senão, o que está a fazer aqui a França com as armas na mão? O que explica isto? Deveremos falar de “bom coração” e altruísmo? Volto a repetir: basta a França dizer ao Senegal que pare, para que isto volte a entrar nos carris, aluno atento sempre foi. Em vez disso, faz o contrário e apoia-o no próprio terreno. E nisto a União Europeia tem as suas responsabilidades. Por sua vez, depois da declaração “descentrada” de 18.06.98, entrincheirou-se detrás de um silêncio cúmplice. Mas como se tolera um comportamento do género por parte de um Estado Membro da União? É preciso dizer que o Departamento de Ajuda Humanitária se mexeu. Para além de todos os entraves, para além mesmo dos obstáculos levantados pelo Senegal. Mas não chega tranquilizar a consciência com um pouco de ajuda humanitária: a Europa tem muito a fazer ao nível da justiça, no respeito a este povo, cuja vontade é evidente, a não ser para quem queira fazer-se surdo.
P.S.:
Padre Guiseppe Fumagalli
FONTE: ACEP (Acção para a Cooperação entre os Povos) Suzana, 3.02.1999 Foi-me dito que o Senhor Chirac reagiu ao que tinha assinalado sobre a posição da França no conflito aqui na Guiné-Bissau e a presença de militares franceses no terreno em apoio ao Presidente Nino Vieira. Pela minha parte ouvi os desmentidos do MinistÈrio dos Negócios Estrangeiros de França e do Embaixador de França em Bissau. … natural que tivessem desmentido, j· o esperava. A história passada e recente habituou-nos aos desmentidos dos políticos, tanto mais ressentidos e expressivos quanto mais os seus autores se encontram apanhados com a mão no saco. Continuam na mesma a desmentir, têm esse direito; desde que entretanto coloquem em acção inteligência e honestidade para resolver as coisas de uma maneira diferente. … que os tais militares franceses foram mesmo vistos apesar dos desmentidos. Esperamos que não se continue a afligir este continente com casos semelhantes aos dos varios Idi Amin Dada, Bokassa, Mobutu e companhia, para falar só de "proezas" passadas. Com elevada consideração e os melhores cumprimentos
Padre Guiseppi Fumagalli
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