Huco Monteiro, a Guinean who usually lives in Europe, was caught in Bissau during the shelling January 31 - February 4, 1999. His reflections on the situation, written in the form of journal entries, take you to the center of war-ravaged Bissau. You can almost hear the thunder of artillery fire and feel the cold as families wake at dawn to hide in "bunkers" before the daily shelling begins. (I will translate, or try to convince others to translate, these writings into English if there is interest.)
Amigos,
Agradeco ajudarem na divulgacao desta mensagem de Paz. Contactem tudo e todos para que pressionem as partes em conflito a parar a carnificina em Bissau. Apelem a todos para uma ajuda incondicional ao nosso povo.
Cuca
Paz e retirada imediata de tropas estrangeiras
Algumas bombas produzem o som estridente de um colossal armário metálico em movimento. Outras silvam como a sirene dos bombeiros. Há também outras que nem barrulho fazem. Mas todas são altamente mortais. A guerra voltou a Bissau com estes engenhos, talvez dos poucos que nós sabemos manejar com destreza.
As populações continuam a fugir em todas as direcções. As balas chovem igualmente em todas as direcções. O discurso dos fazedores de guerra orienta
nos mesmos azimutes contraditórios.
Na rádio nacional aconselham os populares a não abandonarem as suas casas, que guardem a calma e que se abriguem como puderem.
A rádio da Junta Militar repete sem cessar apelos ao abandono da cidade, considerando a capacidade de destruição das armas com que planejam ripostar aos
ataques das forças leais.
Voltamos a ver feridos, mortos, casas e
infra-estruturas destruídas. Estou coleccionando estilhaços daqui da minha calma rua 10. Há muito sofrimento. Há muitos feridos e mortos nos hospitais.
Não há nem alcool, nem pensos. Não há nada. Só sofrimento e a odiosa linguagem das armas.
As partes acusam-se mutuamente de ter iniciado a guerra.
Segundo a rádio nacional as tropas esrangeiras estariam a levar a melhor, aliás a aniquilar os nossos combatentes.
Eles, os lucutores, falam como se estivessem relatando um jogo de futebol: "é preciso destruir tudo, tudo mesmo. Já sabemos onde eles se encontram, esses bandidos, arrogantes da Junta Militar. Brigadeiro Humberto Gomes, por favor,utiliza todas armas para bombardear. Camarada João Bernardo Vieira, tu já não tens nada a ver com isto. Deixa os militares fazerem o seu trabalho. Lancem mais bombas. Lamcem mesmo aquela bomba que o Nino nunca quis que usassem".
Não se ouve muito bem, ou quase nada a rádio Voz da Junta Militar, por causa das fortes interferências programadas pelo governo. Neste momento só se ouve a rádio nacional, com Bernabé Gomes, Chico Carruca e Carlos Nhafé. E a mensagem é a mesma de sempre.
Meu Deus, será que se trata de uma guerra entre nacionais? Não acredito. Há muitas vítimas. E todos só falam em continuar os bombardeamentos massivos.
Até que começou um programa animado pelo jornalista Mendonça. Fala brando … mensagem conciliadora e distância para com as partes em conflito. Era a República que falava. A nossa República da nossa pátria amada. Não aquela conspurcada por botas suruas.
Na sequência disso, um jóvem médico, Plácido Cardoso lastimava a carnificina em que o país se envolveu e pede aos beligerantes para pararem imediatamente os combates. Depois seguiram-se outras
vozes. Não tardaram porém a serem sufocadas por desígnios tenebrosos. Dr. Plácido estava a chorar.
Caíram tres bombas dentro do Hospital. Na enfermaria e no bloco operatório. Ele chora e ameaça refugiar-se também, já que as bombas começam a cair no seu local de trabalho.
Oh mundo. Oh Naçoes Unidas. Oh amigo da Guiné. Caro irmão ... isto é uma hecatombe. Ajuda a Guiné-Bissau. Fala... grita... mobiliza a tua volta, aqueles que decidem mais do que nós, para por termo a essa absurda guerra.
Lembrei-me daquela cantiga: montiaduris ku ka kunsidu é lanta é na fuguia pubis.
Ou então esta outra : Terra na tchora pena di si fidjus ku bindi sé kabeça. Fidjus mofinu ku ka sibi nada, ké ku na bim passa té pa sol na mansi.
Fazes falta, Zé. Tu tinhas que estar entre nós para consagrares em cantos esta epopeia negra.
Muitas vozes falam da presença de franceses: mercenários,legiao estrangeira? Ninguém sabe. Mas desde que o padre falou, deixamos de ouvir o som ensurdecedor do seu estrondo.
A verdade é que enquanto os senegaleses não deixarem o nosso pais não teremos paz. Que façam as suas muchilas e partam da nossa pátria martirizada. Que
nos deixem resolver os nossos problemas, sozinhos.
Você que me lê, seja mais um "step flow" para a retransmissão mundial desta mensagem de paz.
Bissau, 1 de Fevereiro de 1999
Huco Monteiro
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Si nô bim matil, mansin amanhã!
De manhã muito cedo as famílias põem-se de pé, acabam os preparativos para rapidamente entrarem nos abrigos de fortuna, comumente designados de bunquers no jargão de bissauzinho. Lá vamos todos, com lamergas nos olhos mal abertos, antes que bombas sem olhos façam perigar a vida de mais um ente querido nosso.
Mata bicho e outras coisas fazem-se é nos abrigos.
Neste momento faz frio em Bissau, o que torna ainda mais penoso o sacrifício matinal das pessoas, nomeadamente das crianças.
Mal as pessoas chegam aos abrigos, começam a soar os primeiros arrebentamentos e caem as primeiras bombas da morte. Aí vão mais bombas da katchusha para lá. Aqui morreram muitas pessoas e muitas casas ficaram danificadas. Morreram muitos senegaleses, novamente.
Mas também muitos civis, a maior parte dos quais eram jovens. Considerando a intensidade e a violência do fogo deste lado, julgo que muitas pessoas também morreram no outro lado da trincheira.
Certamente que perdemos muitos valorosos combatentes, apanhados pela surpresa dos ataques. Digo pela surpresa de ataques porque foi o que se depreende da entrevista de um membro da Junta capturada pelas forças leais a Nino Vieira. Ele - o combatente apanhado - estava a fazer as suas preces pela manhã cedo quando um grupo de assalto o capturou. Isto quer dizer que eles não esperavam um tal ataque.
O povo continua a viver como toupeira. Os jovens são mais descuidados, por isso morrem mais. As mulheres parecem mais inteligentes. Entre duas bombas, como em tempo normal, é ta pui kaleron, ou midi sal e ainda cuidam das crianças.
É a minha primeira guerra, mas nunca fui a um Bunker. Aproveito desta pausa profissional para
acabar um livro sobre o mercado de Bandim. Mas, estou funcionando como um autêntico general civil. Tenho comigo os filhos das minhas irmãs Anabela e Samira e os do Rachide Saiegh. Ao mesmo tempo fazemos rondas no Bairro para evitar roubos, mas também para socorrer casas ou pessoas atingidas pelas bombas. A nossa presença é muito dissuasiva, mesmo em relação a
tentativas de violação de direitos humanos. Desde que os confrontos recomeçaram encontramo-nos sempre na esquina da BBC com Fernando Gomes, Inácio Tavares e Valdomar. Ontem apareceu o Adalberto Rosa. Que futuro para a Guiné era o ponto central das discussões.
O que é que se passa com Zamora, nunca mais falou desde as primeiras horas de combate? Estou
preocupado, sobretudo depois da entrevista do Fadul que falava de tiros surpreendentemente certeiros e de feridos. A Guiné não pode perder mais um valoroso quadro militar.
Mas os tiros que chegavam do outro lado eram igualmente certeiros. Fala-se que duas bombas teriam atingido o palácio presidencial. Não sei se é verdade. Parece também que muitas bombas caíram em certos aquartelamentos senegaleses improvisados como no INEP e no INDE. O Jornal Kankan disse que um T 52 foi destruído junto à Aldeia SOS. Outros dizem que um outro Tanque da Guiné Conakry teria sido destruído nas zonas de Luanda. Mas na rádio nacional alguns
locutores continuam a dizer que as forças leais progrediam irreversivelmente no terreno, arrasando tudo no seu caminho. As nossas forças já tomaram Polon de Brá. Será verdade ou os nossos jornalistas já aprenderam a falar como os seus homólogos senegaleses que durante meses diziam a mesma coisa e que já se encontravam a caminho do Aeroporto? Mas como poderão estar a falar de Brá conquistado se a Rádio Voz d Junta Militar continua a emitir?
A feira de Cuntum recebeu várias obuses. O laboratório Nacional de Análises sito no Hospital 3
de Agosto ardeu completamente.
O meu primo Artur Silva chamou-me ao telefone recomendando muita cautela. De repente ouço um estrondo e a linha foi abaixo. Afinal tinha caído uma bomba na casa do seu colega Brandão Có, ex-Ministro da saúde.
Acabo de falar na rádio nacional onde dirigi um vibrante apelo a Nino Vieira e a Ansumane Mané, mas também ao meu primo Veríssimo Seabra para cessarem imediatamente as hostilidades, em nome dos interesses supremos do povo por quem eles todos reclamam lutar.
É hediondo o que acontece na comunicação social. Os locutores perderam a faculdade de pensar. As mensagens veiculadas são ainda mais monstruosas do que as bombas. Nô na mata elis tudo. Os bandidos devem ser completamente aniquilados. Novamente, ouve-se empunhar a arma do inimigo, do anós ku bali e de elis ku ka bali. As mensagem são de tal forma acesas que por vezes perco a esperança numa eventual recnciliação nacional. O outro é um inimigo. É um animal ferroz e altamente perigoso.
Hoje a luta é verdadeiramente mortal porque apesar de já se fazer muito tarde, os bombardeios continuam.
Segundo a Rádio Nacional, as tropas fiéis estavam em Brá a caminho do Aeroporto. Segundo a Rádio Voz da Junta Militar, brevemente os combatentes estariam nas portas de Bandim. Quanto a mim, cada está onde eu os tinha visto no dia 30 de Fevereiro, salvo aqueles que tombaram quer nas frentes quer nas cassadias de Bissau. Os claqueiros também continuam uns na Bancada
de Pilum, outros nas redondezas de Chão de Papel. E o povo? Este continua sem paz, com fome e com horizontes muito perto do seu totis.
Si nô bim matil, mansin amanhã.
Bissau, 2 de Fevereiro de 1999
Huco Monteiro
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Caros compatriotas,
Como estas narrativas, muitas outras ha que contar e escutar, muitos mais coracoes a atingir e o sofrimento de um povo a continuar. Ate quando?
Vao tirando, nas entre-linhas, as conclusoes e licoes, informacoes e pesares, mas uma coisa e certa... Ha muito, muito mais que contar, e por parte de muitos outros.
O meu coracao chora e sei que os vossos tambem, mas... "Nô ten ki firma tcham suma nô matchundadi" para a defesa dos nossos ideais.
Mantenhas
Cuca
Sinais de paz?
Todos esperamos que sim, mas ninguém já consegue acreditar. Esta guerra começa a ser como aquela nossa brincadeira de criança: pôde-bem. Sabem que no final, nomomento da padjigada, depois do Nhenku-Nhenku e do Tchitchori tchori iaia Ndé Kandému Ntalas (Ndulé-Ndulé), no memento da padjigada ninguém quer ficar com o mentu do outro. O grande problema desta
guerra agora é Kim ku na fika ku mentu, porque depois kanta-se o kurus-karas karessu. Ora designa-se assim kim ku pirdi. Meu Deus, consideremos que ninguém perdeu para não perdermos mais do que ja perdemos todos. Quem ganharia? O povo, senão: perderemos a unica coisa que temos e que nos junta: a Guiné.
Eram cinco horas da manhã, mais uma vez levei o batalhão de familiares para o nosso abrigo. Vamos no quarto dia de guerra e, o dia de ontem foi particularmente violento. Mas, Alinu-li na mentu ntidu ku balas surua Bandé trás, Kiliquir dianti Nô firma suma nô matchundadi na defesa di sigridu di barraka.
Ali élis li é na Ndjata ka na retourner
É ka kunsi nin Kankuran nin Ussai Plek
Kada kim kada Ndjol kada Ndjai arnegu di élis
Ma é ka tissi nin fuka nin bissap
Arma na kosta pa montia Republika rebelde
Ala é na bai fidjus di Ndjai Té kuma Ndjai Djú
Korda di lantcha na rabada / Kanela seku / Kabelu
kuma bosta di kabra
Arnegu di Djop ia Ussalanka
Lutu di Brá I ka tchiga fidi Lifanti
Binhalé um Djamba na Polon bu Fogantal na Puntu Sibi
Montiaduris nhominca salta na Djiba I djunki na Nghala
Alinu li ku elis suma tap ku bangadje
Ronku I ku elis / Ma badju di Brá I djambadon
Guer lambés na toka sikó Djamba na badja kafé kinti
Alinu li Na kassabi di P'Nghana
Kada familia I um stera di tchur
Kada surua I um fora di nós ku na padjiga dur na Pátria
Ali é nega far kussa di bai kuma Bissau mela tchut
Arma na pontada / Lunetas suma di Bubu Na Tchut
Ali élis li é na sussa lensolis di Pátria
É na sibi riba ku bás / Suma djintis ku bin nan Ten Tchon
Alinu li ku returnez na totis
Albés ku fomi albés ku sedi / Pontada kumpridu ma é nega bai
Ali élis li é na kunfundi M'Pandja ku Psak
É na buska Repúblika pa montia
Alinu li nô firma tcham suma nô matchundadi Pó di Sangui
Certeza na kabeça / Amanhã suma farol dianti / Esperança na pitu
Nô n'dianta ku nó terra pabia di amanhá djitu ten na glória di Brá
Sinais de paz?
Talvez agora!
São cerca das três da tarde. Os tiros são menos frequentes. Estarão os soldados almoçando até a esta hora ou a amplitude da carnificina conseguiu finalmente humanizar os beligerantes? De repente a rádio nacional que durante todos estes dias propagava que só haveria trevas quando uma das partes se rendesse, anuncia a chegada de uma delegação togolesa para negociar um cessar-fogo. O que é que se passa? Perguntei-me a mim mesmo. Há poucos tinha falado com
alguns diplomatas da troika facilitante que desde ontem tentam em vão obter uma audiência com o Presidente. De tempos em tempos ainda soam disparos de canhão nas zonas de Bandim e de Pessube/Bissak.
A notícia de uma trégua que poderia transformar-se num cessar fogo é anunciada pela rádio nacional, que desde logo acusa a Junta de não estar a respeitar esse acordo de cavalheiro, à espera de um acordo definitivo a ser negociado com as partes pela delegação do Togo. As crianças saíram logo dos bunkers e encheram as ruas de alegria, jogando à bola ou livrando-se em, pequenos grupos, a grandes "passadas". Falam do Estin muri, da casa do Fulano arrebentado pela bomba, Beltrano cobardolas que não ousava piar mesmo dentro do bunker e do sitrano
"mancebu" que mesmo sob as bombas tinha tempo de andar aos engates.
Ivone não acredita que a vinda dos togoleses possa trazer rapidamente a paz. "Mbé, manera ku é na ameaça Nghutru sin, Nka fia". Mas dentro dela mesma, mais do que todas as outras ela almejava uma paz imediata. Mais uma vez o seu marido Ntoni está ausente quando Bissau é arrebatada pela guerra. Não vão as pessoas pensar que Ntoni sabe das coisas dos militares,
porque desde que deixou a tropa colonial e arranjou um taxi, depois um bar e depois um camião e, depois, uma ponta e uma bela casa nos lados de poilão de Brá, ele não frequenta gente de arma. É que Ntoni, filho de Albino é um homem atarefado. Como se diz, quase um homem de negócio. O negócio de Ntoni não é arma, mas coisas da terra, do debaixo da terra, como madioca, batata, cajú, manga, americanos, ANAG, Canchungo, Paris, etc… Ele nunca está em casa. Passa mais tempo nas ondas da rádio. A mulher se queixa, mas "Ntoni ka ta menda", por isso, quando começa a guerra e "ka ta mati".
"Disgustu di Katchur I kontentamenti di lubu". Tino não sai muito estes dias. Pior, ele, heroi de todas as guerras, famoso pelo desprezo dos abrigos, agora cola com a mulher no bunker da casa do Só Rachid. É que as bombas da Junta chovem agora caindo por tudo quanto é sítio. Ontem caíu na Farmedi, ao pé da Fortaleza de Amura, e matou imediatamente seis pessoas, entre as quais a filha do falecido Comandante da Marinha, Filipe, que morreu juntamente com Feliciano Gomes no início do mês de Agosto. A irmã mais velha de Paulo Silva morreu nesse mesmo
sítio e na mesma altura, vítima de um fulminante ataque cardíaco. Chegam notícias de que a casa do João Blacken foi atingida duas vezes. O palácio também teria sido várias vezes alvejado, dizia alguém no bunker. E, parece que as bombas estão sendo dirigidas - diz alguém citando serviços de segurança.
Passaram com Jonatas no carro - retorquiu um companheiro. Qual Jonatas? O irmão do You, Helder Proênça. Mas Jonatas está doente de cabeça! Doente nem sabe se há bombas e nem onde caem. Vieram buscar o Pumpo. Mbé, o que é que se passa ? Parece que os homens fardados que o vieram buscar disseram que por causa dele as bombas não caíam no Chão de Papel. Mas Pumpu di Tio Inácio de Alvrenga não faz feitiços - respondeu um vizinho dele, neto de Gã da Silva.
Alguém gritou: "Ah si na tempu ba di Tia Orélia Ndjai, nada di és ka ta sedu. Vamos avisar a Liga." Aí vão eles correndo para a casa do Valdo enquanto que, numa Toyota branca, Pumpo, ladeado por dois capacetes de ferro no banco traseiro, viajava para sítio incerto. "Anta kau fenhi" - murmuraram os presentes incrédulos, pelo que viam e pelo que ouviam na rádio. "Anta kau fenhi".
E a paz ainda não tinha chegado às nossas casas. Pelo contrário, chegavam notícias de prisões de gente acusada de estar a dirigir tiros da Junta. Soavam incessantemente estrondos por tudo quanto é canto da Capital.
"É stá dja na Chapa. É na ientra é dinoti". Cada um "cuava as suas nobas" que mais não eram do que desejos pessoais de ver o conflito um desfecho rápido. Nos bunkers como nas rádios muitos são os que preconizam a solução final. Estes certamente não foram ao hospital ver cadáveres irreconhecíveis, sem cabeça, sem membros, cortados ao meio. Para ver crianças ferridas e que perderam todos os membros da sua família. Esses apologistas não viram Ntumbo endoidecido pelos estrondos a dançar na estrada ao ritmo das balas. Não. Não viram nada. Uns defendem o
que têm, enquanto que os outros lutam por aquilo que esperam alcançar. Por isso o claque iracional reclama uma guerra fraticida até a vitória final.
Finalmente, pela voz do Ministro de Iadema, os guineenses tomam conhecimento do novo acordo de cesar fogo, lido nas ondas da Rádio Nacional. A Junta mantém-se silenciosa. As suas emissões estão quase completamente cobertas pela Rádio Nacional. O texto não diz nada senão cessar-fogo e facilitação do desdobramento imediato das tropas da Ecomog. Cadé o problema das tropas estrangeiras? O que terá acontecido com a Junta? Quando é que vão reagir? Terá
acontecido alguma coisa ao Zamora ou a algum destacado dirigente do movimento? Porque é que ele não fala desde Domingo? Deus é grande!
Esperemos que este acordo não venha a significar caminho aberto à perseguição interna, nomeadamente dos amigos da Junta da rua dez, como se diz na Rádio Nacional. E a noite vai caindo com o silêncio da Junta, com a prisão do Pumpo, mas com uma paz anunciada. As bombas continuam, mas cada vez mais ao longe, nas zonas de Plaque, de Bissak e de Enterramento.
Bissau, 3 de Fevereiro de 1999.
Huco Monteiro
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