20 FEV 99 - 18:27
Guiné-Bissau/governo: paz e reconciliação temas dominantes na posse

       Bissau, 20 Fev (Lusa) - A reconciliação nacional e a 
consolidação da paz na Guiné-Bissau foram hoje os temas dominantes dos 
discursos proferidos na cerimónia de posse do governo de unidade 
nacional.
       O presidente Nino Vieira, o primeiro-ministro Francisco Fadul, o 
secretário executivo da CPLP e o chefe do governo togolês, em 
representação do presidente do seu país, foram os oradores da 
cerimónia, enaltecendo os valores da paz e da reconciliação do povo 
guineense.
       Nino Vieira, num discurso de 14 páginas, declarou que a tomada 
de posse do governo de unidade nacional deverá constituir motivo de 
reflexão sobre todo o conflito, por forma a que haja uma "reconciliação 
nacional efectiva, justa e duradoura".
       Considerando que o governo hoje empossado é "um passo 
determinante para que o processo de reconciliação seja dotado de um 
instrumento institucional capaz de conduzir a esse objectivo", Nino 
Vieira fez questão de alertar para o facto de o processo de transição 
que agora se vai viver ser "duma extrema complexidade".
       "Devemos neste momento crucial questionar as nossas 
consciências", disse, acrescentando mais adiante que é absolutamente 
necessário "evitar os erros, as atitudes de desconfiança e a 
agressividade que podem adiar ou comprometer a reconstrução do estado e 
da nação".
       Por isso, Nino Vieira sublinhou que uma das primeira tarefas 
prioritárias do governo de Francisco Fadul terá que ser "contribuir 
para preservar o clima de concórdia e de confiança".
       Ainda no mesmo espírito, o presidente guineense realçou a 
importância do cumprimento do acordo de Abuja no que se refere ao 
desmantelamento do dispositivo militar resultante do confito, chamando 
particular atenção ao processo de repatriamento das forças senegalesas 
e da Guiné-Conacri.
       "Essa operação deverá continuar a processar-se com a dignidade 
de que são tão altamente merecedores os contigentes desses países 
irmãos", afirmou Nino Vieira no que pode ser entendido como a 
delicadeza de que se reveste esta questão.
       Falando ainda sobre os aspectos prioritários do novo governo, 
visando a consolidação da paz, o chefe de estado guineense chamou a 
atenção para a delicadeza de que se reveste igualmente a reunificação 
das forças armadas nacionais, considerando determinante e incontornável 
o acantonamento e o desarmamento das forças em presença sob o controle 
da Ecomog.
       Numa perspectiva de reconciliação nacional, Nino Vieira falou da 
"reestruturação do aparelho administrativo e da reanimação do sistema 
produtivo, sem que tal implique o esquecimento de medidas imediatas de 
apoio às populações deslocadas".
       Outra das tarefas apontadas ao novo governo diz respeito à 
organização das próximas eleições legislativas e presidenciais que, 
segundo Nino Vieira, deverão ser organizadas com eficácia e 
transparência e na mais rápida oportunidade.
       Durante a sua intervenção, o chefe de estado guineense lançou um 
apelo às forças independentistas de Casamança, em particular àquelas 
que alegadamente teriam lutado ao lado da Junta Militar, para que "se 
inspirem na reconciliação guineense e promovam as vias do diálogo como 
única e justa forma" de solucionar o conflito nesta região senegalesa.
       "Só com esse espírito é que se poderá viabilizar a urgente e 
absolutamente necessária saída do território da Guiné-Bissau das forças 
rebeldes de Casamança", afirmou Nino Vieira, sublinhando que o regresso 
daquelas forças ao Senegal "deverá, pois, inserir-se num processo de 
paz e entendimento e não transformar-se numa operação de guerra".
       Falando sobre a situação na Guiné-Bissau, o primeiro-ministro 
guineense, Francisco Fadul, afirmou que o país se encontra "gravemente 
doente" com o tecido social em rotura e a honra, o orgulho e o 
patriotismo ensonbrados e entristecidos.
       Francisco Fadul considerou, por esse motivo, a missão do actual 
governo "tão difícil e delicada quanto gratificante, pois que lhe 
incumbe promover a restauração da unidde nacional".
       O primeiro-ministro abordou no seu discurso quatro áreas que 
considera prioritárias na sua acção governativa, a primeira das quais 
assenta na cultura da paz, tendo em vista a consolidação da unidade 
nacional e o reencontro da família guineense.
       Para o cumprimento desse objectivo, Francisco Fadul defendeu a 
existência na Guiné-Bissau de um estado de direito democrático e de 
pluralismo politico-partidário, outra área que constitui prioridade do 
seu executivo.
       O relançamento do sector macro-económico, a luta contra a 
pobreza e a reinserção social são outras áreas assinaladas por 
Francisco Fadul, que pretende desenvolver acções profundas no regresso 
dos guineenses deslocados durante a guerra e dos quadros especializados 
e operadores económicos que igualmente abandonaram o país.
       O desenvolvimento de uma política externa que salvaguarde os 
laços de boa vizinhança e cooperação com o Senegal e a Guiné-Conacri 
foi outra das matérias versadas por Francisco Fadul, que sublinhou a 
propósito o facto dos povos dos três países nunca terem declarado a 
guerra.
       Por último, o primeiro-ministro dirigiu palvaras de 
agradecimento à comunidade internacional pelo seu contributo "para 
aproximar e reconciliar as partes guineenses antes em conflito", 
acrescentando estar ciente de que "o mundo vai orgulhar-se da nossa 
reconciliação".
       Nas outras duas intervenções efectuadas, quer a do 
primeiro-ministro togolês, Kwassi Klutse, em nome do presidente da 
CEDEAO, Gnassingbe Aeymdema, quer do secretário executivo da CPLP, 
Marcolino Moco, ouviram-se palavras de apelo à reconciliação dos 
guineenses e ao termo da guerra como meio de resolução dos conflitos.
       Kwassi Klutse chamou, a propósito, a atenção para as crises com 
que se confronta toda a África, salientando a necessidade dos 
dirigentes africanos meditarem profundamente sobre todo o trabalho que 
fizeram para garantir o futuro aos jovens.
       "Os nossos problemas são os conflitos, são as questões 
fratricidas e a miséria que provocam às nossas populações", disse o 
chefe do governo togolês, manifestando a sua satisfação pela 
reconciliação na Guiné-Bissau.
       Marcolimno Moco, secretário executivo da CPLP, realçou na sua 
intervenção o empenhamento dos países de língua portuguesa na solução 
do conflito da Guiné-Bissau, realçando que foi através deles que se 
conseguiu obter o primeiro cessar-fogo entre as partes beligerantes no 
país.
       
       Lusa/fim 


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