How Time Passes By

Shortfic by Tieko Aikawa
darkmercury@bishoujosenshi.com

* Pertencente à série SM-TDK, baseada em SM-NDK da Exodus FanFictions.

"Because parting is so sorrowful, we can't shake free. Stop time."
-= Naomi Tamura =-

      Cada vez que olho para mim mesmo, observando atentamente os detalhes de tudo o que me rodeia, fico pensando no que aconteceu, se tudo foi verdade ou se não passou de uma mera ilusão.
      Por mais que eu queira fingir, tentar esquecer o que aconteceu comigo e com os meus amigos, não consigo. Não adiantaria apenas trocar de roupa e abandonar aquele gi para que a minha vida voltasse ao normal, para que eu voltasse a ser meramente um ficwriter normal... não, nenhum Inner NDK é normal, como diria Martin... ou melhor, MADS. Talvez o que eu queira mesmo seja voltar a viver em um universo no qual não passaria de um rapaz como outro qualquer. Um no qual eu não fosse detentor de tanto poder, no qual eu não seria um Destiny Kishi.
      Jupiter Destiny Kishi. Silver Sky. Ao mesmo tempo em que esses nomes hoje pertencem ao meu 'mundo', presentes na minha memória atual, eles também pertencem a um passado do qual nenhuma História terrestre guardou registros. Um passado distante demais da realidade na qual eu... não, na qual todos vivíamos antes de tudo acontecer.
      E tudo por causa de uma história. Enquanto eu planejava a trajetória dos meus fanfics, escrevia as ações que nela se desenrolavam, eu me colocava no lugar do personagem principal... mas eu nunca FUI Nemesis, o filho de Neflyte. Aliás, eu nunca poderia imaginar que um dia seria parte de uma história, quando me tornei um ficwriter.
      Olhando agora para no que a minha vida se transformou, creio que nenhum de nós sequer cogitou essa idéia antes absurda. Edson, Ricardo, Daniel, Henrique, Martin, Paolla... algo me diz que não esquecerei os olhares de cada um naquele momento mágico, principalmente os olhares que dificilmente poderei ver mais uma vez.
      Eu sei que jamais esquecerei o que aconteceu. Sei disso porque sou um Destiny Kishi, um defensor do Tempo e, como tal, devo registrar a História que me foi concedida para que determinados erros jamais se repitam.
      Essa é a minha sina. Porque os Destiny Kishi nunca esquecem...

***
      '... e nunca deixam sucessores. Os novos protetores do Tempo, que substituirão os que primeiro foram nomeados pela Guardião do Tempo Fate, só poderão ser nomeados após a chegada de um novo Guardião do Tempo e após a morte de todos os Destiny Kishi anteriores. Sem o cumprimento de todas as condições impostas por mim, o Juramento de Caronte jamais deverá ser pronunciado por outros que não sejam os agraciados com a memória do Milênio de Prata.'
      - E assim formalizo o documento que me solicitou, Guardiã Fate.
      - Mais uma vez lhe agradeço, Rainha Serenity. Com licença, vou me retirar.
      - Só um momento, Fate. - a voz suave de Serenity a interrompeu. - Por que exigiu que não houvessem sucessores para este grupo de elite?
      - Porque o poder, quando detido por pessoas que não o merecem, corrompe, majestade. - respondeu a jovem guardiã. - Assim como não haverá outra Sailor Pluto além de mim, não deverão haver outros Kishi além daqueles que eu escolher.
      Não houve outra resposta da regente do Milênio de Prata senão um leve gesto com a cabeça. Um sorriso formou-se em seu rosto quando viu a figura de seu marido caminhando em sua direção.
      - Você conhece melhor do que qualquer selenita a responsabilidade que tal escolha irá colocar sobre seus ombros, Fate. - falou Eclypse, passando pela Senshi de Plutão para colocar-se ao lado de sua esposa.
      - A Time Staff que me foi concedida já me trouxe toda a responsabilidade que eu poderia desejar. É necessário que eu prepare os que a dividirão comigo.
      - Seus escolhidos serão jovens selenitas... conhece a impetuosidade comum aos jovens. Será prudente depositar tanto poder nessas crianças?
      - E é prudente depositar o poder de um Dragon Kishi, de uma Sailor Senshi ou de um Noble Kishi sobre as crianças? - retrucou Sailor Pluto, sem alterar a expressão séria de seu rosto. - Os aspirantes também são escolhidos enquanto são muito jovens, Moon Dragon... como deve se lembrar. Agora, com licença. - e o barulho de seus passos começou a ecoar pelos corredores do palácio da Capital.
      E quando não mais sua ilustre presença estava ao alcance do governante da Lua, este apenas suspirou, meneando sua cabeça para a Guardiã do Tempo.
      - Prudente seria então escolher todas essas crianças pela vontade de uma só pessoa? - murmurou o Rei Eclypse.
      - Fate não comete erros, meu rei. - comentou a voz da rainha.
      - Sempre há uma primeira vez. - devolveu o monarca.
      Mas enquanto caminhava na direção da biblioteca onde havia deixado uma criança a lhe esperar, algumas lágrimas formaram-se nos olhos da Guardiã do Tempo. Lágrimas de uma saudade antecipada.
      Porque ela sabia que sofreria a pior dor que uma mulher... não, que uma MÃE pode sofrer. E existem alguns tipos de dor que nos tornam mais fortes, mas esse não era um deles...

***
      ... disso ele tinha certeza. O pingente dourado em seu pescoço pesava cada vez mais à medida em que seu pensamento se direcionava para a imagem de seu amor.
      Kirisawa Kiriko. A guia de intercâmbio que entrara tão repentinamente em sua vida, aquela que mostraria ser mais importante do que o ar que ele respirava, vital como a água, brilhante como a luz, bela como a vida. Aquela que ele tanto demorou a encontrar.
      Krys-chan. O doce nome da kalyriana não saía de sua mente, tornando cada segundo o mais doloroso que ele jamais imaginara viver.
      E agora lá estava ele, parado diante de um leito de hospital, segurando em suas mãos trêmulas, flores que não representavam sequer um décimo de seu amor, tampouco o tempo que esperara para encontrá-la.
      Em seus sonhos, ele sabia que um dia encontraria a dona de sua alma. Mesmo naquele instante, quando ele ainda era Edson Makoto Kimura, um estudante em viagem ao Japão; sensação que aumentou quando, no instante seguinte, ele se viu como Firebird, Venus Destiny Kishi, lutando com toda a energia de seu corpo destreinado para salvar a vida daquela que amava - e que amaria por toda a eternidade.
      Mas aquele sorriso sádico... aqueles cristais estilhaçaram toda a esperança que ainda lhe restava dentro do coração, separando dois amantes que tanto esperaram para se reencontrarem, desfizeram tantos sonhos...
      Lágrimas não cessaram de molhar o lençol do leito sagrado sobre o qual sua amada se recuperava e não cessariam enquanto a lembrança da dor de sua amada persistisse em seu coração e em sua memória.
      Uma memória que dificilmente se apagaria...

***
      ... porque eles serão Destiny Kishi. Serão detentores de um poder que poderá ser superado por poucas pessoas e, por esse motivo, sei que devo ser extremamente cuidadosa em minhas escolhas, procurando um representante de cada planeta dos Reinos.
      Daqui dos meus aposentos, vejo em cada orbe o desenvolvimento dos que escolhi para treinar. Ao contrário dos outros grupos, para os MEUS Kishi não será necessária uma separação precoce de suas famílias, pois o que tenho a lhes ensinar é muito pouco; eles possuem dons especiais que chamaram a minha atenção...
      - Mamãe? - e eis que a voz suave de uma criança me tira de meus pensamentos. Não a repreendo, entretanto; gosto de ouvir sua voz. Mostro que chamou minha atenção apenas por voltar meu olhar a ela, sem pronunciar uma só palavra.       - Vou ver minha tia.
      - Não se esqueça de que viajaremos para a Capital nesta noite.
      - Eu sei. Estou indo me despedir.
      Silenciosamente, ouço seus passos saindo da sala onde me encontro. Logo atrás do menino que apresenta uma inteligência superior a sua idade, uma garota corre para alcançá-lo. Shinjin. É melhor que ela o acompanhe.
      Posso parecer fria, mas essa é a máscara que escolhi. Por dentro, sou uma mulher como todas as outras, uma MÃE como outra qualquer. E é por ser uma mãe que compreendo que os meus atos não trarão a felicidade a todos que amo e que me importo.
      Principalmente para a pessoa que mais amo. Sei que ele não aprovará alguns de meus atos e que somente o Tempo lhe mostrará que todas as minhas atitudes foram tomadas para o bem do futuro.
      Para o futuro da minha luz, daquele que continuará o meu legado...

***
      ... e a minha vida. Eu me pergunto constantemente no que ela se transformou.
      Heh... eu sempre fui conhecido como o 'perdido' da turma, daqueles que se perdem no caminho da padaria da esquina, sempre bem-humorado... e aqui estou, perdido em reflexões existenciais. Talvez seja uma parte de mim mesmo que esteja confusa... ou até mesmo 'Aleph'.
      Digo isso porque não sinto como se eu e Aleph fôssemos a mesma pessoa. Sinto que somos duas mentes em um só corpo, ao contrário do Henrique, aparentemente com sua fusão com Moon Fox completada... embora suas ações me lembrem muito Hg, Mercury Knight, o personagem que ele 'criou'. Não... pensando bem, ele NÃO é Mercury Knight, mas é e sempre foi Moon Fox, o Destiny Kishi da Lua.
      E digo o mesmo do Martin, que parece ter incorporado totalmente a personalidade selenita de Chronos, mantendo apenas um pouco do humor MADSiano, já conhecido de todos pelo estilo de escrita que ele mantinha nos e-mails, mas que só se manifesta de vez em quando. Porém, não sei se o filho de Fate já possuía tal humor. Quem deveria saber disso seria Aleph, ou nem mesmo ele. Chronos sempre foi recluso, pelo menos é o que dizem os registros selenitas.
      Não reconheço mais integralmente o primo de meu primo Fernando; eu vejo nele o Henrique de antes, mas há um brilho em seu olhar que às vezes me assusta. Hélio é alguém que só conhecia por e-mails, assim como Ricardo e Martin. Poucos me tratam como se eu fosse uma pessoa normal, embora ninguém esteja sendo hostil comigo. Hino Rei, a 'fera' do Templo Hikawa, me trata como se eu fosse somente Aleph, seu primo querido de outros tempos.
      Sinto falta de alguém que me tratasse simplesmente como uma pessoa normal, que se lembrasse de quem sou, ou de quem FUI antes de tudo isso acontecer. Que se lembrasse de Daniel Rezende Graminho. Até a pouco tempo atrás, essa pessoa estava neste mesmo templo, mas hoje ela mora dentro da minha memória e na de todos.
      Tieko... Martin/Chronos diz que temos uma chance de trazê-la de volta. E eu acredito nisso, acredito no impossível, no sonho de voltarmos todos JUNTOS para casa. Só que uma dúvida vive martelando na minha cabeça.
      Será que posso acreditar nas palavras de 'Marty Genkage' como muitos já acreditaram um dia...

***
      ... do mesmo modo em que acredito no que Fate irá fazer. Pensando desta forma, não deixo de concordar com as palavras de Eclypse, ao mesmo tempo em que não entro em conflito com duas pessoas nas quais confio.
      Por muitas vezes cheguei a questionar a sanidade da Senshi de Plutão. Nascida em um tempo muito anterior ao meu nascimento, sei que ela sofreu pesados golpes do Destino - o próprio encantamento que a tornou Sailor Pluto é um deles - ao ver a morte de seu marido momentos depois de ter conhecimento da criança que carregava em seu ventre. Uma criança que esperou muitos anos para poder nascer.
      Porém, hoje, vendo a apreensão que ela tenta ocultar durante a cirurgia que poderá dar a visão ao pequeno Chronos, reconheço a preocupação de uma mãe... que, mesmo sabendo qual será o desfecho desta pequena história, não deixa de se preocupar com a segurança de sua criança.
      É nesse sentimento no qual prendo a minha esperança no futuro que Fate e seus Destiny Kishi poderão construir. Eu confio em suas decisões e em sua sabedoria, uma sabedoria construída em séculos de existência e que certamente será bem empregada por todos eles...

***
      ... pelo menos era o que eu pensava quando descobri quem era e que nem toda a minha memória selenita havia retornado. Saber que o que eu escrevia poderia modificar toda a história de um universo era, ao mesmo tempo, fascinante e doloroso. O fascínio vinha da lembrança de todas as aventuras que havia vivido, mas a dor também vinha dessas lembranças... de saber que eu havia sido o responsável por tantas mortes.
      Mas a mente de um ficwriter otimista sempre pensa no lado bom das coisas... claro, isso quando ele se esquece de Murphy. ESSE foi o meu erro, até me lembrar do final da batalha da Crysium. Só que eu também não seria capaz de imaginar que iria ficar frente a frente com um Destiny Kishi psicopata e obcecado, totalmente mudado pelo 'Evento', como Martin o chama.
      De todos, creio que sou o que passou mais tempo preso naquele 'casulo' maldito usado anteriormente por Beryl. Como Art o conseguiu, desconheço, sou um ficwriter, não um telepata. Mesmo Kare e Neko parecem estar escondendo MUITA coisa em suas mentes.
      Quer saber...? Não as culpo por isso. Creio que eu faria o mesmo, descreveria as MESMAS atitudes para os personagens que criei... não, que manipulei com as palavras que escrevi. E pensar que eu já estava planejando o início do livro 3 de 'Tsuki no Senshi Dragon Kishi'... agora me falta coragem para continuar escrevendo, porque... simplesmente não sei se, a partir deste momento, tudo o que eu escrever se tornará realidade ou se somente a Silver Pen passará a conceder tal poder às minhas palavras...

***
      ... palavras que me pareceram ser tão frias. Ouvir dos lábios da Senshi de Plutão que uma das minhas filhas seria levada para um treinamento, quando atingisse a idade ideal, não foi nada agradável... mesmo para mim, que sou uma Senshi, assim como ela.
      Faz tão pouco tempo que elas nasceram e já conheço o que o Destino planejou para cada uma, ao menos parcialmente. Uma deverei treinar para ser a próxima Sailor Mercury, enquanto que a outra será treinada por Sailor Pluto, no clima gélido de Plutão.
      - Ela já estará habituada ao frio, Mizuki-chan. - e uma mão pousa sobre o meu ombro, fazendo-me sorrir levemente. - Fate não nos disse QUANDO virá buscá-la, o que já nos dá um certo... alívio em saber que temos uma chance de vê-la crescendo, concorda?
      As palavras de meu marido, mesmo doente, trazem-me conforto e, pelo menos por este dia, me tiram do coração a tristeza que nele habitava. Em pouco tempo, serei obrigada a escolher, dentre as minhas filhas, qual herdará a Casa de Mercúrio...
      Olho para o berço onde minhas duas gêmeas estão deitadas... de cabelos e olhos azuis, parecem dois pequenos anjos a dormir...

***
      ... até que perdi o meu sono. Dormir tornou-se algo complicado nesse templo desde que Edson trouxe o videogame para cá e que Hélio resolveu atormentar a vida do Daniel a cada segundo que se passa. Eles gritam, riem, discutem... transmitindo a todos uma falsa impressão de 'tranqüilidade' entre eles, como se a vida deles ainda fosse normal. Pena que, se eu olhar bem no fundo dos olhos de cada um, toda essa ilusão se desfaz. É o modo deles lidarem com o que aconteceu.
      As minhas mãos ainda doem quando lembro do ritmo frenético de escrita ao qual as circunstâncias me levaram e a minha Silver Pen parece estar meio... esgotada depois de tantas páginas escritas a uma velocidade média de oito palavras por segundo.
      Sem conseguir suportar a bagunça deste 'pacato' templo shinto, prefiro a paz do bosque, onde posso ouvir pelo menos os meus pensamentos. Claro, NÃO vou sentar no galho de uma árvore. O apoio de seu tronco para as minhas costas já é mais do que suficiente.
      De dentro do meu bolso, retiro alguns cristais, dentre eles, um branco e um azul. Deles, somente o azul é facilmente encontrado na Terra; os outros encontrei no mesmo lugar no qual 'eu mesmo' os escondi na última visita à Terra de Endymion. Na ocasião, 'eu' nem sabia ao certo porque estava fazendo aquilo, mas hoje sou grato a essa idéia.
      - Perdido em pensamentos, Ricardo?
      - Hã?! - eu exclamo, sentindo o meu coração bater mais rápido devido ao susto... até ver quem estava ao meu lado. Fico quase receoso ao notar a presença. - Quase me matou de susto, Yukiko!
      - Desculpe... posso me sentar ao seu lado?
      - Esteja à vontade. - respondo, recolhendo parte dos cristais para que Yukiko possa se apoiar sob a mesma árvore que eu.
      - Seus cristais são fascinantes... mas este eu conheço. - ela comenta, apontando para o azul.
      - É uma água marinha. Terrestre, ao contrário das outras que tenho aqui.
      - Azul é a cor de Sailor Mercury.
      - Right. Estava pensando em dá-lo para Ami para alegrá-la um pouco.
      - A perda da Destiny Kishi de Mercúrio abalou todo mundo, ne?
      - Un. - eu apenas concordo com suas palavras.
      Fomos acostumados a lidar com cenas violentas e com a morte desde pequenos, mas em um plano totalmente ficcional. As histórias de SM-NDK sempre mostraram o que poderia acontecer fora da utopia, mas quem poderia imaginar que também fazíamos parte do mesmo mundo que descrevíamos...

***
      ... apenas como um hobby, algo para se divertir? Essa pergunta parece estar escrita nos rostos de todos os ficwriters que encontrei desde que cheguei ao Templo Hikawa, menos no de Martin. Ele parece estar sempre preocupado com alguma coisa, sempre pensando no plano que poderá trazer a garota de volta.
      Eu sou como uma estranha aqui, uma estranha em meu próprio corpo. Agora, conversando com Ricardo, fico imaginando o que ele diria se descobrisse que 'compartilho' com Martin os poderes e as memórias de Chronos, que nada mais sou do que uma segunda Pluto Destiny Kishi.
      Parte do que Martin disse é verdade; eu tive e tenho um pouco de medo de carregar toda a responsabilidade de ser a líder dos Destiny Kishi. E pensar que tudo começou quando eu coloquei aquele anel... mas nada acontece por acaso. Fate deveria saber o que estava fazendo quando me entregou o anel com o símbolo de Plutão, ou jamais teria ido a um lugar como o Shiraha Dojo, localizado em uma área tão inóspita como aquela.
      Até chegar neste templo, eu pensava ser a única que temia possuir tanto poder, esperava encontrar Destiny Kishi maduros, acostumados com seus poderes, que dificilmente hesitariam diante de uma crise. Porém, quando cheguei, encontrei somente duas kishi preparadas e cinco recém-despertados, confusos com os últimos acontecimentos e com as duas baixas da última batalha.
      Fascinante é o modo como eles se tratam, contudo. Mesmo estando em um país estranho, enfrentando situações inusitadas, ainda encontram espaço em seus corações para se preocupar com os que os cercam; a atitude de Ricardo em relação à Ami é uma das provas que tive, além do nervosismo evidente em Edson, o esforço de Martin para encontrar uma maneira de chegar até Darkverse...
      É engraçado como o Destino atua. Pessoas tão diferentes unidas para cumprir um mesmo objetivo, como Martin e eu, nascidos em países distantes, mas destinados a serem semelhantes...

***
      ... com tudo o que já escrevi na minha vida de ficwriter. Chega a ser uma ironia o fato de eu ter descrito em 'Angels', um mundo que agora tenho que encontrar com um esforço real.
      Eu poderia simplesmente 'escrever' a abertura de um Portal. Eu poderia simplesmente ficar 'escrevendo' isso por horas, dias, semanas e meses. Porém, não o faço neste instante. Não cabe a mim alterar o que tanto batalhei para manter constante. Assim, observo apenas o monitor diante de mim... até resolver desligá-lo e permitir que a música flua pelas quatro paredes fechadas deste meu quarto.
      Posso, e faço, levantar-me e andar a esmo pelo espaço que me foi dado neste templo. Penso em como Mizuno Ken seria capaz de encontrar a entrada ao universo negro que imaginei, mas logo esse pensamento se dissipa com o fim da canção. Ela repete-se, mas meus pensamentos voltam-se para uma teoria que não estava errada.
      Multiverso... realmente existem diversos universos, cada qual com sua Linha Temporal, sua História, sua Realidade... sendo assim, fico pensando em como estarão os Destiny Kishi em Darkverse, um lugar que eu imaginava ter criado. Se for tão caótico quanto eu o descrevi, teremos sérios problemas para resgatar os Dragon Kishi. Mas, estranhamente, não me preocupo tanto com eles quanto faço ao imaginar a Time Staff em minhas mãos. Sinto que não será a primeira vez que a terei e tampouco será a última, porém questiono às vezes o meu silêncio e meus atos, sem nada realmente fazer.
      E enquanto isso, ela está em segurança dentro da redoma que eu criei. Fico pensando em como será complicado obter o objeto que a trará de volta à vida, ou mesmo se existe algum outro meio. Eu poderia simplesmente começar a 'escrever' com minha Silver Pen. Podia simplesmente pedir a qualquer um que escrevesse as linhas do Tempo. Mas não o faço e não permito que alguém o faça, este é o Tempo de todos, não de algumas pessoas. O Tempo que jurei um dia proteger. E por isso, eu não 'escrevo'.
      - Só nos traz problemas, ne, wannabe... - eu sussurro, enquanto os meus dedos reiniciam o monitor e a digitação para enviar uma mensagem para o Canadá. É hora de recomeçar o trabalho de 'palpiteiro'...

***
      ... que parece não ter fim. A escuridão que me envolve, mesmo sendo agradável, me deixa nervosa às vezes. Talvez porque eu saiba que estou novamente naquele limiar entre a vida e a morte, no mesmo lugar onde Kyn me encontrou pela primeira vez.
      Ao contrário daquela vez, entretanto, hoje eu sinto uma intensa vontade de sair daqui e voltar para casa, para os meus amigos... talvez seja porque sei que há pessoas se importando comigo, que sentem a minha falta. Pode parecer cinismo ou até mesmo egocentrismo da minha parte, mas eu preciso me sentir útil. Esta é uma das coisas que me mantêm viva.
      Viva... presa, imóvel dentro do meu próprio corpo, dentro de uma esfera onde o Tempo não corre mais, mas ainda estou viva. Minha mente permanece ativa, embora eu não possa fazer nada, senão acompanhar o desenrolar dos fatos, assistindo ao sofrimento que apenas sinto vindo daqueles que mais amo.
      Agora eu entendo a agonia dos vinte mil anos que se passaram dentro do Salão Prateado, se não inteiramente, um pedaço dela já sou capaz de compreender. E de perdoar aquele que ficou preso durante tanto tempo, sendo capaz apenas de acompanhar os fatos através dos orbes de visão.
      Nada posso fazer a não ser desejar sucesso a todos os meus amigos... e esperar para que um dia possamos nos encontrar de novo.
      E que esse dia não seja quando estivermos frente a frente com a morte.

"Eu sou o dono do meu destino,
 Eu sou o capitão da minha alma."
                                         -= William Ernest Henley =-

Sexta-feira, 11 de Fevereiro de 2000
18:54:25

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