Histórias
Alternativas - Uma Nova Chance
©2001
Ami Ikari - ami.ikari@bestway.com.br
Capítulo
02: A Escolha de Uma Escritora
When
we gaze at each other
The past and future suddenly connect
-=
Usagi & Mamoru, Triple Dreams =-
Cat sentou-se em sua cadeira e apoiou o ombro na escrivaninha de seu
quarto no dormitório feminino, segurando um lápis em sua
mão direita. Mesmo não gostando de lembrar de certas coisas
que haviam acontecido em sua vida, ela gostava de saber que as pessoas
continuavam lendo os livros que havia escrito há alguns anos.
Era esquisito como poucos desconfiavam de que C.J.McKinnion poderia
ser um pseudônimo para Catherin McKinnion, mas isso já
era passado. Havia dois anos desde o lançamento de seu último
livro e Cat havia jurado que seria REALMENTE o último que escreveria.
E lá estava ela, olhando para
uma folha de papel em branco e brincando com um lápis. Não
adiantava... sempre que Cat dizia que iria parar de escrever, aquelas
imagens voltavam à sua mente e uma voz lhe dizia que deveria
escrever as idéias que vinham a todo momento. Só mais
um pouquinho, só mais um pouquinho. Mas esse 'só mais
um pouquinho' sempre terminava em um novo livro no qual o editor estaria
morrendo de vontade de colocar os dedos pegajosos e ambiciosos. Pelo
menos ela fazia sucesso. A primeira edição sempre esgotava
em três semanas e várias cartas entupiam sua caixa de correio,
fazendo-a se sentir um pouco feliz.
Mas ela não queria escrever nada
naquela noite. Já era outono e as noites estavam começando
a ficar mais frescas e bonitas, com a lua cheia e todas as estrelas
brilhando em torno dela. Por isso Cat continuava brincando com o lápis,
sem escrever ou desenhar ou rascunhar nada, só deixando o papel
permanecer... branco.
Subitamente, um barulho esquisito chamou
a atenção de Cat. Já passava das dez horas da noite,
todas deveriam estar dormindo ou assistindo TV na sala no andar de baixo.
Poucas costumavam ficar em seus quartos àquela hora, exceto ela.
Foi por isso que Cat saiu de seu quarto e aguçou seus ouvidos,
tentando reconhecer o barulho.
"Parece que alguém está...
digitando?", ela pensou, saindo de seu quarto e caminhando na direção
do som.
Cat parou na porta do quarto da novata
e bateu algumas vezes na porta, que se abriu sozinha. Quando olhou para
dentro, viu o porquê de ninguém ter atendido a porta. Tieko
Aikawa estava sozinha em seu quarto, uma vez que sua companheira havia
descido para assistir TV. Ela estava sentada à escrivaninha,
digitando furiosamente em um laptop e ouvindo música com fones
de ouvido para não incomodar ninguém... e para não
ser incomodada.
- Tieko? Com licença, a porta
estava aberta e... Tieko? Tá me ouvindo?
- Não, isso não pode estar
acontecendo de novo, pensou Ami, sentando-se na cama. - falou Tieko,
em um sussurro. - Sim, essa frase ficou legal.
- Tieko? - chamou Cat, colocando a mão
em seu ombro.
- QUÊ? - exclamou Tieko, olhando
para trás. - Cat... você acabou de me deixar cinco anos
mais velha.
- Desculpe, você não atendeu
quando eu bati, então...
- Ah, eu não ouvi, gomen... quer
dizer, desculpe. O barulho do teclado está te incomodando?
- Nem se preocupe com isso, só
fiquei curiosa para saber quem estaria aqui em cima a essa hora. Eu
estaria sendo muito chata se perguntasse o que está escrevendo?
- Nope. Eu tive uma idéia muito
boa para escrever no final de uma história que comecei em casa
e decidi digitá-la antes que esquecesse dela completamente. Já
ouviu falar de fanfiction?
- Acho que já... posso?
- Ah, claro. - respondeu Tieko, puxando
a cadeira para o lado e virando o laptop na direção de
Cat. - Os primeiros capítulos estão em outro arquivo.
Ei... não sei o que fazer no café amanhã. Alguma
sugestão?
- Quanto de bolo sobrou?
- Metade.
- Hm... melhor tentar aprender a fazer
panquecas, ou você estará servindo bacon com ovos, chá
ou café ou chocolate amanhã.
- Acho que eles terão que enfrentar bacon com ovos e torradas
amanhã, porque não sei fazer panquecas... ainda. - acrescentou
Tieko, rindo. - Acha que eles vão ficar chateados com isso?
- O que fez pro jantar?
- Pizza. - respondeu Tieko, apontando
para o telefone.
- Acho que poderia fazer qualquer coisa
que Arthur não se sentiria incomodado. - continuou Cat, sem tirar
os olhos da tela do computador.
- Ei... você não está
querendo dizer que... ele... err...
- Não precisa ficar com vergonha
disso, Tieko. Eu vi que você gostou dele e ele de você.
Então por que ficar se preocupando com isso? - ela sorriu.
- Certo... obrigada, Cat.
***
- Ok, querem me deixar em paz?
- Vamos lá, Arthur. - falou Bradley,
com um sorriso malicioso. - Você a convidou para sair?
- Onde você vai levá-la?
- perguntou William. - Ela faz um bolo ótimo, por sinal...
Arthur, Daniel e Rick suspiraram, incomodados
com tantas perguntas. Martin, um dos mais velhos do dormitório,
ainda estava digitando alguma coisa em seu laptop, tentando não
prestar atenção na 'sessão fofoca'... mas isso
estava começando a ficar difícil a cada minuto - ou segundo
- que se passava.
- Vocês deveriam pensar em outras
coisas. - disse Martin, sem tirar os olhos da tela do computador. -
Amanhã ela vem de novo e só sabemos que ela sabe fazer
bolo de chocolate. Não nego que estava ótimo, mas alguém
aqui tem idéia do que vai sair pro café amanhã?
E ainda temos outra coisa para nos preocuparmos... o sr. Smith se aposentou
e um novo zelador vai chegar. Amanhã. Preparem-se.
- Quem é desta vez, Martin? -
perguntou Rick, sabendo que Martin recebia e-mails da coordenadoria
do Instituto Fallen. Por quê? Ninguém sabe...
- Alguém chamado Kenneth Raiden.
- 'Thunder Kenneth'... - murmurou Daniel.
- Só espero que ele seja melhor do que o sr. Smith. Não
consegui me acostumar com aquele velho vindo ver se estávamos
bem, como se fôssemos um bando de garotas que não sabem
tomar conta de si mesmas.
- Bom, somos seis rapazes morando em
um dormitório. Ele queria ver se não estávamos
trazendo nenhuma garota. - respondeu Martin, sem parar de digitar.
- Nah. Os caras aqui só conseguem
pensar no que vão comer no café de amanhã e no
que outras pessoas fazem durante o dia. - disse Arthur. - Como você
mesmo definiu, Rick. Duas velhinhas fofocando sobre a vizinhança.
- Deveríamos ir dormir ao invés
de ficarmos ouvindo as besteiras desses dois. - falou Daniel, bocejando
e se espreguiçando.
- Indeed. - disse Rick, subindo as escadas.
- Boa noite.
- Eu também vou. - disse Arthur.
- Prefiro dormir mais cedo do que ficar acordado ouvindo esses dois.
- Acho que é melhor continuar
as minhas histórias no meu quarto. Com licença. - falou
Martin, fechando o laptop. - Boa noite.
E Bradley e William ficaram sozinhos
na sala de TV, sem acreditar no que estava acontecendo. Seus olhos estavam
arregaçados e uma grande gota apareceu em suas cabeças.
***
Era bem cedo quando o barulho de uma
porta abrindo acordou William. Bocejando, ele pegou o despertador e
deixou a cabeça cair sobre o travesseiro quando viu que eram
apenas CINCO da manhã. Não poderia ser a Tieko... ela
não iria acordar ANTES das cinco da manhã só para
terminar rapidamente suas tarefas de DOMINGO. Todas as meninas tinham
o costume de dormir MAIS nos fins de semana e eles geralmente tinham
que esperar até que elas chegassem... às DEZ E MEIA. Então
ele só largou o despertador na escrivaninha, virou para o lado
e voltou a dormir.
No primeiro andar, um rapaz olhava o
salão de entrada. Seus olhos verdes pareciam investigar cuidadosamente
todo o local e, com os braços cruzados, mexeu a cabeça
em sinal de aprovação e sentou-se no sofá da sala
de TV, onde pegou um folheto do Instituto Fallen e começou a
relê-lo.
Ele havia chegado a pouco tempo em Mornington
com sua irmã e estava feliz por ter conseguido aquele trabalho.
Embora a mulher tenha dito 'Obrigada, Senhor' quando ele assinou o contrato,
não achava que tomar conta de dois prédios onde só
moravam adolescentes seria algo muito difícil. Afinal, um deles
era um dormitório feminino. Claro, ele podia estar... errado.
Depois de reler o folheto, o rapaz se
levantou, deixando a mochila no sofá e tentou lembrar o que tinha
de fazer ali. Como o zelador, seu trabalho era certificar-se de que
os prédios continuariam EM PÉ, NO LUGAR DEVIDO, sem deixar
que os estudantes os demolissem. Claro que também deveria cuidar
para que os jardins ficassem limpos, aguar as plantas e consertar qualquer
coisa quebrada que encontrasse dentro ou fora dos prédios. Fazer
a faxina não era sua função, exceto nos feriados
escolares, quando a maioria dos estudantes voltava para casa.
- Heh... esse trabalho vai ser moleza.
- ele comentou, parando perto da janela, algumas horas depois.
Apenas para ver uma garota oriental caminhando
na direção do prédio, carregando algo semelhante
a uma sacola de supermercado.
***
- Ok, Moon Fox... você tem certeza
MESMO de que não há nenhum tipo de youma, bakemono ou
ser extra-dimentional tentando conquistar aquela Linha Temporal? - perguntou
um rapaz de feições orientais, que vestia uma jaqueta
laranja e uma braçadeira com o símbolo de Vênus
em seu braço direito.
- Não acredita em mim, Firebird?
- respondeu Moon Fox, apoiando o braço na mesa. - Mas eu disse
que não há youmas ALI. Não há nada que eu
possa fazer se um ser de OUTRA Linha decida de repente que quer conquistar
aquela onde Kyn está. Aí ela vai ter que tomar conta da
situação sozinha.
- Hm... teremos que confiar neles, então.
Só espero que esta história termine BEM e que tenhamos
a boa e velha Kyn de Saphir de volta. - disse Aleph, quase sussurrando
as últimas palavras ditas.
- Sortudo. - riu Moon Fox. - Ela está
dormindo. Você estaria morto a essa hora se ela tivesse ouvido
você falar 'boa e velha Kyn'... já que é a segunda
mais velha de nós aqui.
- Acha que não sei disso? Por
que acha que eu tava sussurrando? Quem sabe o que ela pode ouvir naquele
sono profundo... - ele riu.
Os três rapazes sorriram, como
nos velhos tempos, quando ainda eram estudantes universitários
ou vestibulandos... antes que suas vidas virassem de cabeça-para-baixo
e fossem misturadas dentro de um liquidificador em uma viagem para o
Japão. A lembrança da viagem fez os sorrisos saírem
de suas faces e os substituiu por um suspiro de tristeza.
- De vez em quando eu penso no que poderia
ter acontecido se não tivéssemos ido para o Japão.
- disse Firebird.
- Não tivemos escolha. - disse
Moon Fox. - Pelo menos no nosso caso. Fomos raptados, lembra?
- HENRIQUE, NÃO ME FAÇA
LEMBRAR DAQUELES MALDITOS PINGÜINS!!! - gritou Aleph, tremendo.
- Ok, ok, não vou falar neles
de novo. - falou Moon Fox, acenando com a mão na frente do rosto
de Aleph. - Agora vê se fica calmo. Temos trabalho a fazer.
- Um trabalho eterno...
***
Tieko não sabia direito o que
fazer: colocar a sacola no chão, virar a bolsa para a frente
de seu corpo para pegar as chaves ou apenas chutar a porta. Ou talvez
as três coisas ao mesmo tempo.
- Não, isso DEFINITIVAMENTE não
é uma boa idéia... - ela suspirou, colocando a sacola
no chão para pegar as chaves dentro da bolsa. - ... do jeito
que eu sou, acabaria derrubando todas as coisas que comprei. Ainda bem
que a Cat me disse que tinha uma loja 24-horas aqui perto onde eu poderia
comprar o pó de panquecas... - e um sorriso amarelo apareceu
em seu rosto, enquanto abria a porta.
Ela sabia que era muito cedo para que
qualquer um dos rapazes estivesse acordado, então tirou os tênis
e caminhou cuidadosamente para a cozinha, onde esperava encontrar ovos
e leite. Não era um trabalho difícil, já que preferia
ficar com garotos ao invés de garotas... eles eram mais fáceis
de se lidar. Tieko só não era considerada uma 'tomboy'
porque usava roupas femininas, ou poderia ser facilmente confundida
com um garoto.
Tieko deixou a sacola em cima da mesa
e abriu a porta da geladeira para dar uma olhada rápida, quase
desmaiando quando viu a quantidade de comida instantânea dentro
dela. Havia também algumas frutas e vegetais, além de
sucos, mas... hm... a comida instantânea não era da mesma
marca do pó de panqueca que ela havia comprado?
- Ah... whatever. Acho que o cheiro do
café vai fazer metade deles correr pela escada. - riu Tieko,
fechando a porta da geladeira com um chute e carregando leite e três
ovos nos braços.
- Eu pensei que este era um dormitório
masculino, garotinha. - disse uma voz masculina, vindo da porta da cozinha.
- O quê..?! - e ela abriu os braços,
assustada, deixando todas as coisas caírem. - Ah, NÃO!
O rapaz desapareceu do lugar onde estava
e uma leve brisa fez com que o cabelo de Tieko ficasse bagunçado
e a obrigou a fechar os olhos. Ela ainda procurava por uma janela aberta
quando o rapaz reapareceu ao seu lado.
- Não deveria ser tão descuidada.
- ele colocou o leite e os ovos sobre a mesa. - Agora, quem é
você e o que está fazendo aqui?
- Ei, isso era o que EU deveria estar
perguntando! - e os olhos de Tieko ficaram grandes e surpresos.
- Tarde demais. Melhor responder antes
que eu relate isso ao diretor. - ele respondeu, sentando numa cadeira,
colocando os braços no encosto. - Então?
A garota olhou firme para os olhos verdes
do rapaz, sentindo algo parecido com... déjà vu. Ela sentiu
que já o conhecia antes... só não sabia de onde
e... quando.
- Sou uma caloura da Universidade Fallen.
Como você já deve saber, as novatas têm tarefas a
fazer pelo campus e a minha é cuidar do café e do jantar
do dormitório masculino.
- Tá, dona Caloura. Que tal me
dizer o seu nome?
- Que tal VOCÊ me dizer QUEM é
você, então? - ela perguntou no mesmo tom de voz que o
rapaz havia usado antes.
- Calma aí... não precisa
ficar nervosa desse jeito. - ele falou, abanando a mão lentamente
na frente do próprio rosto. - Sou o novo zelador. Meu nome é
Kenneth Raiden, o seu?
- Tieko Aikawa. - ela respondeu, virando
de costas para pegar as coisas de que precisava para começar
a fazer o café.
- Então todas as calouras têm
que cozinhar para esses caras? Sortudos, hein? - disse Kenneth, apoiando
o queixo nos braços. - Tá com a noite livre? Parece que
estreou um filme novo no cinema.
- Tenho coisas para estudar, obrigada.
- Caramba... você é difícil
de se lidar, hein?
***
Aleph não conseguia parar de rir
ao ver a cena no espelho. Aquela era justamente a reação
que ele esperava que viesse de Kyn, mesmo sendo de sua correspondente
naquela Linha Temporal.
Usando roupas pesadas para agüentar
o frio do quarto, ele continuava olhando por ela no Salão Prateado
e na Linha Temporal para onde sua energia havia ido. Pegando um bloco
de anotações, Aleph leu alguns nomes que havia escrito.
Ela já encontrara dois Guardiões. Ainda haviam alguns
a serem encontrados.
***
Cat já estava acordada, olhando
para uma folha de papel e segurando o lápis como se quisesse
escrever algo. Sua MENTE quase ordenava que sua mão começasse
a escrever e ela já não conseguia mais impedi-la disso.
Deixando-se entregar sobre a cadeira, Cat iniciou o que seria seu quinto
romance e, como os anteriores, 'o último escrito por C.J.McKinnion'.
Isso era o que ela sempre prometia a si mesma.
Uma promessa que nunca era cumprida.
***
Subitamente, um barulho estranho vindo
da cozinha acordou todos os rapazes, incluindo um grito feminino, como
se a Terceira Guerra Mundial houvesse começado de uma vez só.
Arthur foi o primeiro a trocar de roupa
e descer correndo as escadas, tendo Daniel, Martin e Rick vindo logo
atrás dele. Os outros dois ainda estavam esfregando os olhos
e tentando entender o que estava acontecendo.
- Abaixe-se! JÁ! - gritou Kenneth,
jogando-se contra Tieko, quando viu um facão de açougueiro
indo em sua direção. - Ei, vocês aí! Preciso
de ajuda! - ele continuou gritando, quando viu os quatro correndo pela
escada.
- Tieko! Aqui! - chamou Arthur, tentando
alcançar a mão dela, sem ver que um garfo estava vindo
ameaçadoramente na direção de sua cabeça.
- VOCÊ deveria tomar conta de si
mesmo antes de tentar salvar alguém, Arthur! - gritou Martin,
jogando sua lapiseira para interceptar o garfo. - Ei... não me
olhem dessa maneira. Não posso tentar salvar alguém? -
ele perguntou, olhando para os rostos atônitos de Daniel e Rick.
- Taí algo que eu nunca pensei
que viria em toda a minha vida. - disse Daniel, pulando os últimos
degraus. - O Martin gritando.
- As pessoas têm reações
diferentes em determinadas situações, Daniel. - disse
Rick, aterrisando ao seu lado. - Mas agora temos outras coisas com as
quais nos preocupar.
- Você está certo. - disse
Kenneth. - Primeiro temos que descobrir o que raios é AQUILO.
- e um redemoinho apareceu no meio da cozinha, tomando uma forma humanóide.
Não demorou muito para que o vento
tomasse a forma de um corpo feminino e eles vissem um... rosto? Que
sorria malignamente para eles? Hm... eles deveriam estar dormindo. E
eu devo ter tomado algo alcoólico... é, deve ter sido
aquele suco de morando que tomei no almoço...
- Saudações. Sou Kazeko.
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