Tempestade de Ilusões
by
Ami Ikari & X/MADS!

Capítulo 10: Gêmeas de Mercúrio

"A vida é o bem mais precioso do ser humano,
Mas a vida sem liberdade não tem qualquer significado, nem dignidade."
-= Leon Frejda Szklarowsky =-

      - Perspicaz como sempre... Moon Destiny Kishi. - comentou a voz fria e insensível de uma pessoa que ele juraria que jamais viria a reencontrar.
      Olhando na direção da voz, Henrique Pacheco de Loyola não obteve dificuldades em observar a figura do guerreiro selenita. Art parecia que ainda mantinha sua austera serenidade em relação a 'conhecidos'. Uma parte de sua mente logo o alertou de um perigo ainda inexistente, mas Henrique preferiu ignorar. Por hora.
      Seus olhos azuis-acinzentados prenderam-se na imagem do selenita, observando com cuidado os passos que Art colocava em sua direção. Não levou muito tempo até o guerreiro selenita chegar próximo a si, mas foi o gesto que se seguiu que surpreendeu o brasileiro.
      - É bom te ver novamente. - declarou Art, estendendo sua mão amigavelmente na direção de Moon Fox.
      Henrique, por outro lado, não aceitou aquela mão. Havia algum motivo para terem trazido-o à força naquele antro de prata e ele estava disposto a saber o porquê. E, principalmente, Henrique queria saber a causa que os obrigariam a extrai-lo de seu mundo de felicidade(?). Sua voz permaneceu tão rígida quanto para Neko, mas um pouco mais suave quando encontrou o líder temporário do grupo. Afinal, o tempo de todo aquele pesadelo não havia sido à toa e as memórias eram bem nítidas. Nítidas demais para o seu gosto.
      - Creio que sim. - disse Henrique, olhando diretamente para os olhos verdes e tão-amigáveis-quanto-de-uma-serpente de Art. - Mas o que quer?
      - Direto ao assunto, como sempre. - comentou uma terceira voz que chamou a atenção do Destiny Kishi.
      A voz de Kare, no entanto, podia não ser tão polida e dura quanto de Art, mas era clara a acidez de sua língua. Sem dar muita atenção ao projeto de Ninjutsu, Moon Fox estava começando a se irritar. Algo que Art percebeu de imediato ao notar a mudança de olhares.
      - Deixe-nos a sós. - pediu Art, ordem que foi obedecida pelas outras duas selenitas. O nobre selenita sabia que Moon Fox era perigoso quando ele encontrava alguma espécie de 'perigo' ao redor de si. Sorrindo, Art não deixou de acrescentar mentalmente de que era exatamente aquilo que estava acontecendo. - Respondendo à sua pergunta, Moon Destiny Kishi, estamos com um problema. Um problema muito grande.
      Henrique, obviamente mais calmo, continuou a observar os passos do selenita. Como uma raposa, ele preferia estar bem atento diante de tudo aquilo, as recordações do Milênio de Prata (e que ironia para o ficwriter) a invadirem constantemente a sua mente com informações sobre a pessoa na sua frente. O brasileiro sorriu diante da descrição do problema dado por Art.
      - Pelo visto, você não muda nunca, Art. - falou o brasileiro, a cada momento parecendo mais com sua contra-parte selenita. - Que tipo de problema?
      Aquela foi a vez de Art sorrir. Ele estivera a imaginar por muito tempo qual seria a reação do brasileiro. De todos eles. Art respondeu com apenas uma palavra a pergunta de Henrique 'Ranma' Loyola. Uma palavra deveras significativa ao ficwriter de SM-NDK.
      - PuppetMaster.
      E o sangue de Henrique gelou naquele instante.

***
      "Que fria fui me meter..." comentou o brasileiro a si mesmo. Respirando profundamente pela terceira vez, seus olhos pareciam não desgrudar de uma pilha de papéis, enquanto suas mãos desesperadas folheavam elas como se algo tivesse desaparecido. Mas ele sabia perfeitamente que não havia. Seus olhos negros enfim demonstraram uma expressão de que havia encontrado o que procurava, suas mãos tremendo levemente antes dele ler cuidadosamente o que continha o papel.
      Não era um fanfic, como muitos poderiam pensar que Martin estava a procurar por isso. Entretanto, era tão importante quanto um fanfic em sua opinião. Respirando agora de alívio, ele voltou a empilhar 'organizadamente' a pilha de papéis em cima do gabinete do computador, enquanto caminhava até sua cama. Quase caindo sobre ela, seus olhos liam com cuidado cada parágrafo daquela folha de papel, enquanto uma das mãos ocupava-se em ajeitar melhor a almofada sob seu pescoço.
      Logo após sentir-se confortável e já estar na metade da folha, ele tomou uma caneta em seu bolso com a mão direita. Uma lembrança feliz o tirou da concentração da leitura, pois agora era seu primo quem iria vestir a 'jaqueta-canguru' para a escola. E um sorriso maligno de vingança foi esboçado em seus lábios, sabendo ele perfeitamente ONDE aquela companhia de intercâmbios matriculava a maioria dos alunos. Tão logo o ficwriter concluíra os fins que seu primo teria, ele voltou novamente sua atenção à folha de papel. Aliás, às várias folhas grampeadas de papel.
      Repetindo para si mesmo cada uma das cláusulas, como se quisesse decorar ou fixar aquilo em sua mente, Martin acabara chegando ao final de toda aquela papelada após o que levara quase vinte minutos. Ele já havia percebido que o avô de Rei já havia assinado a autorização para Jennifer poder ser adequadamente hospedada no templo, assim como Yuuichiro havia sido a testemunha dele.
      Agora era a vez dele. O brasileiro não deixou de suspirar e respirar profundamente enquanto seus olhos detinham-se na assinatura do senhor Hino... e nas implicações que sua assinatura iria trazer. O presente de Jennifer, por outro lado, apenas conseguiu complicar a sua situação já bem delicada. "Com tantas formas para um dia ser encerrado, por que NESTE dia tinha que acontecer TUDO???" reclamou o ficwriter, já sabendo de antemão que não importava a decisão que tomaria. De uma forma ou de outra, ele acabaria por atingir o whoopy-whoopy(tm), isso se não acontecesse algo para ir imediatamente ao whoopy-whoopy extra plus(tm).
      *toc*toc*
      O bater na porta logo chamou a atenção do ficwriter. Mentalizando a sua fuga da cozinha ao quarto, ele havia se esquecido do detalhe de que uma hora ou outra, todos começariam a procurar por ele. Afinal, uma pessoa não pode sumir de uma forma tão repentina, ne? Indiferente, Martin apenas conseguiu torcer os lábios e flexionar uma sobrancelha, tentando ainda decidir se iria ou não responder. Ele realmente estava com o humor bem alterado depois da sessão 'tonelada de olhares'.
      - Entre. - disse ele, sabendo que sua voz estava alta o suficiente para qualquer um entender. E também sabendo que já estava se arrependendo da decisão de optar por atender à porta.
      A porta por fim abriu-se, revelando uma pessoa que começava a despertar o total desespero do ficwriter. Sem querer dar uma falsa impressão ou simplesmente para tentar ser o mais cavalheiro possível, Martin subiu seu olhar diretamente dos tênis brancos para os olhos da garota que acabara de virar o templo de pernas para o ar. Quer dizer, NÃO literalmente, pois isso quem quase fez foram os malditos pingüins sádicos.
      Jennifer sorriu em sua direção por um momento ao entrar no quarto e logo depois colocou sua cabeça para fora do quarto. A voz dela ainda não deixava de ser suave quando ela chamara pelos demais.
      - <Ele está aqui!> - chamou Jennifer, ao passo de que quase todos os que estavam no templo, incluindo uma Usagi-cansada-de-correr-pelo-templo, já estavam tentando se amontoar atrás de Jennifer, enquanto que AINDA havia um bom espaço dentro do quarto.
      - <Estavam me procurando?> - perguntou Martin, colocando a sua melhor atuação de inocência. Pelos olhares que recebera da população masculina, Martin claramente não precisava de resposta alguma. Principalmente ao notar cinzas, talvez de uma lareira, no paletó verde de Mamoru. - Gomen nasai. <É que a vinda de Jennifer me fez lembrar que eu havia ainda deixado os papéis da 'transferência' dela.>
      Nisso, a situação inverteu-se completamente, os olhares de ódio dos homens de plantão devido ao trabalho que tiveram transformaram-se no mesmo olhar deveras malicioso de Aino Minako. O que, definitivamente, conseguiu iniciar o processo de enrubescimento no brasileiro.
      Quer dizer, excetuando Hino Rei, o que apenas deixou o brasileiro por demais... intrigado. "Impressão minha ou ela não está brava???" perguntava-se ele, não encontrando nenhum sinal de um possível 'vou ajudar Mako-chan a fazer rolinho primavera desse chinês'.

***
      Durante muito tempo ele havia esperado por esse dia. O dia em que poderia voltar para Vênus, rever os locais de sua infância... e, talvez, rever o belo rosto de sua amada.
      Sua essência era o Amor; romântico como todos os venusianos, Firebird jamais esquecera o sentimento que nutria por Krys-chan, tampouco a beleza de seu ser, seu sorriso, seus olhos... contrariando todos aqueles que diziam que 'longe dos olhos, distante do coração'.
      Mas o chamado de Plutão chegara a ele pouco depois de colocar os pés em Vênus. Seu coração doeu quando percebeu que seria obrigado a deixar seu planeta antes de tentar procurar por Krys-chan, desaparecida desde a sua ida a Plutão. Essa havia sido a última notícia que tivera de sua amada.
      Antes de iniciar seu caminho para Hades, Firebird viu, à distância, uma Senshi. De uniforme branco e laranja, cabelos loiros e compridos, não foi difícil para ele reconhecê-la como sendo a princesa Shine... ou Sailor Venus.
      Com um sorriso formando-se em seu rosto, o jovem selenita teve vontade de chamar pela amiga que o julgava morto. Sem dúvida, seria uma surpresa para ela vê-lo novamente... ou até mesmo um choque. Erguendo o braço para lhe chamar a atenção, no entanto, Firebird sufocou o grito em sua garganta.
      Ele não podia revelar quem era ou o que havia feito nos anos em que estivera desaparecido. Era a promessa que havia feito à Fate-sensei no momento em que aceitou ser treinado por ela, a de guardar o segredo de qualquer pessoa, até mesmo de Krys-chan.
      - É uma pena, princesa Shine. - ele murmurou, virando-se na direção contrária a de Sailor Venus. - É uma pena que não possamos nos ver novamente.
      Ao mesmo tempo em que Firebird começava seu caminho para Hades, uma pessoa observava-o ao longe, buscando em sua memória alguém semelhante ao guerreiro que via seguir seu caminho, cabisbaixo.
      Mas as faixas de tecido laranja que estavam presas na jaqueta do selenita impossibilitavam que Sailor Venus o reconhecesse. Não havia uniforme como aquele nos registros da História Selenita... pelo menos não até aquele momento.

***
      Finalmente havia chegado a vez dele jogar. Mesmo tendo finalizado o jogo diversas vezes, Edson Makoto Kimura ainda se emocionava a cada vez que iniciava uma nova 'aventura', principalmente quando sabia que teria pouco tempo no comando do controle do videogame.
      Mas o principal motivo de sua inusitada felicidade não era exatamente o videogame. Era a visão da ansiedade de Daniel, que aguardava o momento de partir para São Paulo, onde os pais de Edson estariam esperando para levá-lo ao aeroporto para que, enfim, fosse ao Japão. Fatigado pelas surpresas do dia e terrivelmente ansioso, quase pedindo a todos os kamis para que as horas passassem mais rapidamente, Daniel resolveu ler com mais cuidado a pilha de papéis que havia recebido da CORI.
      - Pode ter algo importante escrito aqui... - ele murmurou para si mesmo, momentos antes de ouvir o telefone tocar. - Eu atendo!
      A expressão do rosto de Daniel 'Tolaris' mudou surpreendentemente quando ele escutou as primeiras palavras ao telefone. E foi com um estranho sorriso no rosto que ele chamou por Edson.
      - Telefone para você-ê... - Tolaris cantarolou, fazendo o sangue de Edson gelar. - É a sua mãe...
      Este franziu a testa quando ouviu o tom cínico que Daniel usou para avisá-lo do telefonema e começou a ficar MUITO desconfiado, para não dizer preocupado sobre o assunto que levaria sua mãe a telefonar para Campinas. Mesmo sabendo que teria que desistir de sua vez no jogo, levantou-se e foi na direção do telefone.
      - Alô? Mãe? O que aconteceu? - ele perguntou, enquanto Daniel sentava-se no sofá da sala de televisão com um sorriso nada agradável no rosto.
      Um silêncio mortal cobriu a sala, sendo quebrado apenas por alguns resmungos de Edson, que logo foram se tornando murmúrios, palavras ditas em tom baixo, depois aumentando lentamente de volume... para terminar em um grito que assustaria até mesmo os peixinhos (?) do córrego que passava perto da casa de Daniel.
      - PERAÍ! REPETE COM _CALMA_!!! Eu vou para _ONDE_?!?! - berrou/gritou/ah, você já sabe do que estou falando, Edson, fazendo metade dos colegas de casa de Tolaris pularem do sofá ou do chão, seja lá onde estavam sentados. Ou se estavam sentados.
      O sorriso de Daniel parecia aumentar a cada expressão de Edson, especialmente quando lia novamente o rodapé da página 298 do formulário que havia recebido da CORI. Exatamente as letrinhas miúdas que poucas pessoas se aventurariam a ler.

***
      Na casa da família Tsukino, a noite não era o que era comumente classificado como 'tranqüilo'. Ikuko Tsukino, a mãe de Usagi, passava repetidas vezes pela sala, fazendo o trajeto sala-cozinha-área-de-serviço-quartos em pouco mais de um minuto, carregando baldes, vassouras, lençóis, cobertores e toalhas. Por sua vez, Kenji Tsukino, o pai gentil (?) de Usagi, lia inúmeros livros sobre a cultura estrangeira, na tentativa de ter assunto o suficiente para não precisar discursar sobre pepinos-do-mar ou algo do gênero com a pessoa que estava para chegar.
      Shingo Tsukino, o caçula da família, apenas tentava impedir que sua irmã devorasse os biscoitos que estavam esfriando sobre a mesa da cozinha. Missão quase impossível, na sua opinião.
      Enquanto se ocupavam com suas tarefas, entretanto, todos conseguiam uma brecha para falar, ou melhor, gritar uma frase:
      - Usagi! Por que você tinha que se inscrever no programa de intercâmbio OUTRA VEZ?!?!

***
      No Templo Hikawa, o sono finalmente havia vencido a resistência de todos e feito a tranqüilidade e o silêncio reinarem em sua hora absoluta. Quer dizer, exatamente depois de dezessete minutos de explicação vinda pelo primeiro hóspede a respeito da burocracia de intercâmbio. Para a felicidade e não-constrangimento do ficwriter brasileiro, não ocorreram muitos problemas GRAVES de pudor quando Jennifer tomara os papéis de suas mãos.
      Por outro lado, isso acabou por criar uma certa... dificuldade no momento. Era a hora em que todos deveriam estar dormindo. Todos, mas duas pessoas teimavam em continuar acordadas àquela hora no templo shinto. Essas duas pessoas, por algum acaso do destino e ironia de Murphy, eram Martin Siu e Jennifer Kanotori que acabaram por encontrar um pequeno 'detalhe' na mudança de moradia.
      Por exemplo, COMO iriam dividir o quarto sem que levantassem situações DEVERAS constrangedoras. Martin subitamente desviou seu olhar, encontrando próximo à janela a cama em que Strike Fiss, segundo as histórias de Saotome e do próprio, teria usado para dormir. Lá, no entanto, não estava o príncipe de Saturno, mas uma pessoa tão importante quanto ela. Satori Ryu, para ser mais exato, com seus olhos abençoados pelo Homem da Areia, assim como os da pessoa que dormia na cama que deveria ter sido a de Trevor, Aino Minako.
      Infelizmente, na opinião de Martin, eles não forneciam a melhor solução para 'prevenir' os bons costumes da família. Por essa razão que, sentando na sua cama, ou onde devia estar Maury segundo Saotome; o brasileiro descendente de chinês estava a olhar pausadamente para a cama na sua frente.
      Foi estranhamente muito eficiente o ajudante do senhor Hino para colocar as três camas extras, como outrora havia sido para quatro canandenses. Jennifer, por exemplo, encaixava-se na posição de Damien. Quer dizer, onde a cama dele estava. Igualmente ao ficwriter, ela estava acordada, embora não tão embaraçada quanto ele sobre dormir no mesmo quarto.
      Isso, é claro, provocava em Martin uma súbita vontade de observar o casal japonês a dormir cada vez que seus olhares se esbarravam. Ambos haviam dito que estava por demais tarde para irem para a casa dos Aino e decidiram por ficar. De qualquer forma, isso o deixaria menos ruborizado.
      - Já começou os estudos? - perguntou Jennifer, quebrando o silêncio daquele quarto.
      - Iie. - respondeu o brasileiro, não encontrando gagueiras em sua voz.
      - Estou estudando Medicina. - comentou a garota, olhando alegremente em sua direção. - E você?
      - Ciências da Computação. Estou no terceiro ano. - respondeu Martin, esboçando um sorriso. - Paolla vai começar o primeiro ano de Medicina.
      - So ka... - falou Jennifer. - Estou no segundo ano, porém.
      - Un. Eu vou começar a ver o material amanhã... se quiser usar Eiki-san, bem... esteja à vontade. - disse o ficwriter, indicando o computador ao lado de sua cama.
      - Domo. - agradeceu a garota, sorrindo e escondendo sinais de sono. - Vou dormir agora...
      - Sleep with the angels. - respondeu Martin, ajeitando as suas próprias cobertas para dormir.
      - There's one in front of me. - murmurou a filha dos Kanotori ao entrar no reino de Morfeu.
      Isso, é claro, impossibilitou por mais meia hora que alguém conseguisse encontrar o sono ou ainda que a cor whoopy-whoopy extra plus(tm)! saísse de seu rosto durante a noite.

***
      Entretanto, não era apenas o ficwriter brasileiro a estar com dificuldades naquela noite. Excluindo a família Tsukino em sua correria noturna, o sono não havia ainda sido gentil com uma pessoa... internada no hospital universitário de Tóquio.
      Dormir. Isso era tudo o que ela mais queria naquele momento, mas o sono não vinha de forma alguma. Deveria ser a décima ou a vigésima vez que Paolla se virava na cama, sem sono algum.
      "Maldita ansiedade..." ela praguejou mentalmente, sabendo que não dormiria se não fizesse alguma coisa para se distrair e esquecer que, no dia seguinte, teria alta e voltaria para Mizuno-ke. "Era para eu estar com MUITO sono depois de correr daqueles pingüins! E Ami-chan levou o meu computador para a casa dela... ack! Preciso fazer alguma coisa ou ficarei doida!"
      Sentada na cama, tudo o que a ficwriter podia fazer era brincar mentalmente com os personagens que inventara. Havia muito tempo desde a última vez que fizera isso SEM a presença de um computador à sua frente, portanto, ela teria que ser muito silenciosa... ou pensariam que estava mais doente do que imaginavam, ao ouvi-la falar sozinha.
      "Bom, doida eu já sou... mas o hospital inteiro não precisa ficar sabendo disso, certo?"
      - Disso você está certa. - falou uma voz feminina, vinda de algum lugar escuro do quarto.
      - Quem...? - indagou Paolla, olhando ao seu redor. - Samira. Loryen. Reiki. Liane... - ela prosseguiu, chamando suas personagens... como há muito tempo não fazia.
      - Não sou nenhuma delas. Você já se esqueceu do meu nome?
      - ... Kyn? - a ficwriter sussurrou, lembrando-se do que presenciara durante o coma.
      - Que bom que se lembrou. - a voz continuou, enquanto a figura de uma garota se tornava mais nítida à sua frente.
      Ela estava sentada no canto da cama, bem perto de Paolla. Brilhava como se fosse um espectro, não uma pessoa real. Paolla temia que a luz acordasse Ami, que dormia na cama ao lado. Porém, será que ela poderia VER o que estava acontecendo ou tudo não passava da imaginação fértil cultivada por muitos fanfics?
      - Você ainda se lembra da nossa promessa, ne? - ela perguntou, estendendo a mão na direção da brasileira.
      - Le-lembro...
      - Então está na hora... - Kyn continuou, pegando a mão da ficwriter. - ... estou com saudades de casa...
      Algo semelhante a um choque percorreu o corpo de Paolla, que sufocou na garganta um grito que certamente acordaria metade do hospital. Ela podia sentir a fusão de um ser à sua alma, trazendo consigo lembranças de tempos longínquos, de quando nem mesmo seus avós eram nascidos e que, ao mesmo tempo, eram lembranças suas. Lembranças de outra existência.
      Para quem olhasse de outro ângulo, o espetáculo seria surpreendente. A figura de Kyn unia-se ao corpo de Paolla, o brilho envolvendo-a completamente. Durante alguns instantes, a figura da mercuriana pareceu predominar sobre a da brasileira, fazendo com que o uniforme que vestia ficasse 'sólido', como se Paolla o estivesse usando.
      A luz diminuiu de intensidade e vários raios convergiram para a mão direita de Paolla, formando uma caneta prateada, com o símbolo de Mercúrio gravado em seu corpo. O último brilho que pôde ser visto foi o do símbolo de Mercúrio que, após aparecer na testa da ficwriter, desapareceu lentamente, assim como o uniforme, que cedeu seu lugar às roupas que ela estava usando antes de Kyn aparecer.
      E enfim o descanso da inconsciência tomou conta de seu corpo. Ninguém teria conhecimento do que ocorrera naquela noite. A fusão estava completa e a transformação, revertida.

***
      As horas passaram de modo mais divertido para Daniel, especialmente quando já estava dentro do ônibus que o levaria até São Paulo, mais precisamente, à Rodoviária do Tietê, onde os pais de Edson estariam esperando por eles. COM algumas malas devidamente arrumadas, passagem, passaporte com o visto de entrada no Japão e alguns outros documentos essenciais para uma viagem improvisada e súbita.
      Ao seu lado no ônibus, Edson permanecia pensativo, tentando imaginar o motivo da viagem súbita ao Japão. Principalmente porque ele ia sozinho, no mesmo vôo de Daniel, sem que seus pais o tivessem avisado... ainda que eles alegassem o contrário.
      - Isso está ficando muito estranho, Tolaris. - comentou Edson, ainda pensativo. - Não me lembro dos meus pais terem planejado uma viagem para mim, ainda mais no meu primeiro ano de faculdade.
      - Se o MADS estivesse aqui, sem dúvida isso seria um mote para um fanfic. - respondeu Daniel, ajeitando-se no encosto do banco do ônibus. - Pelo menos, agora você não precisa ficar preocupado com o que eu vou falar.
      - Un. O mais estranho de tudo é que parece que eu não vou ficar na casa dos meus parentes, mas num hotel. - continuou Edson, olhando para o teto do ônibus. - Só ficaria mais assustador se o hotel se chamasse StarNight.
      - Ei, relaxe. Provavelmente, esse hotel nem existe, é tudo fruto da imaginação do MADS.
      - É verdade. - concordou o japonês, acrescentando: - There's no such thing as a Fallen Angel...
      - ... or as a Dark Angel. - completou Daniel, fechando seus olhos para tentar dormir.

***
      A simples menção do nome que ele imaginou que jamais escutaria novamente fez com que seu sangue gelasse. Enviando ordens para que seu corpo voltasse ao normal, Henrique tentou organizar as idéias em sua mente, sem que isso ficasse aparente para Art. A última coisa que ele queria era que Art notasse que estava nervoso. Uma cobra sempre conhece o momento certo de dar o bote e reconhece o olhar de terror de suas vítimas.
      - PuppetMaster?
      - Hai. - respondeu Kare, adentrando novamente no salão. - Agora que se lembra de tudo, Moon Fox, creio que não preciso explicar a nossa função.
      - Os Destiny Kishi não são guerreiros. Somos guardiões. Protetores. Zelamos pelo Tempo e pelo Destino somente. Nós juramos que daríamos as nossas vidas para que o Tempo, o Destino e o Espaço fossem mantidos como nos primórdios da História. Pela nossa honra, juramos proteger o Tempo com lágrimas de sangue. - recitou Henrique, olhando fixamente nos olhos mórbidos de Kare. - Não me esqueci do juramento que fiz perante à Senshi do Tempo, Saturn Destiny Kishi. O que PuppetMaster tem a ver com tudo isso? Melhor, o que EU tenho a ver com isso?
      - O seu despertar era inevitável, Moon Destiny Kishi. Nós apenas aceleramos o processo. - falou Art, dando um passo à frente. - Você se lembraria de tudo, cedo ou tarde.
      - Você ainda não respondeu a minha pergunta. - retrucou Henrique, rispidamente, lembrando-se de uma frase que Fate um dia o dissera. "Não posso obrigá-lo a ficar no Salão Prateado, Moon Fox. Mas lembre-se de que, quando o dia em que os Destiny Kishi se tornarem necessários chegar, mais uma vez você receberá o poder da Lua." - O que está acontecendo com a Linha Temporal?
      Art sorriu quando Henrique mostrou que se lembrava das palavras de Sailor Pluto e levou-o para uma das portas do salão, indo para um lugar onde o brilho dos caixões não iria incomodar.
      Enquanto caminhava, Henrique buscou em sua memória selenita mais referências para que pudesse compreender completamente o que estava acontecendo. Fate dissera que ele receberia o poder da Lua novamente quando os Destiny Kishi fossem necessários mais uma vez... e os outros? Ele não havia sido o único a perecer na batalha de Crysium, haviam outros Destiny Kishi que o acompanhavam.
      O filho de Fate, Chronos, era um deles. Pluto Destiny Kishi, se sua memória não o enganava. Uma das princesas de Mercúrio, Kyn, Mercury Destiny Kishi também o acompanhava. Silver Sky, Aleph, Firebird e Seph eram os outros Destiny Kishi mortos na última batalha do Milênio de Prata e, assim como ele, representavam seus planetas de origem, Júpiter, Marte, Vênus e Urano.
      Porém, outro fator veio se unir a esse. Estava quase explicado o fato dele próprio ter escrito histórias envolvendo os selenitas; parte delas certamente era proveniente de sua memória outrora adormecida. Mas e os outros ficwriters? Por que Strike Fiss, Martin, Paolla, Hélio, Daniel, Edson e Ricardo escreviam histórias com tamanha fidelidade às memórias que agora retornavam ao seu consciente? Certamente, as reportagens da Times e da Newsweek eram responsáveis por parte da verossimilhança encontrada nos fics, mas não por toda ela. Ou talvez tudo não fosse influência por sua parte?
      Entretanto, uma campainha invisível insistia a tocar num ponto da sua mente. Deveria haver outro fator. Mas qual? De qualquer forma, Henrique estava certo de apenas uma coisa.
      "O Destino prega cada peça nas pessoas..."

***
      A imagem ficava cada vez mais nítida, para a felicidade de Sailor Pluto. O fato do menino à sua frente estar enxergando perfeitamente era um claro indicativo de que o implante estava funcionando sem maiores problemas, contornando o fato de seu filho ser cego.
      Mesmo sendo ele dotado de uma percepção jamais vista em outro selenita, Fate sabia que era necessário que o pequeno Chronos tivesse uma visão melhor para que pudesse cumprir com a missão que o Destino lhe reservara. Por isso ela o levara para a capital do Milênio de Prata, na Lua.
      O fino fio de luz violeta que se arqueava perante seus olhos era a única coisa que denunciava a presença do implante. Somente um bom observador notaria a luz, entretanto. Era como se ele tivesse a visão perfeita desde o dia em que nascera.
      Ainda quieto, sentado em uma cama, Chronos permanecia cabisbaixo, olhando para a imagem de seus próprios dedos, girando-os em torno deles mesmos, como se brincasse com algo que nunca havia enxergado.
      Com o leve sorriso que lhe era característico, Fate deixou o quarto, vendo na expressão de seu filho o seu desejo de ficar sozinho. Certamente, ele precisava de um tempo para si mesmo, para descobrir o que antes não conseguia ver.
      Em pouco tempo, nem mesmo o ruído dos passos da Senshi do Tempo podiam ser ouvidos na ala do palácio onde Chronos estava instalado. Porém, os sentidos aguçados do menino notaram um som que nem mesmo um guerreiro treinado poderia ouvir... mas ELE conseguia ouvir.
      - Quem está aí? - Chronos perguntou, erguendo levemente a cabeça na direção da porta.
      Um outro menino, de olhos vermelhos, apareceu na porta, aparentando um certo nervosismo.
      - O que faz aqui? - continuou Chronos, com palavras que não eram comuns para crianças de sua idade.
      - Estou perdido. - ele respondeu, entrando no quarto.
      - Un. Para onde queria ir?
      - Para o salão principal do palácio.
      Chronos não demorou muito para explicar ao garoto o caminho desejado, embora usasse como referência outros pontos senão os que uma pessoa com visão normal usaria. Mesmo assim, ele sabia que o garoto conseguiria chegar ao salão sem maiores dificuldades.
      Entretanto, os olhos do garoto chamaram a atenção de Chronos. Vermelhos. A coloração incomum não deixava dúvidas ao selenita sobre a origem do garoto, que deveria ser um híbrido...
      - Domo arigato... - o garoto começou a agradecer, tirando o filho de Fate de sua pequena reflexão.
      - Nani? Ah, Chronos desu... - ele respondeu.
      - Silver. - o garoto falou, saindo do quarto. - Boku wa Silver Litgerbrin desu.

***
      - SILVER?!?! - gritou a voz surpresa do garoto.
      Martin abrira abruptamente seus olhos, encontrando os primeiros raios do dia a invadirem no quarto. Ele os cerrou quase que ao mesmo instante, deixando então que seus olhos acostumassem primeiro à luz. Passando as mãos por sua cabeça, ele notara que estava a suar profusamente, enquanto que as imagens que tivera em seu sonho ainda permaneciam gravadas em seu consciente.
      Lentamente, ele abriu seus olhos novamente, notando que havia mais uma vez sonhado com o Milênio de Prata. Entretanto, era estranho pensar que tivesse sido com aquela estranha pessoa... quer dizer, ele imaginara que o sonho do parque havia apenas sido alguma fusão temporária de vários fanfics que ele tivesse lido. Mas isso reunindo-se ao SEU universo de fanfics... era algo inédito ao ficwriter.
      - Martin, Martin, Martin... bebeu chá demais para variar... - murmurou ele para si mesmo, observando que (felizmente) ninguém havia acordado com seu grito. Pelo menos, ele tinha a CERTEZA de ter gritado. Bem... talvez algo baixo demais para ser ouvido ou... ou... ah! Vocês entendem, ne? (^^;;;;)
      De qualquer forma, os pensamentos dele logo se desfizeram quando ele olhou para o seu lado. Não, não para Eiki-san, mas para o artista marcial que não conseguira seu título devido à idade. Mais precisamente, para o garoto de olhos vermelhos e cabelos longos e negros denominado Satori Ryu.
      Curioso sobre seus próprios movimentos, Martin começava a perguntar a si mesmo o que o impelira a observar a figura do japonês. Sua cabeça estava levemente inclinada, quase como a querer descobrir o que tanto o fascinava no artista marcial. Talvez a pergunta que repetia em sua mente fosse o porquê do garoto não ter acordado com seu grito, ou pelo menos em fingir que não acordara... de uma forma ou de outra, não mudava a incerteza do chinês sobre seu grito. O ficwriter logo abandonou aqueles pensamentos, certo de que seria uma paranóia extra e inútil à sua vida e acabou por encontrar o calendário.
      "Hmm... hoje é o dia da Libertação." pensou o ficwriter, lembrando-se da sua amiga no hospital. "Creio que Ami-san deve passar por aqui antes de ir. Se for assim, melhor me apressar." concluiu ele, dirigindo-se para a porta. Não, é claro, sem antes verificar a sua lista de compras a fazer no caminho até o hospital.
      Mal sabia Martin que Satori Ryu não estava a dormir. Estava já há algum tempo acordado e estava a disfarçar sua concentração, esperando encontrar em sua Ligação uma pista para a resposta do grito que ouvira sair dos lábios do descendente de chineses. Mizuno Ami havia lhe mostrado alguns dos tais fanfics... mas nada nas reportagens das revistas internacionais poderia ter dado alguma pista sobre o seu passado.
      Certamente havia algo por trás de todas aquelas histórias de ficção... porque era incrível como elas conseguiam ser quase totalmente fiéis ao passado que ele presenciara.

***
      Do outro lado do mundo, Carol e Tatiana estavam sentadas à frente de um computador, pensando cuidadosamente sobre o que havia acontecido naquela tarde. Não era anormal o desaparecimento de uma pessoa, isso era um fato inegável. O que tornava o sumiço repentino de Hélio totalmente curioso era a repentina CHUVA de pingüins-doidos-assassinos que caíra sobre Vitória, sem ao menos UMA previsão do serviço de meteorologia!
      - Isso porque o jornal previa tempo bom, sem instabilidades no decorrer do dia... - comentou Tatiana, já livre do namorado-sombra-ciumento e segurando seu golfinho de pelúcia super-desenvolvido no colo.
      - Hai... só que ganhamos um grande problema, fora a família do Hélio, preocupadíssima com ele, que está telefonando para cá sem parar. - respondeu Carol, batendo o dedo no mouse. - E agora?
      - Você quer dizer...
      - MADS-kun deve saber do que aconteceu? Quero dizer, contrariamos a recomendação do Cloud e enviamos um e-mail para o Martin, avisando de tudo o que aconteceu desde a partida dele?
      - Já vi quem é a genocida aqui... Carol-chan, acho melhor esperar mais um pouco... isso SE realmente formos avisá-lo disso. H-kun desapareceu hoje e pode ter sido apenas um sumiço temporário.
      - Tá bom. Então se ele não retornar dentro de vinte e quatro horas, mesmo depois daquela chuva de pingüins malucos, daí eu poderei considerar o desaparecimento de H-kun algo PREOCUPANTE??? - perguntou Carol, com um tom extremamente irônico. - E DAÍ eu poderei avisar o MADS do que está acontecendo?!
      - Ei, calma! Pense bem, Carol, o que o Martin poderia fazer, estando lá do outro lado do mundo? Na pior das hipóteses, o H-kun não deve ter ido parar em um lugar absurdo! E não se esqueça de que temos OUTRAS pessoas desaparecidas além do Hélio! Ranma, por exemplo!
      - Nisso você está certa, Taty-chan. - suspirou a garota, finalmente deixando o mouse em paz. - Mas acho melhor enviar um e-mail para todos falando do sumiço do Hélio... e evitar parques a partir de agora.

***
      No avião MD-11 da JAL, aquele parecia ser apenas mais uma viagem comum, no roteiro Los Angeles-Tóquio, sem maiores preocupações. Como disse, PARECIA... porque talvez as aeromoças e os comissários de bordo estivessem agora melhor preparados para passageiros totalmente diferentes do comum, principalmente depois do vôo de três meses atrás, quando aquele casal insistiu em conversar durante toda a viagem, mesmo estando em poltronas MUITO DISTANTES uma da outra.
      Mas talvez já estivessem preparados para passageiros que roncavam durante toda a viagem. Infelizmente, o passageiro ao lado do roncador não compartilhava do mesmo treinamento.
      Sentado ao lado de Daniel, Edson Makoto Kimura permaneceu mais da metade da viagem com uma expressão que uma amiga chamaria de 'gota', enquanto as aeromoças passavam por ele com um estranho sorriso no rosto, oferecendo-lhe algodão para fechar os ouvidos. Ao contrário de seu amigo, Edson não tinha sono... não iria conseguir dormir enquanto não desvendasse o 'mistério' de sua viagem ao Japão.
      Tudo bem, não era a primeira vez que estava indo para o país do sol nascente, ao contrário de Martin, Paolla, Ricardo e Daniel. Mas certamente era a primeira vez que estava indo em circunstâncias TÃO estranhas. Era óbvio que ele adoraria passar umas semanas no Japão na companhia de seus amigos, ainda mais quando queria ver os locais usados para ambientar os fics do Grupo, mas não quando seus pais afirmavam categoricamente que haviam avisado-no da viagem e ele retrucava que NÃO, eles NÃO haviam avisado ninguém sobre a tal viagem misteriosa.
      - Daniel. - chamou Edson, cutucando o braço do passageiro ao lado. - Tolaaaaris...
      A resposta foi um resmungo característico de 'não, mãe, ainda não tá na hora de acordar'.
      - TOLAAAARIIIIS! - GRITOU Edson, no ouvido de Daniel, causando um pequeno tumulto ao seu redor. Sim, ele não era o único a estar dormindo. Por mais estranho que isso possa parecer.
      - Hein? Como?! - exclamou Daniel, acordando com o grito de seu companheiro de vôo. - Por que gritou, Cloud?!
      Edson apenas apontou para o sinal luminoso que indicava 'apertem os cintos'. Não, o piloto não havia sumido, mas estava na hora da aterrisagem.
      - Party time... - brincou Daniel, colocando o cinto. - Agora... nem quero ver o que Murphy resolveu preparar para mim. Se o MADS ficou no Templo Hikawa, imagine onde EU vou ficar.
      - Fique tranqüilo. O pior que pode acontecer é você ficar em Tsukino-ke. - retrucou Edson, sorrindo malignamente... embora não soubesse ao certo o porquê.

***
      Outra pessoa também acordava após um breve período de inconsciência. Embora sentisse que tudo ao seu redor estava diferente do local onde desmaiara, ele abriu os olhos, um pouco receoso do que poderia encontrar.
      Nada.
      Foi exatamente isso o que ele encontrou.
      Nada.
      Estava tudo escuro ao seu redor, uma escuridão infinita que parecia estar o envolvendo, como uma larva em um casulo. E uma sensação de solidão... como ele nunca havia experimentado antes.
      Sem conseguir enxergar nada além de seu nariz, ele tateou seu corpo, procurando por algum indício de ferimento, algum osso quebrado no atropelamento. Afinal, havia sido um CAMINHÃO que passara por cima dele e disso ele estava bem ciente. Nada. Ele estava inteiro, sem ferimento algum. Ele ia começar a congratular a si mesmo pela sua própria resistência física, já que este era a SEGUNDA vez que era atropelado e não recebera grandes danos... mas a presença do Nada era algo preocupante.
      Sem saber ao certo ainda o que fazer, Hélio Perroni Filho se levantou, procurando algum lugar para se apoiar. Ele estava sozinho em uma escuridão sem fim, semelhante ao que poderia ser chamado de pesadelo por muitas pessoas. Mas também não sabia se era um sonho tudo aquilo que o rodeava. Um devaneio? Uma ilusão criada por sua própria mente, mergulhada no turbilhão da inconsciência provocada pelo atropelamento? Uma defesa de seu corpo contra a dor que estaria sentindo?
      Ele não sabia. E não havia como saber. Não ali.
      Não em um local que ele não sabia o que era, tampouco ONDE era.
      Subitamente, ele sentiu algo em suas mãos. Algo leve, de textura semelhante ao aço. Sem poder ver, ele apenas procurou aguçar seu tato, concentrando-se nas sensações que o toque daquilo trazia à sua mente, alguma pista de onde poderia estar.
      A única pista que conseguiu foi uma luz; brilhando, como a esperança no fim de um túnel.
      E, ainda sem saber exatamente porque, H-kun seguiu na direção da luz. Talvez procurando pela resposta de sua pergunta.
      "Onde eu estou? E o que aconteceu comigo???"
      Caminhando alguns metros, segundo sua noção espacial, Hélio chegou a um lugar onde ainda era noite. Onde o brilho das estrelas era fascinante; só mesmo uma estrela cadente para tornar o cenário completo. Foi somente então que a luz permitiu que ele visse o espaço que o rodeava.
      Uma cena de batalha. Muito da luz que ele havia visto era proveniente de uma grande quantidade de energia que era liberada por ataques de guerreiros que ele mesmo havia descrito em muitas de suas histórias. Pois ele mesmo era parte do Grupo de ficwriters. Ele mesmo chegava a ser confundido com o personagem que criara para as histórias do Reino Negro. Nemesis. O filho de Neflyte. O primeiro filho dos dragões.
      Mas não foi Nemesis, o dragão, a primeira coisa que ele viu quando sua visão ficou firme.
      O que ele viu, para seu espanto, foi a si próprio, sua imagem refletida na lâmina de uma katana.
      A lâmina que, mesmo suja de sangue, permanecia reluzente o suficiente para refletir o rosto de um jovem guerreiro.

***
      O sol trazia boas notícias para aquele quarto de hospital. Ainda sentada em sua cama, a paciente brasileira não conseguia ficar parada, tamanha a ansiedade para voltar para Mizuno-ke... a casa que ela havia, inconscientemente, adotado como 'lar'.
      Girando os polegares, Paolla ficava imaginando a causa da demora de Ami, que prometera passar no hospital antes de ir à aula para levá-la para casa. Ela havia combinado que estaria no hospital antes das oito horas. O relógio já marcava oito e meia...
      Claro que a ficwriter brasileira nunca poderia imaginar que a demora fosse devido ao seu compatriota, que estava ainda a verificar nas lojas mais próximas o que ele considerava como 'suprimentos' ao seu caro e bem-cuidado Eiki-san. Ami, por sua vez, era quem estava tentando arrastar o ficwriter para caminhar mais rapidamente e convencê-lo de que NÃO precisava de mais uma caixa de diskettes para o computador.
      "Coitada da Ami-chan. Já perdeu uns dois dias de aula por causa de mim... como será que poderei 'reparar' isso?" pensava Paolla, girando freneticamente os polegares. "E ainda preciso ligar para a mamãe. Ela deve estar preocupada comigo."
      A ficwriter já estava pronta para sair, com suas roupas normais no lugar da camisola que havia emprestado de Ami, longo, azul-claro com detalhes em renda. "Nota mental: comprar uma camisola mais comprida para casos de emergência como esse..." ela pensou, mentalizando as roupas que havia trazido em sua mala. Felizmente, ela usava o mesmo número de Ami e tinha quase a mesma altura dela. Somente nessas horas ela ficava feliz de ser 'baixinha', como muitos a chamavam. "1,60m pode ser baixo no Brasil, mas aqui até que é uma altura bem razoável."
      Concentrando-se levemente no movimento que fazia com os polegares, ela rapidamente entrou novamente em seu mundo de sonhos, desligando-se temporariamente do mundo exterior, como costumava fazer quando era pequena. Um mundo onde tudo era mais tranqüilo, onde ela era mais feliz... mas também onde tudo era irreal, criado a partir do conceito de mundo ideal que possuía quando era criança. Do qual ela gostaria de ter se livrado quando entrou na adolescência, quando todos disseram que teria mais amigos ou que teria que se conformar de ser sozinha. O mundo que ficou latente em sua memória, retornando somente em seus momentos solitários. Ou quando conversava com seus amigos na Internet. Seus nicks não eram apenas apelidos que usava para esconder seu nome real. Eram pessoas vivas dentro de sua mente. Personas, como diriam os psiquiatras.
      Paolla nem percebeu quando Mizuno Ami e Martin Siu abriram a porta do quarto, entrando sem que ela virasse o rosto na direção da porta. A expressão em seu rosto era séria, mas não de tristeza ou de raiva. Era somente a expressão de uma pessoa que sempre havia sido solitária e que apenas recentemente havia descoberto o que era a verdadeira amizade. E que temia perder os frutos dessa descoberta.
      - Limy-chan...? - chamou suavemente Ami, preocupada com a expressão no rosto da ficwriter.
      - Nani? - exclamou Paolla, levantando a cabeça rapidamente, como se tivesse sido acordada de um sonho. - Ami-chan! Martin!
      - Pronta para voltar para ca... - começou Ami, interrompendo sua frase, lembrando-se de alguns fatos biológicos. - Quero dizer, para voltar para uma vida normal?
      - Yoshi! Podemos ir? - perguntou a ficwriter, novamente com o comportamento de 'irmã-mais-nova'. A voz com o tom semelhante ao que ela ouvia nos animes que assistia no Brasil. Claro que ninguém havia notado a terceira pessoa do quarto, que franzia a testa diante daquele diálogo.
      "Desde QUANDO existe uma vida 'normal'???" perguntava-se ele, mas logo abandonando o assunto ao ver ambas as garotas a sorrir.
      - Hey! Settle down, Tieko-san... - riu Martin, empurrando-a com cuidado para que se senta-se na cama. - Mizuno-sensei ainda precisa assinar os últimos papéis para que você tenha alta.
      - Oh. - suspirou Paolla, ajeitando-se. - Então, alguma novidade?
      - Hoje é o primeiro dia de aula de Cousin na Juuban High School... - respondeu Martin, sorrindo malignamente. - O uniforme não ficou tão mal nele. - ele continuou, deixando de mencionar a pequena diferença de altura que seu primo tinha em relação a ele.
      - Ah... você deixou os CDs em Mizuno-ke? Preciso começar a estudar, ou não vou conseguir terminar a tempo da prova. ALIÁS, MADS-san, você ainda não me disse o nível de dificuldade da prova final.
      - Não disse?! - exclamou Martin, aparentando estar surpreso. - Olhe no primeiro CD que você colocar no computador. Creio que lá estão todas as informações necessárias.
      Paolla concordou com um gesto de cabeça, passando sua mão na nuca em seguida. Sua sorte havia sido ainda maior do que imaginara. Como a pedra havia entrado na base de sua nuca, pouco cabelo precisou ser raspado para que os curativos fossem feitos. Quem olhasse para ela e Ami, juntas, de relance, não perceberia grandes diferenças entre elas...
      E foi essa a sensação que Mizuno-sensei teve quando entrou no quarto, trazendo os documentos finais para a alta de sua hóspede. Sua filha estava sentada na cama, ao lado da brasileira, criando um quadro deveras intrigante. Embora a diferença de idade fosse de aproximadamente dois anos, elas pareciam ser irmãs. Gêmeas, diriam algumas pessoas, ainda mais quando Paolla estava sem óculos.
      - Mizuno-sensei! - exclamou Paolla, vendo a médica entrar no quarto.
      - Pelo o que posso notar, você está bem contente em receber alta, ne? - comentou a médica, sorrindo levemente. - Aqui está uma cópia da chave de casa, Paolla. Pode ir...
      - Você volta cedo hoje, kaasan?
      - Hm... hoje o plantão da noite não é meu... - raciocinou Mizuno-sensei, enquanto observava Martin e Paolla saindo do quarto. - ... hai. Jantarei com vocês esta noite. Você janta conosco, Martin?
      - Heh? - surpreendeu-se momentaneamente o ficwriter, mas não demorando a responder. - Eu adoraria. Obrigado pelo convite, Mizuno-sensei. - falou Martin, já com um pé fora do quarto.
      A médica deixou um belo sorriso transparecer em seu rosto enquanto via sua filha sair do quarto, acompanhada dos dois brasileiros. Era bom saber que Ami estava fazendo amigos... e bons amigos.

***
      Depois de muito tempo, mais uma vez Moon Destiny Kishi estava perante ao grande espelho que pensara que jamais veria em toda a existência de sua alma. O espelho que adornava o salão principal do ambiente prateado em que se encontrava, o lar de Sailor Pluto nos tempos do Milênio de Prata, que também havia sido seu lar durante três anos de treinamento. A única estrutura selenita que sobrevivera ao passar dos séculos.
      - Agora você não tem mais desculpas, Earth Destiny Kishi. - provocou Henrique, fixando seu olhar nos olhos da serpente. - Diga logo o que está acontecendo com a Linha Temporal.
      - Imagens falam mais do que palavras, Moon Fox. - respondeu Art, fazendo um gesto na direção do espelho.
      Henrique procurou esconder a surpresa que tomou conta de sua mente quando imagens de outro universo começaram a ser exibidas pelo espelho. Imagens que mostravam um mundo sombrio, desprovido de esperanças.
      A imagem foi ficando mais nítida, aproximando-se de uma construção. Um laboratório, diria Hélio, um laboratório de um cientista cuja mente possuía grandes conhecimentos, nem sempre usados para o bem, tampouco usados para o mal total. Como uma câmera com zoom, a imagem aproximou-se cada vez mais, permitindo que os ocupantes do laboratório pudessem ser vistos.
      E foi com total espanto que Henrique viu o rosto de uma pessoa que jamais desistiu de seus objetivos, passando por cima de tudo e de todos.
      - Lucifer... - murmurou ele. - Masaka...

***
      Ele estava se sentindo sufocado, como se algo apertasse o seu pescoço desejando a sua morte. Cada passo que dava era como se caminhasse para a morte certa, para um lugar totalmente desconhecido, onde não poderia confiar em ninguém.
      Pelo menos uma parte de seus pensamentos era correta. Ele estava indo para um lugar totalmente desconhecido. Mas não estava sozinho, ao contrário, estava em boa companhia.
      Caminhando para seu primeiro dia de aula, acompanhado por Usagi e Makoto, Ricardo enfim descobrira o que fizera seu primo sorrir daquela maneira quando lhe entregara o uniforme da Juuban High School. O colarinho era MUITO alto e apertado, quase não permitia que respirasse normalmente. A estrelinha amarela no fecho do colarinho era o toque que NÃO precisava ter no uniforme, ainda mais com aquela quantidade de bolsos, o que justificava o apelido de 'blusa-canguru' dado por Martin.
      Mas o pior não era exatamente o uniforme... era o fato de não saber quase nada de japonês, o que o deixava MUITO preocupado. Claro, Martin também havia omitido a existência das classes especiais que ele e Paolla haviam freqüentado. Preferia deixar seu primo descobrir sozinho como ele aprendera a língua japonesa em pouco menos de três meses, mesmo porque nem ele mesmo tinha a certeza de que todos os estudantes estrangeiros receberiam as aulas especiais. Obviamente que isso passou a ser uma boa desculpa caso seu primo o perguntasse pela falta de informação...
      - <Makoto-san, em que classe vou ficar?> - perguntou R-kun, andando sem olhar para a frente, com a maleta preta jogada sobre seus ombros.
      - <Não sei, Ricardo. É melhor você ver na listagem dos alunos ingressantes.> - respondeu Makoto, divertindo-se silenciosamente com o início de desespero de Ricardo.
      - <Ah... obrigado.> - falou Ricardo, permanecendo em silêncio pelo resto do trajeto entre Chiba-ke e a Juuban High School.

***
      Paolla abriu a porta do apartamento dos Mizuno como se estivesse chegando em sua própria casa, tamanha era a felicidade estampada em seu rosto. Tirando rapidamente seu tênis e correndo para dentro do quarto que estava ocupando, esqueceu-se por um momento de que Ami havia ido para a escola e suspirou:
      - Tadaima...
      - Okaerinasai, Tieko-san. - respondeu Martin, apoiando-se no batente da porta. - Alguns dias no hospital fazem isso com uma pessoa ou isso é conseqüência da sua quase-morte?
      - Urusai, MADS-san. - resmungou Paolla, colocando sua mala sobre a cama. - Eu estava com saudades de ca...
      A visão de uma caixa sobre a cama a fez parar repentinamente sua frase. Era uma caixa familiar, semelhante a que usara uma vez para enviar fitas cassete para Cloud gravar alguns CDs de música de anime... Curiosa, ela pegou a caixa no colo e olhou o destinatário e o remetente, como se quisesse ter certeza do que estava vendo.
      - Da minha mãe? - indagou a ficwriter, rasgando a fita que selava a caixa. - Mas o que será que ela poderia ter enviado?
      Um sorriso surgiu no rosto cansado da brasileira quando ela viu os pacotes de suco que estavam dentro da caixa, acompanhados de uma carta.
      - Sua mãe mandou suco de guaraná?! - perguntou uma voz, enquanto o rosto mudava para demonstrar a surpresa.
      - Hai. Ela sabe que eu não conseguiria encontrar isso por aqui. - respondeu Paolla, ainda sorrindo. - Experiências de viagens...
      Martin sorriu levemente. Era bom ter sua amiga fora de perigo, fora do hospital. Haviam sido quatro dias que eram equivalentes a um ANO de vida... ou melhor, quatro dias que sem dúvida o haviam feito envelhecer um ano. "Well... um ano a mais, um ano a menos... que importância isso terá?" concluiu ele ao perceber Paolla alegre. Amigos eram preciosos o suficientes para gastar anos de vida.
      Silenciosamente, Paolla pegou a carta de sua mãe e começou a lê-la. Notando que pequenas lágrimas estavam se formando nos olhos de sua amiga, Martin saiu discretamente do quarto, fechando a porta e deixando-a sozinha com as saudades de sua mãe. Foi somente nesse momento que se lembrou que tinha MUITA coisa para estudar em seus CDs. "E preciso começar logo, ou vou acabar me atrapalhando..."
      Entrando no quarto de Ami, ele encontrou um bloco de papel e uma caneta, exatamente o que precisava para deixar um bilhete para Paolla, avisando-a de que ele estaria no Templo Hikawa. Depois de escrever o que julgou necessário, Martin colocou o bilhete por baixo da porta do quarto que a ficwriter estava ocupando e foi embora, tomando cuidado ao fechar a porta da frente.
      Mesmo assim, o som da porta se fechando pôde ser escutado por Paolla, que suspirou de alívio quando notou que seu amigo havia ido embora. Precisava ficar um pouco sozinha e não era por estar sentindo muitas saudades de sua mãe, mas por causa do que havia acontecido no hospital. Olhando em seu relógio de pulso, viu que ainda faltava muitas horas para que Ami ou Mizuno-sensei voltassem para casa. Perfeito para o que teria que fazer, embora não fosse exatamente o que desejava fazer.
      Com um movimento de sua mão direita, aliado a um pensamento, uma caneta prateada materializou-se diante da brasileira, que tocou levemente com os dedos o símbolo de Mercúrio gravado no corpo da caneta. Era uma peça belíssima, que ninguém no mundo atual seria capaz de reproduzir com fidelidade. Era única.
      Uma lágrima escorreu por seu rosto, simbolizando a tristeza que sentia no fundo de sua alma. Uma tristeza diferente de tudo que um dia sentira; era a tristeza de já não possuir a ignorância de tempos atrás, de ter de volta a memória do passado, saber quem fora em outras vidas. Embora uma parte de seu ser estivesse contente por finalmente reencontrar sua irmã, a outra parte, a terrestre, a estudante de Medicina, já não estava totalmente certa de suas emoções. Tudo o que ela queria era estudar e aprender a salvar vidas. Nada do que presenciara estava em seus planos.
      O quarto, outrora pequeno, pareceu ficar maior para abrigar todos os sentimentos de Paolla Matsuura, que sentia como se estivesse perdida em uma viagem sem fim. Ela sabia que não havia fim, não naquele momento. Porque ela sabia que o fim ainda não estava escrito.
      Dona desse conhecimento, ela segurou a caneta prateada junto ao seu coração e, ao invés de sussurrar, disse, em um tom de voz razoavelmente alto:
      - Mercury... - o símbolo de Mercúrio emitiu uma luz azulada, refletindo na testa da ficwriter.
      - ... Destiny... - a luz aumentou de intensidade, envolvendo totalmente o corpo de Paolla.
      - ... POWER!!! - uma explosão de várias tonalidades de azul, tendo como centro a caneta prateada, preencheu por completo o quarto, pontos semelhantes a vagalumes passando em torno do corpo da brasileira. As roupas que usava antes desapareceram, dando lugar ao uniforme que vira em seus sonhos.
      E, quando a luz voltou ao normal no quarto que havia sido de Mizuno Ken, uma garota com uma kodachi presa por faixas de tecido azul em sua cintura estava parada no lugar onde antes havia uma simples adolescente terrestre, estudante de Medicina.
      - Tadaima... - ela sussurrou, deixando que mais e mais lágrimas caíssem no chão.

***
      O sol estava brilhando maravilhosamente nos céus de Tóquio. Como se essa cena estivesse se repetindo, Martin caminhava tranqüilamente pelas ruas da capital japonesa, com a diferença de que, desta vez, estava sozinho, uma vez que seu primo deveria estar em seu primeiro dia de aula na Juuban High School, sofrendo com a 'blusa-canguru-de-colarinho-alto'. E, claro, com a diferença de que, até aquele momento, nenhum pingüim armado com foguetes havia aparecido.
      O trajeto até Hikawa Jinja deveria ser sossegado, pelo menos uma vez em sua estada no Japão. A distância entre Mizuno-ke e o templo não era muito grande, mas o suficiente para que muitas coisas acontecessem enquanto uma pessoa caminhava entre ela. E era disso que MADS tinha medo. Da próxima armadilha que Murphy poderia colocar em seu caminho.
      - Konnani mo konnani mo taisetsuna omoide... toki hanatsu yo...
      Martin parou subitamente, ouvindo uma voz sussurrar uma frase em sua mente. Uma frase que, embora não soubesse ao certo porque, estava lhe perturbando tanto quanto a que ouvira naquele dia do acidente de Paolla, no parque, quando estava deitado em um dos bancos.
      Curioso, ele olhou para os lados, mas apenas se certificou de que não havia ninguém nas ruas. Estando numa área residencial, ele imaginava ser natural que a maioria das pessoas estivessem a trabalhar. Entretanto, a frase permanecera em sua mente.
      O brasileiro suspirou naquele momento, retomando a sua caminhada. Em seu caminho, ele presenciou ainda as pétalas de sakura a caírem suavemente ao chão, lembrando-o que estava ainda na primavera. Numa sensação nostálgica, Martin retomou em sua mente o conteúdo dos CDs. Paolla decerto ficaria contente ao perceber que eram vários vídeos (os quais, em sua opinião, poderiam ter sido feito em fitas de vídeo ao invés de tantos gastos).
      Por um instante, a frase retomou o controle da sua mente. Martin começou a repeti-la dentro dela, tentando entender o que ela dizia. Parecia algo enigmático, sua mensagem não sendo muito clara. Ele entendera as palavras perfeitamente, mas o sentido... ainda permanecia obscuro para ele.
      Sem mais demoras, o ficwriter apertou o seu passo na direção do Templo Hikawa. Com cautela, é claro.


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