Tempestade de Ilusões
by
Ami Ikari & X/MADS!

Capítulo 09: Fire Soul

"Nossa verdade interior é o que dirige nosso destino."
-= Helen Keller =-

      Para uma pessoa sedentária, a rotina de seu cotidiano não passaria mais do que oito horas sentada diante de seus afazeres. Ocasionalmente obtendo uma carga maior de stress e trabalho, e algumas vezes conseguindo o que se poderia denominar 'férias'. Para muitas pessoas, esse inferno estático e rotineiro é um verdadeiro paraíso.
      Sem sair da rotina, conhecendo exatamente cada passo a ser dado, cada reação a ser tomada. Tudo se torna previsível. Dessa forma, não há nada mais fácil do que seguir essa rotina. Por outro lado, existem pessoas que nunca se conformam com essa rotina. Uma pitada de aventura, um gostinho de imprevisibilidade... um desafio novo. Isso tudo poderia certamente fascinar esse tipo de pessoa aventureira. Claro que existem certos riscos, uma vez que a quebra da rotina exige seu preço.
      Todavia, duas pessoas estavam naquele momento pensando em QUANDO elas haviam desejado um único segundo dessa 'excitante aventura' da vida. Martin e Ricardo obviamente estavam a considerar se depois daquele dia eles obteriam uma longa e monótona vida. Se eles chegassem a sobreviver, é claro.
      - {QUEM FOI QUE COLOCOU TANTOS DEGRAUS NESSA ESCADA???} - reclamava com grande entusiasmo o primo mais novo.
      - {Não pergunte, CORRA!} - disse apenas Martin, observando de relance os foguetes e os pingüins atrás deles. "Onde estão as ONGs nessas horas???"
      Ambos os primos estavam a poucos degraus de distância do templo e começavam seriamente a indagar se aquela teria sido exatamente uma boa idéia. Era certo que haveria um ponto final para os foguetes e tudo o que estivesse por perto, mas seria o correto a fazer? Estranhamente, tudo o que Martin conseguia imaginar era como o avô de Rei reagiria perante ao foguete.
      - AAAAAAAAAAAAAAAAH!!! FOGUETES ATRÁS DE VOCÊS! - gritou uma voz familiar para Martin.
      Quando o chinês voltou sua atenção para a realidade e ao cheiro de borracha queimada atrás de si, ele ficou surpreso ao encontrar o avô de Rei e Yuuichiro a praticarem 'cooper' consigo e seu primo. Ricardo, por sua vez, não resistiu à tentação de tornar aquilo insanamente casual.
      - Konichii wa. - cumprimentou ele aos dois. - <Belo dia para cooper, não acham?> - terminou ele, sorrindo e abanando o foguete atrás de si.
      Yuuichiro e o senhor Hino apenas puderem obter suas gotas de suor gigantes ao correrem com os dois chineses em grandes círculos ao redor do templo. Felizmente(?) para o bom(???) velhinho, os foguetes pareciam concordar em não explodir a sua morada naquele instante. "Só aparece doido neste templo..." comentava Yuuichiro para si mesmo, recobrando todas as forças necessárias para permanecer vivo.
      Evidentemente, o fato de dois foguetes perigosamente explosivos estarem ainda a persegui-los fizeram que qualquer um do quarteto recusasse a gastar qualquer fôlego para responder a R-kun. Estranhamente, a menção do nome de Paolla durante a 'corrida' repetia-se na mente do chinês mais velho. Não que Martin estivesse a escutar vozes, mas era verdade que Paolla havia calculado as equações básicas para que o Complexo pudesse analisar. Todavia, era também verdade que os membros fundadores do Grupo haviam tido a mirabolante idéia de 'descobrir' a identidade das Senshi.
      Naquele momento tão tenso, o nome de Paolla foi um dado importante para Martin. E se eles, por alguma brincadeira macabra de Murphy, tivessem descoberto apenas pelos palpites as identidades das Senshi? Isso chegava a ser catastrófico na opinião do ficwriter. Sim, catastrófico. Se ele bem lembrava, Hikawa Jinja era a região onde uma Senshi em especial aparecia mais... e se ele estava certo, ela deveria aparecer...
      - Chotto mate! - gritou uma voz que o chinês apenas pensara ter ouvido algum tempo atrás.
      ... agora. Claro que ele não parou de correr para ser atingido pelos foguetes. Todavia, a voz, vinda do telhado do templo, havia chamado a atenção de seus 'perseguidores'.
      - Pen? - perguntou um deles, tentando distinguir a sombra.
      - Não permitirei que estraguem a paz deste templo! - continuou a voz, apontando o indicador acusadoramente para o casal de pingüins. - Ai to seigi no sera fuku bishoujo Senshi Sailor Mars! Kasei ni kawatte oshiokiyo!
      Terminando a sua fala, Sailor Mars saltou do telhado, arremessando dois objetos na direção dos pingüins, que ainda estavam tentando entender o que estava a acontecer no momento. Não levou muito tempo até os ofudas atingirem as testas dos pingüins, mas algo imprevisto ocorreu a Sailor Mars.
      - Akuryou taisan! - gritou ela... e o imprevisto ocorreu.
      Ambos os ofudas emitiram um brilho vermelho, pouco antes de então emitirem um verde tenebroso e pálido. Em instantes, os ofudas queimaram diante daquela energia. Sailor Mars, nunca tendo presenciado algo desse gênero ocorrer, ficou surpresa diante daquilo, enquanto buscava uma resposta para aquilo. Não que isso tenha levado muito tempo. Seu espírito de combate havia já dominado a área e ela já se preparava para utilizar seus ataques mais potentes e destrutivos.
      - IIE! - gritou uma voz, arrastando a Senshi de Marte.
      Martin sequer se incomodou com o peso extra ou com os foguetes atrás de si, apenas pensando na hipótese que ocorrera a poucos instantes em sua mente. Carregando a Senshi em seus braços, ela parecia deveras surpresa e ele não gostaria de ficar muito tempo naquela posição. Não pelo olhar 'intimidor' de Yuuichiro ou do senhor Hino, mas sim pela provável fúria que se seguiria a partir da Senshi. Ciente disso, a resposta viera-lhe tão rápida na boca enquanto pensava nas conclusões da linha de pensamento que seguia.
      - <Se você provocar chamas por aqui, vai ocorrer um desastre!> - falou com convicção o ficwriter. - <Esses foguetes parecem se basear no calor e eles iriam de encontro ao calor que VOCÊ vai provocar, levando tudo isto aqui pelos ares.>
      A lógica estava presente, mas Sailor Mars havia visto muito mais do que isso. Ou melhor, concluído um pouco mais na frente do ficwriter. Sua experiência falava mais alto, enquanto ela sorria sarcasticamente para o ficwriter em questão.
      - E não é que é uma boa idéia? - disse ela, aumentando a tensão no chinês. R-kun, por sua vez, estava fazendo uma nota mental ainda mais importante. "Curso de japonês. URGENTE!", pensou ele, "se eu sobreviver a este inferno, é claro!"
      Com Martin ocupado a correr e segurá-la, Sailor Mars não encontrou dificuldades em empurrar o ficwriter ao chão e permitir que o seu Elemento trabalhasse. Com os pés firmemente plantados no chão e uma intensa aura ígnea ao seu redor, a Senshi do Fogo não precisou de tanto tempo para concentrar seu poder diante da tarefa.
      - FIRE SOUL! - iniciou ela, causando uma intensa e quente rajada de fogo. Ela, no entanto, prestara muita atenção quanto à localização dos foguetes térmicos.
      Estes, quando iam passar pela Senshi, foram imediatamente atraídos para a intensa fonte de calor, desviando-se quase que bruscamente. Sailor Mars, no entanto, tivera um alvo bem fixo ao realizar a sua proeza. Os dois foguetes haviam mudado sua direção na direção dos céus.
      *BOOM*
      A explosão cegou-os por alguns instantes, os pingüins deveras surpresos com aquela tática inesperada da Senshi de Marte. Os dois foguetes haviam se colidido entre si ao subirem àquela altura. Aparentemente tendo calculado a rajada de fogo, Sailor Mars sorria vitoriosa para a distância segura e à pequena chuva de brasas a caírem no chão.
      - Agora é a nossa vez. - disse uma outra voz no cenário.
      Todos os olhares viraram-se para ela, excetuando o de Martin, que continuava a olhar para a direção da explosão e amaldiçoando-se por pensar que congelar era a melhor solução. A voz, no entanto, parecia desperceber isso, com a atenção mais voltada para as duas criaturas que invadiram aquele recinto religioso. Uma longa cabeleira negra balançava sob o vento, enquanto o guerreiro mantinha-se numa posição privilegiada, num galho de árvore.
      Ao lado dele, uma outra figura estava próxima, porém com vestimentas em tonalidades vermelhas ao invés do branco de seu colega. Ricardo Gen reconheceu aquelas duas figuras de imediato, tanto por tê-las visto tantas vezes nas fotos quanto pelas descrições dos fics escritos pelo Grupo. Diante dele, não haviam dúvidas de que tratavam-se dos Dragon Kishi. E se ele estava certo, as apresentações não durariam por muito tempo.
      - Moon Light Blade SLASH! - gritou o primeiro, bradando acima de sua cabeça uma katana a brilhar fervorosamente. Seu salto, evidentemente, iria acarretar na morte de uma 'pequena, simpática e fofinha' criatura. Por outro lado, ele nunca também havia sido um membro do GreenPeace...
      - Mars Fire Star BURST! - gritou Mars Dragon, emanando uma rajada maciça de chamas na mesma direção que o Dragon Kishi da Lua.
      *POP*
      "POP?!?!?" foi o pensamento mútuo no local. Principalmente para Moon Dragon e Mars Dragon, que observavam para um buraco em chamas no solo do templo e sem qualquer sinal dos dois alvos.

***
      - POP?!? - perguntava-se também uma outra pessoa. No caso, o guerreiro mascarado não possuía a mínima idéia de onde que um monstro DAQUELE tamanho podia desaparecer daquela forma.
      *blinks*
      - Onde ele foi parar? - perguntou Sailor Moon, olhando para todos os lados possíveis, como se agora estivesse em busca da criatura que havia brincado de 'boneca' consigo.
      - Acho melhor reunir todos, Usako... - murmurou Tuxedo Kamen, enquanto olhava o último local em que a criatura estivera.
      - Hai. - concedeu Usagi, revertendo sua transformação. - Tem algo muito estranho aqui...
      Dito isso, ela começou a caminhar ao lado de Chiba Mamoru... pouco antes de olhar o relógio.
      - AI! PERDI O DIA INTEIRO DE AULAS!!! - gritou a loira, agora correndo na direção da escola.
      Mamoru, por sua vez, apenas foi capaz de suar.

***
      Claro que não poderia deixar de perguntar a si mesma também uma outra Senshi, em outro local. Em especial, a Senshi que Martin havia considerado como a única capaz de desativar com eficácia um par de foguetes térmicos.
      "POP?!?" perguntavam-se tanto Paolla Limy Matsuura quanto Sailor Mercury. Observando atrás de si havia uma densa neblina, mas o som havia sido deveras audível para ambas. Infelizmente(?), quando a névoa dissipou ao comando da Senshi, não havia nenhum indício de que ali houveram aves assassinas de sorrisos maquiavélicos.
      - Você precisa voltar ao hospital... - disse a Senshi de Mercúrio, sua voz fraca com a surpresa de tal ataque.
      Paolla, no entanto, foi apenas capaz de olhar aquilo com MUITA surpresa, enquanto Sailor Mercury a conduzia de volta ao seu leito. "Ao menos", acrescentou ela mentalmente, "isso NÃO é um déjà vu..."

***
      Tudo parecia estar se encaixando perfeitamente, como em uma novela de ficção. Cenas aparentemente esparsas estavam interligadas por um mesmo objetivo, um elo que as unia sem que seus atores percebessem. Para um escritor, esse seria o ápice de sua obra, o momento em que a trama atingiria seu clímax.
      Mas não era isso que ela desejava. Não era chegada a hora de tudo aquilo acontecer.
      Nervosa, a jovem ruiva escrevia furiosamente nas folhas de papel que estavam à sua frente, mudando o curso da história que ocorria nas ruas de Tóquio. Flutuando diante dela, a esfera brilhante mostrava as cenas em flashes contínuos, de modo que ela não perdesse um só movimento dos 'personagens' de sua trama.
      Ela sabia que os pingüins, que Neko-chan chamava 'carinhosamente' de Pen-Pen, existiriam somente enquanto sua criadora permanecesse concentrada na história que escrevia. Tirar a Silver Pen das mãos de Neko já havia resolvido 40% dos problemas, pois Eternal Sailor Moon já não precisava se preocupar com pingüins-imperadores-assassinos-doentes-mentais, assim como Sailor Mercury. Porém, os foguetes lançados não desapareceriam como os pingüins e encontrariam seu destino, ou melhor dizendo, seu alvo.
      Era isso o que mais a deixava preocupada. Como impedir que os foguetes explodissem e acabassem com tudo o que Art havia planejado durante todos os séculos de reclusão no Salão Prateado? E... como impedir que ele tentasse matar Neko quando descobrisse tudo?
      Nessas horas, Kare desejava ter a mesma habilidade de escrita de um antigo companheiro... Moon Fox certamente saberia como resolver essa situação. Repentinamente, uma idéia veio à sua mente. Algo que faria até mesmo Chronos duvidar de seus próprios sentidos.

***
      Frio. Essa era a sensação que o ficwriter registrava em sua mente. Um frio extremo, congelante, doloroso. Mas não era o frio externo que muitas vezes experimentara na casa de seu primo, no Sul do país onde morava; era o frio que penetrava em seu corpo internamente.
      O frio da solidão. Aquele que por muitas vezes ele não desejara sentir, mas que lhe parecia extremamente familiar.
      Tremendo, ele cruzou os braços numa tentativa de se aquecer e abriu os olhos, procurando saber onde estava e qual o motivo de estar sentindo tanto frio... e o vento... era o mais gelado que havia sentido em toda a sua vida.
      Quando abriu os olhos, não mais a escuridão reinava à sua volta, mas o branco infinito da neve e do gelo, o azul dos cristais brilhando em todos os lugares que sua vista alcançava. Os cristais de outro planeta, de outra época, quando o Sistema Solar não possuía a configuração conhecida dos cientistas do século XX. Uma forma esquecida por todos, modificada pelo fim de um planeta ignorado pela História.
      Olhando para si mesmo, Henrique suspirou de alívio quando percebeu que estava com as roupas que usara no parque Ibirapuera, momentos antes de ser tragado pela escuridão. Nada mais de guerreiro selenita, nada mais de luas crescentes em seu braço; ele era apenas um garoto terrestre novamente. Nunca ele imaginara que essa constatação lhe traria tanta paz ao coração.
      Subitamente, ele se sentiu profundamente solitário, esse sentimento amargo substituindo o alívio de outrora. Buscando algo semelhante em sua memória, o rapaz de olhos vivazes encontrou os sentimentos de um personagem que criara... um personagem pertencente a outro universo, renascido na Terra após o fim de seu mundo. Um personagem que ele criara baseado em si mesmo. Pouco antes de sua viagem ao Canadá... pouco depois de toda aquela loucura.
      Mercury Knight.
      Porém, uma parte de sua mente dizia que isso era absurdo. Ao contrário das histórias de NDK, Mercury Knight não havia sido criado a partir de reportagens e de personagens reais, como Satori Ryu, seu Moon Dragon.
      O vento soprou mais forte quando ele pensou em Satori Ryu. _SEU_ Moon Dragon. O guerreiro da Lua baseado nas reportagens que lia com tanta avidez e curiosidade, Tsuki no Senshi Dragon Kishi.
      A neve branco-azulada que caía sobre o corpo castigado de Henrique Loyola parecia mesclar em seu interior a essência desses dois personagens. Mercury Knight e Moon Dragon.
      Mercury Knight e Moon Dragon. Ainda com ambos fixos em sua mente, Ranma viu com assombro uma luz azulada aparecer à sua frente, a neve juntando-se ao redor dela, como se formasse a silhueta de uma pessoa. Porém, seu assombro tornou-se maior quando percebeu que a luz estava aumentando sua intensidade, aproximando-se cada vez mais dele.
      Como uma lagarta em um fino casulo de seda, Henrique viu-se envolvido pela neve, o frio penetrando cada vez mais em seu corpo, o torpor da inconsciência tomando conta de sua mente.
      Entretanto, antes que mergulhasse novamente na escuridão profunda, ele ainda teve tempo de ver algo deveras interessante.
      As figuras de Mercury Knight e de Moon Dragon estavam se unindo em uma só pessoa. Uma imagem muito conhecida. Um jovem guerreiro com faixas de tecido prateado esvoaçantes presas à cintura e com a lua crescente brilhando majestosa em seu braço direito.
      E ele estava com o braço estendido em sua direção, convidando-o a sair do casulo de neve...

***
      - DAKARA! - gritou ele mais uma vez. - DAKARADAKARADAKARA_DAKARA_!
      Repetindo aquilo como um mantra, o ficwriter não podia simplesmente aceitar aquilo. Ele acostumara a fornecer explicações sucintas e lógicas para qualquer coisa. Por mais absurda que fosse a sua 'explicação', ele podia formar conceitos para os quais a 'explicação' pudesse existir.
      Só que isso não era único de sua natureza. TODOS, sem exceção, tentavam buscar uma resposta lógica e racional para explicar o inexplicável. O que o poderia diferenciar dos demais era o fato dos 'conceitos' serem um pouco diversos. Mas não era apenas ele que pertencia àquela classe. Ele sabia com convicção que outras duas pessoas pensavam daquela mesma forma que ele.
      Mas eles nunca haviam presenciado o que ELE presenciou. Assustado, Martin continuou a recitar seu mantra, ainda a olhar incrédulo para a pequena cratera formada no chão do templo. Ele simplesmente não encontrava nenhuma lei física que permitisse aquilo.
      "COMO alguma coisa pode fazer *pop* e desaparecer dessa forma?" perguntava-se ele, não aceitando a hipótese de teleporte. Os pingüins, caso possuíssem tal dom, não teriam desperdiçado tanto tempo ao correr atrás deles. Quer dizer, sapatear.
      Com as mãos a cobrirem sua cabeça, ele parecia querer espremer de dentro dela alguma resposta para aquilo. Deveria haver alguma explicação, alguma solução. "Cristais de teleporte?" ele refutou essa idéia. Os pingüins não possuíam bolsos. "The PenguinSpace?" novamente, ele refutou a idéia. Se assim fosse, não havia a necessidade de carregar aqueles aparatos nas costas.
      - Dakara... - disse ele, quase sussurrando, enquanto uma lágrima escapava de seu controle. - Dakara...
      Claro que nem todos poderia compartilhar de toda aquela aflição do ficwriter. Suspirando, um outro ficwriter perguntava-se por quanto mais tempo seu primo permaneceria naquele estado catatônico. Evidentemente, ele havia sido rápido o suficiente para conseguir o impossível!
      Em suas mãos, três autógrafos deveras valiosos repousavam diante da aflição do primo mais paranóico. Não, é claro, que Ricardo pudesse fazer algo contra. A ocasião estava lá e ele soube aproveitá-la. Sim, o fato dele NÃO ter prestado muita atenção ao som dos pingüins e sim nos golpes dos Dragon Kishi havia sido de muita valia à sua sanidade mental. Assim como do senhor Hino e de Yuuichiro, que também observavam o ficwriter caído no chão.
      - Por quanto tempo ele vai ficar assim? - perguntou uma voz atrás de Ricardo, que assustou-se momentaneamente. Hino Rei, por sua vez, lembrou-se que o chinês provavelmente ainda não tinha tanto contato com a língua e reformulou a pergunta em inglês.
      - Beat me. - respondeu Ricardo, sacudindo os ombros. - <Nunca o vi nesse estado...>
      Rei, ouvindo aquilo, suspirou, assim como seu avô e Yuuichiro. Claro que, enquanto Rei pensava na saúde do hóspede, o avô pensava na má imagem que o templo teria diante da central de intercâmbio.
      *blinks*
      - {Mas afinal, para quê essa tormenta?} - falou uma voz que espantou a todos. O dono da voz, no entanto, decidiu por levantar-se de uma vez.
      Sacudindo um pouco a sua cabeça, Martin olhou uma última vez para o local onde estiveram os pingüins pela última vez. Sentindo pela primeira vez o chão do templo na sola de seus pés, ele não demorou a concluir que um bom par de tênis já havia ido embora. Resignado, ele começou a caminhar para seu quarto, como se nada tivesse acontecido.
      Para o espanto de todos, Ricardo resolveu acompanhar o primo mais velho, embora ainda não soubesse o porquê de estar fazendo isso. Seus pés sentindo o mesmo que os de Martin, o ficwriter tentava se lembrar se ele havia trazido um par extra de tênis ou se ele teria que comprar um novo para sua estadia. Quer dizer, MUITOS outros, se sua sorte continuasse naquele ritmo. "Nada mal para o primeiro dia 'comum' em Tóquio para um brasileiro..." dizia ele para si mesmo.
      Ambos os Hino e Yuuichiro, por outro lado, observavam surpresos para os dois parentes e sua aparente naturalidade. Principalmente com um deles que, poucos instantes antes, estava caído no chão, murmurando um mantra em prol de sua sanidade mental.
      Claro que nenhum deles realmente conhecia Martin Siu, a.k.a. MADS, a tal ponto de perspicácia.

***
      Por outro lado, quer dizer, do outro lado do mundo, a noite já findava, enquanto os tímidos raios de Sol começavam a anunciar um novo dia. A aurora, um espetáculo visto e apreciado por poucos, já começava a despontar no horizonte. Entretanto, não era exatamente pela aurora que aquele brasileiro estava acordando tão cedo. Era por um amigo.
      - Droga... - falou o brasileiro. - Esqueci de desligar esse alarme!
      Bem, talvez não fosse EXATAMENTE pelo amigo que ele despertava, mas certamente havia um bom intuito em sua alma. Esfregando os olhos, o garoto tentava evitar ao máximo a luz do Sol que penetrava em sua janela, quase como se fosse um habitante das trevas do que exatamente uma pessoa diurna.
      Seus olhos azuis, no entanto, refletiram uma parte daqueles raios solares, talvez focalizados mais no objeto na sua frente do que o que estava esmagado debaixo de sua mão direita. Suspirando logo de manhã, o garoto lembrava das cenas da noite anterior. "Não, nenhuma garota absurdamente linda está deitada nua em minha cama..." e muito menos o garoto se recordava de ter alguma a entrar em seu quarto. Todavia, não eram essas as cenas que ele mais se recordava.
      Embora quisesse que as cenas fossem reais, ele não podia deixar de pensar num evento particular daquela noite. "Não, não era nenhuma cena de jogo de RPG. Hmm... o que era mesmo?..." a resposta, no entanto, estava no objeto na sua frente. Na caixa branca e metálica de seu computador, cuja tela negra parecia refletir as suas incansáveis horas de navegação pelo mundo virtual. Lembrando-se mais detalhadamente, ele lembrou-se então com nitidez o primeiro e-mail que havia recebido na noite anterior.
      "Ah! Henrique sumiu..." constatou o ficwriter brasileiro. Claro que tentar lembrar daquilo às seis e meia da manhã e entre o despertar e o sonho já era uma verdadeira proeza. Bocejando, o garoto terminou de se espreguiçar, enquanto a idéia que tivera voltava à sua cabeça. Não demorou muito até que ela amadurecesse melhor durante os seus sonhos e até que ela não era má! Resoluto de que aquela era a melhor opção, e prevenido quanto ao outro membro fundador da Exodus FanFictions, Hélio Perroni Filho decidiu por tomar o telefone em suas mãos.
      Digitando velozmente os números, ele sabia decorado o número de telefone ao qual discava. Ao mesmo tempo que se vestia, o garoto de cabelos castanhos esperava pela resposta do outro lado. Não foi com espanto que ele ouviu quase que rapidamente o que esperava.
      - Alô? - cumprimentou uma voz cansada e sonolenta.
      - Carol? Adivinha o que aconteceu? - falou o ficwriter, imaginando como que a garota do outro lado reagiria.
      - HÉLIO?!? Você SABE que horas são??? - respondeu um tanto irritada a brasileira aspirante a ficwriter.
      - E você sabia que Henrique sumiu? - sorriu vitorioso o garoto, não recebendo nada além de silêncio como resposta.

***
      - O QUÊ?!?!?! - perguntou a voz, ao mesmo tempo irritada e surpresa.
      - Parece que seus planos sofreram uma leve alteração... - disse a outra voz masculina, com um sorriso de vitória. Não que Edson achasse aquilo necessário, mas ele realmente PRECISAVA sorrir diante daquela notícia.
      - Eu vou viajar AMANHÃ??? - perguntou Daniel, ainda mais surpreso do que nunca e olhando para a pessoa na sua frente como se uma cabeça tivesse acabado de nascer ao lado da dela.
      A mulher não conseguiu deixar de sorrir tanto quanto o brasileiro ao lado de Daniel, mas não era de vitória. Era apenas a sua imensa prática de 'Sheepish Grin', como diria o MADS. Ou, como prefere a língua nativa, 'Sorriso Amarelo'. Não que alguém pudesse REALMENTE culpar a pobre-coitada da CORI. Apenas que ela adquirira uma prática acima do comum naquele começo de semestre na universidade.
      - Mas... mas... estou sem o meu passaporte, não tenho visto, muito menos a autorização para a viagem, como é que vou embarcar DESSE JEITO?! - gaguejou Daniel, no estágio anterior ao 'desespero-supremo-com-abanar-de-braços-frenético'.
      - Se eu fosse você, não me preocuparia tanto com isso. Seu passaporte chegou agora a pouco pelo malote da manhã e o seu visto foi tirado com o número dele. É só grampear na folha e...
      Os olhos verdes de Daniel pareceram mudar de cor para um cinza-surpreso quando a secretária da CORI mencionou 'grampear na folha'. Passaportes eram documentos que não podiam ser rasurados, tampouco furados, cortados ou mesmo GRAMPEADOS!
      *blink*blink*
      O piscar de olhos surpreso de Daniel Tolaris realmente era algo deveras divertido de se ver, ao menos na opinião de Edson, que começava a não se arrepender mais da hora em que comprara a passagem para Campinas na rodoviária. Nessas horas, até mesmo o fato de disputar com mais vinte e quatro estudantes uma vez em um jogo de videogame parecia ser compensado com o olhar de seu amigo.
      Claro, isso porque Cloud NÃO era vingativo. Nem um pouco.

***
      A luz da Lua adornava o céu de Tóquio, indicando o término de mais um dia. E QUE dia... pelo menos para sete meninas, cinco rapazes, um senhor de idade e dois gatos, havia sido um dia BEM agitado. Isso porque o estranho desaparecimento da nova hóspede do templo não havia sido computado no total de acontecimentos estranhos e completamente inimagináveis ocorridos em um curto espaço de vinte e quatro horas.
      Sem contar que quase ninguém sabia do desaparecimento da menina.
      - <Não está faltando alguém aqui?> - perguntou Martin, colocando sua xícara de chá na mesa ao redor da qual todos estavam sentados e demonstrando realmente que ele já havia voltado ao... 'normal'. - I mean, <chegou uma hóspede nova hoje e...> - ele continuou, arrependendo-se em seguida ao ver o olhar fulminante de Hino Rei.
      - Chegou O QUÊ?!? - berrou a sacerdotisa, em uma linguagem que dispensava traduções para o inglês, pelo menos na opinião de Ricardo. - E... onde ela está?
      - Bem... - começou Yuuichiro, gaguejando e começando a concordar com a primeira idéia de Makoto, a de transformar o mais velho dos dois garotos chineses em picadinho. - Ela... sumiu...
      - SUMIU?! Como assim, SUMIU??? - gritou novamente a sacerdotisa, o som estridente de seu grito ferindo os delicados tímpanos da maioria do grupo que lá estava tentando tomar chá calmamente.
      - Kami-sama, precisamos encontrá-la rapidamente! - falou Makoto, colocando a xícara de chá na mesinha. - Com esses pingüins rondando o templo, não podemos nos arriscar a...
      O barulho da porta de correr abrindo fez com que todos ficassem com os sentidos preparados para uma luta. Evidentemente, esse 'todos' _NÃO_ incluía os dois primos chineses, o mais novo com os sentidos preparados para outra corrida, embora seu corpo estivesse tão dolorido como se tivesse levado uma surra de varas, e o mais velho que estava aparentemente tranqüilo ao sorver o líquido esfumaçante dentro da xícara.
      - Com licença? - falou uma voz feminina, enquanto um olhinho aparecia no vão da porta. - Posso entrar?
      - Você é... - começou Rei, abrindo o restante da porta.
      - Jennifer Kanotori desu. - ela respondeu, entrando na sala. - Boa noite a todos. Desculpem a demora, mas é que eu não sabia que já havia alguém hospedado no templo e...
      Todos ficaram com os ouvidos atentos para a resposta que a menina iria dar... especialmente Ricardo, ao perceber que ela era MUITO bonita.
      - ... eu havia trazido somente algumas lembranças para o senhor Hino, a neta dele e para o rapaz que morava com eles, de acordo com as informações que tive da Central de Intercâmbio. - Jennifer prosseguiu, deixando Martin levemente corado, e pegando uma caixinha enfeitada com um laço. - É costume na minha família levar uma lembrança para as pessoas que moram na casa que nos hospedam, então fui comprar algo para você. - e entregou a caixinha nas mãos de Martin.
      Martin, meio desajeitado e levemente nervoso com os olhares curiosos e pouco maliciosos que se multiplicavam ao seu redor, pegou a caixinha. Ou melhor, estava tentando olhar APENAS para a caixinha. Ou melhor ainda, tentando IGNORAR a tonelada de olhares em cima dele.
      - Anoo... domo arigato, Jennifer-san... - respondeu Martin, a voz mais baixa do que de costume e com o olhar preso na caixinha. Sem saber muito o que fazer naquela situação, ele começou a desfazer o laço. "Um livro de etiquetas. Preciso comprar um agora..." pensou ele, enquanto sabia que o que fazia não seria aconselhável para chineses.
      "Em dúvida, recorra à tradição do seu país." confirmou ele a si mesmo, retirando uma caixa metálica de dentro do pacote. Um cheiro característico de uma fruta de clima temperado e frio logo chegou ao seu olfato.
      - Espero que goste de chá de morango... - a menina sussurrou, abaixando o olhar.
      - <Ele adora chá de morango.> - comentou Ricardo, ao ver o rótulo da caixa e sorrindo com o canto da boca. E SIM, criando um clima deveras constrangedor para seu primo.
      - Kakkoi! - exclamou a garota recém-chegada e abrindo um sorriso BEM largo e alegre. - Rei-san, posso ferver um pouco de água na sua cozinha?
      - Claro...
      Jennifer não precisou esperar outra palavra de Rei para correr para a cozinha, arrastando Martin pelo braço. Os olhares pouco maliciosos anteriormente vistos estavam se transformando em olhares medianamente maliciosos ao ver os dois correndo na direção da cozinha do templo.
      Mas o sorriso mais maligno, com certeza, era do ficwriter que possuía a alcunha de R-kun.

***
      Enquanto o sol prosseguia em sua missão eterna de iluminar o dia em outra parte do mundo, o já desperto Hélio Perroni Filho caminhava aparentemente tranqüilo para a casa daquela que ele fizera questão de acordar de maneira quiçá delicada, com o toque estridente do telefone.
      Em sua mente, diversos fatores pareciam se juntar para tentar deixar o caso do desaparecimento de Henrique um pouco mais 'claro', como se isso ainda fosse possível, diante das circunstâncias. Um pouco antes de sair de sua casa, Hélio havia telefonado para a casa de Henrique para saber se havia alguma notícia, e não gostara muito da resposta negativa que recebera.
      Estava tudo muito estranho para ser um seqüestro. O desaparecimento de Ranma havia ocorrido em um local PÚBLICO, extremamente movimentado e aberto; nenhum contato havia sido feito com a família dele desde então. NINGUÉM viu onde ele estava pouco antes de desaparecer e mesmo os guardas que por lá passavam disseram que não viram qualquer garoto cuja descrição batesse com a do ficwriter amaldiçoado naquele dia.
      Em suma, as únicas testemunhas de que Henrique estivera no parque eram Daniel e Edson... que já não estavam em São Paulo.
      Se isso estivesse acontecendo em um de seus fics, com certeza ele afirmaria que seu amigo havia sido raptado por alguma criatura extra-dimensional proveniente do Reino Negro... ou então que havia sido um seqüestrador MUITO estúpido que não sabia SEQUER escolher um alvo decente. Quer dizer, com tanto político por aí com dinheiro de sobra e querendo evitar investigações sob sua conta bancária, o 'seqüestrador' havia JUSTAMENTE escolhido um estudante da classe média?!?
      Mas tudo era fruto da imaginação coletiva do seu Grupo, não era? Não havia qualquer chance daquilo se tornar realidade. Isso tudo era impossível... certo?
      Quando Hélio, frustrado, olhou para o céu, espantou-se ao vê-lo nublado, com as nuvens cinzas unidas de modo que nenhuma parte azul pudesse ser vista. A cor cinza estava espantosamente uniforme, criando uma bela e bizarra visão do céu.
      Um céu de prata.
      E um suspiro se seguiu do ficwriter RPGista.

***
      Ainda sonolento, ele abriu os olhos lentamente, aguardando pacientemente que os borrões que apareciam à sua frente se definissem como objetos verdadeiros. Cuidadosamente, tateou o local onde estava deitado e ergueu o corpo, sentando-se. Quando, finalmente, sua visão se tornou clara o suficiente para que se levantasse, olhou ao redor para ver onde estava.
      A beleza do local deixaria qualquer um deslumbrado e ele não foi exceção. As paredes prateadas, convergindo para o topo, formando uma espécie de cúpula, eram adornadas com artefatos também prateados, e pequenos espelhos criavam uma atmosfera mística no interior do salão.
      Lembrando-se então de seu 'sonho', Henrique olhou para si mesmo, esperando não encontrar qualquer vestígio do selenita que havia visto, ou mesmo de Mercury Knight ou de Moon Dragon. Curiosamente, num impulso, ele flexionou a mão direita e a estendeu, em um único e rápido movimento.
      Seus olhos azuis brilharam de espanto quando viram uma caneta prateada aparecer em sua mão, saída do nada.
      Era a caneta mais bela que havia visto em toda a sua vida. Dotada de um brilho único, tinha gravado em seu corpo uma lua crescente. No entanto, não parecia ser nova, mas carregava sinais de que já havia sido usada por uma pessoa... há muito tempo atrás.
      Após esse pensamento, o brilho da caneta aumentou, chegando a ferir levemente os olhos de Henrique, que os fechou num reflexo. De olhos fechados, ouviu uma voz que trazia de volta palavras há muito esquecidas.
      E, com a caneta prateada em suas mãos, ele as repetiu, sem conseguir reter uma lágrima furtiva que escapava de seus olhos.
      - Moon... - a lua crescente gravada na caneta brilhou, refletindo-se na testa de Henrique.
      - ... Destiny... - o brilho do símbolo da Lua, agora gravado na testa de Henrique, aumentou, como se procurasse envolver totalmente o corpo do jovem ficwriter.
      - ... POWER!! - o brilho já envolvia por completo o corpo do ex-adolescente-comum, um brilho tão forte que provavelmente cegaria qualquer pessoa que por lá estivesse.
      Suas roupas começaram a se modificar lentamente, como se as tramas do tecido estivessem sendo tecidas naquele momento. Calças e botas pretas formaram-se em suas pernas; uma camiseta branca, coberta logo em seguida por uma jaqueta prateada, formou-se em seu corpo, sendo seguida por um par de luvas brancas que cobriram suas mãos e parte de seu braço.
      O brilho diminuiu, permitindo que a figura de um jovem guerreiro pudesse ser vista no interior do salão prateado. Os últimos resquícios da luz que o envolvera transformaram-se em faixas de tecido prateado ao redor de sua cintura e em uma katana de cabo prateado e bainha branca. E a luz do ambiente voltou ao normal quando o último brilho formou a braçadeira com a lua crescente no braço direito de Henrique.
      A caneta prateada que causara tudo aquilo ainda repousava nas mãos de Henrique, quando este abriu os olhos. A lágrima furtiva não havia desaparecido também.
      Porque mesmo inconscientemente, ele sabia que sua vida nunca mais seria a mesma.
      Porque ele havia descoberto, da maneira mais dolorosa, que tudo o que havia escrito era parte da verdade... e que ele era integrante da outra parte que nenhuma história havia descrito até então.

***
      Com duas sensações totalmente contrárias misturando-se em sua mente, Daniel 'Tolaris' só conseguia caminhar cabisbaixo na direção da casa onde morava, perto da Unicamp. Acompanhado por Edson, não conseguiu formular nenhuma hipótese que explicasse a súbita mudança de planos que ocorrera em sua viagem ao Japão.
      Estavam ocorrendo fatos que contrariavam totalmente a Lei de Murphy. Daniel sempre se arrependera amarga e profundamente de NÃO gostar de animes na época em que seu pai fora ao Japão e esperava ansiosamente um dia para poder compensar isso. Portanto, a ida ao Japão seria a maneira ideal para que isso ocorresse... mas Murphy não gostava de pregar peças nas pessoas? Então por que raios ele estava dando-lhe de PRESENTE uma viagem ao Japão???
      A resposta veio à sua mente da pior maneira possível.
      "Talvez porque não seja exatamente um 'presente', Daniel. Ele pode estar armando alguma coisa..." murmurou uma parte de sua mente que atendia pelo nome de 'Tolaris', sim, aquele mesmo que Daniel usava como nickname.
      "Calado, seu comandantezinho miserável." Daniel respondeu mentalmente. E, quase que simultaneamente, uma outra parte de sua mente sussurrou uma frase que o fez sentir um calafrio. "Jo no creo en las brujas, pero que las hay, hay..."
      - Pelo visto, - começou a dizer o amigo ao lado, não deixando de transparecer o ENORME sorriso em sua face. - não foi à toa que preparei todas aquelas malas. Ne, Tolaris?
      - Hai... - respondeu Daniel, realmente grato pela preocupação de Edson. Ele sequer conseguiria imaginar em como preparar malas para o JAPÃO em um único dia. Quer dizer, vinte e duas horas e trinta e oito minutos, para ser mais exato, nas contas de Edson. - Obrigado mesmo, Cloud.
      - Deixa para lá. - falou o outro. - Agora, vê se não se esquece das listas, hein?
      Daniel 'Tolaris' não deixou de sorrir diante daquela lembrança de Edson. Realmente, desde que ele recebera a notícia, parecia que tudo quanto era otaku brasileiro o conhecia de alguma forma ou de outra e já trazia uma lista com determinados ítens de anime a serem comprados. Alguns até já haviam enviado DÓLARES para ele com essas listas.
      - Só espero ter tempo para tantas compras. - respondeu Daniel, já avistando a sua república e perguntando-se como haviam chegado tão rapidamente _A PÉ_.
      - Bem, chega de demoras. Acho que já é hora para você voltar a São Paulo. - comentou Edson, sorrindo novamente.
      Claro, o que nenhum dos dois havia lido nos duzentos e cinco gramas de papel fornecidos pela secretária do CORI era uma determinada linha bem pequenina que iria mudar a vida da pessoa ao lado de Daniel. E fornecer a SUA chance de sorrir um belo 'Murphy gosta de VOCÊ!' diante do amigo.

***
      Por outro lado, havia uma outra pessoa a desafiar Murphy naquele instante. Em outras palavras, não era como se o brasileiro realmente acreditasse em toda aquela parafernália que um grupo de ficwriters havia imposto como as verdades no universo. Ao menos, não num grau de fanatismo quanto os outros dois do Grupo.
      Entretanto, aquilo não mudava o fato de que estava, naquele exato momento, dentro de um parque. Um parque, como diriam os outros Inner NDK. Mas a visão de duas garotas e uma sombra-deveras-rabugenta-e-robusta afastou dele aqueles pensamentos paranóicos.
      - Carol! Bom te ver! - cumprimentou o ficwriter, mantendo-se um pouco afastado da sombra-ciumenta-e-namorado-de-Tatiana. O que ele tinha a dizer era muito mais importante do que se incomodar com o sujeito... e outra vez ele tentava quebrar a sua cabeça para ajudar um amigo.
      Claro, isso não mudava um fato.
      Hélio Perroni Filho estava num parque.

***
      No outro lado do mundo, onde a noite ainda era uma criança para os apaixonados, Murphy parecia estar... entretido. Ao menos, essa era a conclusão de Martin Siu, sentindo seu rosto ruborizar mais do que o comumente aceitável ao chinês. Quer dizer, não era como se ele não tivesse visto uma mulher bonita ao seu lado... mas certamente nenhuma havia agido da mesma forma que a garota de cabelos negros que estava ao seu lado e preparando um chá para ELE.
      Entoando uma melodia suave, Jennifer Kanotori sequer podia imaginar o embaraço de Martin, que mantinha-se firmemente plantado no mesmo lugar que ela o largara na cozinha e observando com frio suor o que ela fazia e a tonelada de olhares nas suas costas. Ele sequer precisava prestar atenção a respirações locais, pois sabia que estavam todos amontoados na porta da cozinha a prender suas respirações.
      Claro que se ele olhasse para trás, Martin confirmaria toda a sua teoria, com a exceção do sorriso malicioso presente em seu primo. ENTRETANTO, sua atenção estava dirigindo-se exclusivamente para o chá de morangos que iria sorver em seguida, o que estava incrivelmente drenando toda a sua concentração para evitar um estado próximo ao whoopy-whoopy(tm).
      - Aqui está. - disse comemorativa a garota, estendendo uma xícara de chá na direção do ficwriter.
      Martin olhou por alguns segundos o bule, amaldiçoando-o por ter sido tão eficiente em sua tarefa. No entanto, ainda sobraram algumas funções de seu corpo para evitar aquele nervosismo todo. Em outras palavras, ele tentou tomar a xícara de chá sem erguer muitas suspeitas ao seu... 'público'.
      - Domo arigato, Jennifer-san. - agradeceu Martin, tomando a xícara em suas mãos e sabendo que todos, com a exceção da garota, estavam a contar os milissegundos de contato que as suas mãos obtiveram.
      - Dou itashimashite, Martin-san. - respondeu ela, sorrindo para o desespero do ficwriter brasileiro.
      Após o que parecia ser uma eternidade de silêncio, Martin bebeu o líquido afinal. O fato de que se podia até mesmo OUVIR o ficwriter engolindo apenas parecia aumentar a apreensão e pesar ainda mais o clima na cozinha. Gesticulando positivamente para o chá, Martin apenas conseguiu dizer:
      - Esse chá é bom... - declarou ele, sorrindo. - Onde comprou?
      - Numa casa de chás... no shopping. - respondeu Jennifer, aparentemente satisfeita com as reações de Martin. Claro que ela não sabia também sobre a difícil provação gástrica que o chinês sofrera no dia em que seu primo chegara de viagem.
      Repentinamente, a porta do templo se abriu. Quer dizer, para Martin aquilo tanto agora podia significar 'atingir o estado whoopy-whoopy(tm)' quanto ainda acontecer algo pior. Descobrir que estava dentro de um anime ou fanfic, por exemplo. Mas, para a sua (in)felicidade não havia sido nenhuma das duas hipóteses a ocorrer.
      - ARGH! ESTOU _MORTA_! - declarou ofegante a voz de Tsukino Usagi ao entrar em Hikawa Jinja, atraindo para si os olhares de todos ali presentes. Com exceção de Martin, que observava alegremente as chamas do fogão aceso e agradecendo para qualquer kami generoso que o aliviara da tonelada nas costas.
      - Teria se cansado menos, Usako, se tivesse me ouvido. - declarou seu consorte, entrando também na sala.
      - Aaw... Mamo-chan... se você tivesse falado mais alto, eu teria ouvido. - respondeu quase que imediatamente a princesa lunar.
      Claro, Mamoru resolveu ocultar naquele momento que uma velhinha quase jogara água fria nele por estar gritando no meio da rua um 'Usako! Já é quase NOITE!' e tentando esclarecer que não adiantava sequer correr para a escola. No entanto, uma outra pessoa estava a pensar em uma outra parte dos acontecimentos do dia.
      - <Hey! Como foi que você se livrou dos pingüins?> - perguntou Ricardo, notando que Usagi estava ainda calçando sapatos COM sola.
      - Perseguiram você também? - perguntou surpreso o híbrido.
      - Anoo... iie. - respondeu Usagi, tentando encontrar uma boa desculpa para o chinês. Com a exceção dos brasileiros, todos já sabiam naquele momento o que havia sucedido a partir do instante em que Mamoru havia entrado junto com a princesa da Lua.
      - <Sailor Moon apareceu para salvá-la.> - respondeu sucintamente Chiba Mamoru. Aquela resposta, entretanto, pareceu satisfazer o ficwriter. - <E o que aconteceu com você?> - perguntou ele, observando que Ricardo calçava tênis SEM sola.
      - <Ah! Você nem vai acreditar... Sailor Mars, Mars Dragon e Moon Dragon apareceram por aqui!> - respondeu o chinês, pouco antes de pausar por alguns instantes. Flexionando a sobrancelha como se ainda duvidasse do que ia dizer, ele concluiu os acontecimentos do dia. - <E os pingüins fizeram *pop*, deixando aquela cratera ali na frente... ne, cousin?>
      E, nesse momento, todos os olhares novamente dirigiram-se ao chinês mais velho. Mais precisamente, no espaço VAZIO onde o chinês estivera nos seus últimos momentos na Terra. Martin, obviamente, aproveitara o momento para 'desaparecer', deixando os olhares recaírem então para seu primo.

***
      - ... e essa é a situação atual. - disse solenemente o ficwriter.
      Realmente, após todos aqueles acontecimentos, ele não poderia se dar ao luxo de não ficar confuso. Relatar as situações novamente havia ajudado um pouco, mas não tanto quanto se poderia esperar. Aliás, o fato de não haverem Estranhos Olhares Em Sua Direção(tm) já havia ajudado em muito.
      - Putz... está muito esquisito para mim... - revelou uma segunda voz.
      Hélio olhou para Carol, encontrando nos seus olhos azuis as mesmas expressões que ele obtivera na noite anterior. Ela, por sua vez, coçou a sua nuca, tentando ainda encontrar alguma solução para aquilo. Se tudo estava ocorrendo conforme Hélio dizia, havia ainda uma peça do quebra-cabeças a faltar. E a garota sabia que era uma peça BEM grande.
      - Dizem que andar traz inspiração para idéias... - falou então o namorado-sombra-ciumento de Taty-chan, revelando um pouco de altruísmo(?) para com o ficwriter desaparecido.
      - Un... - concordou Hélio, começando a liderar a caminhada. - Um pouco de ar fresco ajuda também...
      - Mas ninguém aqui o nomeou para escolher o caminho. - respondeu abruptamente o agora-normal-namorado-sombra-ciumento de Taty-chan. Esta, por outro lado, apenas conseguiu suspirar diante daquilo.
      - Então vamos andar TODOS juntos. - falou a garota, tomando o braço de seu namorado-sombra-ciumento e praticamente realizando uma façanha impossível no meio do Parque Moscoso.
      Os olhares dos transeuntes de Vitória fixaram-se naquele quarteto tão incomum que parecia querer iniciar uma nova moda de 'arrastão' na cidade. Isso, é claro, não incomodou o namorado-sombra-ciumento de Taty-chan, enquanto ela estivesse perto dele e Hélio BEM longe deles.
      Entretanto, alheio aos olhares que recebiam, Hélio e Carol não podiam deixar de se preocupar muito mais em Henrique Loyola. Ele era um membro do Grupo e, segundo Tolaris, seria MUITO recomendável que MADS não soubesse daquilo. De certa forma, Hélio concordou. A princípio, houve um certo receio, mas lembrar-se do quão paranóica uma pessoa que se diz acéfala na Grande Rede poderia ficar havia ajudado muito na decisão.
      Algo que Carol concordara após ele explicar seu ponto de vista. Para a garota, receber notícias dos que já foram seria agradável. Não que ela JÁ tivesse terminado de ler todo aquele relatório de MADS e Paolla a respeito dos três primeiros meses no Japão, mas ultimamente havia sofrido uma queda... considerável. Saber que Tolaris ia agora para o Japão era também uma boa notícia, embora ela acreditasse que fosse algo BEM estranho de ocorrer após o período inicial de aprendizado...
      Mas, como Hélio havia bem dito, era melhor lavar a roupa suja em casa. Em outras palavras, tentar descobrir o que afinal havia acontecido. Tolaris e Cloud haviam mandado aquela mensagem para sabe-se lá quantos e-mails, segundo o que ele conseguiu visualizar. Claro que não mandar para nenhuma lista de discussão, sob o 'perigo' de MADS porventura encontrar o arquivo ou similar, havia restringido em MUITO o envio das mensagens. Ele próprio, assim como Tatiana viria a fazer, havia enviado para as pessoas de sua agenda de endereços. Suspirando, o brasileiro resolveu olhar novamente para o céu de prata, na esperança de que alguma idéia cairia na sua cabeça.
      - DROGA! NÃO literalmente! - esbravejou ele, seus olhos subitamente surpresos. Com uma autoridade que ele desconhecia ter em tamanho grau, o brasileiro e ficwriter empurrou os seus amigos, anunciando o que vira. Ou melhor, anunciando o que deveriam estar já atrasados em fazer. - CORRAM!
      Os três ficaram um tanto surpresos com aquela reação de Hélio, até seus olhos olharem para as sombras que aumentavam debaixo de seus pés. Tatiana arriscou um olhar para cima, logo depois encontrando uma visão deveras perturbadora. Pingüins.
      Mas não eram meros pingüins. Eram pingüins com foguetes presos em suas costas. Não obstante, eram pingüins com foguetes presos em suas costas e caindo de pára-quedas em cima deles.
      - CORRAM! - repetiu Carol, descobrindo em suas pernas uma habilidade acima do normal. Talvez fosse o desespero de NÃO querer saber o que pingüins pára-quedistas e fogueteiros poderiam fazer.
      Claro que, no processo, Carol não deixou de arrastar consigo sua melhor amiga e um namorado-sombra-ciumento que agitava como uma faixa de papel nas mãos de Tatiana.

***
      - Isso é loucura. - constatou a voz arfante e cansada do ficwriter. A frase, muitas vezes utilizada por ele, não deixava de demonstrar o que lhe era ÓBVIO no momento.
      Perdendo pouco tempo para reflexões, Hélio Perroni Filho sabia que não era nenhum comandante do Reino Negro, um refugiado de Cephiro ou ainda algum ultra-poderoso ser que viria a determinar o futuro do universo. Mas não se arrependeria se fosse. Tivesse ele naquele momento o raciocínio rápido e destemido do dragão que ele próprio moldara nos fics, Hélio sabia que o tempo relativo aos pensamentos seria muito maior.
      Mas não era nisso que ele estava a pensar. No momento, a simples tarefa de correr era o que mais ocupava a sua mente. Ele cogitara a princípio dirigir-se até alguma casa, mas rejeitara de imediato a idéia. Embora os pingüins pudessem fazer a festa que quisessem com o sangue dos outros, o brasileiro estava bem certo de que era atrás DELE que as aves estavam atrás.
      Tatiana e os outros haviam ficado para trás, mas apenas para servir de suporte a pára-quedas de pingüins. Isso ele percebera a tempo de respirar de alívio pelo bem-estar de seus amigos. E amaldiçoar o maléfico sorriso daquelas aves que conseguiam até mesmo CURVAR o bico córneo daquela forma tão macabra na sua direção. Era a clara evidência que ele precisava para constatar que ele havia se tornado a vítima deles.
      Evitando trazer alguma lembrança de alguma infância remota sobre se ele tinha ou não matado algum pingüim com alguma coisa, Hélio estava praticamente agindo como seu alter-ego mandava. Correr. Sobreviver. Sem dúvidas que um foguete lhe causaria MUITO mais dano do que uma batida de carro em sua pessoa, o brasileiro apenas corria. Passando pelas ruas estranhamente cobertas de gente, ele gritava para que todos saíssem de sua frente. Claro que a visão dos pingüins havia sido um fator que congelara a maioria das pessoas e fazendo algumas desmaiarem.
      "Menos mal..." pensou o ficwriter, desviando-se facilmente dos pedestres, "... para eles." concluiu seu pensamento. Todavia, após o que parecia ter sido cinco minutos de fuga para o novo recordista mundial de corridas com obstáculos, Hélio sabia que sua sorte estava para acabar. Quer dizer, mesmo que ele conseguisse ainda descobrir o INTENTO daquelas aves supostamente assassinas, ele sabia que isso ainda era pouco. Em qualquer fanfic do Grupo, pensar da 'melhor' forma possível era sempre um pensamento fornecido ou ao futuro cadáver ou ao futuro destruidor do universo.
      Como Hélio acreditava que não se encaixaria em nenhuma daquelas hipóteses, ele estivera certo dessa sua sorte.
      - Isso é loucura... - repetiu ele, tentando ganhar ainda MAIS distância das aves incansáveis. Porém, foi só ele virar novamente a cabeça para a sua frente que ele ser deparou com a Grande Catástrofe(tm).
      Ao longe, milhares de pontos bem pequeninos e negros começavam a cair, a maioria parecendo estar sendo atraída em sua direção. Pela sua sorte, aquilo devia ser milhares de pingüins sádicos. Mas não era apenas isso. Um som deveras característico para qualquer um que ficasse três minutos parado no meio da avenida chamou sua atenção para a sua esquerda. Parecia ser coisa de cinema, sua mente registrou. Coisa que apenas um roteirista amador de filmes B de ação imaginaria. Ação ou Terror, dependia do tipo de humor.
      - Kuso... - foi a única coisa que Hélio Perroni Filho disse após ser atropelado por um caminhão com postes de concreto.
      - Pen... - disseram alguns dos pingüins-perseguidores, e erguendo uma das asas para cobrir os olhos.

***
      - Para onde H-kun foi? - perguntou Carol, finalmente conseguindo se desvencilhar da maré de tecido branco ao seu redor.
      - Como posso saber? - respondeu/perguntou Tatiana. Ou melhor, a voz que saía da mão que se agitava desesperadamente do monte de pára-quedas. - HELP!
      Carol suspirou, pouco depois 'mergulhando' no monte branco. Após alguns minutos, estavam já os três fora da 'armadilha' dos pingüins.
      - Que diabos foi aquilo? - perguntou Tatiana, certa de que os outros também haviam visto, assim como todo o pessoal do parque. Quer dizer, todo mundo que estava AINDA consciente.
      - Sei lá... pingüins mais esquisitos... - comentou Carol, parando reflexivamente por alguns instantes. - Se MADS estivesse aqui, iria achar que isso podia ser colocado num fanfic.
      - Acho que MADS não gostaria que dois de seus amigos, INNER ainda por cima, fossem levados por aquela seita de pingüins-fogueteiros. - respondeu Tatiana, erguendo uma sobrancelha na direção de sua amiga.
      Carol concordou com a cabeça, assim como tentava abafar uma sonora gargalhada ao ver o método que Tatiana empregara para fazer seu namorado 'dormir' por alguns instantes, após aquela sessão de perguntas típicas e esquisitas como 'você está bem?', 'eles te violentaram?' e coisas atípicas para alguém que estava apenas perdido num monte de lençol. Óbvio e evidente que a marreta deixada pelos pingüins bem próxima dela havia sido um fator fundamental para o 'sono' dele.
      - Mas o que vamos fazer? - perguntou Carol. - Quer dizer, está óbvio para nós que foram esses pingúins que levaram o Ranma. Mas como provar isso para a polícia? Como provar que HAVIA um monte de pingüins com foguetes nas costas a cair em cima da gente só para levar o Hélio embora???
      - Sem problemas com pingüins. - declarou Tatiana, segurando um dos pára-quedas. - A polícia deve aceitar qualquer coisa como 'prova' de tantos pára-quedas reunidos numa área tão pequena. Como fazer a conexão, eu não tenho a menor idéia, além de ter sido em um parque.
      - Com tantos maníacos do parque por aí, seria até capaz de pensarem que eram homossexuais ainda por cima.
      - Yickes. Que pensamento sujo, Carol... - comentou Tatiana. - Mas seria uma resposta bem simples para a polícia.
      - Hai. - concordou Carol, já sorrindo e erguendo um indicador para o alto. - Mas não será APENAS um mistério sem solução para...
      - Taty-chan & Carol Private Eye Co! - continuou Tatiana, imitando a amiga ao lado. Pouco depois, ambas começaram a rir e a rolar no chão.
      - Imagino o que o MADS iria dizer se visse a gente....
      - Provavelmente, que a gente consegue ser ainda mais loucas do que ele. - declarou vitoriosa a Wannabe genocida. - Ai... mas precisamos de alguns fatos... ONDE os dois foram parar.
      A seriedade então envolveu as duas amigas, normalmente alegres. Com um humor tão instável naquele instante, a reação vinda originalmente de e-mails era estranhamente alterada com a depressão de encontrar tal tipo de ataque. Bem, observando o casal de namorados que estava a cacarejar e a ciscar no chão, as duas não haviam tido as piores reações...

***
      Estava tudo tão escuro... e essa era a única afirmação em sua mente. Por um momento, ele desejou que tudo aquilo permanecesse assim. Escuro. Tudo seria um completo breu, onde ele não seria obrigado a VER fisicamente a maior de todas as tragédias que presenciara. No entanto, a vida não lhe era gentil.
      Mas ele não poderia reclamar, poderia? Ele estava vivo, afinal... de uma forma ou de outra, ele ainda vivia. E isso era o que mais importava à sua pessoa. Ele estava vivo. Abrindo novamente os seus olhos, ele encontrou a aterradora visão da verdade. Viu sua própria imagem, multiplicada infinitas vezes por onde quer que olhasse. Objetos de prata a fundirem com a imensidão metálica dentro daquele salão.
      - Beautiful, isn't it? - pronunciou uma voz suave e bela, ressoando pelo salão. A voz era feminina e dotava de muita determinação e vigor, embora, sabe-se lá como, Henrique sabia dizer que a origem da voz também possuía uma força semelhante ao de uma maré. Forte e capaz de causar enormes desastres em ataques contínuos e seqüenciais. Como se estivesse sempre a testar seus limites.
      - Hai. - respondeu o ficwriter, virando-se lentamente na direção da voz. Ficou pouco surpreso ao encontrar a garota ali de pé. - Já faz muito tempo... Neko. - cumprimentou ele, sem sorrir.
      A garota, por outro lado, não conseguiu conter seu sorriso. Era bom ser lembrada, mesmo que por ele. Era bom saber que não havia deixado de existir no tempo, como era o fardo dos de sua ordem.
      - Vejo que recobrou boa parte de suas memórias. - comentou a garota com sinceridade em sua voz. - Não esperava realmente que lembrasse de meu nome, Moon Fox.
      A resposta de Henrique Loyola, no entanto, foi mais rápida e ríspida. Quase que agressiva na direção da garota.
      - Meu nome NÃO é Moon Fox. Sou ainda Henrique Pacheco de Loyola. - ele disse. - Por favor.
      - Como queira... - respondeu a garota. - Henrique. Mas estou contente de tê-lo novamente no time.
      Henrique, por sua vez, olhou uma vez mais nos diversos espelhos. Um canto da sua mente logo lhe dissera que alguns conduziam a outras câmaras, razão da garota ter 'aparecido do nada'. Descobrir qual delas era uma armadilha era uma outra questão... Mas o humor do ficwriter, ou ainda do seu novo alter-ego, ainda estava longe de sua verdadeira natureza.
      - O que você quer... traidora? - perguntou a verdadeira natureza gélida e insatisfeita de Moon Fox. - Ou isso é mais um dos jogos de Art?
      Não levou muito tempo até um bater de palmas anunciar-se no salão e um homem de cabelos prateados a aparecer diante do cavaleiro.
      - Perspicaz como sempre... Moon Destiny Kishi. - comentou Art, encarando-o com um gélido olhar de seus olhos verdes.


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