Tempestade de Ilusões
by
Ami Ikari & X/MADS!

Capítulo 16: Múltiplas Personalidades

"Pain is a great teacher for human beings. The soul grows under the breath of pain."
-= Wolfram von Eschebach =-

      A partir do momento em que vivemos, somos todos suscetíveis à morte. Mas não são todos os momentos em que vivemos que procuramos lembrar da morte ou ainda de temê-la ou sentir a sua constante presença. Desde nossas infâncias acreditamos que seja a morte um processo natural. Que faça parte de um ciclo infinito de revitalização da... vida. Nascemos, crescemos, formamos (ou não) uma família e enfim, vivemos um pouco mais até nossa morte.
      Chega a ser natural pensar que os mais velhos serão então os primeiros a morrer. Por outro lado, isso apenas aumenta o choque de uma morte súbita, uma na qual não podemos ter o tempo de nos despedir, para que possamos todos nos separar em paz e harmonia. Não digo que a tristeza seria ausente, mas sem dúvida seria menor. A morte de um jovem certamente traz mais tristeza do que a morte de um ancião, dado que eventualmente pensaríamos em todo o tempo de vida que o jovem não obteve. Todos os anos de vida que foram retirados prematuramente dele.
      Então, poderíamos dizer que houve uma injustiça. A jovem vida que foi ceifada da realidade teve menos tempo que a do ancião. Porém, não importa o quanto venhamos a gritar, essas jovens vidas não mais irão retornar. E talvez seja isso que mais entristeça as pessoas mais próximas àquela jovem vida.
      Tristeza... era um sentimento que sequer poderia descrever o que realmente Chris Stover e Kino Makoto sentiam naquele momento. Suas lágrimas confundiam-se com as gotas de chuva que batiam em seus rostos, enquanto a indignação era mais presente em Chris do que em Makoto. Indignação e saudades... sentado no piso molhado e com as costas apoiadas numa das paredes do templo, seus olhos fixavam-se tristemente no local em que Maury deveria estar. Ferido, mas não morto.
      A ausência de um corpo talvez fosse um dos outros vários fatores que fizessem o rancor de Chris aumentar. Não importava a promessa que ele jurara, se o corpo de Mo estivesse ali... quem sabe ele não conseguiria se desculpar? Quem sabe... Uma lágrima caiu de seus olhos novamente, desta vez ele cobriu seu rosto com as mãos.
      Ele chorou, como há muito não havia feito. A criança canadense dentro dele a gritar de saudades e tristeza na direção do amigo que tivera por tanto tempo. Ao mesmo tempo, sua alma remoía-se com os remorsos da morte súbita do Dragon Kishi, do seu amigo. A imagem vermelha e cruel do rosto dele ainda era presente na sua mente. Entretanto, não havia nada mais além disso. Nem cheiro, nem sons, nem nada. Apenas a imagem fria e cruel do rosto agonizante de Maury Sillery.
      De seu melhor amigo.
      Mo era uma pessoa especial. E disso também sabia Kino Makoto. Ainda estava transformada, assim como Chris, porém estava no mesmo local em que havia recebido a adaga das mãos de Chris. No mesmo lugar em que Maury havia desaparecido e se tornado um com as incontáveis estrelas do céu. Tais estrelas agora observavam o jovem casal, enquanto as pesadas nuvens de chuva pareciam não querer privar aquela luz daquelas almas errantes.
      A noite estava relativamente calma, mas não nos corações que conheceram Maury Sillery. E olhos que já tivessem visto a alegria que Maury fornecia, não podiam então acreditar na tristeza que havia ao redor daquelas duas pessoas. Ao mesmo tempo, não teriam a força de vontade suficiente para retirar tão cedo aquelas pessoas de sua depressão.
      Tempo era necessário para curar aquela ferida. Por outro lado, algumas pessoas não precisam de tempo, precisam de vingança. Era o que os olhos de Kano Akai demandavam naquele instante. Ela podia não ter conhecido tão bem o canadense, mas o fato dele ter sido um dos seus companheiros de armas era o suficiente para que desejasse tão negro sentimento.
      Olhando pela janela o casal, ela praticamente tentava evitar olhar para qualquer outro ali dentro. Todos já haviam revertido a transformação, as Senshi a tentar encontrar palavras de consolo umas para as outras. A ferida ainda estava fresca demais para que Akai ou Ryu pudessem dizer qualquer coisa. As três garotas ali, no entanto, tinham ainda uma forte amizade e tentariam em pouco tempo se aproximar de Makoto. Chris, por sua vez, talvez fosse o que mais sofresse naquela noite. Não havia perdido um amor como Makoto, mas um amigo que estivera ao seu lado por boa parte de sua vida.
      Um pouco alheio a todo aquele sofrimento, Ryu estava muito mais concentrado em alguma tática do que preocupando-se com morte de Maury. Akai não poderia culpá-lo. Alguém precisava pensar nas conseqüências e no rumo que tomariam. Não havia ninguém melhor para isso do que ele, o que aumentava ainda mais o fardo que carregava desde o último encontro com Dark Angel.
      A julgar pela forma que o Dragon Kishi cerrava seus punhos, Akai estava presumindo que ele agora estivesse novamente a se culpar pelo ocorrido. Provavelmente a dizer que ele é quem deveria ter ido atrás da invasora ao invés de ter saltado na direção das tartarugas. Porém, Akai não estava mais com humor para as sessões de auto-piedade de Ryu.
      Ele já não era o mesmo que costumava ser, isso era evidente. Por um lado, ela não conseguia culpá-lo devido ao ocorrido. Por outro, mesmo ela julgava já ter passado tempo suficiente sem qualquer atividade. Atividade no sentido de realmente fazer algo mais do que ocupar a mente com coisas mais mundanas como estava acontecendo. Mars Dragon ainda acreditava que os Dragon Kishi capturados por Dark Angel ainda estavam vivos. Como na invasão de Scorpio, deviam estar apenas esperando o regresso triunfante do Dragon Kishi da Lua para que pudessem então reivindicar suas vinganças e tornar o mundo um lugar melhor para todos viverem sob o conceito de Crystal Tokyo.
      Com um passo firme, ela caminhou até o centro da sala, onde estava Satori Ryu. Ele, por sua vez, apenas ergueu seu olhar, ela não encontrando o que realmente esperava ver. A voz que saíra da boca do Dragon Kishi, no entanto, era tão decisiva quanto os passos firmes de Akai. Ao mesmo tempo, seus olhos encontravam atrás de si a figura inerte da misteriosa guerreira de Mercúrio que havia anteriormente ajudado-os.
      - Ela vai ter muito a explicar. - disse o Dragon Kishi. - E então fazemos um ataque-relâmpago sobre quem quer que seja essa pessoa.
      Akai apenas foi capaz de balançar sua cabeça, um pouco assustada com o tom de voz usado por Ryu. Depois, ela fixou também seu olhar para a garota estranha que estava deitada no chão do templo. Ia ter realmente muito a explicar. MUITO mesmo.

***
      Um lugar que permanece apenas nas memórias dos poucos que ainda sonham com a antiga glória. Um mundo conhecido por sua beleza e seus perigos. Um lugar repleto de aventuras, cuja terra era indicada como a riqueza do Milênio de Prata. E se seu espírito for o de um viajante incansável, mesmo após mil, milhares de noites, a imaginação será sua guia até os portões do Milênio de Prata, que se abrirão diante de você.
      Um mundo onde tudo era possível e onde o impossível era apenas uma palavra de poucos. Um mundo glorioso...
      - E sem dúvida, essa foi a melhor característica dada ao Milênio de Prata. - sua voz era rouca, como se repleta pela saudades da visão diante de si. Da visão de um mundo já esquecido nas suas próprias sombras.
      Ela virou seu rosto, o indício de lágrimas serem formadas desaparecendo em seguida. Seus olhos encontraram então uma figura que esperava que aparecesse. Uma figura que fizera parte de seu passado, parte daquele magnífico mundo do Milênio de Prata.
      A voz nostálgica daquela figura, juntamente com o olhar que dirigira para ela durante aquelas palavras, adicionava ao cenário de suas memórias o leve toque mórbido que sempre acompanhava a sombra daquela pessoa. Uma pessoa que parecia existir e não existir ao mesmo tempo. Uma pessoa que parecia não ter um passado além de seu próprio trabalho.
      - Eu já o esperava, Chronos. - disse a garota, fixando seu olhar na figura translúcida do selenita. - O que o fez demorar tanto?
      - Palavras duras para alguém que acaba de se lembrar de uma época tão gloriosa quanto o Milênio. - comentou Chronos, seus olhos sem vida em sua direção. - Mas não menos suaves para alguém que teve sua vida revirada pelo tempo e pelo espaço. - terminou ele, sorrindo. - Suponho que já tenha encontrado os outros.
      - Chronos... - disse ela, sua voz mostrando a impaciência e o seu lado indignado com a presença dele. - Isto não é um sonho comum, estou certa?
      - Hai. - respondeu ele, caminhando na direção dela. - Mas estou agora curioso... esperava por mim?
      - ... isso não importa mais. - disse ela, evitando o olhar direto. - O que o fez demorar tanto?
      - Estive meio morto nos últimos milênios. - respondeu ele, evidenciando o sarcasmo. - E se já esperava por mim, creio que saiba o que vim fazer aqui.
      - Você não vai me enganar como fez com os outros! - gritou ela, sua mão a procurar por algo em sua cintura.
      A katana que deveria estar ali não estava, o que a fez perceber que realmente não era um sonho comum. E que estava indefesa diante das palavras da pessoa que agora tinha poder pelos sonhos. Quando o vira pela primeira vez, ela pensara não passar de alguma memória sua sendo manipulada pelo seu subconsciente. Entretanto, ela sabia agora que era realmente a personificação de Chronos no mundo dos sonhos.
      Isso por si só já não era uma boa notícia. Principalmente quando coisas estranhas estavam começando a acontecer ao redor do selenita. Uma manifestação diferente do que acontecia com os demais, considerando que ainda não despertara. Desconsiderando ainda o fato de estar razoavelmente cansada depois da árdua batalha que tivera, seus olhos não diminuíram a atenção que dava aos movimentos de Chronos. Mesmo um amigo de Chronos deveria refletir três vezes antes de dar suas costas a ele.
      - Ainda a desconfiar de mim? - perguntou Chronos, ofendido com os atos da garota. - Sei que deve ter seus próprios motivos para não concordar com o que faço, e que deve ter mil outros para fazer o que fez até agora. - disse ele, mostrando uma firmeza em sua voz. - Entretanto, quero deixar uma coisa bem clara, Destiny Kishi. - olhos violetas e opacos fixaram-se nos da garota, que quase caiu diante da força daquele olhar cego e sem vida. Era também a primeira vez que Chronos ameaçava alguém, quer seja pelos sonhos, quer seja pela vida real. - O Tempo é a única testemunha dos atos mais cruéis que já aconteceram. Não o faça ser seu inimigo.
      Dito isso, Chronos começou a caminhar pelos escombros do Milênio de Prata. A Destiny Kishi ficou pensativa por alguns instantes, tentando imaginar o porquê de Chronos ter usado tais palavras. Ele geralmente era direto com elas, e se era aquilo uma ameaça, ele deveria estar sabendo de algo. Desaparecendo em seguida, o fantasma parecia que não iria mais incomodar a selenita. Por outro lado, apenas atiçou sua curiosidade.
      Mas também aumentou a sua precaução. Não havia sido um sonho comum. Não havia também sido um aviso comum.
      Um tanto incerta, Kare começou a caminhar na direção oposta, não se importando com o que fosse encontrar. No momento, queria apenas saber como havia parado ali. E, acima de tudo, saber o que estava acontecendo.
      - Yume?...

***
      As ruínas do Milênio de Prata, por sua vez, eram o reflexo perfeito da queda de um império que tinha tudo para dar certo. Mas houve o tempo anterior àquela queda em que pessoas dariam suas vidas para proteger aquele tempo. Outras dariam apenas para defender os seus entes queridos. Todavia, não importava quais eram os motivos, estariam lá. Estariam diante da grande batalha, diante da invasão.
      Aleph não se incomodava com mais nada naquele instante. Seus olhos estreitos e dotados de vida própria analisavam toda a situação diante de si. Seu corpo fervia com seu próprio sangue, enquanto toda sua atenção era concentrada na batalha. Suava muito, mas nada o incomodava mais além dos youmas diante de si.
      Sua vontade se tornava a própria vida do bastão que carregava para defesa. Entretanto, seus ataques dificilmente se encaixariam no padrão de 'defesa' dos youmas que elevavam-se aos céus de Metallia. Como se fosse feito de puro fogo, o bastão estendia-se até o alcance da vontade de Aleph. Um círculo de fogo logo se abria das pontas do bastão, enquanto o selenita percorria o campo de batalha.
      Seus olhos já não enxergavam mais seus companheiros, muito tempo já tendo passado desde a invasão. Certamente que não era previsto que houvessem tantos youmas e que tantos estivessem tão preparados para a morte. Isso apenas complicava para a defesa do palácio atrás de si e pelo qual ele estava a lutar. Principalmente pelas pessoas que estavam lá dentro.
      Seu bastão, no entanto, não seria o suficiente para impedir que aquela horda chegasse próximo aos portões. Certo disso, Aleph concentrou-se um pouco mais, fazendo com que seu próprio elemento dominasse seu espírito de combate. Saltando em seguida, ele rapidamente guardou seu bastão nas faixas que adornavam sua cintura.
      - HYYYYYYYYIAAAAAAAAAAH!!!! - gritou ele em seu salto, enquanto uma ponta de lança metálica projetava-se de sua cintura. - FIRE BLAST!!!
      Em pouco tempo, a arma rasgava em sua trajetória de fogo os corpos dos youmas mais próximos. Mars Destiny Kishi não tinha mais a oportunidade de usar seu tempo na defesa dos portões do leste.

***
      O salto sem dúvida havia sido fabuloso. Ao mesmo tempo, havia sido um dos piores acontecimentos que ele poderia ter presenciado. Surpreso, sequer conseguia mover ou reagir diante daquilo. A imagem não era a da própria morte, como os youmas em suas lembranças haviam presenciado segundos antes de suas vidas cessarem, mas ainda assim trazia pavor aos olhos do observador.
      Mesmo em tal estado de surpresa, Art não podia deixar de imaginar o quão estranho era o evento. Seus olhos esmeraldinos, olhos que por muito tempo observaram e planejaram, ficaram decididamente espantados com a ação que ocorria diante de si. Murmurando algumas palavras de auto-controle, o selenita logo colocou sua atenção novamente ao que chamara tanta a sua atenção, o salto de Mars Destiny Kishi.
      Não era nada TÃO estranho por si só. Aleph estava sem dúvidas despertando e era natural que se recordasse primeiramente de seus últimos instantes na sua vida anterior. Claro que o que surpreendia Art era o fato de Daniel Graminho ter saltado da mesma forma que Aleph fizera, porém de dentro do casulo. Assim sendo, o atual líder dos Destiny Kishi permaneceu imóvel diante da figura o brasileiro, que gesticulava os mesmos movimentos de ataque de Aleph. Por sorte, com a ausência das armas e dos efeitos pirotécnicos.
      Silencioso, Art decidiu por fim seguir o que passava na mente de Daniel, ao mesmo tempo que monitoraria seus movimentos. A presença de Chronos ainda era um agravante o qual ele não podia se dar ao luxo de ignorar. Afinal, poderia ter sido a 'visita' que deixara Daniel agir daquela forma.

***
      Segurando firme em suas mãos a sua arma telecinética, Aleph não desperdiçava tempo em mirar corretamente os alvos. Correndo o mais que podia, movendo-se o mais rapidamente possível, o selenita tentava a todo custo matar o máximo dos invasores. Esquivando-se na maior parte do tempo, ele aproveitava a vantagem única fornecida quando se batalhava contra muitos. Em outras palavras, ele não precisava preocupar sua mente com as chances de inequivocamente matar um dos seus aliados.
      Ciente disso, Aleph parecia ter adquirido uma autoconfiança maior, seus golpes sendo dificilmente precisos, mas mortais o suficiente para o seu propósito. Ele apenas precisava matar e tomar cuidado para que não fosse atacado pelas costas. Manipulando agora sua arma de chamas como um chicote, ele ouvia os gritos dos youmas pouco antes de morrerem, enquanto o sangue espirrava sobre seu corpo, principalmente seu rosto. A comparação de seu rosto com a de um louco assassino não escapava dos poucos youmas líderes, instantes antes de receberem graves ferimentos pelas chamas ou pela lança.
      Aleph parecia estar sorrindo, satisfeito com seus resultados, embora talvez essa não fosse a melhor descrição que os youmas poderiam fornecer ao não conseguir romper a barreira de fogo. Por outro lado, começavam cada vez mais a desejar o sangue selenita. Mas o sangue de Aleph fervia em suas veias, como se o calor da batalha estivesse agora aquecendo seus músculos para uma chacina sem fim. Enquanto isso, sua mente vibrava com a chance obtida para que pudesse apaziguar sua alma num lago de sangue.
      Em sua firme convicção, Aleph matava-os não por prazer, como talvez indicasse seu sorriso sádico em seu rosto, mas por um motivo muito diferente e ocultado para muitas pessoas. Quem não o conhecesse como amigo, jamais saberia o porquê de tanta selvageria em seu ataque. Firebird era um dos poucos que sabia sobre o segredo negro de seu coração, sendo este o motivo de trabalharem tão bem juntos.
      Dentro de seu coração, Aleph acreditava num ideal, o mesmo de Firebird, embora de uma forma diferente. Esse ideal era o que no momento impelia seus golpes para algo muito acima de um soldado comum. Embora não abusasse tanto de seu poder como os Noble Kishi e ainda não sendo tão forte quanto os Dragon Kishi, Aleph era uma pessoa especial. Ele sabia como usar todo seu potencial numa luta. O ideal então era seu combustível.
      Ele o pregava em sua alma, sendo tudo o que ele necessitava para que continuasse a matar indiscriminadamente naquela velocidade. Não importava realmente quem estava do outro lado de suas chamas, apenas que era contra o ideal dele. Dessa forma, ele não precisava também preocupar-se em sentir remorsos posteriormente. Aleph precisava apenas matar. Precisava... saciar agora seu desejo de sangue.
      Ele gritou naquele instante mais um brado de guerra. Ao mesmo tempo, o ideal preenchia seu coração e fornecia-lhe mais forças para continuar a batalha. Estava certo de que venceria. Ou de morreria tentando. Lágrimas formavam-se em seus olhos, contrastando com a feição de fúria deles. Mas ninguém poderia dizer naquele instante o que se passava pelo coração de Aleph. Ninguém que não tivesse o ideal.
      Seu coração apertou, enquanto tentava com mais vigor derrubar o exército negro que se aproximava. Ele não desistira de seu ideal. Não desistira daquele desejo de sangue. Não desistiria. Aleph dificilmente poderia ser uma pessoa que desistia facilmente e isso era o que ele estava demonstrando naquele instante.
      Demonstrando que ninguém poderia matar um parente seu.
      Demonstrando que ninguém poderia machucar seus entes queridos.
      Demonstrando...
      ... que ninguém poderia machucar Fi-chan.
      Aleph gritou mais alto quando o nome de sua prima passou por sua mente. No mesmo instante, ele seria capaz de derrubar um mundo inteiro. Ninguém tinha o direito de machucar aqueles que ele amava. Seu ideal fortificou-se com aquele pensamento.

***
      *BLAM*
      Art ergueu uma sobrancelha. Alguma coisa MUITO errada deveria estar acontecendo. Ainda que pudesse entender o repentino vigor adquirido por Aleph, isso dificilmente explicaria o porquê de Daniel estar tentando atravessar a parede com tanta força. Não que ela fosse cair, era uma das precauções de Sailor Pluto na construção do Salão Prateado. Poucas eram as coisas que realmente iriam conseguir colocar uma das paredes abaixo... e também um dos motivos pelos quais ele mesmo tivera dificuldade para impedir a partida de Chronos para Hades.
      Entretanto, era preciso se preocupar com o fato. Seria Daniel um sonâmbulo? Aquela era a única explicação pela qual Art estava começando a aceitar. Por outro lado, ainda tinha que analisar o aparecimento do filho de Fate no processo de recuperação de memória.
      *BLAM*
      Ou talvez fosse outra coisa.

***
      Preocupação, no entanto, não era algo exclusivo de Art. Do mesmo continente que ele conseguira seus 'espécimes raros', havia uma pessoa em especial que estava também preocupada. Claro, não era algo tão incomum, uma vez que muitas pessoas se preocupam. Tampouco era alguma coisa próxima a uma paranóia, no entanto...
      No entanto, não eram tantas as pessoas que tinham que se preocupar com o aparecimento e o ainda mais súbito desaparecimento de pingüins da face da Terra. Isso, em especial, era o que Carol repetia para si mesma nos últimos dias. O desaparecimento de Hélio logo após o de Henrique já era algo com que se preocupar... mas as circunstâncias em que aquilo havia ocorrido eram ainda mais estranhas e dignas de preocupação.
      - Nossa... que bicho te mordeu? - perguntou uma voz, chamando a atenção dela. - Ou não dormiu bem de novo?
      Carol suspirou, não muito disposta a conversar com sua melhor amiga, Tatiana. Principalmente porque ela havia sido a principal fonte de FMPNIAPRRCPP (tm), também conhecidos como 'Fortes Motivos Para Não Ir À Polícia Relatar Raptos Cometidos Por Pingüins (tm)'.
      - Eu ainda estou preocupada... - respondeu Carol, após um longo intervalo de tempo.
      Em pouco tempo chegariam à escola... não que sempre caminhassem uma ao lado da outra como se tivesse uma supercola a unir a amizade delas. Apenas que nos últimos dias estavam começando a ficar assustadas com os eventos. Isso afetava mais Tatiana, que não queria que outra coisa semelhante acontecesse com sua amiga que, por outro lado, estava pensando em proteger aqueles que sobraram.
      - Eu ainda acho que deveríamos ter falado alguma coisa para alguém. Quer dizer, quase ninguém nota a ausência de H-kun na 'Net... mas nem mesmo a busca pelo Henrique está funcionando! - desabafou a garota, chutando uma pedra no caminho. - Deveríamos estar fazendo alguma coisa.
      - E deixar todo mundo do outro lado da Terra morrendo de preocupação? Ah! Você sabe que isso só serviria para estragar a alegria deles. - disse Taty-chan calmamente. - Além disso, não poderiam fazer coisa alguma. Pingüins não são uma nova forma de viação aérea transcontinental.
      - Eu sei, eu sei... - falou Carol, prestando maior atenção no caminho. - Mas estou preocupada. E são nossos amigos... eu gostaria de saber se algum amigo meu sofreu um infortúnio desse tipo.
      - Aí você está levando mais para o lado de H-kun. - disse Taty-chan, ainda que com um pouco de malícia demais em sua voz. - Henrique apenas desapareceu.
      - Quem garante que não foram pingüins também? - devolveu Carol, seu sarcasmo evidente. - E nem adianta ficar falando muito de mim, pois foi VOCÊ quem ficou um dia inteiro debaixo da cama!
      - Hey! Não precisa jogar isso na minha cara. - falou Tatiana. - Aliás, vai ter um congresso em São Paulo daqui a algumas semanas.
      - Daqui a algumas semanas já serão férias! - comentou a garota, exibindo um sorriso, o qual logo desapareceu. - Pena que vamos ter que ficar procurando esse pessoal nesse tempo livre.
      - É... o engraçado é que ninguém quis identificar aquele monte de pára-quedas... - disse Taty, fazendo uma careta de desgosto. Não confiar na polícia para raptos era uma coisa, mas para o aparecimento de uma pilha de pára-quedas com mais de dois metros de altura num parque....
      - Hai. - concordou Carol. - E tive uma idéia! Podemos aproveitar o encontro para formar grupos de busca!
      - ... você acha que vai dar certo? - perguntou Taty, receosa de que fosse obtido algum sucesso. A Exodus FanFictions, por um lado, não era assim TÃO famosa a ponto de deixar seus fundadores como pessoas de elite.
      - VAI dar. - disse Carol com convicção. - Especialmente porque MADS vai matar qualquer um que não participar quando ele chegar do Japão.
      - Com certeza... - concordou Tatiana, começando a rir. - Quem sabe algum parente rico e desconhecido meu não apareça magicamente?
      Logo em seguida, as duas estavam rindo e chamando a atenção de vários estudantes ao entrarem no colégio. Não que alguém fosse querer ficar no caminho de Tatiana Krueger e quisesse perguntar o porquê de tanta alegria. Em especial depois de toda a bagunça ocorrida num certo parque alguns dias anteriores e que a havia feito sacudir quase todos os alunos e professores.

***
      Rir era um santo remédio. Faz seu corpo ficar mais leve, seu espírito renovar e uma deliciosa sensação de bem-estar a dominar por todo seu ser. Rir faz muito bem à saúde e alivia todas as tensões que sofremos no cotidiano da vida. Rir... era algo que ele não fazia há muito tempo.
      Naquele momento, porém, ele decidiu romper aquela concha de tristeza na qual se prendera. A única solução que conseguira ver era ouvir sua própria risada. Ouvir e perceber que estava ainda vivo. Rir e perceber que a vida continuava. Rir... e ter esperanças de que o mundo não era um lugar negro e cruel. Rir... sorrir para o mundo.
      Ele sentiu a sensação começar no seu abdômen... em seguida, ela aumentava, percorrendo seus ossos e preenchendo seus pulmões. Não agüentando mais, ele riu. Riu como nunca tinha rido antes. Riu como se gostasse da vida que tinha. Como se nada fosse ruim.
      Por outro lado, quem visse Aleph em seu estado atual, duvidaria muito sobre os motivos daquela risada quase frenética e insana. Uma dor imensurável deveria estar percorrendo por todo seu sistema nervoso, não tendo sido fácil receber todas aquelas lanças e alabardas em seu corpo. Havia sinais de queimadura e ferimentos que dificilmente se poderia identificar a natureza deles a cobrir toda a pele que ainda restava nele.
      Seu estado era algo muito mais próximo de um corpo em decomposição do que de um ser vivo propriamente. Mas ele estava vivo. Ele estava respirando. Ele estava gargalhando. Estava feliz.
      Embora qualquer um duvidasse que ficar em pé apenas porque lanças o mantinham em pé fosse algum motivo de alegria. E era exatamente por esse motivo de alegria que Art estava a querer entender. Quer dizer, ele via perfeitamente o ESTADO do corpo de Aleph e duvidava MUITO que aquilo fosse motivo para rir daquela forma. Ainda mais depois de Daniel ter quase quebrado uma das paredes, um ato que Art julgara impossível até o momento.
      Outra conclusão que Art estava começando a terminar era de que talvez não tivesse sido uma idéia TÃO boa assim a de salientar os últimos momentos na queda do Milênio de Prata. Além disso, os traidores estavam agora começando a formar um padrão inesperado de afeição à causa que defendiam na época. Isso não era bom para seus planos.
      Olhando com o canto dos olhos para o selenita que estava a despertar, Art não teve mais dúvidas do que fazer. Ele não podia mais arriscar. Não naquele momento, por mais que desejasse que os traidores tivessem realmente seu merecido fim. E seus propósitos agora eram maiores do que os de simples vingança. Um mundo novo liderado pela magnificência da sabedoria de um antigo povo. Um povo quase tão antigo quanto o próprio tempo.
      Assim sendo, Art estalou seus dedos, quebrando o encanto do casulo.
      - BWAHAHAHAHAHAHahahah... hein? Que estou fazendo aqui? - perguntou muito curiosamente Daniel 'Tolaris', sua mente tentando se acostumar ao repentino movimento entre o mundo real e o dos sonhos. - Hey! Esse negócio está começando a melhorar...
      Claro, talvez Art tivesse que convencer o rapaz de que não havia sido um sonho. Chegando a essa conclusão, o selenita suspirou, o que chamou inesperadamente a atenção de Daniel. Este observou atentamente o Destiny Kishi, seu sorriso desaparecendo ao notar os olhos dele. Ainda que não acreditasse em sonhos, ele tinha seus motivos para acreditar talvez em fatos absurdamente coincidentes a ponto de não serem meras coincidências.
      Assim, seus olhos permaneceram atentos ao olhar estranho e estreito daquele rapaz diante de si. Seus cabelos prateados caíam de forma que quase não podia ver a coloração de jade de suas íris, enquanto uma espécie de aura preenchia o ambiente como se quisesse avisar a Daniel de que estava em perigo. Como se ele fosse o próximo almoço de uma serpente...
      "E preciso anotar isso logo. É uma descrição quase tão boa quanto o Inferno Tolariano (tm)!" pensou o brasileiro, suas feições logo causando estranhamento a Art. Mas Daniel estava agora muito mais entretido em discutir mentalmente com aquelas estranhas vozes de sua cabeça, uma das quais atendendo ao seu próprio nickname da Internet. E um outro que deveria ficar recluso na eternidade do tempo.
      "Hmm... essas coisas estão começando a parecer MADSianas demais... deve ser excesso de e-mail do MADS." concluiu Daniel, sua atenção sendo agora chamada por uma tossida vindo do rapaz estranho na sala estranha daquele lugar estranho. O que era pior era a familiaridade que ele obtinha dali.
      Art, por sua vez, pareceu não estar tão afetado quanto Daniel esperava que estivesse dada a sua reação inicial. Mas ele logo esboçou um sorriso, enquanto seus cabelos revelavam agora o olhar predador de seus olhos. Um olhar preenchido de muita inteligência e sabedoria... mas um olhar muito perigoso e não isento de falsas intenções.
      - Okaerinasai, Aleph-kun. - cumprimentou Art, seus sorriso aumentando enigmaticamente. Isso bastou para que Daniel sentisse calafrios.
      Mas não eram calafrios comuns. Eram como um prenúncio de que estava diante de uma pessoa muito forte e poderosa. E com a mesma férrea vontade de uma criança, incapaz de parar quando algo muito divertido (para ele) estava prestes a acontecer. A ansiedade era visível naqueles olhos esmeraldinos. Naqueles 'olhos de serpente'.
      "Agora é um bom momento para eu acordar..." comentou ele para si mesmo, já se assustando com as previsões da sua primeira visão. E também com a sua memória daqueles sonhos estranhos. Além disso, Daniel não estava com tanta vontade de encontrar qualquer conclusão precipitada no momento. Ainda mais uma que talvez o levasse a um grande arrependimento. Por outro lado, sua mente se conformou em apenas olhar num misto de surpresa e desconforto para o rapaz. Para o estranho e familiar rapaz.

***
      "Droga... mil vezes droga!" resmungava mentalmente um rapaz. Isso porque não tinha o hábito de ficar falando a torto e a direito o que realmente pensava em algumas situações. Mesmo porque seria uma coisa inútil e desnecessária, ainda que pudesse fazer um bem danado à sua alma. Mas ele também sabia manter um rígido controle sobre seus pensamentos e... além disso, ele era um dos alunos da Grande Escola da Vida (tm). Em particular, na classe dos 'Fale Menos, Observe Mais e PENSE'.
      Não que o último verbo fosse realmente muito bem aplicado à sua pessoa. Ainda mais quando declarado a mais de meio mundo que possuía memória de meio bit, ser louco e, acima de tudo, acéfalo. Literalmente. Além disso, ele tinha ORGULHO disso, o que já seria motivo suficiente para que pessoas espertas mantivessem um pé atrás quando olhassem na sua direção.
      Não que isso tenha acontecido também, apenas que ele gostava do 'status' e da reclusão momentânea que aquilo proporcionava. Por outro lado, não havia o que discutir sobre ele adorar estar em depressão. O que fornecia motivos suficientes para que se criasse um paradoxo sobre seus próprios sentimentos... não que alguém fosse se importar com isso.
      - E quer fazer o favor de ficar quieto? - pediu/ordenou a voz feminina ao seu lado.
      Martin apenas fez menção de grunhir. Não que tivesse feito, ele não era TÃO louco assim. Mas que tinha vontade de fazer isso, isso ele tinha. Afinal de contas, quantas vezes mais ela queria tirar fotos dele? Martin apostava que já tinham trocado de filme umas quatro vezes!
      Não que ele fosse alérgico a fotografias ou que acreditasse que elas roubassem um pedaço da sua alma... apenas não estava habituado a ser fotografado tantas vezes assim. Ele também detestava ficar no meio de tanta atenção, além disso comprometer a sua posição na classe da Grande Escola da Vida (tm). E... sim, estava agora curioso sobre o porquê de Shiraha Yukiko, a.k.a. Coronis, ter tanto interesse nele.
      Algo que era realmente interessante. O que poderia haver de tão interessante nele??? Talvez Yukiko soubesse disso, assim como sabia quem ele era antes de se apresentar. Talvez ela soubesse que ele detestasse esse tipo de situação e fosse exatamente por esse motivo que estivesse a tirar fotos. Uma vingança macabra e terrível, que apenas uma mente perversa como aquela era capaz de pensar... mas era estranho que essa mente perversa pertencesse àquela garota. Não era suposto que garotas estranhas que foram estranhamente derrotadas num combate estranho por garotos estranhos estivessem exatamente naquele momento estranho segurando uma estranha alabarda, nesse nosso estranho caso, e desejando não tão estranhamente assim uma morte bem pouco estranha a amantes estranhos de sado-masoquismo estranho?
      "Hmm... reformular esses dois últimos estranhos..." comentou Martin a si mesmo, não querendo ficar estranho diante de si mesmo. E tentando a todo custo ignorar aquele estranho tratamento que recebia. "E acho que não deve ser um momento muito estranho para repentinamente um estranho familiar parar em Hikawa Jinja. Ne?"
      Estranho... por que ele agora tinha uma certa sensação de estar prevendo alguma coisa?

***
      E uma sensação estranha certamente estava agora a dominar a mente de uma outra pessoa. Não tão estranha para mim (nós, o que for...) ou para você. Mas certamente seria uma interessante cena a ser observada. Os grilos já haviam parado de produzir seus sons notívagos, enquanto uma brisa suave derrubava algumas das folhas verdes das árvores do Templo Hikawa. O Sol despontava no horizonte, indicando a presença de um novo dia. Aos poucos, muitas e muitas pessoas daquela terra do sol nascente estariam a invadir as ruas e a serem engolidas pelo enorme mundo. Como todos os dias.
      Para sermos um pouco mais específicos nesse dia tão aparentemente comum, mas que certamente seria estranho notar que fosse comum e estivéssemos aqui a descrever; o Templo Hikawa não estava num dos seus melhores dias. Claro, não houve algum tipo de demolição como acontecera com Juuban High School, já que o templo ainda estava de pé. Por outro lado, o plano espiritual estava muito abalado, como pode notar o sábio avô de Hino Rei. Havia algo estranho no ambiente, embora ele não soubesse dizer exatamente o que... de qualquer forma, ele também sempre tinha essa impressão todos os dias quando acordava.
      Obviamente, ele não sabia que essa impressão era estranhamente diferente das anteriores que ele tinha. Em momento algum de sua longa vida, o bom e disposto-a-dar-trabalho velhinho imaginou que fosse encontrar uma Sailor Senshi em sua casa. Quer dizer, já era surpresa que Rei fosse e isso já não era mais novidade...
      ... mas que seria novidade encontrar uma que se mantivera acordada durante a noite inteira e a guardar uma garota estranha e caída no chão, com seus olhos sendo marcados por uma profunda tristeza, mágoa e raiva, além de uma tremenda falta de sono provocada pela vigília. Ah! Isso seria novidade.
      - Anoo... ohayo? - cumprimentou o velhinho, tentando dar pouca atenção ao bando de jovens que estava dormindo no chão, quando ainda tinha vários quartos vazios (para futuros hóspedes e alunos de intercâmbio, é claro) disponíveis. Não que essa tarefa fosse fácil...
      - Ohayo. - respondeu secamente a Senshi de Júpiter, seu olhar não se desviando da guerreira misteriosa de Mercúrio.
      Senhor Hino sabiamente decidiu por fazer um longo e grande café-da-manhã e em silêncio sair daquele local. Bem, ao menos ele não tinha agora que fugir de foguetes...
      Entretanto, como já colocado anteriormente, aquela não era uma manhã comum em Hikawa Jinja. Coisas estranhas aconteceram pouco depois que o Sol marcava as seis horas, marcando o céu com linhas escarlates e expulsando a noite. Essas coisas não eram simples coisas ou produto da imaginação de Kino Makoto. Ao contrário, por mais que ela estivesse triste, amargurada e com uma vontade enorme de rachar o mundo ao meio e fazer a assassina sentir o que era um 'Sparkling Wide Pressure' explodindo dentro de suas entranhas, Kino Makoto ainda era uma garota frágil (?) e atenciosa aos seus sentimentos.
      Por essa mesma razão, ela começou a seriamente considerar que estivesse naquele momento tão matutino a ter alucinações. A alucinação, no seu caso, viera na forma de uma garota loira com dois longos rabos-de-cavalo presos por bolinhas no topo da cabeça e a fazerem a maior parte das pessoas pensarem tratar de um certo tipo de comida, olhos azuis e correndo desesperadamente pela porta.
      Só que Tsukino Usagi, pelo menos a única pessoa que Makoto conhecia com tais características, não era ainda uma aparição fantasmagórica e muito menos uma pessoa com hábitos de levantar cedo. Quanto mais TÃO cedo quanto naquele dia e chegar àquele horário no Templo Hikawa. Esses fatores, somados com o fato de que Usagi estava visivelmente preocupada e sem o espírito natural dela de alegria contagiante, fizeram o termômetro de esquisitice de Kino Makoto subir consideravelmente.
      - AAAAH!!! MINNA!!! - gritou a loira, acordando todos que não haviam desmaiado por exaustão no dia anterior. - EU PERDI MEU HÓSPEDE!!!
      *blinks*blinks*
      Essa foi a única reação de Makoto. Sem dúvida, aquela ERA a sua conhecida Usagi-chan. Aliás, também havia sido a reação de todos os despertos ao notar três fatos interessantes.
      1. Estava cedo.
      2. Usagi estava no Templo Hikawa CEDO.
      3. Usagi TINHA um hóspede?!?
      Claro, aparentemente perder um hóspede não era tão estranho a ela, vindo de Usagi a notícia. Muito menos a pergunta que ela fizera ao notar uma figura prostrada no chão e quase a ser pisoteada pela tropa de guerreiros selenitas que foram acordados subitamente com gritos histéricos numa manhã calmamente estranha.
      - Quem é ela???

***
      Sim, a vida era uma coisa surpreendente e aqueles que tinham pouco contato com ela eram capazes de viver com uma intensidade igualmente surpreendente. Essa havia sido a conclusão do avô de Rei ao notar o grupo que praticava cooper com tanta intensidade e determinação naquela manhã. Claro, Usagi estava ganhando, mesmo ao arrastar um Chiba Mamoru no chão com uma única mão. Era surpreendente o que se podia ver numa manhã de primavera, quando o espírito dos jovens parecia estar mais repleto de vida.
      Embora fosse tristemente apreciada a cena das três pessoas que não praticavam o esporte matutino. Makoto estava ainda muito triste e dividia uma expressão séria e mórbida com Chris. Mas era ainda mais triste a figura solitária e visivelmente cansada daquela garota que sequer acordara com aquela explosão de vida e entusiasmo a brotar no Templo Hikawa.
      Bem, isso ao menos iria chamar um pouco de atenção dos transeuntes e quiçá ele iria vender muitos e muitos talismãs naquele dia promissor! Sim, pensar positivamente era uma boa, senão excelente, idéia!
      Infelizmente, tudo aquilo acabou tão abruptamente como começou. Usagi já estava com uma língua e meia para fora da boca, arfando de exaustão e caindo próxima à garota exaurida. Isso, evidentemente, seguiu o padrão Murphy de acontecimentos. Em outras palavras, as pessoas atrás de Usagi tiveram que parar bruscamente também, o que segundo Murphy não poderia acontecer sem que caíssem em posições REALMENTE embaraçadoras e comprometedoras.
      - ... Ryu-chan? - disse Minako, a única a dizer coisa alguma naquela pilha humana. - Eu espero que seja REALMENTE você quem esteja aí embaixo.
      Satori Ryu, que nada tinha a ver com o cooper e que havia sido arrastado por Minako de modo semelhante ao Chiba Mamoru que logo, logo se tornaria uma múmia; apenas foi capaz de arrumar seu cabelo e ruborizar em silêncio, enquanto Minako fechava suas pernas. Já as demais posições eram embaraçadoras demais para serem descritas aqui e logo, logo alguém vai me (ok, ok, ok... NOS) criticar sobre isso.
      Para completar a manhã estranha que agora tendia à normalidade, a estranha agora tinha que manifestar os sinais de que estava a recobrar sua consciência. O que foi exatamente o que aconteceu. Evidentemente, Makoto deliciou-se de um modo tão perverso e sádico que poucos duvidariam que um espírito maligno se apossara de seu corpo. Outros, por outro lado, iriam notar que ela apenas via essa oportunidade como única, já que a aproximava de quem quer que fosse a assassina.
      Chris Stover, percebendo esse olhar, começou a se indagar sobre quem é que deveria estar com aquele tipo de olhar insano. Afinal de contas, não era esperado que ELE fosse quem tivesse tal tipo de reação, dado que havia sido tolamente MANIPULADO por aquela falcatrua ninja a separar metade do corpo de seu melhor amigo?
      Sim, ele deveria estar com esse olhar também. E estava, realmente estava. Mas o número de olhares daquele tipo logo se multiplicou naquele local, e Usagi repetiu o gesto, mesmo não sabendo o porquê. Isso acabou por, em pouquíssimo tempo por haver poucas pessoas, ocasionar uma série de olhares insanos de quase fuzilamento na direção de Paolla. Ela, mesmo em seu breve momento de consciência, sabiamente soube que era o momento de desmaiar novamente. Murphy, por sua vez, estava rindo disso.

***
      - Vai demorar muito?
      Mizuno Ami, que tampouco havia corrido, mas havia sido puxada por Chiba Mamoru numa vã esperança de não ser puxado por Usagi; apenas fuzilou com o olhar para Chris Stover, que dirigira a pergunta. Um pouco de tato também era apreciado, considerando que, acima de tudo, a estranha era uma garota. Mesmo que Chris não gostasse muito da situação, também não era um motivo para que fizesse uma tempestade em um copo d'água.
      "Claro, foi ELE quem perdeu o melhor amigo com sua própria lâmina." lembrou Ami, logo se compadecendo do Dragon Kishi. Entretanto, a situação estava bem tensa, segundo o que Satori Ryu podia enxergar. Ele ainda não tinha falado nada a respeito com Chris, mesmo porque estava ocupado em organizar seus próprios pensamentos.
      A irritação era mais do que evidente em Chris e o Dragon Kishi não podia culpá-lo por ter esse sentimento. Por outro lado, ele não esperava que isso incentivasse Makoto a aflorar seus próprios instintos de fúria. A Senshi nunca lhe parecera tão furiosa e talvez nem mesmo estivesse a mostrar se não fosse pela ação de Chris. Segundo Ryu conseguia se lembrar, Makoto não era o tipo de pessoa que ficava a remoer a raiva dentro de si. Por outro lado, ela também nunca havia perdido um amor daquela forma.
      - Ela precisa descansar. - defendeu-se Ami, chamando a atenção de Ryu.
      Os dois já estavam discutindo e Makoto já não sabia que partido tomar. Por um lado, ela queria o mesmo que Chris. Fazer a desconhecida falar antes que se recuperasse e fugisse. Por outro, não tinha a coragem de arriscar tanto sua amizade com Ami. Ainda que fosse improvável que a desconhecida conseguisse escapar de todos eles.
      - Já chega! - disse uma voz, chamando a atenção dos três. Satori Ryu sorriu com aprovação diante disso.
      Com um passo firme e decidido, ignorando tudo o que havia acontecido anteriormente e a confusão generalizada da manhã, sequer parecia a mesma pessoa. Seu rosto agora mantinha uma expressão serena, uma que demandava ordem no recinto. Seus olhos azuis logo encontraram os de Ryu.
      - Basta de ficarmos nos jogando um contra o outro. - disse a líder do grupo, finalmente tomando uma decisão.
      - Falar é fácil... - disse Chris, num desabafo. O olhar que recebeu de resposta de Tsukino Usagi foi o suficiente para que se calasse. Ele e qualquer outro que fosse responder à sua decisão.
      - Chega, Chris. - pediu Usagi. - Se ela morrer, não vamos conseguir saber quem era a garota. Muito menos o que está querendo com toda essa confusão. - disse a loira, observando que os demais concordavam com sua decisão. - Todos nós estamos tristes com a morte de Maury... foi um choque saber disso quando cheguei aqui. - lamentou a Senshi, retendo lágrimas em seus olhos. - Mas ele não iria querer que sua morte servisse como um estopim para que todos nos separarmos ou matarmos. Iria, Chris?
      O Dragon Kishi apenas meneou a sua cabeça. Tanto em vergonha quanto em tristeza. Maury era seu melhor amigo e ele não estava honrando a sua morte com suas ações mais recentes. Makoto pareceu se acalmar com as palavras de Usagi. Ryu, por sua vez, levantou-se, ficando ao lado de Usagi.
      - Ela está certa. - disse o líder dos Dragon Kishi. - Vamos esperar que ela acorde... e então as perguntas poderão ser respondidas. Todos de acordo? - perguntou ele, não recebendo nenhuma oposição à decisão.
      - Bom. - comentou Usagi, olhando para a guerreira. - E agora é hora de você começar a explicar algumas coisas...
      - Hai... - disse a mercuriana que se esforçava ao apoiar suas costas na parede. - Temos muitas coisas a colocar a limpo.
      Ami ficou preocupada quando a garota tão familiar quase se desequilibrara, mas teve que manter sua posição. Por mais que sentisse uma vontade a crescer em seu peito, com uma ânsia de proteção ao redor da desconhecida que salvara sua vida, Ami também não iria contrariar as ordens de Usagi. Nesse instante, ela conseguiu ver com clareza o rosto consciente da garota... incrivelmente similar ao seu.
      - O que querem saber? - perguntou a 'prisioneira', sabendo que esta era a melhor forma para falar menos. Claro, olhando com reserva para Chris que parecia querer colocá-la viva dentro de um moedor de carne.
      - Que tal se nos dissesse o seu nome, título e posto? - sugeriu uma voz masculina, vinda da porta da sala.
      - Do modo que desejar, Príncipe Endymion. - ela respondeu, fazendo uma leve e fraca reverência. - Sou Haru da Casa de Saphir, mas sou mais conhecida como Kyn. Sou a segunda princesa de Mercúrio e também Mercury Destiny Kishi.
      - Mercury Destiny Kishi?! - exclamou Artemis (sabe-se lá de onde esses gatos aparecem...). - Que título é esse?!
      - O de uma guerreira treinada secretamente pela Guardiã do Tempo, Sailor Pluto. Minha função não é e nunca foi defender a Princesa Serenity ou o Milênio de Prata. - respondeu Mercury Destiny Kishi, observando pelos olhos de Ryu que uma explicação maior era bem-vinda. - Meu dever era o de proteger a Linha Temporal.
      - E quem era aquela que atacou Uranus Dragon? - perguntou Makoto, tentando esconder com uma enorme força de vontade a fúria em seu coração. - É sua companheira? - ela rosnou, quase a ameaçando.
      - Aquela era Kare, Saturn Destiny Kishi. - respondeu Kyn, sua expressão facial mudando quando mencionou o nome de Kare. - Um dia, fomos companheiras, mas hoje... aparentemente, estamos em lados opostos.
      - Como assim, 'aparentemente'?! - interrompeu Akai, ao mesmo tempo que procurava se manter calma.
      - Eu também não sei como explicar. Meu Despertar é muito recente e não consigo entender o que a faria agir dessa forma... assim como não consigo entender por que ela quis me matar.
      - Ela MATOU o meu melhor amigo! COMO você simplesmente NÃO CONSEGUE ENTENDER o que está acontecendo?! - gritou Chris, exaltado.
      - Eu pereci na invasão da capital do Milênio de Prata e fui salva pelo poder do Ginzuishou. - respondeu calmamente a Destiny Kishi. - Porém, ela permaneceu viva, segura, enclausurada dentro do Salão Prateado de Plutão, observando tudo o que acontecia nos séculos que se passaram. Deus sabe lá o que pode ter acontecido com a mente dela nesse tempo...
      - Seria um plano para dominar a Terra? - indagou Mamoru.
      - Acho difícil, Príncipe Endymion. Kare não faria isso... - respondeu Kyn, sendo novamente interrompida pela fúria de Chris, que a segurou pelo pescoço. - ... GAH! O que foi que eu disse DESTA VEZ?!?! - gritou ela de uma só vez ao tentar manter aquela mão longe de si.
      - Pare de nos enrolar, garota... Diga logo para quem você trabalha e o que estão planejando. - rosnou Chris, seus dentes cerrados, quase trincando de ódio e ressentimento.
      - Sei de Saturno, CONTROLE-SE! - disse uma voz firme que obrigou Chris a largar a Destiny Kishi.
      Kyn reganhava seu fôlego, enquanto Chris olhava apenas para seu líder. Fazia muito tempo que ele não havia ouvido aquele tom de voz vindo de Satori Ryu, ou mesmo vindo de Silver. Surpreso, ele voltou ao seu lugar, não abandonando seus olhos daquele olhar rubro de sangue. Era evidente que Satori Ryu estava agora tomando o controle do interrogatório.
      - E a menos que você queira ganhar uma ventilação 'extra' na sua cabeça... - disse o Dragon Kishi, indicando com o dedo para a katana em suas costas. - ... acho bom usar as boas maneiras que as princesas recebem.
      - Ela RESPONDEU a todas as perguntas. - defendeu Ami, logo cobrindo sua boca com as mãos por causa do tom de voz que usara.
      - Ela está EVITANDO dizer o que realmente queremos saber, Sailor Mercury. - disse apenas Silver, não olhando na direção da Senshi. - Não deixe que parentesco interfira no seu trabalho de proteger a princesa. - advertiu o Dragon Kishi, fazendo Ami se calar.
      Kyn teve que se controlar diante disso. Não era sábio realmente tentar dizer ou fazer qualquer coisa contra Silver naquele momento. Ainda mais na sua condição atual, enfraquecida ainda com o gasto intenso de energia. Ela suspirou, enquanto observava o grupo se reunir ao seu redor.
      - Gostaria de continuar, por favor? - pediu/ordenou o Dragon Kishi. Sem opções, ela obedeceu.
      - Eu não tenho muito a adicionar... - disse ela, observando as adagas que eram arremessadas com os olhares de duas pessoas. - ... exceto que Kare deve ter cúmplices. Neko e Art, respectivamente Neptune e Earth Destiny Kishi, foram os outros a ficarem no Salão Prateado. Tenho minhas dúvidas sobre a capacidade de Kare conseguir matar os dois, mas não tenho nenhuma certeza depois de todo esse tempo.
      - Agora sim é um progresso... - murmurou um Dragon Kishi. Ryu apenas advertiu Chris com o olhar e logo indicou a Mercury que continuasse.
      - Eu não sei o que eles estão planejando... como disse, meu Despertar é recente. - ela disse, desta vez sorrindo um pouco. Ela se lembrara de uma coisa que talvez tivesse sido imaginado por Pluto para aqueles instantes. Não havia qualquer coisa em seu juramento que a impedisse de 'dar dicas' e sua identidade ser descoberta. - Isso aconteceu quando estava no hospital, alguns dias atrás. MADS parecia estar realmente preocupado...
      - LIMY-CHAN?!? - exclamou surpresa a Senshi de Mercúrio.
      - Ta-da! - sorriu satisfeita a Destiny Kishi, observando os diversos olhares em sua direção num misto de espanto, surpresa e alguma coisinha mais, já que Chris não estava entendendo coisa alguma.
      Ou melhor, estava ainda tentando se decidir se fazia Paolla conhecer mais de perto a sua katana ou se tentava uma abordagem mais sutil para perguntar 'onde afinal estava esse tal Salão Prateado de Plutão?!?' à garota que havia sumido misteriosamente do templo durante o ataque dos pingüins, das tartarugas e da lunática. Sem ofensas a selenitas.
      - A-hem! - pronunciou uma voz, chamando a atenção. - Isso tudo é muito interessante, mas... eu pedi para não EVITAR a nossa linha de discussão atual... Paolla. - disse Satori Ryu. - Se preciso ser mais direto... como podemos chegar a esse 'Salão Prateado' e acabar com quaisquer planos de Art?
      Paolla pareceu tensa naquele instante. Nem aquilo havia tirado a atenção de Satori Ryu, o que, mais uma vez, comprovava que sua personalidade de liderança era indiscutível. Sua calma, considerando ele ser um híbrido, era ainda mais surpreendente.
      - Eu lamento... - disse Kyn, sabendo que não gostariam do que ela iria falar. - ... mas isso é um segredo. Fate-sensei nos proibiu de revelar isso a qualquer um. Direta ou indiretamente.
      - De volta à estaca zero... - murmurou Chris, praticamente indicando a Paolla as suas intenções ao segurar sua katana.
      - Chotto mate! - pediu uma voz masculina. Chiba Mamoru. - Eu agora estou curioso sobre o COMO ela conhecer as nossas identidades.
      - Essa é uma boa pergunta. - concordou Ryu. - Vai nos responder?
      Uma gota de suor surgiu na cabeça de Paolla Limy Matsuura naquele exato instante. Estava começando a ficar complicado demais tudo aquilo... e a confusão na mente de Ami iria ser a primeira coisa que ela iria tratar depois do 'interrogatório'. Isso se ELA mesma não se perdesse.
      - Anoo... fanfics? - arriscou ela numa resposta curta.
      Olhares muito, MUITO perigosos foram lançados na sua direção. Murphy, naquele momento, estava certamente a gargalhar no chão. Já Paolla predizia que aquele seria um dia muito, muito, muito longo. Entretanto, não haveriam mais déjà vu's, o que já era um progresso.
      Por outro lado, um 'Como encontrar um meio de começar a explicar toda essa bagunça?' era a pergunta predominante na mente de Paolla. Felizmente, não havia o fator 'juramento sagrado sob o risco do Tempo rasgar seu corpo ao meio' naquela história. Não, é claro, que isso fosse acontecer. Ao menos, era o que ela esperava...

***
      Ainda deitado, olhando para o teto, Ricardo conscientizou-se de que estava ficando com sérios problemas de TÉDIO. Não que fizesse muito tempo desde que chegara ao hospital, mas aquele silêncio, quebrado somente pelas vozes nos auto-falantes do hospital, o estava deixando maluco. Sem mencionar a infinidade de branco que encontrava em todas as direções. Era como se tudo fizesse parte de algum projeto macabro dos médicos de tornar seus pacientes com desvios mentais o suficiente para voltarem...
      Suspirando, ele abandonou aquela linha de pensamentos e afastou as cobertas de cima do curativo que ainda escondia a cicatriz em seu peito, como se tentasse ter uma idéia do estrago que havia sido feito. Seu corpo doía como se cada osso tivesse sido quebrado em duas partes, assim como sua cabeça, que latejava como se um sino estivesse tocando em seu interior.
      - {Quanto tempo será que vou ter que ficar aqui?} - suspirou Ricardo, colocando as mãos sob a cabeça e olhando novamente para o teto, contando as rachaduras quase inexistentes da pintura. Branca. Hmm...
      - Com licença... - disse uma voz repentinamente.
      - YAAAAAAAAAH!!! - gritou o garoto, pulando uns vinte centímetros para cima. Era até passível uma aposta sobre seu cabelo ter se tornado branco durante aquele instante, mas isso não ocorreu.
      - Oh, me desculpe... eu não quis assustá-lo. - falou a médica, fechando a porta do quarto. Olhando um ponto qualquer da janela, parecia se lembrar de uma coisa. - Hm... Ricardo Gen, brasileiro... <não deve ter entendido o que eu disse, certo?>
      - <Mais ou menos...> - respondeu R-kun, tentando fazer o próprio coração voltar a bater normalmente sem que saísse pela boca. - <Doutora, quanto tempo vou ter que ficar aqui?>
      - <Fique calmo.> - respondeu a médica, olhando na ficha. Ela sorriu, embora não estivesse a entender o porquê de ultimamente as pessoas estarem tendo uma recuperação tão rápida. - <Só vai ficar aqui para observação, para termos certeza de que não haverão maiores complicações. Hmm... você é amigo da Paolla e do Martin?>
      - Hai... - respondeu Ricardo, tentando se adaptar (novamente) ao país. E quem sabe não achar pingüins debaixo da sua cama. - <Martin é meu primo.>
      - <Ah! Sabia que você não me era estranho... Sou Mizuno Meiko, mãe da Ami.> - sorriu Mizuno-sensei, anotando algumas coisas na ficha dele. - <Vou buscar a bandeja para trocar esse curativo e já volto.>
      Mizuno-sensei fechou a porta do quarto do brasileiro-primo-do-ficwriter quando saiu, deixando-o novamente em um mundo branco tedioso. Suspirando profundamente, ele fechou os olhos, numa tentativa de esquecer, nem que fosse por alguns segundos, que estava em um hospital. Isso pareceu estar acontecendo, como se seu desejo fosse realizado.
      Claro, ele sabia que sempre se teria que ter cuidado com seus desejos. Martin, por exemplo, já era um claro exemplo de pessoa que se tornaria paranóica com os desejos sob o risco de Murphy distorcer por completo o desejo mais simples para algo catastrófico. Entretanto, ele não era Martin. Felizmente. "Mas bem que gostaria de estar FORA deste hospital..." pensou ele, logo ouvindo a porta se abrir.
      - <Desculpe a demora, eu...> - começou Mizuno-sensei, derrubando a bandeja em seguida.
      Não havia ninguém na cama onde Ricardo estava, minutos atrás. A janela estava aberta, com a cortina a balançar com uma leve brisa. No chão, ataduras ensangüentadas se espalhavam, enquanto uma sensação de desolação era evidente.
      Estava tudo silencioso, vazio.
      - Mais um trabalho para as Sailor Senshi? - questionou quase brincando a médica, piscando seus olhos incrédulos.


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