Tempestade de Ilusões
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Ami Ikari & X/MADS!Capítulo 18: Raguel - Sweet Bitter Angel
"Para tudo existe uma época, e uma hora para cada propósito abaixo do céu."
-= Eclesiástes =-Era o fim. O exército do Reino Negro já invadira Selene, a capital do Milênio de Prata, buscando, naquele momento, encontrar a Rainha Serenity para enfim dominar um dos últimos redutos de 'paz' daquela era, eliminando inclusive a única herdeira selenita, a Princesa Serenity. Youmas se espalhavam por todos os lados, correndo ou voando, disseminando o terror em toda a superfície lunar, buscando o sangue real da Lua, sendo impedidos apenas por aqueles guerreiros cuja missão única era a defesa da princesa.
Tais guerreiros, ou guerreiras, não eram muitos. Conhecidas como Sailor Senshi, estavam em número de quatro no baile da princesa, um número pouco significativo frente à imensa quantidade de youmas que tinham como único objetivo a conquista total do Milênio de Prata. Entretanto, as quatro princesas de Mercúrio, Marte, Júpiter e Vênus não eram princesas ordinárias ou simples guerreiras, mas pessoas dotadas de poderes indescritíveis. Elas eram Sailor Senshi, defensoras da Princesa Serenity. E, por ela, elas dariam as próprias vidas, se fosse preciso.
Porém, não era necessária muita experiência em combate para que as quatro percebessem que seria inútil a batalha; o número crescente de youmas era demais para elas, mesmo que contassem com uma ajuda que dificilmente existiria. Sailor Senshi. Elas eram Sailor Senshi. Unidas, estavam preparadas para a batalha, mesmo sabendo dos resultados... apenas eram capazes de tentarem conseguir o tempo necessário para a Rainha do Milênio de Prata salvar a herdeira. Mas uma a uma, as Senshi foram caindo, morrendo com seu ideal de proteger eternamente a princesa da Lua.
Saphir, a princesa de Mercúrio, foi uma das primeiras a cair. Sailor Mercury era seu título, herdado de sua mãe. Treinada para ser uma guerreira, seu Elemento da Água favorecia ataques de baixa ofensiva, servindo mais para a defesa de suas companheiras... por esse mesmo motivo, ela sabia que seria uma das primeiras a morrer. Os youmas em breve notariam por onde seria melhor atacarem o pequeno grupo.
- Shabon... SPRAY! - ela gritou pela enésima vez, criando uma névoa que permitia que suas companheiras saíssem do alcance dos youmas, por pouco tempo. Sua energia estava no fim; em breve, Sailor Mercury seria apenas mais um corpo no meio de tantos outros.
Sem forças, Saphir deixou-se cair ajoelhada, esperando pela morte... ou por um milagre. Ela havia visto o youma que vinha avidamente em sua direção, provavelmente para matá-la com um ataque energético. Seria melhor assim. Fraca como estava, seria meramente um peso para as outras Senshi, que ainda precisavam defender a princesa. E seria um peso também para outra mercuriana que lá lutava.
Porém, essa opinião não era compartilhada pela outra garota de uniforme azul que estava por perto. De aparência extremamente semelhante à de Sailor Mercury, ela também tinha seus poderes baseados na água, sendo capaz de paralisar seus oponentes para então fatiá-los rapidamente. Ela viu quando a Senshi de Mercúrio caiu sobre os próprios joelhos... e correu na direção da garota com uniforme de marinheiro.
- Saphir-chaaaan! Levante-se!!! - ela gritava, vendo o youma aproximando-se cada vez mais de sua irmã. - SAIA DAÍ! ONEGAI!
Seus olhos azuis viam com horror a aproximação do inimigo, que sorria a cada passo dado. Ela havia prometido que nunca a deixaria sozinha. E, se fosse necessário, ela a acompanharia na morte também.
O youma esticou os braços, buscando a cabeça da Senshi exausta. Momentos antes, porém, não havia notado a aproximação de uma outra garota... a que tomou o lugar da Senshi de Mercúrio.
- Kyn-chan!
Uma intensa carga de energia percorreu o corpo da garota, vinda das mãos do youma que agora segurava sua cabeça. Seus gritos de dor ecoaram por alguns segundos, até que as forças para que sua voz saísse por sua garganta se esgotaram. Os olhos azuis fecharam-se, os braços amoleceram-se, pendendo ao lado do tronco.
Rindo, aquele que já tirara a vida de uma das gêmeas de Mercúrio jogou o corpo de Kyn para o lado, como se fosse um trapo qualquer, e aproximou-se novamente da Senshi, que apenas conseguia olhar assustada para a irmã caída. Em poucos segundos, já não havia o olhar assustado de Sailor Mercury. Em seu lugar, havia o fraco olhar daquela que se sacrificara para que ela vivesse um pouco mais, observando, sem poder fazer nada, o corpo da Senshi de Mercúrio transformando-se em pó, instantes após ter sido dilacerado pelo ataque selvagem do youma.
Não houve tempo para que Kyn se despedisse de sua irmã ou de sua própria vida. Lentamente, sua visão foi ficando embaçada, uma sensação que ela confundiu com a perda de visão que antecede a morte.
Sussurrando uma promessa e, logo em seguida, amaldiçoando todos os seus kamis por ter permitido que ela visse o fim de sua irmã, a segunda princesa de Mercúrio sentiu uma luz envolvendo seu corpo...***
Mas não era apenas Saphir quem estava amaldiçoando diante de sua morte. Muitos outros selenitas também estavam sob a mesma situação, mas a maioria somente com o simples intuito de defenderem o lugar onde moravam, os amigos e a família. Alguns, senão muitos, a amaldiçoarem aquele exército negro que realizavam atrocidades com suas crianças e bebês.
Mergulhado em sangue youma e selenita, aquela dificilmente seria uma cena da qual esperaria estar e mesmo estando só diante de tantos soldados do Reino Negro, ele sabia também que sua única função ali seria ganhar tempo. Tempo para quem quer que fosse. Tempo para o que fosse necessário fazer. Tempo. Era a única coisa que precisava ganhar.
Desprovido então da arte da diplomacia, ele atava sua vida e seus objetivos ao objeto que segurava. A corrente feita de pura energia parecia ter vida própria ao atravessar os vários corpos adversários, não representando mais do que sua esperança no tempo que conseguia a cada oponente que caía.
Seus olhos não observavam mais, apenas fixando a cada instante um novo oponente que cairia sob sua corrente milagrosa. Seu sangue misturava-se com o daqueles que conseguiam se aproximar dele, porém sua teimosia em permanecer lutando o colocava quase como uma barreira intransponível naquele portão. Mas nenhum soldado é eficiente quando sua mente não está na sua própria sobrevivência ou no presente campo de batalha.
Assim sendo, Firebird cairia em breve. Sua mente não estava realmente no presente do momento, o que poupava-a de observar claramente as crianças sendo devoradas ou os gritos desesperados de mães pouco antes de terem seus corpos abertos ao meio. Os civis pareciam ser a prioridade dos youmas, como a indicarem a fragilidade da segurança selenita. Alguns dos soldados que não admitiam mais essas atrocidades e saiam de seus postos acabavam por perderem as suas vidas em poucos instantes por alguma arma ou ataque de energia.
Havia, no entanto, a satisfação em seus olhos por poderem fornecer um momento a mais de vida àqueles bebês, por menor que fosse. Vida, tão preciosa, sendo ceifada sem piedade pelas garras de muitos dos soldados negros. Alimentando-se do desespero, do medo e do abandono de muitas das crianças, sendo então alguns derrotados pela bravura e coragem de muitos outros selenitas. Tudo isso, no entanto, era ignorada pela máquina de matar que era Firebird, mantendo sua posição imóvel diante dos próprios crimes à vida que cometia.
Poderia estar exagerando, mas sabia que muitos youmas não eram tão diferentes dos selenitas, estando ali apenas para não sofrerem punições de traição. Esses, é claro, reduziam-se a uma restrita população no Reino Negro, daqueles que não sofriam a lavagem cerebral que os transformava em bestas desumanas e cruéis.
A mente de Firebird, por sua vez, ignorava também esses pensamentos. Tudo que conseguia pensar era na imagem de duas pessoas. Pessoas das quais ele estava colocando sua vida para ganhar o tempo para que fugissem, ou ao menos um tempo maior de vida. Uma pertencia à princesa de Vênus, sua alegre presença sempre a contaminar o seu espírito e forçando-o a ver o lado positivo da vida. Sendo ainda a líder das Inner Senshi, era surpreendente aquela vitalidade.
A outra imagem ocupava um espaço um pouco maior que Shine em seu coração, uma que pertencia ao seu passado feliz e representava o presente dos deuses à sua vida. A imagem forte e desprovida de medos de uma pessoa que sempre o encorajaria a enfrentar seus obstáculos. A pessoa que o mantivera vivo, ainda que apenas em suas lembranças.
A imagem de uma criança que crescera com ele, tão madura em suas ações e com grande ciência dos fatos ao seu redor, talentos que impressionariam até mesmo os sábios do Milênio. A criança que partira para seguir seus sonhos e que um dia retornaria para mostrá-los a ele. De uma pessoa que o colocou na estrada da vida para perseguir seus próprios sonhos, por mais estranhos e sem sentido que fossem. A pessoa que lhe dera apenas um objeto para que a imagem não se apagasse com o passar dos anos.
"Krys-chan..." era o pensamento vocalizado de Firebird. Lágrimas estúpidas formaram-se em seus olhos, demonstrando a inapropriedade do tempo para lembranças. Repentinamente, um grito feroz então produziu-se em sua garganta, arrebatando a vida de mais alguns dos youmas próximos. Como se estivesse dotado de uma energia sobre-humana, uma fúria tenebrosa cobria sua mente com desejos de sangue youma.
Finalmente saindo de sua posição, uma das últimas barreiras para o palácio estava a manifestar seus últimos truques para impedir a horda dos monstros. Desesperado, como a querer ignorar a causa de seu grito, ele corria na direção dos monstros, seus olhos já não mais enxergando nada além da sua própria morte. Sua corrente, sua arma, sua vida. Ela se estilhaçava para apenas preencher mais o espaço de sua esperança. A esperança de ter conseguido o tempo que era tão requisitado.
Olhos youmas com o ardente desejo de vingança sobre seus mortos o encaravam naquele instante, mas não mais Firebird se importava com seu corpo. Sua mente estava além de tudo o que conhecia, além do físico e do intransponível. A dor lancinante que atravessava seu estômago era já a barreira máxima que sua mente suportava, o que os youmas fariam depois nada significava. A chama de sua vida estava se extinguindo, ele sabia disso perfeitamente enquanto estava correndo e dilacerando seus últimos inimigos.
Estava determinado agora a morrer conseguindo mais tempo. Tempo. Era tudo o que agora pensava, o objetivo que o faria se esquecer daquela dor. Esquecer-se daquela lança, esquecer-se da sua imprudência. Mas Firebird era teimoso. Muito teimoso. Mas arrependia-se apenas de uma coisa.
Não ter visto mais aquele par de olhos de rosa tão escuro, aqueles olhos que sempre o encorajaram. Não ter mais visto sua Krys-chan. Não ter visto... sua visão estava então turva com seus sentimentos e na eminência de sua morte. A qual poderia ter sido postergada se tivesse mudado de idéia.
Mas ele era teimoso... ele era...
Ele era...***
Lágrimas de dor e saudades. Era tudo o que sabia reconhecer. Era tudo o que precisava saber naquele momento tão estranho de sua vida. Colocando a mão sobre seu estômago, surpreendia-se com o fato de ali não estar uma arma, um braço de um youma ou qualquer coisa a ferir de tal forma seu corpo. Mas as lágrimas não paravam por algum motivo que ele desconhecia.
Os movimentos de seu corpo, no entanto, ainda eram mais estranhos do que as lágrimas ou a dor que percorria seu ser. Era quase como se pertencessem aos de uma criança, sendo incapazes de realizar a mesma performance e destreza que possuíam em seu cerne. Como se sua mente ainda não estivesse preparada para a informação que seu corpo possuía, como se agora tivesse que aprender novamente sobre seu próprio corpo.
Maravilhado e assustado ao mesmo tempo, a única coisa que se lembrava perfeitamente, antes de cair naquele mundo de sonhos e da qual apenas a imaginação parecia ser o limite, era uma garota de cabelos rosados e uma esfera de cristal dourada. Das duas coisas, apenas uma ainda permanecia na realidade em que estava. A esfera de cristal parecia agora ter vida própria, emitindo um estranho brilho.
Pulsando, o brilho chamava a sua atenção da dor que sentia de seu abdômen. Ao mesmo tempo, estava agora amedrontado em se aproximar do objeto. Uma coisa daquela forma e dotada de vida não era algo que se via todos os dias. Muito menos aquela dor tão estranha provocada pelo objeto e acompanhada de tantas vívidas cenas. Quase como se fossem lembranças. As lágrimas ainda estavam presentes, quase como a indicarem que ele realmente havia passado por toda aquela tormenta.
Aproximando-se aos poucos, ele observava atentamente a esfera dourada, como se estivesse observando um predador. A esfera, felizmente, não parecia estar ciente daquele fato ou então estava a ignorar o curioso. Ainda assim, Edson não se aproximou incauto dela. Os fatos que acabara de presenciar eram tão reais que atiçavam a sua curiosidade. Ainda que uma pessoa normal talvez saísse correndo atrás da polícia para que alguém explicasse o estranho fenômeno, ele não era uma pessoa normal.
Mas também não chegava ao mesmo nível de 'anormalidade' como CERTAS pessoas que ele conhecia. De qualquer forma, ele estava se aproximando com cuidado da esfera quase viva, sua respiração aos poucos voltando ao ritmo natural após a experiência que tivera desde que tocara no orbe. Desde que praticamente perdera seus sentidos na visão que conhecia ainda de seu mundo.
Por outro lado, ele também estava muito curioso com o que aquilo estava oferecendo a ele. De onde quer que tivesse vindo o aparato, ele sentia que algo em sua mente agora tilintava para que se aproximasse. Uma coisa nada lógica, mas a qual ele estava seguindo. Edson não conseguia entender o porquê de estar fazendo aquilo e se começasse a admitir que era algum tipo de 'voz interior' que estava ordenando-o a fazer aquilo, ele ia começar a gritar (em desespero).
Todavia, nada aconteceu enquanto se aproximava da esfera, que cintilava seus pulsos cada vez mais em resposta aos seus movimentos. A curiosidade foi aos poucos dominando a sensação de cautela que reinava em Edson 'Cloud' Kimura, intensificada cada vez mais pela 'voz'. Havia, inclusive, um lembrete constante por sua parte de consultar um psicanalista logo depois desse evento.
A esfera, entretanto, não parecia ter gostado de todo aquele tempo que Edson estava tomando para se aproximar dela. Realmente parecendo ser dotada de alguma forma de consciência, ela flutuou de onde estava, surpreendendo o jovem ficwriter, que não conseguiu fugir quando a esfera projetou-se diretamente para sua cabeça.
Imaginando ser seu fim, Edson fechou seus olhos, não querendo observar a velocidade em que o orbe iria atingir seu crânio, provavelmente esmagando-o numa alusão a uma morte idiota por não ter saído correndo daquele quarto. Fato foi que ele continuou a pensar depois daquilo e realmente estava duvidando que a esfera naquela última velocidade registrada fosse demorar tanto tempo para esmagá-lo. Isso o levava a duas conclusões óbvias:
1. Ele estava vivo graças a um milagre.
2. Era tudo uma mera ilusão e ele estava realmente morto.
Edson, em sua humilde opinião de ser vivo, esperava ardentemente que não fosse a segunda opção que acabara ocorrendo. Assim, ele decidiu por abrir os olhos. Isso sempre era um bom sinal, afinal de contas, era bom ainda estar vivo e poder ver que tudo estava bem. Certo? Bem, então ele abriu os olhos.
Diante de si, um orbe de cristal dourado a flutuar. Já não pulsava mais o estranho brilho, que agora estava constante. Se fosse dotada de algum tipo de boca por onde pudesse sorrir, Edson apostaria sua vida de que não seria um sorriso muito agradável. Ele, para seu infinito azar, estivera correto nessa observação.
Assim que abrira seus olhos e avistara a esfera, ela começou novamente a se mover. Entretanto, não tivera sequer tempo para fechar seus olhos e tentar novamente impedir o inevitável ou aceitar parte dele. O objeto de cristal parecia ser dotado de um alto grau de malignidade e sadismo, o que apenas estava tornando as coisas mais fáceis para sua mente imaginar que agora ele estava no meio de algum seriado norte-americano de baixo índice, mergulhando diretamente na direção da sua testa.
Ao invés de um impacto, como era esperado pelo brasileiro, a esfera, literalmente, seguiu essa última ação. Como se a cabeça de Edson (ou a esfera) fosse feita de algum fluido, a esfera atravessou sua cabeça, fundindo-se imediatamente ao cerne de sua mente. Uma dor intensa cobriu toda a mente de Edson, fazendo com que a dor de sua 'morte' tivesse sido apenas um pequeno machucado em sua pele. Tentando gritar em seguida, sua voz sequer conseguia produzir um som devido à dilaceração mental que sofria.
Entretanto, ele agora estava certo de que a esfera era um ser maligno do espaço em busca da dominação do mundo.***
Por outro lado, preocupação não era um sentimento exclusivo de Edson naquele momento. Embora tudo estivesse agora voltando aos eixos do plano original, Neko não podia deixar de estranhar o que estava começando a acontecer na Linha Temporal. A criação de certos elementos na Linha Temporal, como os pingüins e as tartarugas, estavam começando a afetar drasticamente o fluxo do Tempo. Um exemplo disso era a vinda repentina da Coelha no quarto de Edson. Aquilo não era previsto quando Art inseriu os cristais no Tempo.
Algumas coisas também não estavam se comportando como deveriam... Entretanto, nem Art ou Kare estavam se preocupando com aqueles fatos estranhos. O desaparecimento de Martin, por sua vez, estava agora sendo colocado em segundo plano, enquanto a atenção estava sendo colocada sobre os três Destiny Kishi que escreviam sob o controle das tiaras.
Aos olhos de Neko, tudo estava começando a fugir do controle. Tudo estava acontecendo muito rapidamente, embora tivessem planejado todos os detalhes por anos a fio. Ainda que sob as últimas modificações de Art, toda a vinda precipitada de Crystal Tokyo estava começando a causar um distúrbio muito grande na Linha do Tempo. Tão grande que ela sequer sabia como estava conseguindo tentar mensurar.
Desmoronando... o castelo de cristal estava começando a desmoronar como um castelo de areia. Era essa a única analogia que a Destiny Kishi conseguia fazer diante daqueles fatos. Estava ficando muito confuso, rápido e estranho. Sentindo uma dor-de-cabeça aproximando-se, a selenita continuou a caminhar até seu quarto, procurando não pensar naqueles fatos. Porém, a cada passo que dava, mais e mais as indagações pareciam surgir. Principalmente sobre o que estivera a fazer.
Ainda que ela pudesse tentar recusar, parte de tudo o que estava acontecendo era culpa sua. Ela, Art e Kare dividiam essa culpa, esse fardo. Mas oitocentos anos atrás, aquilo não parecia ser um fardo. Não parecia ser de tamanha gravidade. Neko tinha a perfeita noção do que a vingança resultaria... mas não imaginara que a morte da Guardiã do Tempo pudesse facilitar e dificultar tanto ao mesmo tempo aquela pequena tarefa.
A dor-de-cabeça estava aumentando. Um tanto irritada, Neko observou a porta de seu quarto como se esta fosse um analgésico mágico e milagroso. Hexagonal, ela parecia uma extensão das próprias paredes de prata, não fosse sua natureza de cristal. Sua cor, azul-escuro, indicava a quem pertencia o quarto. Aproximando-se, o cristal tornou-se translúcido e logo Neko o atravessou, como se esta fosse feita de água.
Ali dentro, parecia que todos os seus problemas se dissolviam, como se fossem incapazes de atravessar a porta com a mesma facilidade que ela. Conseguindo que um pequeno sorriso viesse de seus lábios, estava satisfeita em poder pensar de uma forma mais clara naquele instante. Uma melodia doce e suave estava tocando ao fundo, vindo de uma espécie de caixa de música de cristal, apaziguando o espírito de Neko novamente.
Sentindo-se muito melhor, a Destiny Kishi caminhou em seu quarto hexagonal, observando sem muitos detalhes os objetos que adornavam o seu santuário de paz. A maioria dos objetos não eram de seu planeta natal, poucos tendo alguma ligação com Netuno, muitos sendo da própria Terra. Sorrindo, ela gostava de qualquer coisa que a fizesse se lembrar desse planeta tão misterioso. De uma forma ou de outra, era estranho que Hades e a Terra fossem tão similares e tão diferentes.
Ambos os planetas eram locais onde os elementos podiam fluir livremente. Um equilibrando o outro, todos em sua coexistência. Porém, embora na Terra isso fosse mais harmonioso, Hades desenvolveu um clima muito inóspito à vida selenita e dificultando sua ocupação. Mas a atenção de Neko logo se reuniu quando encontrou um pequeno pingente castanho.
Bem simples, o pingente era de carvalho, na forma de um coração. Todavia, ele representava muito para Neko. Por essa mesma razão, permanecia ele bem escondido entre suas coisas. Poucos poderiam notar que ficava no ângulo de visão dela quando acordasse, porém a verdade era que aquele objeto representava muito. Havia sido um presente de Art.
O próprio selenita havia esculpido, um presente de aniversário. Quando a amizade dos Destiny Kishi havia completado um ano. Neko suspirou ao se lembrar desse pequeno evento de sua vida. Olhando para o presente, ela agora se perguntava o que havia acontecido com todos eles. O que havia acontecido para que agora estivessem a disputar com os Noble Kishi sobre que grupo discutia mais.
Infelizmente, Neko sabia a resposta. Bastava apenas ver o passado, pensar sobre ele. Como tantas vezes ela já fizera, vinte mil anos bastavam para que tudo pudesse ser refletido. Isso apenas a entristecia. Vinte mil anos... e o coração de Art ainda pensava em Kyn. Uma lágrima já começava a se formar em seus olhos, porém Neko se controlou. Não iria chorar de novo. Não por causa de Kyn.
Ainda que Art a amasse ainda depois de tanto tempo, ainda depois de tanto sofrimento causado pelos traidores... Neko devia aprender a ser forte. Forte como Kare. Ela devia isso a si mesma. Assim, quem sabe ela não sentia aquela tristeza com menos dor?
Ainda que tentasse aquele tipo de fuga, isso não mudava o bem-estar que adquirira desde que entrara em seu quarto. E devia ser forte. Tomando o pingente com uma das mãos, ela o aproximou de seu coração, caminhando em seguida até sua cama. Sentando com cuidado e deixando que seu corpo caísse sobre as plumas macias, a mente de Neko parecia agora estar viajando para um mundo diferente, um mundo onde não havia dor ou tristeza. Um mundo onde poderia pensar com clareza. Decidir sobre o que estava a pensar.
Colocar os fatos em ordem sempre havia sido uma tarefa dela. Ela era a Historiadora, a pessoa que escreveria tudo ordenadamente. Ela devia saber qual era a ordem de ações e fatos que conduziram àquele caos atual. Refletindo, Neko encontrava aos poucos o ponto do Tempo onde tudo começara.
A inclusão dos Pen-Pen e dos Kappa não eram um fator preocupante na Linha Temporal. Ela tinha certeza daquilo, pois era um dos trunfos de um Destiny Kishi o de alterar momentaneamente a realidade a seu favor. E ela quem estivera a escrever essas partes do Tempo, tomando extremo cuidado com isso. Era, então, outra coisa.
Martin havia sumido, o que era preocupante. Art podia não estar dando muita atenção àquilo, talvez confiante de que o brasileiro logo, logo apareça para a conclusão de seu plano. Mas era um fator não considerado no plano. A ausência dele poderia começar a desencadear outros eventos de maior dimensão que alterariam completamente o plano. Mas isso também não parecia ser o suficiente para o que estava acontecendo.
E o que estava acontecendo? A Linha do Tempo estava desmoronando. De que forma? Deteriorava-se com o surgimento de Crystal Tokyo, como se estivesse sendo destruída aos poucos. O aparecimento inesperado da Coelha, que sumira tão logo quanto aparecera. O sumiço de pessoas como Martin e agora Ricardo das esferas de visão.
Trabalhar com o inesperado não era realmente do seu agrado. Foi então que Neko percebeu uma coisa interessante. A Coelha... ela dissera 'achar o tempo certo'. O que isso significava? Neo Queen Serenity estaria tendo novos problemas? Mas a Coelha estava diferente... como se estivesse atrás do Ginzuishou novamente. Como se o Black Moon Clan ainda existisse. Como se muita coisa ainda não tivesse acontecido.
Mas então... como ela saberia que estava no tempo errado? Não existe 'tempo errado' quando se está atrás do Ginzuishou. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo. Muito estranha. Pluto-sensei, por outro lado, também estava auxiliando na destruição do Tempo com sua morte. Ela já havia pertencido ao futuro de Crystal Tokyo. E havia inclusive vindo de lá para auxiliar as Senshi. Ou de outro Tempo. Mas não mudava o fato de que havia atado dessa forma o passado, o presente e o futuro daquela forma.
Estavam então rompendo a corda do Tempo ao trazer Crystal Tokyo? Mas isso não poderia ser verdade, já que a coesão do Tempo estava já abalada com a morte da sua guardiã. Eles estavam tentando reatar essa coesão. Estavam tentando consertar o Tempo da melhor forma que sabiam.
Então... por que tantas dúvidas? Por que a hesitação?
A resposta veio como um relâmpago na direção de Neko. Resmungando em seguida e correndo por entre os corredores, ela rapidamente alcançou a sala onde estavam reunidos os traidores. Tudo ocorreu muito rapidamente, como se fosse ela agora uma mancha no tempo e no espaço. Como se não pertencesse por alguns instantes à Linha do Tempo.
Uma aura azul-escura a envolveu por completo, como se a banhasse numa energia profana e sacra simultaneamente. Irada, nem mesmo Art e Kare, que estavam presentes, foram capazes de conter a reação dela. A energia fluía com suas emoções, com sua raiva, concentrando-se no seu punho que se cerrava desde que atravessara a porta do recinto.
*CRUNCH*
No momento seguinte, todos estiveram imóveis. Art e Kare estavam surpresos com a violência que Neko acabara de demonstrar possuir. Por outro lado, Aleph e Silver Sky estavam visivelmente preocupados com a atual situação na qual estava sendo depositada a saúde deles. Moon Fox, entretanto, foi o único capaz de obter qualquer reação diante de toda aquela violência.
- Itte... - disse ele, impresso numa das paredes de prata. - As tiaras de Raguel são um alívio diante disso.***
Porém, num mundo onde a realidade ainda existia sob a tênue catástrofe que viria... hmm... fic errado. Ah! Aqui está. (^_^);
O mundo não é algo que pode ser definido simplesmente pelo que nossos olhos conseguem alcançar ou sequer tudo que sentimos durante a nossa breve existência. Tampouco pode ser comparado com a soma de toda a visão, todos os sentimentos de cada ser vivo. O mundo é algo muito mais vasto do que isso, compreendendo muito mais do que sua própria palavra ou ainda a existência de um Universo. Porém, cada um de nós vive em seu mundo isolado dos demais.
Como saber que a pessoa ao seu lado continuará viva de fato se ela não estiver mais no escopo de sua visão? Como realmente ter certeza de que essa pessoa não foi colocada num segundo plano de alguma história da qual você é o(a) protagonista?
Dúvidas existenciais nunca deixaram de existir, seja ela repercutida pelo suposto passado que temos, seja ela feita no presente momento. Algumas pessoas, no entanto, preferem dedicar-se a esse mundo sem entrar em conflito com sua própria existência. Algumas dessas pessoas tornam-se extremamente eficazes na função que lhes foi designada.
Mas para Mizuno Ami, não existia tal tipo de dúvida existencial. Uma pessoa era viva apenas pelo fato de estar viva. Uma pessoa não é um amontoado de células que coexistem para a produção de novos organismos e novas mentes. Muito, mas muito mais do que isso é o ser humano. Cada um devia ser valorizado, cada vida devia ser preciosa.
Como ajudar a preservar cada vida torna-se então algo impossível. A vida é preciosa justamente por não ser ilimitada. Lutar então pelos ideais de uma vida agradável e justa tornou-se então a sua meta, mais conhecida através de sua própria identidade como Inner Senshi. Mas de que adiantava ter esse poder de proteção se ela era obrigada a destruir?
De que adiantava esse poder se quem ela queria proteger não pudesse ser protegida por suas mãos. A psiquê humana torna-se um fator deveras interessante ao mostrar as verdadeiras fraquezas de cada ser. Descobrir uma outra pessoa torna-se a busca de uma outra psiquê, de uma outra mente, de outra forma de pensamentos.
Conhecer uma pessoa é sempre um mistério, pois como saber que você está realmente a desvendar os mistérios dessa pessoa? Dizem que primeiro deveríamos conhecer a nós mesmos antes de tentar a dos outros, mas existem controvérsias. Entretanto, isso não altera o mistério, a maravilha de descobrir o que há por trás de cada máscara humana.
Porém, atrás dessa busca existe um outro motivo, inerente à alma humana. A descoberta de não estar só. Mas Mizuno Ami não tinha motivos para se sentir só. Ela tinha amigos, muitos amigos. Usagi, Makoto, Rei, Minako, Ryu, Shippu, Akai, Ken... Ken... Kazeno Ken era até mais do que um amigo. Era alguém com quem ela confiava, alguém com quem poderia partilhar seus segredos, sua vida.
Todavia, nem isso tudo é suficiente. Não tanto quanto uma pessoa próxima como um irmão ou uma irmã. Uma pessoa que partilhou da sua mesma infância, de sua mesma casa, de sua mesma vida. E perder essa pessoa... era quase como perder a vida. É uma companhia diferente, uma forma diferente de afastar a eterna solidão que afligia tanto a alma de Marty Genkage.
Como alguém poderia perder um parente tão próximo? Ami não sabia responder a essa questão, o que a obrigava ainda mais a querer reparar aquele erro do tempo e do espaço, a reparar aquela lacuna produzida entre duas irmãs. Ela não tinha culpa, disso estava certa. Tampouco tinha sua irmã. Mas era inegável aquela lacuna, um buraco em sua vida que urgia ser eliminado, desejava ser preenchido.
Ao mesmo tempo, como poderia agora permitir que estivesse distanciada de sua própria irmã? Erros do passado serviam apenas para que não fossem repetidos no futuro. E era isso que seu coração indicava naquele momento... que ela cometera um erro no passado. Um erro, uma ausência, uma distância. Algo que devia ser reparado.
Ela queria diminuir isso, redimir esse erro. Clicando, digitando quase que furiosamente no pequeno teclado do laptop, Ami queria descobrir ao máximo sobre a nova identidade de sua irmã. Seus olhos pareciam lentos demais, enquanto lia velozmente as dezenas de arquivos, a maioria sendo de fics e outras anotações de Paolla. Mesmo os nomes dos arquivos eram o suficientes para indicarem parte da personalidade de Paolla.
Repentinamente, Ami ouviu um grito percorrer o Hikawa Jinja. Um grito familiar. Um grito de Paolla. Sentindo seu coração querer pular para fora de seu peito, Ami começou a correr na direção do grito. Correu como nunca imaginara ser possível correr para ela. Mais rápido do que podia imaginar. Naquele momento, ela tinha o poder de transcender as estrelas se quisesse. Porém, ela apenas queria uma coisa.
Encontrar Paolla. Encontrar sua irmã.***
A primeira reação sempre é violenta. Isso é bem verdade quando se trata de híbridos kalyrianos, principalmente os que possuem poderes sobre a própria natureza. Assim sendo, não foi uma surpresa muito grande quando Satori Ryu ergueu sua perna direita e chutou para longe a ameaça.
No caso, a ameaça azul-topázio apenas foi capaz de se estilhaçar e se espalhar diante do impacto com o Dragon Kishi. Num estado semelhante se encontrava Paolla Limy Matsuura, porém mais em estado mental do que físico, sua mente tendo sido invadida por uma centelha de emoções nunca antes vistas em sua vida atual.
Entretanto, por mais que a brasileira algum dia viesse a se acostumar à simples idéia de ter tido uma vida anterior como uma selenita, ela jamais estaria preparada para o que o destino reservava-lhe. Isso mostrou-se evidente quando o cristal que era supostamente seu diário abriu diante de si não as lembranças doces e amargas que compõem uma vida. Tampouco cumpriu a sua própria função de diário, um confessionário particular.
Muito pelo contrário, o que o cristal de memórias carregava consigo eram as lembranças mais amargas que poderia obter. De uma forma brutal e imediata, as cenas de sua própria morte agora misturavam-se com as cenas das mortes de outros. Não apenas das Senshi, com as quais tivera uma afeição na infância, e da sua própria irmã Saphir.
Como se tivesse acumulado quase toda a mesma quantidade de ódio e raiva que a Rainha Metallia, o cristal representava indubitavelmente todo o sentimento negro de uma geração selenita. O sofrimento, a dor, a morte... tudo o que não pudera observar durante a sua batalha ao lado de sua irmã acabara de se revelar. Muito mais contundente, real... atingindo o próprio cerne de sua alma feminina.
Paolla, porém, não era fraca. Mas tinha sentimentos. Pessoas amigas, pessoas da família... ela via a morte de todos e essas mortes agora se repetiam incessantemente em seus olhos, como se tivessem sido impressos pelo próprio demônio. Ter sentimento, naquele momento, era como ter uma maldição. A dor causada pela perda já não podia mais ser comparada com a dor da própria morte, sequer então precisava ser adicionada a sensação de frustração e incapacidade na sua tão 'eficiente' proteção.
Soluçando baixo, seu pranto aumentava aos poucos, a sensação de ter sido abandonada naquele momento tão intenso de sua vida pelos seus amigos, pela sua família. Não podia culpá-los, porém. Sabia disso e talvez fosse o que mais poderia doer em seu coração... não havia um culpado para aquilo. O cristal mostrara fatos... fatos que ela instantes antes quisera acessar.
Remoendo aqueles sentimentos, Paolla tentava trabalhar o melhor possível com eles. A voz sábia de Kyn repetindo desde então o orgulho mercuriano, a razão da qual tanto prezavam. Repetindo sempre que deveria trabalhar com as emoções, pois o momento era inoportuno. Paolla obedeceu à voz, apenas desejando não sofrer. Nisso, ela não percebeu a presença do Dragon Kishi e da Inner Senshi aproximando-se dela.
- Shh... daijoubu, daijoubu... - murmurou apenas Rei, próxima de Paolla e a embalando em seus braços.
Qualquer que tivesse sido a visão presenciada no diário de Kyn, Hino Rei julgou que fossem imagens muito fortes. Aceitando o seu apoio, a brasileira parecia também aliviada ao ver os estilhaços do cristal espalhados pelo chão. Como a ninar uma criança, Rei apenas seguiu seu instinto maternal, pouco a pouco conduzindo Paolla novamente para dentro do templo.
As conclusões eram óbvias e, por mais que Rei algum dia quisesse investigar o que havia naquele cristal, ela tinha a certeza absoluta de que já presenciara muita dor e sofrimento, principalmente em seus sonhos, para procurar por mais. Satori Ryu, por sua vez, permaneceu ali durante a retirada de Paolla. Observando os estilhaços com maior atenção, ele percebia uma certa coloração castanha. Quase como se o cristal não fosse exatamente o que representava ser.
Foi então que sua Ligação disparou. Mais uma vez, como se indicasse a presença de um estranho, embora não fosse tão forte quanto na época dos demônios youmas enviados por Dark Angel. Ao mesmo tempo, a presença era também suave à sua Ligação, como se... como se fosse algo ainda estranho, confundindo sua própria habilidade inerente.
- Creio que devemos conversar. - afirmou uma voz atrás dele. A direção oposta de onde indicava a sua Ligação.
Virando-se lentamente, como se qualquer movimento brusco fosse motivo suficiente para que sua cabeça rolasse literalmente no chão, o Dragon Kishi invocava ao mesmo tempo o seu Elemento para si. Não demorou muito até que se virasse completamente...
... e então produzir um clarão intenso, cegando momentaneamente seu suposto atacante. A origem da voz, por sua vez, apenas foi capaz de recuar numa reação natural diante de tanta luz num único instante. Cobrindo seus olhos com um dos braços, como se fossem o suficiente para proteger diante de qualquer luz mais intensa que pudesse vir, a posição favoreceu muito a visão do Dragon Kishi da Lua.
Surpreso, Satori Ryu não esperava encontrar aquela pessoa. Nem naquele lugar, nem naquela hora. Porém, as palavras anteriores voltaram a se repercutir na sua mente, obrigando-o a concordar com a figura não mais misteriosa. Ambos voltaram rapidamente às suas condições iniciais, sabendo agora que não haveriam ataques. Ao menos, pelo presente momento.
Silver reconhecera quase que imediatamente ao ver o padrão do uniforme que a pessoa vestia. A surpresa não poderia ser menor, tendo visto realmente aquela pessoa muitos anos atrás, numa vida da qual nem mesmo se lembrava claramente. Entretanto, ali estava. O Senhor dos Cristais, como era conhecido no Milênio de Prata.
- Realmente... - concordou Satori Ryu, observando quase incrédulo as faixas esvoaçantes presas na cintura da perturbação de sua Ligação. - Está na hora de termos uma boa conversa.
- Domo arigato... - respondeu a voz, masculina e grave, porém suave e baixa como um sussurro ao vento. - Mas da próxima vez, não me cegue antes, Silver Litgerbrin.
- Não o farei se parar de bagunçar minha Ligação, Cristaleiro. - disse o híbrido, caminhando na direção do bosque e passando ao lado do soldado dos cristais. - Já faz muito tempo, Seph da Casa de Amber.
- Muito tempo mesmo, Silver. - concordou o Destiny Kishi. - E farei com que esse tempo tenha sido significativo.***
- Não brinque comigo, Moon Fox. - disse irada a voz de Neko. Seu punho ainda estava cerrado, seus olhos a transmitirem a raiva que instantes antes atingira o selenita.
Como se para afirmar ainda mais sua ameaça, a selenita acertou um segundo murro no estômago do Destiny Kishi, que foi o suficiente para então soltar o mesmo da parede. Essa cena, no entanto, não foi aprovada por Art. Embora o Destiny Kishi não tivesse quaisquer motivos para que os traidores sofressem aquele tipo de violência física que pudesse comprometer o braço direito - a única parte de que realmente precisava para seus propósitos - de Moon Fox, ele tampouco tinha contra.
- Quais são seus motivos, Neko? - perguntou Art, finalmente se manifestando e se colocando entre os dois Destiny Kishi. - Espero que sejam muito bons.
- Estão tentando manipular as nossas mentes, Art. - respondeu Neptune Destiny Kishi, seu olhar ainda não dissipando a raiva por completo. - Deviam saber que esse truque barato não iria funcionar comigo.
- Isso não importa, Neko. - disse Art, sua voz firme a todo instante. Seus olhos não se cruzaram com os de Neko, mas realmente não precisavam naquele momento. - Eles estão escrevendo... o plano vai seguir até o final.
- De que adianta, se nos colocarem uns contra os outros? - defendeu Kare, tomando o lado de Neko. - Devem aprender QUEM está no controle aqui.
- E esse alguém sou EU, lembra-se, Kare? - falou Art, sua voz tomando um indício de ameaça, que, em breve, se dissipou. - Mas não vamos brigar por causa dos traidores. Eles vão escrever, não importa o que seja. Então, nossos sonhos se concretizarão e NADA, absolutamente NADA, irá interferir.
- ... não se deixe influenciar pelas palavras de prata, tampouco pelo silêncio dourado ou a amizade esmeralda. - proferiu Neko, seus olhos fazendo contato com os olhos verdes de Art. Olhos que estavam agora dotados de um brilho que ela não via há mais de vinte mil anos. O brilho da determinação de Earth Destiny Kishi. - Mesmo que estejam sob nosso controle, não devemos nos descuidar. Moon Fox é esperto e soube aproveitar essa brecha.
- Devemos cuidar para que não encontre outras. - declarou Kare, extraindo uma katana negra do ar. - Nunca mais.
- Chotto mate! - gritou Art, seus olhos brilhando com a mesma intensidade que seu corpo. Estendendo seus braços numa posição defensiva ao selenita reencarnado, ele se colocava entre as duas Destiny Kishi. - A nossa meta não é essa! Quaisquer que sejam os meios que eles utilizem, nossos fins prevalecerão a todo custo. Essa é a única parte que realmente nos importa.
- Vai ficar no MEU caminho, Art? - perguntou Kare, sua voz quase a sibilar o tom ameaçador. - Não tente menosprezar aqueles que ficaram ao seu lado durante centenas de anos apenas para proteger um que lhe mataria em seu sono sem qualquer restrição.
- Eu não me esqueço nunca disso, Kare. Mas deve entender que morto, ele não valerá nada até o estágio final. - explicou Art, erguendo o indicador na direção da forma caída de Moon Fox. - Eles ainda não estão com seus corpos selenitas integrados sobre a fragilidade humana. Não estão em sua melhor forma. São frágeis como papel de seda e por isso... - ele ergueu o indicador ao céu, um relâmpago caindo sobre a tiara que Henrique usava. - ... usem o poder de Raguel. - terminou Art, um sorriso sádico exibido em seu rosto.
- Eu ainda prefiro usar minhas próprias mãos. - resmungou Kare, guardando a katana. - Muito mais prático.
- Tão prático como foi com Martin? - perguntou Art com ironia.
As duas ficaram caladas, uma por ter escrito, a outra por ter ido. Art suspirou em seguida, não tendo realmente desejado falar daquela forma com elas. Caminhando em seguida, sabia que não iriam atacar os traidores sem seu consentimento, porém não sem antes acionar uma pequena dose das tiaras sobre os corpos dos três.
- Não pensem que serei piedoso da próxima vez. Não sou o mesmo Art que vocês se lembram de vinte mil anos atrás. - avisou Art, convalescido das suas companheiras e retirando-se do local.
Os três brasileiros apenas puderam responder com gritos de dor, enquanto os demais saíam. Sob um sorriso sinistro de Neko.***
- LIMY-CHAN! - foi o grito que Rei ouviu ao se aproximar do Hikawa Jinja, vindo de uma Ami que corria como se disso dependesse sua vida.
- Ami! - exclamou Rei, virando-se para sua amiga. - Eu não sei o que fazer, ela não sai desse estado!
Ami segurou os ombros de Kyn com suas mãos e começou a sacudi-la, com uma força que jamais imaginou que tivesse. Não queria machucá-la, mas o desespero fazia com que seus braços se movimentassem rapidamente, num esforço inconsciente de tirar sua irmã daquele estado de latência em que se encontrava. Seus olhos não se abriam, mas era perceptível o tremor das pálpebras, indicando que sua mente estava ativa. Porém, esse era o único sinal de que estava viva, além do choro quase pueril vindo de qualquer coisa que estivesse ocorrendo no interior de sua mente.
Subitamente, o corpo de Kyn enrijeceu-se, como se estivesse começando a reagir ao chamado de Ami. Suas mãos apertaram firmemente os braços da Senshi de Mercúrio, que, assustada, largou os ombros de sua irmã.
- Imouto... você está me... machucando... - gemeu Ami. - Kyn-chan... acorde... ONEGAI!
Os olhos da mercuriana abriram-se repentinamente, como se acordasse de um pesadelo. Ami espantou-se ao ver a cor azul-topázio que os olhos da ficwriter haviam adquirido, sendo levemente mais claros do que os seus. Estavam úmidos, com lágrimas que teimavam em escorrer pelo rosto.
- Oneechan... - ela sussurrou, soltando os braços de Ami. - Gomen nasai... eu...
- Está tudo bem. Foi só um sonho. - respondeu a outra gêmea, com um tom de voz maternal.
- Yume...? - murmurou Paolla, revertendo sua transformação.
Rei ajudou Ami a levantar a brasileira, levando-a para o templo com os braços apoiados nos ombros das duas Senshi. Ryu, por sua vez, já não estava mais no local. A Ligação de Rei, embora não tão desenvolvida quanto a de Ryu, logo induziu-a a se aproximar uma vez mais do bosque. Observando os estilhaços do cristal, ela sentia uma urgência em recolhê-los.
A cada um que ela pegava na mão, sua Ligação a alertava que aquele não era um cristal comum, muito menos o diário de uma garota, supostamente inofensivo. "Mais uma artimanha dos nossos inimigos desconhecidos..." ela podia ouvir Ryu dizendo isso na próxima reunião.
"Até quando ficaremos no escuro?" perguntou-se, notando então uma estranha presença que levava o líder dos Dragon Kishi para longe do templo shinto. Não. Era o oposto...
Mas a atenção de Rei desfez-se rapidamente, todos os vestígios do cristal desaparecendo nas suas mãos como areia fina ao vento, deixando-a sem qualquer pista que pudesse ser analisada.
- Kuso... - murmurou a sacerdotisa, aproximando-se uma vez mais das gêmeas mercurianas.***
O corpo cansado de Henrique colapsou após alguns segundos impresso em uma das paredes do salão. Em seu rosto, havia a marca vermelha de um punho, o soco dado por Neko com uma violência que não havia sido premeditada.
Daniel e Hélio o ajudavam a se levantar, enquanto também lentamente se recuperavam do choque das tiaras. Somente nesse momento, o recém-chegado brasileiro pôde observar melhor a extensão dos ferimentos de Henrique e de Hélio. Além das tiaras de Raguel, que causavam dano interno infernal, ambos apresentavam inúmeros hematomas e cortes por todo o corpo, indicando que deveriam ter passado por alguma batalha ou por alguma sessão de tortura...
Claro, nada das sessões já conhecidas de Kazuia, pensou Tolaris, ou nenhum dos dois estariam com todos os membros intactos ou apenas com ferimentos que não impediam a maioria dos movimentos comuns a qualquer ser humano. O último olhar de Neko antes de sair ainda fazia seu sangue gelar.
Provavelmente, ela deveria ter descoberto o que os dois estavam fazendo durante todo o tempo em que estavam escrevendo... Um plano que ele continuaria, agora com o espírito renovado pela ousadia de Moon Fox.***
O dia não demorou para passar no Templo Hikawa. Em pouco tempo, a noite caiu sobre o Japão, fazendo com que mais um dia se despedisse do mundo e, com ele, os fatos que aconteceram durante as doze horas de luz.
Paolla foi uma das primeiras a se recolher, embora Ami tivesse insistido exaustivamente para que ela fosse para sua casa, onde poderia ficar em segurança. Os argumentos da brasileira, aliados aos de Rei, Chris, Luna e Artemis, entretanto, fizeram com que Ami concordasse em deixá-la no templo, sob os cuidados de Luna, que prometera ficar ao lado dela enquanto fosse necessário. Porém, o que surpreendeu a todos foi a atitude de Makoto, que enxugou as lágrimas e guardou temporariamente seu rancor e se dispôs a ficar com Paolla no quarto de hóspedes do templo, onde havia uma cama vaga, a da outra estudante desaparecida, Jennifer Kanotori.
Já era tarde quando Makoto entrou no quarto, após seu treino de artes marciais com Chris - a terapia encontrada por eles em eliminar o excesso de rancor que sentiam pelos Destiny Kishi sobre a morte de Mo. A Senshi entrara silenciosamente, com receio de acordar sua companheira... para então se espantar ao vê-la sentada na cama, digitando em seu laptop.
- Paolla-san, já é tarde. - comentou Makoto, sentando-se na cama ao lado. - Você não vai dormir?
- Estou sem sono, Makoto-san. - respondeu a brasileira, pegando uma caneca que estava sobre uma mesa ao lado da cama. Próximos à caneca, havia uma garrafa térmica e um vidro de café solúvel. - Eu vou apagar a luz para não te atrapalhar...
- Não se preocupe, eu consigo dormir com a luz acesa. - retrucou a garota, deitando-se.
Uns instantes de silêncio, quebrados apenas pelo som dos dedos da ficwriter digitando no pequeno teclado do laptop, se seguiram, até que ela respirou fundo e tomou coragem para enfim dizer algo à Kino Makoto:
- Sumimasen, Makoto-san.
- Nani? - indagou Makoto, acendendo a luz e virando-se para o lado.
- Eu não sei qual deve ser a dor de perder a pessoa amada, apenas posso imaginar... mas eu queria me desculpar por tudo. - disse Paolla, seus olhos não encontrando coragem suficiente para olhar diretamente aos de Makoto. - A morte de Maury foi, em partes, por minha culpa... eu não fui forte o suficiente para evitar que Kare o...
- Não fale besteiras, Paolla-san. - interrompeu subitamente Makoto, suas lembranças ainda fortes. - Você não teve culpa... e já estou quase me acostumando a ficar sem namorados. - comentou a Senshi com um sorriso triste. Ela era forte. Muito mais do que Paolla imaginara. - Pense em quem você deixou no Brasil, é nele que você tem que pensar.
- Iie. - respondeu a brasileira, quase incerta do que ia revelar para a Senshi. - Eu... pedi para que ele não pensasse mais em mim.
- Como? Mas o Martin disse que...
- Foi logo depois que descobri que era Mercury Destiny Kishi. - ela interrompeu, pegando novamente a caneca e tomando mais um gole de café. - Não quero que ele se preocupe comigo ou que ele se torne um alvo em potencial por minha causa.
- Wakatta... Você prefere assim, ne? - sorriu Makoto. - Tipicamente mercuriana... prefere sacrificar o coração para proteger as pessoas que ama. Ami também era assim. - comentou ela, uma lembrança vindo à tona. Pouco antes de Ami encontrar Urawa Ryo pela segunda vez. - Mas se todas as pessoas se sacrificassem por amor, não haveria mais espaço para alegrias, apenas a tristeza de perder.
Paolla sorriu, como se agradecesse a compreensão da Senshi de Júpiter. Makoto bocejou, o sono estava sendo maior do que a sua vontade de permanecer acordada para fazer companhia à brasileira.
- Oyasuminasai, Makoto-san...
- Oyasuminasai, Paolla-san. - respondeu a Senshi, deitando-se. - Tente dormir um pouco também.
- Hai...
Um pouco depois, a Senshi estava sob os braços de Morfeu, o que podia ser notado pelo suave som de sua respiração. Bocejando, a ficwriter pegou mais uma caneca de café e continuou a digitar, determinada a descobrir algo sobre o estranho fenômeno que ocorrera quando tocara o teclado holográfico e acionara o diário.
Ao invés de escrever algum fanfic, como alguém que ela apostava que estaria fazendo naquele exato instante, sua mente estava preocupada com algo que afetaria mais a sua vida real. Ou o que sobrava dela depois da confusão entre a realidade e a não-realidade. Sorrindo internamente, ela agradecia aos kamis por ter recuperado parte da memória e da inteligência selenita de Kyn, pois era graças a elas que havia conseguido hackear o computador de Ami e acessar alguns arquivos da Central que a Senshi havia copiado antes que todas as comunicações fossem cortadas.
Ela precisava descobrir mais sobre o seu passado, descobrir até mesmo a localização do Salão Prateado, se fosse possível, se Fate-sensei não houvesse deletado todas as informações da Central para manter a existência dos Destiny Kishi secreta até o final dos tempos. Isso considerando que as Senshi tivessem salvo esse arquivo. "Mais busca, busca, busca... por que aqui não tem um searcher?!"
Infelizmente, parecia que o final dos tempos estava se aproximando cada vez mais. Inconscientemente, Paolla sabia que a Guardiã do Tempo deveria estar morta, uma vez que não conseguia sentir a sua presença mesmo quando transformada. Ali, no templo, ela não contava com todos os equipamentos do salão, como os orbes temporais, mas sua intuição ainda estava aguçada.
"Se Fate-sensei está morta... tenho que encontrar Chronos para que ele assuma o posto de Guardião do Tempo e pegue a Time Staff, ou as Linhas Temporais estarão em sério perigo." pensava Paolla, enquanto digitava furiosamente no teclado do laptop. "Por Serenity, eu PRECISO recuperar a minha memória para poder acessar os MEUS arquivos! Eu os deixei em um lugar seguro, DISSO eu lembro, mas eu PRECISO saber ONDE eles estão! Somente assim vou conseguir fazer a ligação entre os Destiny Kishi que não ficaram no Salão Prateado e os ficwriters existentes! Eu preciso conseguir isso!"
- Kyn?
Paolla parou de digitar quando ouviu uma voz lhe chamando. Com cautela, levantou-se da cama e caminhou até a janela, de onde a voz parecia ter vindo.
- Quem está aí? - ela perguntou, olhando na direção do bosque.
- Eu estou aqui. - a voz respondeu, o som vindo da direção da cama onde a ficwriter estivera sentada. - Já faz tempo, ne?
Sobre a cama, estava sentado um jovem de cabelos prateados e olhos verdes, vestido com roupas brancas, ao invés do uniforme que ela já havia visto tantas vezes. Ele segurava uma rosa vermelha nas mãos e sorria com ternura para a brasileira.
- Art?
- Eu estava com saudades, Kyn. - ele continuou, estendendo-lhe a rosa, que não foi negada pela ficwriter. - Vim te buscar.
- Me... buscar?
- O seu lugar não é aqui. Você pertence a uma elite selenita, a dos guardiões do Tempo. Precisamos de você para manter a harmonia do mundo. - falou Art, segurando a mão de Paolla. - Venha comigo... vamos para casa.
Distraída, Paolla movimentou a rosa entre os dedos, ferindo-se em um dos espinhos. Uma gota de sangue caiu no chão, começando a brilhar e a aumentar rapidamente, fazendo com que ela se assustasse e se soltasse das mãos de Art.
- O lugar dela é aqui, Art. - falou uma outra voz. - Deixe-a em paz!
- Nani?! - exclamou Art, suas roupas brancas dando lugar ao uniforme dos Destiny Kishi.
- Dare ga...? - perguntou Paolla, recuando para ficar o mais longe possível da gota de sangue que continuava crescendo. Em pouco tempo, ela parecia ter vida própria e prestes a se transformar num lago de sangue.
- Boku wa Moon Fox desu. Moon Destiny Kishi.
- Silver Sky desu. Jupiter Destiny Kishi.
- Vocês... Kami-sama... - sussurrou Paolla, reconhecendo as feições dos dois Destiny Kishi que haviam surgido.
- Maldição... vocês não deveriam estar aqui! - gritou Art, fazendo um gesto com as mãos.
Somente então Paolla notou um detalhe nos dois rapazes, ausente tanto em Art quanto em Kare: em ambos havia uma estranha tiara dourada, ausente também em si mesma, quando se transformava. A tiara brilhou com o comando de Art, fazendo com que Moon Fox e Silver Sky gritassem de dor, colocando as mãos na cabeça, como se tentassem tirar a tiara de qualquer maneira.
Paolla correu na direção deles, sem notar que estava pisando na área coberta de sangue. Seus pés ficaram vermelhos e uma dor intensa percorreu o seu corpo, vinda do seu próprio sangue derramado que começava a subir pelas suas pernas, que ardiam como se ácido estivesse sendo jogado sobre sua pele.
Gritando de dor, a brasileira caiu sobre os próprios joelhos, apoiando as mãos no chão para manter um pouco de equilíbrio, fazendo com que o sangue entrasse em contato com seus braços, aumentando a dor que sentia. Lutando para permanecer consciente, ela viu Art aproximando-se com uma tiara idêntica a que havia nos dois Destiny Kishi.
- É uma pena. Eu não queria ser obrigado a fazer isso... - foram as últimas palavras que ela ouviu, antes que um choque semelhante ao que causara a sua morte na vida anterior percorresse seu cérebro, irradiando-se para todo seu corpo.***
Para determinadas coisas na vida, somos obrigados a tomar decisões que podem tanto nos ajudar como nos prejudicar, mesmo que seja para o bem alheio. O problema crucial é quando as nossas decisões prejudicam outras pessoas, que, teoricamente, não deveriam ser envolvidas em questões pessoais.
"Gomen nasai, Tieko-san. Eu não queria ser obrigado a fazer isso..." pensou Aleph, baixando a caneta prateada sobre algumas folhas de papel.
- Eles estão dormindo agora, Tolaris. - avisou Moon Fox, suspirando de alívio. Ao mesmo tempo, exibia um sorriso compadecido. - É... não é tão divertido escrever sabendo que tudo o que colocamos no papel acaba se tornando realidade.
- Ainda com a consciência pesada por 'Tsuki no Senshi Dragon Kishi', Ranma? - perguntou Silver Sky, olhando para os outros dois que estavam ao seu lado. - Devia deixar isso de lado.
- Em parte, sim. Mas agora estou mais preocupado em encontrar um modo menos doloroso de avisar aos outros onde estamos. - refletiu o ficwriter com cautela. - E de não fazê-los perceber nosso plano.
- Foi Neko quem escreveu a parte dos cristais, não se esqueça.
- Eu vou me aproveitar de toda oportunidade que encontrar... - falou Henrique, exibindo agora um sorriso cínico inapropriado ao número de ferimentos. - ... Ecchi-kun.
- Hey, vamos parar de discutir sobre questões éticas e morais?! Parecem possuídos por alguma coisa... - reclamou Aleph, fazendo os dois pararem de falar. - Sabemos que Tieko ainda não conseguiu fazer a ligação entre os Destiny Kishi e os ficwriters, mas não podemos falar isso sem que os três descubram. E ainda temos o desaparecimento do MADS para nos preocupar.
- Hai... e Neko pensou que eu era o culpado disso... - resmungou Moon Fox, massageando o queixo. - Por que a culpa sempre cai em cima de MIM?!?
- Porque você é o First Writer, esqueceu? - reclamou Hélio num tom sarcástico e obtendo sua vingança.
- Etto... eu estava pensando em uma coisa. De todos nós, o único que ela conhece ao vivo e em cores sou eu. Será que se, na próxima vez em que ela dormir, eu aparecer...
- Ela pode relacionar os NDK com os Destiny Kishi. É isso que você quer fazer, Aleph?
- Correto. Só precisamos esperar que ela durma.
- Não vai dar certo. - agourou Silver Sky, lembrando-se do 'Earth Power Hurricane' de Art. - A menos que Kyn esteja desperta... mas ainda é arriscado. Vai ser muito doloroso quando descobrirem.
- Eu tenho uma carta escondida na manga... não se preocupe com isso.
- Ok. Agora vamos voltar a escrever essa história da carochinha antes que alguém apareça. - riu Moon Fox, pegando sua caneta.
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