Tempestade de Ilusões
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Ami Ikari & X/MADS!Capítulo 21: Is It Time To Sleep, Little Star?
"Therefore they shall do my will
Today while I am master still,
And flesh and soul, now both are strong,
Shall hale the sullen slaves along"Before this fire of sense decay,
This smoke of thought blow clean away,
And leave with ancient night alone,
The stedfast and enduring bone."
-= A.E. Housman =-Sonhos. Esperanças. Desejos. Felicidade. Palavras que descrevem a beleza de um objetivo. De uma meta. Palavras que descrevem o quão longe podemos ir. O quão persistentes podemos ser ao seguí-los. Ao tentar obter a realização deles. Doces sonhos, doces ilusões.
Um sonho somente é um sonho quando não tentamos torná-lo realidade. Quando não tentamos. Um sonho pode viver eternamente, deixando seu sonhadores desfazerem-se em pó. Sonhos persistem mais do que nós mesmos. Sonhos. Doces sonhos. Sonhos com anjos. Sonhos.
Sonhos. Nada além de sonhos. Nada além de doces ilusões.
Seguir em frente. Avançar. Sempre em frente. Sempre atrás deles. Sempre atrás dos mesmos sonhos. Sonhos rosados e belos. Sonhos para se tornarem realidade. Para se tornarem um fato. Sonhos. Esperanças de um novo mundo. De um novo ser. De novos sonhos.
Desejo incansável o de perseguir. Sempre atrás de sonhos. Sempre atrás de doces sonhos. Sempre atrás do secreto desejo de realização. Da Criação. Do concreto sonho doce. Sonhos. Sonhos traziam felicidade. Felicidade trazia... felicidade. Um final.
Onde estariam os sonhos?
Onde estariam os sonhadores?
Onde todos estariam?
Sonhos. Doces sonhos.
Sonhos com anjos.
Sonhos.***
Ele abriu seus olhos. Diante de si, a realidade. Não era um sonho. Não era uma ilusão. Não era. Ele sorriu. Sabia que não era. Tinha a plena certeza de que não era um sonho.
Levantando-se, ele olhou ao seu redor. Estrelas, infinitas estrelas para todos os lados e lugares que olhava. Estrelas, muitas delas. À esquerda, à direita, à frente, atrás de si, acima e abaixo. Estrelas. Estrelas, tantas ou mais quanto as que existiam no universo. E ele sabia que não estava sonhando. Sabia que não estava.
Estrelas. Todas tão próximas de suas mãos, todas ao seu alcance. Bastava apenas erguer sua mão e tocaria numa estrela. Ele sorriu. Cada estrela, uma história. Cada história, uma vida nova. Cada vida, uma estrela nova. Dezenas, centenas, milhares de novas estrelas. Pulsando, indiferentes à sua presença, indiferentes a qualquer outra estrela.
Martin Siu jamais esperava encontrar tantas estrelas em sua vida. Jamais pensara um dia que chegaria a ver o verdadeiro esplendor da civilização selenita. A Biblioteca do Tempo. Sabia que não estava sonhando. Não era possível ser um sonho.
Ele poderia ficar um milhão de anos naquela biblioteca e jamais chegaria o dia em que se cansaria de observar aquelas estrelas, sentir a história fluir por seus dedos, perceber a essência do Tempo em suas veias. Mas ele não tinha um milhão de anos. Não tinha sequer um dia.
Um pouco entristecido pelas suas amarras, ele sabia o que tinha que ser feito. Ele sabia que não estava ali apenas para admirar as estrelas. Admirar as novas histórias do mundo. Colocando-se de pé, seus passos pareciam pesados, ao mesmo tempo que eram leves. Uma sensação estranha, mas que não deixava de ser agradável de certa forma.
Estava fluindo pelas estrelas. Caminhando pela Biblioteca. O esplendor parecia não ter limites, mas atrás de todo brilho havia uma sombra. Esse era seu objetivo. Bem ao longe, como se quisesse estar escondido de todas as presenças, estava um pequeno buraco negro. Pouco a pouco, Martin se aproximava daquele buraco negro. Faltava agora bem pouco, bastava apenas esticar o braço e...
Uma mão o impediu. Sua mão estremeceu diante da força que havia dentro daquela mão. A mão seguia para um braço. O braço, para um corpo. O corpo tinha uma cabeça. A cabeça que um dia ele jamais pensara que um dia iria ver.
- Chronos? - indagou ele, franzindo a testa. Ele percebeu então que faltava algo em sua mão. Não os dedos, que estavam ali, porém um pequeno objeto de metal. Aquele que estava na mão firme de Chronos.
Um anel. Ele sabia então que não era uma ilusão. Não era um sonho.
Era a sua mente.
- Aqui é seguro. - disse Chronos, sua voz quase mecânica. O filete violeta de luz em seus olhos adicionavam uma aura morta ainda maior sobre sua presença. Como se fosse incapaz de sentir qualquer coisa.
Dor deveria ser desconhecida para ele. Mas Martin sentia dor em seu braço. Dor em sua mão sendo presa pela de Chronos. Torcendo os lábios, ele agora tentava livrar a sua mão da força de Chronos. Este soltou abruptamente.
Quase caindo para trás, Martin adquiriu uma expressão séria em seu rosto. Massageando levemente sua mão, ele percebia o quão fútil seria lutar contra Chronos. Ao mesmo tempo, o Destiny Kishi permaneceu imóvel, como se esperasse que Martin tentasse novamente.
E ele tentou. Chronos segurou sua mão novamente. E a cena se repetiu. Uma. Duas. Três. Cinco. Dez. Quinze. Não adiantava. Não havia nada além de silêncio, estrelas e eles mesmos. Nada que pudesse ajudá-lo a tocar o buraco negro. Nada que o ajudasse a encontrar uma estrela de segundo acesso. Uma estrela que desbalancearia o jogo de Art. Seu ás escondido.
Ele tentou uma vez mais. Chronos segurou sua mão uma vez mais.
- Por quê? - perguntou Martin, quebrando o silêncio.
- Aqui é seguro. - repetiu Chronos. Como uma máquina.
Martin sorriu diante da resposta. Ele agora não iria tentar. Ele iria fazer. Sua mão fechou-se num punho, indo na direção do buraco negro. Chronos moveu sua mão para interceptar novamente, porém não conseguiu alcançar.
A mão de Martin encontrara um outro destino. Seu rosto. O Destiny Kishi caiu então para trás, eletricidade permeando por toda sua face. Era uma máquina. Martin, por sua vez, estava pulando e gemendo de dor, sacudindo sua mão ao ar diante da força que aplicara. Não era um sonho.***
Fios. Quase transparentes, quase tão finos quanto os de uma teia de aranha. Eles reluziam diante da luz que agora iluminava o local. Moon Fox quase chorou ao vê-los. Fios que desciam das paredes, atando-se aos corpos de Sailor Mars, Sailor Venus, Sailor Jupiter, Sailor Moon e Tuxedo Kamen.
Olhando para o lado, ele encontrava fios ligados aos corpos de Sailor Uranus, Sailor Neptune, Sailor Mercury, Mercury Destiny Kishi, Mars Destiny Kishi, Venus Destiny Kishi, Jupiter Destiny Kishi, Saturn Destiny Kishi, Neptune Destiny Kishi e Uranus Destiny Kishi. Seu próprio corpo também estava atado a fios. Mas ele conseguia ver todos esses fios. Ele já havia brincado com aqueles fios antes. "Criadores de Ilusão", lembrou-se ele do nome dado por Sailor Pluto aos pequenos e eficientes dispositivos.
Ali perto, ele percebia os casulos, para onde todos estavam correndo para verificar. Quanto tempo havia passado, ele não sabia. Mas estivera preso numa ilusão. O que era agora real, ele também não tinha certeza. Apenas de que tudo havia sido uma ilusão. E aquela era a explicação de tanta coisa acontecer tão rapidamente. Como uma ilusão, como um sonho.
Claro que seus hematomas e ferimentos queriam dizer o contrário, mas não importava mais. Ao longe, ele via as Senshi gastarem suas energias contra um inimigo invisível. Um inimigo inexistente seria mais adequado. Mexendo sua mão com cuidado, ele adquiria aos poucos a sua coordenação motora. Tanta dor acabara por destruir seus sentidos por completo. E agora ele sabia o porquê.
Movendo-se rapidamente, seu braço ignorou a dor, enquanto sua mão alcançava a katana em suas costas. Em poucos instantes, ele conseguira cortar os fios que o segurava. Cortados, eles começaram a se convulsionar, quase embrulhando seu estômago. Como se estivesse agora em desespero, ele arrancava de si o que restava dos fios em seu corpo, quase vivos e a tentarem entrar.
Era uma sensação MUITO desagradável, mas a qual ele suportou. Não havia dor maior do que a que ele sentira em sua estadia no Salão Prateado. Livre de seu carcereiro invisível, o sangue que escorria de seu corpo nada significava diante da missão que agora tinha. Iria doer muito, mas isso também significaria que estavam livres. Livres e vivos.
Suas mãos seguraram com maior firmeza a katana, preparando-se para o despertar de todos diante da realidade. A verdadeira realidade. E isso doía em seu coração. Mas iria fazer. Sua katana então começou a dançar ao vento, silvando entre cortes sem emoção. Ceifando a verdade para todos.***
A verdade, por outro lado, pode ser muito dolorosa. Se fosse um sonho, ele desejaria nunca acordar para não saber jamais o que era a verdadeira dor. Porém, sua vida até agora não passara de uma grande ilusão do destino. Ou da imaginação fértil de algumas pessoas. Não importava o que era... agora era a SUA vida. E ele iria até o final com ela.
- Saturn Silence SWING! - gritou Saturn Dragon, desferindo seu melhor golpe na direção da máquina de cristal.
Como das outras vezes, a máquina gigantesca apenas rebateu o golpe com seu braço de cristal. Novamente, Chris foi obrigado a se esquivar de seu próprio ataque. Ao longe, Akai golpeava novamente as pernas da criatura com sua katana. Outra vez sem surtir efeitos. Isso estava começando a ficar repetitivo e cansativo. Sem mencionar que ambos estavam com alguns ferimentos leves devido às surpresas que haviam escondidas em Apollyon.
Quase desejando seu tédio de volta, Saturn Dragon preparou-se para mais um ataque, enquanto se defendia dos ataques de fogo da maquinaria ambulante. Concentrando mais energia em sua espada, o Dragon Kishi saltou na direção do pilar central, conseguindo apoio para saltar mais rapidamente na direção da máquina. Simultaneamente, Mars Dragon preparava seu ataque para atingir as pernas dele.
- Mars Supernova EXPLOSION!
- Saturn Silence SWING!
Encurralada, a máquina ergueu seus braços, saltando então pela primeira vez com seu pesado corpo. Sei começou a resmungar para seus deuses, percebendo que aquilo iria dar mais trabalho do que ele imaginara. Todavia, havia um fator que ele não havia considerado até aquele momento.
- Silence Glaive SURPRISE!
Uma esfera púrpura de energia emanou da Silence Glaive de Sailor Saturn, que vinha por cima da criatura. A lâmina penetrou em sua cabeça, rachando sua pele de cristal em poucos instantes. Apollyon ergueu sua cabeça, como se estivesse em muita dor. Sailor Saturn saltou em seguida, enquanto feixes de fogo jorravam das juntas da máquina.
Correndo, ela agora esperava conseguir se aproximar da garota ferida e ir com Saturn Dragon e Mars Dragon para algum lugar mais seguro. Se é que existiria algum que chegasse a tempo quando a coisa explodisse. Entretanto, aquilo não havia acontecido.
- CRYSTAL GLAIVE! - gritou uma quarta voz no recinto. Antes que qualquer um observasse o que estava acontecendo com Apollyon, a criação máxima dos Destiny Kishi sobreviventes, uma luz intensa invadiu o local.
Ao abrirem os olhos, Mars Dragon foi a única a perceber que estava num dos corredores do Salão Prateado. Uma voz distante indicava que Moon Dragon ainda estava em sua luta com Art. Nisso, apenas uma coisa a preocupou. O que Saturn Dragon viria a fazer quando encontrasse as pessoas que mataram Mo.***
Cuspindo sangue, ele não imaginava que seria tão difícil o retorno. Sua mão ainda dolorida decerto nada significaria diante do que Art devia ter feito com os demais Destiny Kishi para os obrigarem a escrever a atrocidade que era Crystal Tokyo. Quer dizer, de forma geral, ele acreditava que TODA utopia era ruim. Mas uma que era trazida para o mesmo tempo que ELE vivia era uma coisa tenebrosamente ruim.
Além disso, pensar em Crystal Tokyo era apenas uma das suas opções para parar de sentir aquela dor tão forte em sua mão. Fazendo uma nota mental para trazer luvas de ferro na próxima vez que fosse para um lugar onde ele achava que conhecia bem, Martin olhava seu uniforme de Destiny Kishi. "Geez... ainda bem que não é rosa." comentou ele a si mesmo, satisfeito com o resultado que obtivera da Biblioteca do Tempo.
Sair de lá que havia sido o maior problema. O sistema de segurança de Chronos havia sido mais do que eficiente na sua opinião e, se não fosse a constante resposta mecanizada, ele talvez ainda estivesse ali dentro tendo sua mão esmagada pela máquina. Por outro lado, ela acabou quase sendo esmigalhada ao ativar a estranha seqüência de desligamento de Chronos, o sádico selenita.
Olhando para os lados e garantindo a si mesmo de que não estava preso numa ilusão, Martin voltou sua atenção para Crystal Tokyo. Ele tinha que ter a plena certeza do que planejava fazer ou nada adiantaria. Destruir era muito mais fácil do que criar, entretanto não era mais fácil quando ele tinha que pensar muito bem sobre sua decisão. A destruição de Crystal Tokyo, da Crystal Tokyo de Art, poderia também acarretar em conseqüências drásticas.
Muitas das quais ele sequer tinha certeza de que poderia imaginar ou mesmo impedir. A urgência imposta pelo tempo que ainda lhe restava era ainda um outro fator que permitia uma conclusão clara. Tempo, tempo, tempo... como tudo na vida poderia ser simples se ele tivesse tempo...***
Cuspindo sangue, essa também era a reação dos que haviam sido capturados pelos seguranças do Salão Prateado. No caso, essas pessoas era Sailor Senshi e Destiny Kishi. Quais ferimentos haviam sido reais, quais não haviam sido... não importava a ninguém. Tudo o que sabiam era que estavam com os corpos doloridos e drenados de energia.
Moon Fox estava agora diante das lendárias Sailor Senshi e aquilo foi o suficiente para arrancar um sorriso de seus lábios. Embora o momento não fosse adequado, ele sabia que aquele dia seria fabuloso... mas não tão fantástico como estava sendo. Se um pingüim aparecesse sapateando com uma cartola na cabeça, ele... ele... ele...
Ele estava naquele instante observando um pingüim sapateando com uma cartola na cabeça. Por incrível que pareça, era um pingüim SEM um foguete nas costas, o que não se sabe se piorou ou melhorou a situação para alguns dos Destiny Kishi ali presentes. Seph, por sua vez, resolveu sair o quanto antes de lá, seus ferimentos sendo menores do que os dos demais. Firebird optou por olhar para Kare, caso ela resolvesse brincar de 'Arauta da Morte' novamente.
Aleph preferiu sair o quanto antes daquele local, enquanto Kyn e Kare tentavam impedir Silver Sky de cometer um pingüincídio(?), ainda que a primeira não tivesse tanta certeza se deveria ajudar a preservar o 'simpático bichinho'(?). Neko, por sua vez, apenas abraçou o 'simpático bichinho sapateador' sob o olhar curioso dos demais. Moon Fox escolheu um outro tipo de reação diante daquilo.
*blinks*blinks*
- Ainda estamos numa ilusão? - perguntou ele, embora o sarcasmo não estivesse evidente daquela vez em sua voz.
Seu espanto, entretanto, não durou muito tempo. Sentindo o Tempo contorcer-se para se ajustar à realidade da Crystal Tokyo de Art, Henrique decidiu por seguir Seph. Aos poucos, os demais caminhavam na mesma direção. Neko e Kare, é claro, iam escoltadas agora que o perigo real da 'bolha' havia terminado sem grandes seqüelas.***
Seu sonho, entretanto, permaneceria vivo. Essa era única coisa que Art acreditava, enquanto lutava quase desesperadamente com Moon Dragon. Suas energias haviam sido muito gastas com o combate anterior com Kyn, Firebird e Seph, principalmente para não dar a eles a confiança para persistirem com ela. Por outro lado, isso parecia estar surtindo o mesmo efeito na sua batalha atual. Moon Dragon parecia intocável!
Com sua Crystal Weapon em mãos, ele apenas não havia sido fatiado pela Ginnoken naquele momento anterior devido à própria majestade da arma. Agora, ele apenas conseguia impedir que seus ossos fossem esmagados por Moon Dragon. Pelo menos, ele ainda tinha a vantagem do selenita imaginar que tivesse gasto muita energia com o ataque anterior... claro que não poderia desconfiar da sua Crystal Weapon.
Mas tampouco aquilo estava servindo para alguma utilidade, sua habilidade com a espada não sendo o suficiente para quebrar a defesa da guarda do antebraço de Ryu. Mesmo em desvantagem, o Dragon Kishi mostrava a Art a razão de ter sido condecorado como líder dos Dragon Kishi. Sem mencionar a honra de carregar Ginnoken.
Isso apenas dificultava mais o trabalho de Art. Mas ele ia tentar a todo custo realizar seu sonho. Sua Crystal Tokyo ao lado de Kyn.
- Soil Graveyard, RISE! - gritou ele, tomando Moon Dragon desprevenido com o ataque elemental repentino.
Um pilar de terra ergueu-se do chão, sendo então atraído na direção de Moon Dragon. Perdendo o fôlego, o Dragon Kishi da Lua conseguiu tempo suficiente apenas para colocar Ginnoken na frente de seu rosto. Mas aquilo era o suficiente para ele.
- Moon Chromatic BEAM! - anunciou Silver, um feixe multi-colorido de luz destruindo o ataque de Earth Destiny Kishi. Com um filete de sangue no canto de seu lábio, ele apenas sorriu na direção de Art, surpreso com a resistência do Dragon Kishi.
- Dakara...
- Fiquei dois anos no Império de Garot, esqueceu? - respondeu sarcasticamente o Dragon Kishi, colocando Ginnoken em guarda.
Art então entrou em pânico. Aquele era o seu melhor ataque! NADA parecia atingir o Dragon Kishi! O que ele iria fazer?
Naquele momento, Art sentiu uma grande falta de ar em seus pulmões. Olhando para baixo, ele observava a figura demoníaca e calma de Moon Dragon, que acabara de atingir um soco em seu abdômen. Um outro soco veio em seguida, antes de um joelho em seu queixo e um chute em seu peito. Earth podia jurar que estava ouvindo seus ossos se quebrarem. Não levaria muito tempo até que perdesse a consciência.
O que lembrava Silver de uma coisa importante. Como Chronos havia gentilmente pedido, Moon Dragon agora lembrava-se de que era para deixá-lo inconsciente, ao invés de apenas 'conseguindo respirar'. Seus olhos vermelhos pareciam antecipar o festim de sangue.***
"Estranho... muito estranho..." pensou ele, sentindo a presença do Tempo. Era quase como se este estivesse diminuindo perante a sua chegada ao centro do Salão Prateado. Ao mesmo tempo, era algo que ele não conseguia definir com certeza. Qualquer que fosse o caso, ele continuava a correr pelos corredores. Quanto tempo, nem ele sabia dizer ao certo.
Os corredores eram algo quase místico em sua opinião. Quase como o caso da mocinha de filme de terror que corre, corre, corre e o monstro que apenas caminha numa lentidão é capaz de alcançá-la. Da mesma forma, ele estava certo de que não faria diferença se ele corresse ou andasse, pois seria a mesma coisa ao chegar em seu destino.
Ademais, sabia que a Biblioteca do Tempo estava bem próxima. Diminuindo o passo, como se isso resolvesse alguma coisa para evitar chegar no mesmo tempo planejado, ele esperava não precisar encarar Earth Destiny Kishi. A demonstração de poder que uma Crystal Weapon era grande e se bem utilizada seria muito perigosa para a sua saúde.
Para a sua sorte, ele não encontrou Art. Porém, a pessoa com quem esperava encontrar somente após algumas horas. Pelo menos aquela parte do plano estava ainda funcionando.
- Yo, Cousin! - cumprimentou Martin.
- Yo, Cousin! - devolveu Ricardo, recuperando aos poucos o seu fôlego.
Ambos permaneceram em silêncio por algum tempo, um devido ao esforço de chegar ali no horário correto. O outro para perder-se em seus próprios pensamentos. Martin ainda desejava saber como aplicar de melhor forma a destruição de Crystal Tokyo. A ideal seria que ela nunca tivesse existido, torná-la uma ilusão coletiva. Mas isso estava já fora dos limites dele ou de qualquer outro Destiny Kishi.
Restava apenas uma hipótese, mas da qual ele não pretendia arriscar. Para isso, ele esperava que Silver se lembrasse de seu pedido em deixar Art apenas inconsciente. Embora acreditasse que descobrindo quem estava por trás do processo de 'tornar os fics em realidade' iria deixar um Art respirando MUITO fracamente. De qualquer forma, isso impediria que os demais fossem clamar vingança sobre seu corpo abatido.
- Novidade? - perguntou Ricardo, sua respiração voltando ao normal. Examinando seus ferimentos, ele concluía que não havia muita coisa com que se preocupar no momento. Excetuando a execução correta do plano. Ali era onde tudo se tornava aberto...
- Não tem nenhuma solução fácil... - resmungou Martin. - Vai ter que ser pelo meio mais difícil...
- Que seria?... - perguntou Seph.
- Destiny Timeline Restore. - respondeu uma voz feminina. Martin quase esperou que uma katana estivesse naquele momento em seu pescoço.
- Hmm... konnichi wa, Kare-san? - arriscou o ficwriter, virando-se para a Destiny Kishi de Saturno.
- Você não vai conseguir convencer Art. - ela revelou, ainda que não fosse realmente uma notícia nova para Chronos.
- Não preciso convencer. Apenas que ele esteja presente. - respondeu ele, observando a chegada dos demais.
Porém, de uma outra direção, uma aura MUITO perigosa estava se formando. Um péssimo pressentimento surtiu na alma do ficwriter, enquanto ele lentamente se virava para analisar de quem era a fonte de poder. Ele não gostou do que viu. De um lado estava Saturn Dragon. Do outro estava Saturn Destiny Kishi.
Segundo o avô de Rei, uma coisa MUITO ruim aconteceu entre Chris e os Destiny Kishi sobreviventes da Queda do Milênio de Prata. Julgando pelo olhar entre Kare e Sei, não precisava ele de muita inteligência para saber que não era bom estar no caminho deles. Porém, havia um GRANDE problema.
Esse problema era que estavam num corredor. Seph parecia ter chegado à mesma conclusão que ele, o que estava começando a ficar ainda mais desesperador. Os demais estavam chegando aos poucos e aquilo estava prestes a virar um pandemônio. O pior era ELE estar no meio, como se não bastasse a utopia emergente no mundo.
- MATE! MATE! MATEEEEEEEEEE!!! - pediram Seph e Chronos em uníssono, embora soubessem que isso também refletia parte de suas opiniões se colocado em português numa pequena variância vocal. Isso, felizmente, passou despercebido por Sei e Kare, mas serviu para proporcionar pequenos risos abafados de um determinado ficwriter brasileiro presente...
- ASSASSINA!!! - gritou Saturn Dragon, aparentemente também despercebendo os dois Destiny Kishi e o pedido quase frenético deles.
- Tática dois? - perguntou Martin.
- Qual é a tática dois? - respondeu/perguntou Ricardo.
- Pedimos por socorro. - esclareceu Martin, uma calma sobre-humana a dominar seu espírito.
- Prefiro que atendam meu último pedido.
- SHINNEEE!!! - continuou Chris, correndo na direção da Destiny Kishi. Ao mesmo tempo, Martin e Ricardo 'colaram-se' às paredes, como para abrir um ínfimo de espaço para que Chris passasse.
Kare, por sua vez, sequer tinha tempo para desembainhar sua katana negra. Mas isso não foi preciso quando Chris caiu de cara no chão.
- Prefiro tática três. - mencionou Martin, balançando seu pé. Seph concordou, enquanto se sentava no Dragon Kishi caído.
Antes, porém, que Chris se recuperasse e fosse atacar Kare, todos ouviram um grito desesperado ao longe. Um grito que poucos reconheceram, mas que sabiam tratar-se de um grito de guerra.
- FUGUTAITEN!!!
Em seguida, todos correram ao sentir os tremores de terra.***
Era irônica a situação. Quando os Destiny Kishi chegaram ao local do grito, muitos deles cansados pelas batalhas e pelos próprios ferimentos, eles nada mais podiam fazer senão olhar para o que se tornara o antigo Earth Destiny Kishi. Por um lado, nenhum deles havia entendido a atitude de Chronos, afinal, a energia de Art era necessária para que o golpe supremo dos guardiões do Tempo surtisse efeito. Para que restaurassem a Linha Temporal. E ele apenas o deixara onde havia ficado após a vitória de Moon Dragon.
Um clarão castanho havia sido a única coisa que evidenciava a resistência de Art quando se aproximaram do local de combate. Depois disso, apenas a presença de um Moon Dragon ferido com algumas cicatrizes e um Art sem qualquer energia em seu corpo. Totalmente derrotado.
Um a um os Destiny Kishi caminharam na direção do centro do Salão Prateado para se posicionarem para eliminar a ameaça que Neo Crystal Tokyo se tornara, ou melhor, a ameaça que a Crystal Tokyo de Art representava para toda a Linha Temporal.
Era um sonho utópico de um apaixonado... de um apaixonado que não conhecia os limites de seus próprios sonhos.
Moon Fox foi o primeiro a passar pela figura arruinada do selenita derrotado. Sem a tiara de Raguel em sua cabeça, ele apenas dirigiu a ele um olhar de desprezo, enquanto ajudava Silver Sky a andar.
Outro que precisou ser carregado foi Firebird, amparado por Sailor Jupiter. Embora ambos tivessem a férrea vontade de matar o culpado pela maior dor de seus corações, nada podiam fazer. Krys-chan também não aprovaria tal atitude, foi o pensamento do venusiano. Justo ela, que sempre tomara as decisões mais sábias, que fora o equilíbrio de sua vida... não, sua perda não poderia ser 'vingada' com uma atitude irracional daquele que mais a amou por todos os tempos. Maury, por sua vez, talvez não desejasse ver as mãos de Juno manchadas de sangue. Ou talvez sim.
Logo atrás de Firebird vinha Aleph, mancando com a ajuda de Sailor Uranus. Pouco de sua expressão refletia o brasileiro irreverente antes conhecido pelo nickname 'Tolaris'. Sua vontade era a de chutar o responsável por tanto sofrimento, seu e de seus amigos... e era o que teria feito, se ainda fosse inteiramente o Tolaris que todos conheciam. Mas não era o que Aleph teria feito... e a vontade selenita prevaleceu pela primeira vez desde o seu Despertar.
Seph e Chronos caminharam juntos para o centro do salão onde Kare e Neko já se encontravam. Os primos chineses resumiram suas ações a simples olhares, não de desprezo ou de raiva... mas um olhar de pena por uma pessoa que se deixou levar por um sentimento e não soube controlá-lo.
Kyn, a mercuriana que roubara o coração e o raciocínio lógico do selenita, foi a última a passar por Art, porém, ela não o desprezou ou teve pena dele. Para a surpresa de todos, exceto de Chronos, ela se ajoelhou e estendeu a mão para o Destiny Kishi.
- Vamos? - ela perguntou, seus olhos azuis fitando o rosto de Art.
- Para quê? - ele retrucou, recusando a mão daquela que amava. - É o fim de tudo, Kyn-chan. Não há como consertar a Linha do Tempo.
- Ainda não acabou, Art. O Destiny Timeline Restore...
- ... só pode ser realizado com todos os Destiny Kishi. E eu não vou participar do fim do meu sonho.
- Nani...?
- Nessas horas, eu fico pensando em como eu pude me apaixonar de modo tão doentio por você. - riu Art, virando o rosto. - Você é fraca, Kyn da Casa de Saphir. Fraca como a sua irmã.
O rosto da ficwriter ficou lívido, como se tivesse visto um fantasma à sua frente. Atônita, ela piscou duas vezes, forçando Art a olhar para ela virando o rosto dele com sua mão.
- Repita o que você disse. - ela ordenou, pequenas faíscas saindo de seus olhos.
- Repito e reforço a minha conclusão... nenhum mercuriano deveria ser digno de pertencer à União. Mesmo na época do Milênio de Prata, nenhum dos guerreiros escolhidos de Mercúrio eram capazes de exercer sua função decentemente. Sailor Mercury foi a primeira Senshi a cair, lembra-se? Você foi uma dos primeiros Destiny Kishi a tombar também... Mercury Dragon e Mercury Noble Kishi nem chegaram à batalha de Crysium. Seus poderes são ínfimos, que servem apenas para a defesa. Uma defesa que chega a ser inútil, de tão fraca que é.
Kyn apenas foi capaz de permanecer quieta, ouvindo o que Art tinha para dizer. Sailor Mercury reconheceu em sua atitude uma espécie de raiva que estava começando a se acumular...
- Imouto...
- Oneechan, vá para o centro do Salão Prateado. - ela ordenou, aproximando-se ainda mais de Art e pegando-o pela gola da jaqueta.
Seu corpo estava dolorido e sua mente não estava em melhores condições. As tiaras de Raguel haviam cumprido habilmente a sua função, assim como as lutas anteriores. Ela sabia que estava no limiar de sua energia, não sabia nem se seria capaz de ajudar como os outros na realização do Destiny Timeline Restore.
Mas ela não podia deixar uma pessoa desferir tantos desaforos àqueles que amava... mesmo sabendo que estava arriscando sua vida, aproximando-se tanto de Art.
- Eu sabia que você faria isso, Kyn-chan... - sussurrou Art, prendendo o corpo da mercuriana contra o seu com um dos braços e desferindo um forte soco no estômago da garota, fazendo-a perder boa parte de seu fôlego. - CRYSTAL WEAPON! KASUNAGI NO TSURUGI!
- NANI?! - gritou Eternal Sailor Moon, tentando correr na direção de Kyn e Art.
Porém, algo a impediu. Ou melhor, alguém a impediu, ou seja, Chronos. Com o braço estendido, o líder dos Destiny Kishi não permitia a passagem da líder das Senshi, tampouco das demais Inner Senshi.
- Não.
- Mas...
- Ela sabe o que está fazendo. - falou o filho de Sailor Pluto, o rosto impassível. - Dê a ela um voto de confiança, Serenity.
Eternal Sailor Moon não pôde fazer mais nada, a não ser observar a Crystal Weapon de Art aproximando-se ameaçadoramente do frágil corpo de Kyn. Os olhos esmeraldinos de Earth Destiny Kishi brilhavam de satisfação enquanto seus braços prendiam o delicado corpo da mercuriana e seguravam a Kasunagi no Tsurugi. Ele sabia que iria morrer...
- Ficaremos juntos pela eternidade, sweetheart.
Kyn não conseguiu responder à afirmação de Art com meras palavras. Ela conseguia sentir a ameaça que a Crystal Weapon representava para sua própria vida e para a existência do mundo como todos o conheciam.
- Kyn-chan... hottokenai yo... - sussurrou Sailor Mercury, olhando para sua irmã sem nada poder fazer.
E foi pela figura de sua irmã que, mesmo com algumas lágrimas nos olhos, ela fechou o punho direito e gritou as palavras que Art já esperava ouvir. As doces palavras da morte...
- Mercury Destiny POWER!!!
Uma aura azulada emanou do corpo da mercuriana, cujos olhos perderam suas pupilas. Ela já não enxergava, apenas sabia o que deveria fazer para preservar sua própria vida e não deixar seus companheiros sem a energia de Mercúrio, necessária para restaurar a Linha Temporal.
Ela não podia morrer. Ela não havia esperado vinte mil anos para reencarnar e simplesmente perder sua vida por um capricho de um apaixonado obsessivo. Ela não iria morrer, não depois de tudo... ela manteria a sua promessa e cumpriria o juramento que fizera à Sailor Pluto. Ela não se permitiria morrer. Não assim.
- Water FLASH!!! - e a energia do golpe de Mercury Destiny Kishi foi totalmente concentrada no abdômen de Art, no exato momento em que ele se preparava para cravar a lâmina de sua Crystal Weapon nas costas de Kyn.
A morte foi instantânea. A essência de Art, entretanto, não se dissipou com a simples desintegração de seu corpo, mas dirigiu-se à figura cansada de sua assassina. Com lágrimas escorrendo pelo seu rosto e sangue vertendo do ferimento de suas costas causada pela Crystal Weapon, Kyn não recusou a energia que lhe era oferecida e a recebeu com o carinho de uma irmã. E somente então ela entendeu o que ele havia feito.
"Eu sabia..." havia sido seu último sussurro, uma paz estranha em seu olhar. Seu espírito não podia ser então julgado por aquele instante, mas tempo ela também não tinha. Correndo com as forças que o seu pequeno corpo ainda possuía, ela se juntou aos demais Destiny Kishi no centro do Salão Prateado. Antes que o tarde fosse irreverssível.***
Chronos não olhou para os olhos de qualquer pessoa. Cansado, ele apenas tinha esperanças. Esperanças de que o sonho de uma pessoa fosse arruinado, destruído. Era uma péssima imagem que ele estava tendo, mas não podia evitá-la. Era a verdade numa forma mais negra. Ele estava para destruir o sonho de uma pessoa, mesmo que fosse para socorrer os sonhos de muitas outras pessoas... ainda não era diferente daquela verdade. A vida realmente era injusta se requeria tantos sacrifícios.
Mas quem disse que ela era justa?
Olhando para seus pés, Pluto Destiny Kishi ergueu repentinamente seu olhar. O teto estava começando a cristalizar, o sonho de Art chegando cada vez mais longe. Com um meio-sorriso em seus lábios, ele não esperaria que os outros tivessem a verdadeira noção do que iria fazer. Como Art bem dissera, o golpe supremo dos Destiny Kishi... a restauração do próprio Tempo somente seria possível quando todos eles estivessem presentes.
Não apenas isso, deveriam todos estar em boa, senão excelente, forma. Não estavam completos e tampouco poderia-se dizer que os Destiny Kishi capturados estavam em boas condições. Estava tudo perdido a partir daquele instante. Tudo.
- Destiny TIMELINE _RESTORE_! - gritou Pluto Destiny Kishi.
Olhares espantados dirigiram-se a ele, olhares que ele não desejava ver. Olhares que ele esperava nunca mais ver. A energia de seu corpo fluía como se possuísse vida própria, concentrando-se em sua mão direita, a mão em que ele segurava sua Silver Pen. Seu trunfo de nada serviria, mas ele não se importava. Nada mais o importava.
Ele apenas queria que dissessem que tentara, que não fora derrotado sem ao menos tentar vencer. Quando ele não mais precisasse ver olhares. "A morte tem suas vantagens." pensou ele, erguendo a Silver Pen para o alto. Uma esfera púrpura saía de sua extremidade, um filete de luz violeta a emitir a partir dela para o alto. Era tudo o que podia fazer. Era tudo o que precisava fazer. Não mais olhares... Makenai.
- Destiny TIMELINE _RESTORE_! - gritou uma segunda voz, surpreendendo o Destiny Kishi. Uma luz prateada erguia-se para o alto, encontrando com seu próprio feixe de energia.
Chronos olhou de relance para quem pertencia aquela energia amiga, sentindo o próprio peso do Tempo ser amenizado de suas costas. A energia pertencia a Moon Fox.
- Você não vai sozinho, Chronos. - murmurou o Destiny Kishi, no extremo oposto do Salão Prateado. Ambos sorriram.
- Destiny TIMELINE _RESTORE_! - gritou uma terceira voz. A luz azulada indicava a presença de Mercury Destiny Kishi. Cada um depositando suas esperanças numa execução incompleta de algo que nunca fizeram. Mas todos eles iriam fazer.
- É para isso que serve uma Wannabe, ne? - Paolla piscou um olho na direção dos dois ficwriters, indicando que iria até o final. Todos eles.
- Destiny TIMELINE _RESTORE_! - gritou Firebird, ainda que cansado e esforçando-se ao máximo para manter-se de pé.
- Destiny TIMELINE _RESTORE_! - foi a vez de Silver Sky, uma esfera de pura energia se formando ao redor dos Destiny Kishi. Dessa vez não havia como descrever sua cor, multi-colorida e incolor.
- Destiny TIMELINE _RESTORE_! - ergueu Aleph, não haviam palavras que pudessem agora dizer o que cada um pensava, no que cada um acreditava. Qualquer que fosse o motivo, estavam juntos naquilo que acreditavam poder fazer. Na restauração do Tempo.
- Destiny TIMELINE _RESTORE_! - anunciou alegremente a voz de Seph. Estavam todos reunidos. Todos os que realmente se importavam com o Tempo.
Dragon Kishi e Sailor Senshi apenas foram capazes de observar a maravilha que estavam presenciando. Um cosmo parecia estar se abrindo diante deles, uma micro-galáxia formando-se no teto com as emoções de cada um daqueles Destiny Kishi, que mesmo cansados e fracos se esforçavam para manter o que acreditavam. Como muitas vezes eles mesmos foram capazes de presenciar a si mesmos fazerem. Não importava se o preço que tinham que pagar era a própria vida. Eles fariam acontecer.
- Destiny TIMELINE _RESTORE_! - revelaram duas vozes simultaneamente. Neptune Destiny Kishi e Saturn Destiny Kishi. Com as mãos dadas, elas não suportariam agora uma solidão, uma punição.
Neptune acreditava agora que iria morrer. E se fosse, agora ela queria acreditar. Acreditar no que movia aqueles Destiny Kishi com tanta paixão pela vida, por todas aquelas tormentas. E essa era a mesma opinião de Kare. Iriam todos juntos ao céu ou inferno, isso já não importava. Iriam juntos.
A esfera ao alto parecia então começar a consumir a energia dos Destiny Kishi. Por quanto tempo, ninguém saberia dizer.***
O fato era que não havia muito. Não havia energia o bastante, mas estaria disposto a colocar sua vida naquilo. Aquele era o fim. Ele podia pressentir aquilo em sua própria carne. Aquele era o fim... a energia predominante naquele salão estava rapidamente se dissipando, como se o próprio universo estivesse a absorvê-la, para manter o curso natural do Tempo. Não havia mais a Guardiã do Tempo, não havia uma liderança. Aquele era o fim do Tempo.
Ele pressentia isso dentro de sua própria alma. Não eram gritos que preenchiam seu coração com tormentas, mas o silêncio de milhares de almas a serem destruídas, o silêncio da inexistência. Talvez fosse isso que mais afligia a sua alma naquele instante, mas não importava muito para ele. Aquilo não importava quando se podia sentir o momento.
A energia era o suficiente para ao menos consertar todo o estrago causado por Art. Era o suficiente para que fosse dada a chance de seu universo mais uma vez poder vislumbrar uma Crystal Tokyo. Mas uma Crystal Tokyo que surgiria pelas mãos de Serenity, com seu próprio esforço. Ele sabia que, sem a Guardiã do Tempo, ele não poderia fazer mais do que isso.
Não... ELES não poderiam fazer mais do que isso. Não podiam fazer mais nada além de fazer aquilo... dar uma chance. Mas não era assim que acontecia? Não era assim que suas esperanças continuavam?
Ele sabia que sim. Seu corpo colapsou diante de um último esforço seu para ter a certeza absoluta de que a chance fosse dada.
Uma última chance... talvez. Mas eles dariam essa chance.
A energia púrpura envolveu novamente o corpo do jovem selenita, que tentava alcançar os céus com seu pequenino corpo. Mas, tão rápido havia se manifestado, a energia foi-se embora. Ele caiu sob seu próprio peso, mas tentava se apoiar em suas próprias mãos. Seu corpo revertendo o processo de transformação que poucas vezes precisara usar.
Ele era o filho de Chaos. Não sucumbiria tão facilmente... não sem ter a plena certeza do que fazia.
Chronos ergueu sua cabeça, sorrindo com extrema aprovação para os Destiny Kishi. Eles haviam conseguido... eles haviam fornecido a chance. O cristal que se formara nas paredes começava a se deteriorar e Chronos quase sentia que a presença dos cristais desapareciam das mentes humanas. A Crystal Tokyo de Art jamais se concretizaria... jamais teria existido em seu universo. Em seu Tempo.
Mas a Lei de Murphy era implacável, disso ele sabia com perfeição. Seu olhar parou repentinamente sob o de uma Destiny Kishi. Mercury Destiny Kishi estava com um sorriso deveras perturbador para o filho de Fate. E ele entendeu o porquê daquilo.
Seu sorriso era sereno, muito tranqüilo. Como o de uma pessoa que percebe que estava finalmente com os objetivos concretizados. Como se a meta de sua vida finalmente tivesse sido alcançada. Era até engraçado para Kyn pensar daquela forma... haviam tantas coisas em sua vida. Haviam tantas coisas feitas... e outras tantas que poderiam ter sido feitas. Mas não era um sorriso de arrependimento ou de saudade.
A luz do ambiente voltava ao seu normal aos poucos, abandonando os Destiny Kishi novamente à penumbra da realidade. No entanto, eles sabiam que muita coisa havia sido mudada. Cada um deles sabia daquilo... cada um deles sabia que não eram mais selenitas. Já não eram também o que costumavam ser. Aquilo era um novo marco em suas vidas. Um marco para os Destiny Kishi, um grupo de pessoas que batalhariam pelo que seria justo. Pelo que uma pessoa tão sabiamente dizia... Ai to seigi.
E era isso que estava impresso no olhar de Mercury Destiny Kishi. No rosto de Kyn... na mente de Paolla Limy Matsuura. Pelo Amor e a Justiça... até o final. E ela estava feliz. Ela estava feliz... ela havia feito isso.
Lágrimas preenchiam seus olhos, impossibilitando-a de enxergar com a mesma nitidez para seus companheiros. O líder dos Destiny Kishi sabia perfeitamente o porquê daquele olhar. Sabia perfeitamente o que significava aquele olhar.
Despedida.
Assim, Paolla continuou a olhar para todos eles, que então centravam sua atenção para a Destiny Kishi. "Engraçado..." pensou Paolla. "Parece até que estou ouvindo uma música..."Little girl don't you forget her face
Laughing away your tears
When she was the one who felt all the painA luz ainda não havia se dissipado aos olhos de Paolla, que dera a si mesma a responsabilidade maior sobre Art. Não por ele... mas por ela. Pela pessoa que corria em sua direção naquele instante. Seu corpo estava pesado... mas por quê? E por que aquilo parecia não importar a ela?
Mas aos olhos de Mizuno Ami, a cena era bem diferente. Sangue vertia dos poros da pele de Paolla... de Kyn. Sailor Mercury gritou por seu nome. Gritou para que ela não desistisse, para que ela não a deixasse.
Nenhuma Senshi, nenhum Kishi ousou interromper aquele momento. Sailor Mercury havia ganho forças acima da compreensão de qualquer um deles. Rapidamente, ela já estava ao lado de sua outrora irmã. Segurando-a em seus braços, passando seus dedos por seus cabelos... seus olhos estavam úmidos demais para dizer qualquer coisa. Para tentar saber como ajudar a sua própria irmã. Para qualquer coisa.
- H-hottokenai yo... - murmurou Paolla, fechando os seus olhos.Little girl never forget her eyes
Keep them alive inside
Promise to try - but it's not the same- LIMY-CHAAAAAAAAAAAAAAAN!!! - gritou Ami, forçando a brasileira a abrir seus olhos novamente. Sacudindo-a, Ami jamais permitira que ela se fosse. - Stay with me... - pediu Mizuno Ami, abraçando a Destiny Kishi.
Quase como a ninar a garota, Sailor Mercury continuou a segurá-la em seus braços. Kyn era forte. Kyn sempre cumpria suas promessas. Eram essas frases que a Senshi repetia... eram essas as frases que a tornavam mais forte. Sempre.
Mas isso não facilitou a despedida.
Os Destiny Kishi talvez fossem aqueles que mais estivessem relacionados com a ficwriter... conheciam ela por tantos anos... era impossível admitir que de um momento para outro eles jamais seriam capazes de vê-la novamente. De ouvir sua voz novamente... A dor em seus corações quase se igualava à da Senshi.
Silver Sky e Moon Fox, por outro lado, gastaram quase tanto de sua energia quanto Kyn. Mas eles eram diferentes. Sabiam o quanto conseguiriam gastar... sabiam o quanto podiam ter feito.... Mesmo assim, sabiam que não poderiam ter realizado o mesmo potencial de sua companheira. E talvez sequer soubessem o final daquele episódio.
Moon Destiny Kishi e Jupiter Destiny Kishi foram os primeiros a caírem nos braços de Morfeu. Amparados por Ryu e Akai, eles logo saíram do salão. 'Precisavam de cuidados' parecia a frase que os poucos atentos notariam então. Ryu, porém, saía com a certeza de que tudo havia sido real.Keep your head held high - ride like the wind
Never look behind, life isn't fair
That's what you said, so I try not to careSeph não estava também em boas condições. Ele quase sentia seu próprio ser rasgar-se diante do ar. Respirar já era um ato difícil de ser realizado depois de tanto tempo condensado sob tortura. Ele desmaiou, já não suportando mais a dor. Mas sobreviveria.
Sobreviveria. Isso era o que Sailor Venus falaria para ele quando acordasse. Seph tossiu um pouco de sangue, entretanto, pouco antes de ser retirado do salão. As Senshi sabiam que eles mereciam o descanso. Um bom e merecido descanso. Seph já havia dado o melhor de si.Little girl don't run away so fast
I think you forgot to kiss - kiss her goodbyeE essa era a razão de Aleph estar sendo carregado por Ten'ou Haruka. Mars Destiny Kishi foi o motivo para que a guerreira de Urano preservasse a integridade de Tomoe Hotaru. Ao seu ver, Hotaru ainda não estava preparada para ver a dor de uma Senshi. A dor de perder alguém.
Relembrando de quando Galaxia havia tomado o seu espírito, Michiru seguiu Haruka. Ela sabia que estariam sempre juntas. E sabia que aquele era o momento de Ami e Paolla. Já não havia nada mais a ser feito.Will she see me cry when I stumble and fall
Does she hear my voice in the night when I call
Wipe away all your tears, it's gonna be all rightJá não havia nada mais a ser dito. Neptune Destiny Kishi verteu suas lágrimas ao presenciar o estrago que fizera. Jamais saberia se poderia ser perdoada. Jamais saberia o que teria tornado Art tão diferente da pessoa que um dia amara.
Vendo o desespero da Senshi, Neko desejou ardentemente que nada daquilo tivesse acontecido. Que ela tivesse aceitado o convite de Chronos e tivesse perecido com seus entes queridos. Para que ela nunca tivesse presenciado a dor e o sofrimento que ela presenciara, presa no Portal do Tempo. Inclusive a dor da perda de seu amor.
E ela sabia, pelos kamis mais poderosos, ela sabia que suas lágrimas de nada serviriam naquele instante. Mas... mas Neko não podia evitar. Não podia evitar de sentir a dor... de relembrar a morte de Art. De sua altiva expressão e seu forte caráter... do homem pelo qual se apaixonara perdidamente. Não conseguiria esquecer.
No entanto, ela ainda ganhava a compaixão de seus inimigos. Soluçando, ela era carregada por Strike Fiss. E pensar que havia sido ela quem mais provocara a dor no coração do Dragon Kishi...I fought to be strong, I guess you know
I was afraid you'd go away, tooVenus Destiny Kishi, por sua vez, havia sido abençoado pelos seus deuses. Sailor Jupiter o carregou para fora do refúgio selenita quando perdera a consciência. E talvez tivesse sido Edson e não Paolla a perecer naquele instante. Talvez fosse ele a se despedir...
Talvez...
Mas ele somente saberia quando e se abrisse os olhos.
A sensação de paz preenchia seu espírito, enquanto o ameno vento da primavera parecia espalhar as pétalas de sakura.
Parecia estar no Céu...Little girl you've got to forget the past
And learn to forgive me
I promise to try - but it feels like a lieE era assim que Kare se sentia. No Paraíso... onde não mais havia dor, onde não havia o arrependimento. Onde tudo o que realmente importava era o que as pessoas tinham por dentro, o seu verdadeiro eu. A Messias provou ser mais forte do que qualquer um que ela pudesse imaginar.
Longe de qualquer um, Saturn Destiny Kishi poderia ter se surpreendido quando Sailor Mars resolveu tratar de seus ferimentos. "Por quê?" essa era a pergunta que se repetia em sua mente. Inesperadamente, ela recebeu uma resposta da Senshi.
- Você nunca deixou de ser quem você é. Nunca deixou de acreditar no que você acreditou. - disse a guerreira de Marte.
Sem saber porque ou como, Kare chorou. E chorou ainda mais quando os gritos desesperados de Mizuno Ami feriram o seu coração.Don't let memory play games with your mind
She's a faded smile frozen in time
I'm still hanging on - but I'm doing it wrong
Can't kiss her goodbye - but I promise to tryE uma lágrima foi derramada por Chronos. Umedecendo o chão seco, ele seria o seguinte a ser levado para fora do Salão Prateado. Mamoru já estava ali, ao seu lado. Usagi, por outro lado, estava altiva e serena. Embora fraca e apoiando-se em seu namorado, ela sorria na direção do brasileiro. Mas não era um sorriso comum.
Era o sorriso de alguém que enxergava a luz na escuridão. O sorriso de uma princesa.
- Somos todos guerreiros. - disse a princesa da Lua. - E já morreram pessoas nessa batalha... - falou Serenity, sua voz tentando consolar o coração do ficwriter.
- Usako... - murmurou Tuxedo Kamen, segurando-a melhor em seus braços.
- Mas sempre existe a esperança. Sempre. - eloqüentemente falou Usagi.
Sob o olhar surpreso de Pluto Destiny Kishi, o casal estava preparado para tudo. Nem que aquilo custasse as suas próprias vidas... eles acreditavam neles. Acreditavam no Amor e na Justiça.
Foi por isso que Sailor Moon enfim mirou o fraco Ginzuishou na direção de Paolla Matsuura. O desgaste era grande, mas ela não iria admitir a derrota. Não iria permitir que uma amiga sua morresse... nem que outra ficasse eternamente triste. Nunca...
Mamoru compreendia isso através do olhar determinado dela. Mas também sabia que jamais poderia viver sem ela. Foi por essa razão que ele também segurou as mãos de Usagi. Iriam JUNTOS ajudar. Iriam juntos realizar o milagre da esperança. Eles sorriram um para o outro antes de voltarem suas atenções para a solitária e desesperada Mizuno Ami.
Mas alguém os impediu. Uma mão ensangüentada e cansada, mas firme e determinada, havia parado a ação. Surpresos, ambos olharam para quem a mão pertencia, ficando MAIS surpresos ao notarem de quem se tratava.
- Se fizerem isso... - disse Chronos, sua voz difícil até mesmo para manter a frieza que precisaria para dizer as palavras. - ... tudo o que fizemos será em vão. - terminou ele, olhando diretamente para o casal.
Endymion e Serenity compreenderam pelo olhar dele. E não seriam capazes de estragar tudo pelo qual os Destiny Kishi haviam batalhado. E sabiam o quão difícil era para o líder dos Destiny Kishi dizer para que eles não tentassem realizar aquilo, estando tão fracos. Para que não estragassem o futuro de uma Crystal Tokyo de verdade.
Sem poder ajudar, eles apenas abaixaram seus olhares, prontos para, pelo menos, levarem Martin para fora do salão.
- Iie. - pediu Martin, sua voz mais calma. - Sailor Mercury precisa mais de vocês do que eu. - falou o ficwriter, sorrindo para eles.
Os passos do casal foram rápidos, mas pareciam durar uma eternidade. Paolla ainda respirava com dificuldade, tossindo sangue em curtos intervalos, enquanto Ami tentava desesperadamente fazer com que sua consciência permanecesse ativa durante todo aquele tempo.
- Ami-chan... - chamou Usagi. Aquilo seria difícil, mas ela era a líder das Senshi, não era?
Mizuno Ami apenas olhou desconsoladamente para Tsukino Usagi. E soube no momento que olhara para os olhos dela que não haviam esperanças.
- IIE!!! - gritou a mercuriana, abraçando fortemente a brasileira. - ELA NÃO VAI MORRER!!! ELA PROMETEU!!! ELA PROMETEU!!! - gritou ela, enquanto lágrimas suas defendiam a Kyn. - ... ela prometeu que nunca me deixaria...
Aquilo tornou as ações dos selenitas muito mais difíceis. Mamoru, por sua vez, sabia o quanto aquilo seria difícil. E que quanto mais tempo permanecessem ali, mais doloroso aquilo seria para a Senshi de Mercúrio. Resoluto, ele agiu da forma que imaginava ser a mais correta.
- Precisamos ir... - disse ele, segurando o braço da mercuriana.
Fraca pela batalha, Sailor Mercury não conseguiu resistir à força de Mamoru. Toda a sua força consistia em Paolla. Ela gritou uma vez mais quando se viu separada de sua ex-irmã gêmea.
- IIE!!! - gritou ela. - ELA VAI VIVER!!! EU SEI QUE VAI!!!
Os gritos de Sailor Mercury continuaram enquanto Tuxedo Kamen maquinalmente a arrastava para fora do salão. Entretanto, nem mesmo ele foi capaz de conter as lágrimas de seus olhos enquanto realizada a árdua tarefa. Usagi, por sua vez, sofria o equivalente de seu amado. Não lhe era agradável abandonar uma amiga.
Mas mesmo ela não conseguia querer jogar todo o esforço dos Destiny Kishi para o alto e usar a sua própria vida para que Kyn sobrevivesse. Ela não era capaz de tentar manchar a honra deles. Ela ainda se lembrava do olhar de Chronos durante o feitiço que conjurava... um olhar de Orgulho.
Os Destiny Kishi tinham Orgulho em estar ali naquele instante, um orgulho que somente poderia ser explicado pelo olhar. Um olhar que transcendesse as barreiras e os limites da física e da magia, um olhar de plena vitória. Algo que ela jamais imaginaria ser capaz de ser reproduzido num olhar, num único instante.
Entretanto, aquela era a verdade, e ela era incapaz de estragar aquele olhar. Saindo ao lado de seu Mamo-chan, Sailor Moon dava as costas, pela primeira e mais dolorosa vez, a uma amiga. Suas lágrimas seguiram-se com as de Tuxedo Kamen, mas ela não chorou.
Ela devia ser forte... como eles haviam sido.
No salão então restavam apenas três pessoas. Kyn, graças aos esforços de Ami em manter-se junta à irmã, estava agora deitada no meio do salão. Uma luz mórbida e quase etérea brotava do teto, como um sinal da conclusão da reestruturação do tempo. Já não haviam mais sinais dos cristais, excetuando as próprias paredes carcomidas pelo desgaste do tempo e da erosão.
Todavia, a luz iluminava o corpo da Destiny Kishi como um holofote. Um espetáculo apenas visto por dois pares de olhos. Um pertencia a Chronos. O outro, pertencia à pessoa que mais se mantivera neutra durante toda aquela dura batalha. Um par de olhos rubros.
Chronos adiantou-se à figura de Kyn, seus olhos demonstravam o claro cansaço do feitiço e que havia realmente gasto boa parte de sua energia. Se agora ele conseguia andar, era um milagre de sua própria determinação. Paolla sabia daquilo perfeitamente, embora não conseguisse sequer sentir as gotas de sangue que o selenita derramava sobre seu corpo.
Os ferimentos em seu coração provocados por Art ainda eram presentes em Chronos, tinha ele razão em não querer mais olhares... mas era ele quem agora olhava de uma forma diferente para Kyn. Um olhar de aprovação.
- Yatta... - sussurrou Martin, sua transformação se revertendo e seus olhos tornando-se mais úmidos. - A Linha do Tempo foi restaurada.
- Hai... - pronunciou Paolla, sua transformação desaparecendo com seu esforço em permanecer viva. Ela sorriu, pouco antes de sentir todo o seu corpo se paralisar. - Sayonara... MADS-tomodachi...
Martin Siu, a.k.a. MADS nada disse. Como anteriormente dito, ele não iria dizer 'Adeus'. Ele não disse quando a garota estava no hospital e não seria naquele momento que diria. Ele ainda tinha esperanças de que todos ainda viveriam. Chronos sabia que Art não teria feito tudo o que foi feito se não pudesse ao menos manter a pessoa que amava viva depois de tudo aquilo.
Art podia ser um louco ao arquitetar aquele plano, mas ainda era um apaixonado. E era nisso que Chronos depositava suas esperanças. Num amor doentio, mas sincero e verdadeiro.
- Ainda não é tempo de despedidas... - declarou ele.
Palavras tão antigas quanto o Tempo voltavam a borbulhar na sua mente, a voz calma e suave de Chronos tornando-se uma só presença em seu espírito, enquanto uma estranha aura branca envolvia o brasileiro. Martin sabia o que queria que fosse feito. Chronos sabia como fazer.
E Pluto Destiny Kishi tinha sua própria essência para realizar a tarefa. O par de olhos rubros então se manifestou, sendo incapaz de se esconder da intensa aura. Seguindo o par de olhos rubros, cabelos tão negros quanto o ébano revelavam-se das sombras. Repicado, o cabelo estava preso por um pequeno rabo-de-cavalo na parte inferior da cabeça. Os olhos rubros eram vivazes e dotados de uma determinação fora do comum.
E o sorriso... era o mais belo que Chronos veria em toda a sua vida.
Kibakan Tsuyu apenas conseguiu se maravilhar diante da manifestação máxima de Pluto Destiny Kishi. Mas ela sabia o que aquilo poderia custar. E desafiando o tempo e o espaço, a eleita de Sailor Pluto correu. Ela era também uma peça do Tempo... e uma peça ativa.
Pluto Destiny Kishi, no entanto, parecia não perceber a presença de alguém tão especial para ele. Saltando para o ar, ele parou a alguns metros, seu olhar fixo agora na forma que o holofote natural iluminava. A guardiã tentou interferir, mas sabia que nada iria impedir Chronos de cumprir com sua palavra. Nada poderia...
- Pluto... - começou a dizer o brasileiro, a Silver Pen aparecendo uma vez mais em suas mãos. - ... Destiny... - continuou Martin, seus olhos perdendo a própria noção do tempo e do espaço. - ... POWER!!!
A seqüência de transformação que se seguiria não ocorreu, no entanto. Seu corpo brilhava como o palco de uma batalha de luzes. Púrpura e branca, ambas as cores se fundiam, mesclavam-se e digladiavam-se. Num átimo de seu esforço, veio então a dominação completa. Uma esfera de energia formava-se no espaço entre as mãos abertas de Chronos, que já não mais enxergava.
- Jikan no Hizumi TAI!!! - gritou ele, a esfera então engolindo o seu punho direito. Em seguida, o Destiny Kishi mergulhou na direção de seu alvo.
Os olhos de Kyn já se fechavam para o mundo, e sua despedida já havia se concretizado. A última lufada de ar em seu peito abandonava seus pulmões, que não mais respondiam ao chamado do fluido vital. Olhos castanhos, quase negros como a morte, fechavam-se para nunca mais abrirem.
Porém Chronos não permitiria aquilo. Num instante quase crucial, a esfera cresceu, engolindo a Destiny Kishi por inteiro. Pluto Destiny Kishi foi arremessado para trás, devido ao seu próprio feitiço. Assim, um feixe de luz quase líquido seguiu o rastro de seu punho. Com os pés no chão, a consciência de Martin voltava ao corpo, enquanto seus dedos cortavam sua relação física com a esfera multicolorida.
Dentro da esfera, estava cumprida a palavra de Chronos. Sua honra não seria manchada, tendo ele realizado seu juramento mais precioso.
Nunca abandonaria seus amigos.
- {Até logo, Paolla...} - sussurrou Martin, caindo finalmente aos braços de Morfeu. Seu corpo estava pesado e não havia mais a necessidade de permanecer utilizando sua própria essência.
E apenas um par de olhos onipresentes em sua vida foi capaz de discernir o que acontecia. A manifestação máxima do Destiny Kishi havia também derrubado a última resistência do local. Um tremor do chão revelou isso àquele par de rubros olhos. Não levou muito tempo até ela alcançar o corpo de Pluto Destiny Kishi, ou sequer hesitar para levá-lo consigo. No entanto, ela maravilhava-se com a esfera diante de si, que alcançava até mesmo o teto do salão.
Nisso, as paredes começaram a ruir. Era o sinal de que os novos tempos haviam chegado, de que havia agora um marco dentre os Destiny Kishi. "Para que haja o novo, o velho deve ser destruído." era a frase tantas vezes dita pela Sensei, por sua mãe. Sailor Pluto teria sentido orgulho de seu filho se estivesse presente para observar o marco da Linha do Tempo.
Mas Chronos sempre daria o máximo de si, até o último instante... O juramento de Ailler não havia sido presenciado à toa pelo filho da Guardiã do Tempo. E o líder dos Destiny Kishi teria perecido, não fosse pela ação de Kibakan Tsuyu...
... também conhecida por Jennifer Kanotori.
Página integrante da Jikan no Senshi Destiny Kishi
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