Tempestade de Ilusões
by
Ami Ikari & X/MADS!

Capítulo 17: I Can Get You - You Can Get Me

"Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis elementares do Universo - o único caminho é o da intuição."
-= Albert Einstein =-

      Dias se passaram como folhas ao vento. A ausência de Martin já estava se prolongando acima da tolerância de qualquer um, assim como a de Ricardo. Nenhum dos dois havia sido visto desde que Paolla 'renascera' como Haru da Casa de Saphir, como assim ela indicava. Por outro lado, a garota estivera bem ocupada naqueles dias, tendo pouco tempo para se preocupar com os dois brasileiros... ou ainda encontrar os outros dois que haviam recentemente chegado ao país do Sol Nascente.
      Explicar, sem dúvida, era a mais penosa das tarefas existentes, principalmente quando não se sabia o que deve ser explicado. Quase uma semana e ainda parecia que nada havia sido explicado. A primeira coisa que fizera havia sido repetir o juramento que Fate a obrigara a recitar... não que fosse tão leal assim, porém explicava seus motivos para não dizer muito.
      Eles compreendiam, ou pareciam compreender, a palavra e a honra já tendo sido dadas. Revelar daquela forma a sua identidade havia sido um jogo perigoso, ela admitia agora. Porém, se não fizesse de alguma forma, talvez agora estivesse a sete palmos debaixo da terra. Mas a maré estava a seu favor ainda. Paolla sabia, bem no fundo de seu coração, que seus novos amigos acreditavam nela. Acreditavam em Paolla Limy Matsuura. E essa era a sua única forma de reverter a sua situação com eles.
      Kyn era apenas uma desconhecida que vagava pelas lembranças de Saphir. Uma infância em conjunto não adiantava muita coisa quando a outra estava ocupada demais exercendo seu treinamento como a Senshi de Mercúrio. Haviam se distanciado muito, ainda que a promessa de nunca se abandonarem fosse sempre cumprida em seus corações. Não importava a distância, estariam juntas.
      E foi nessa promessa que Paolla apostou sua vida. Ela percebia agora que Satori Ryu havia usado sabiamente a sua posição, demandando sempre as respostas que queria e respeitando as que entravam em conflito com seu juramento. Por mais importante que fosse a urgência, a Destiny Kishi recusava-se a quebrar seu juramento. Era uma questão de honrar sua própria palavra. De não se tornar no que Kare já demonstrava ter se tornado.
      Claro, isso acabou rendendo alguns fatores estranhos ao seu redor. A começar que Ryu a obrigou a ficar no Templo Hikawa, assim como a maioria dos selenitas. Com exceção das Senshi, estavam todos sempre presentes em algum lugar do Hikawa Jinja e sob a supervisão de alguma outra pessoa. Tudo parecia o cenário de uma guerra, em sua opinião.
      Moon Dragon parecia estar preocupado demais, já tendo revelado que não sabia o que esperar de uma pessoa que tinha a capacidade de observar o Tempo. Principalmente quando Fate provavelmente estava morta e que a Linha Temporal que os Destiny Kishi prezavam tanto em preservar estava, literalmente, numa bagunça. Ele não escondeu nenhuma das suas conclusões para o grupo, o que acabou rendendo muito para o consentimento de todos no plano dele.
      Deveriam agora esperar pelos outros Destiny Kishi... que deveriam ser algum tipo de escritores, uma vez que certas coisas nunca mudam. Kyn conseguira dizer levemente quais eram aproximadamente os estilos de cada um deles, mas era algo tão vago que poderia ser qualquer escritor do mundo. E ainda que fizessem a mais complexa busca no novo banco de dados de Ami, incrementado com o acesso remoto a Maboroshi, eles teriam uma lista de suspeitos maior do que o número de bactérias por centímetro cúbico de ar.
      Descobrir o que poderia causar o Despertar era algo que Luna e Artemis estavam investigando durante aqueles dias. Sem sucesso até o momento. A Central parecia ter sido desativada e tinham que recorrer às suas próprias lembranças e algumas experiências. Kaya e Lockheed... hmm... onde estavam esses dois? Bem, Chris, por outro lado, estava avidamente procurando pelas possíveis entradas ao Salão Prateado...
      As demais Senshi foram forçadas por Ryu a participar em mais uma sessão de 'treinamento' e, se continuassem naquele ritmo, estariam cansadas caso Kare aparecesse naquelas horas, o que levou Paolla a refletir naquele instante. Sentada próxima à janela de seu novo quarto, ela observava o bosque com cautela, como se algo púrpura fosse brotar de lá a qualquer instante.
      Depois de toda aquela movimentação e um ataque quase que diário de pingüins e tartarugas sádicas e vingativas... aquele silêncio e falta de ação repentinos eram fatores que preocupavam não apenas a Destiny Kishi, mas quase todos ali presentes. A brasileira recorria de tempos em tempos às suas lembranças, tentando se lembrar do que Kare estava a planejar.
      Acima de qualquer coisa, seus pensamentos eram dirigidos para o que Kare viria a fazer. Ela estava certa de que Art, se fosse agir, iria ser apenas no momento apropriado, quando todos estivessem no seus limites físicos e mentais. Ele atacava como uma serpente, paciente à espera do momento de seu bote. A analogia era perfeita, considerando seus olhos esmeraldinos e quase ofídicos. Por outro lado, Paolla queria acreditar que fosse apenas Kare a realizar aquelas atrocidades.
      As pistas deixadas pelos ataques, no entanto, deixavam claras evidências para Kyn de que havia ainda um outro Destiny Kishi a auxiliar Kare. Possivelmente, era Neko. Esta certamente não apareceria. Dentre todos, ela era a que tinha a natureza mais reservada e dificilmente atacaria diretamente. Ela era muito mais o tipo de pessoa que ficaria a observar e analisar uma batalha... e também era a pessoa com quem Kyn dividia as responsabilidades na equipe.
      Kare, por sua vez, era a pessoa perfeita para combate, apenas sendo ultrapassada por Silver Sky e Moon Fox. Aquele talvez fosse o motivo mais forte dela ter sido a única a aparecer diante deles. E o mais perigoso de todos... Kare não teria remorsos em estragar um plano, caso a oportunidade única de eliminar um inimigo estivesse ao seu alcance. Muito menos em matar as pessoas que partilharam boa parte de sua dor e sofrimento nos treinos.
      Ela, dentre os três, era a única que irritava Mercury Destiny Kishi. Era imprevisível, como se fosse regida pelas suas emoções e nada importasse a ela a não ser seguir as ordens dadas a ela. Kare era... era... era quase a personificação da essência do Tempo, obedecendo quase que cegamente as ordens da Guardiã do Tempo. Simultaneamente, essa era a pior descrição que se poderia dar a ela. Justiça seja feita, Kare também era a pessoa mais capaz de realizar todas as tarefas por si só.
      Por outro lado... por outro lado... ela parecia quase escrever como Chronos. Quase como se quisesse imitar seu estilo, algo quase impossível. Era quase tão caótico quanto a personalidade de Kare. Quase tão indefinido. Morte espalhava-se por todas as linhas e, enquanto Chronos preocupava-se com a ascensão das emoções e de objetivos maiores, Kare preocupava-se com o aprofundamento psicológico de cada um dos envolvidos. Quase como se quisesse conduzir essas pobres almas ao seu derradeiro fim, ainda que ela tivesse que se colocar na própria história para isso ocorrer.
      Não... a comparação seria a mesma tentativa de aproximar a sua própria escrita com a de Aleph ou de Firebird. Era uma besteira pensar naquilo. Porém, era evidente que a reflexão servira para um propósito. Paolla estava mais confidente a respeito da falta de ataques... Kare deveria estar planejando levar os nervos de cada um, literalmente, ao espaço.
      Quando a situação começasse a ficar mais crítica, ela surgiria repentinamente para matar mais alguém e abalar definitivamente a moral do grupo. Isso talvez os levassem a obrigá-la a revelar seu pequeno segredo e ela agora deveria decidir sobre a importância do juramento. De um lado, ela não queria realmente desacreditar em tudo que lutara por. Não queria que fosse obrigada a quebrar uma promessa. Do outro lado da moeda, ela também não queria que fosse Ami a próxima vítima.
      - Uma moeda por seus pensamentos? - perguntou uma voz, assustando Paolla e quase a fazendo cair do batente da janela.
      A garota recuperou logo seu equilíbrio, observando quem a chamara tão repentinamente. Saphir... quer dizer, Ami estava ali na porta do quarto, levemente ruborizada por esse incidente e logo pedindo desculpas. Paolla considerou por um breve instante sobre essa mudança de comportamento da Senshi, mas não conseguia encontrar nada que a impedisse de agir como Saphir costumava fazer com sua irmã caçula.
      Isso, é claro, estava começando a mostrar alguns inconvenientes embaraçosos que Murphy devia estar orgulhoso de ter criado. Em especial o fato DELA agora ser a mais velha e que era ELA é quem deveria estar cuidando da mais nova, isto é, de Ami. Por outro lado, Ami logo refutara aquilo, dizendo que ela era quem tinha maior experiência naquele processo de reencarnação e que estava mais ciente da verdade sobre os Elementos, sua pesquisa mais recente.
      O problema para Paolla era aceitar aquilo como verdade. Porém, isso não a impedia de se irritar com um 'Limy-chan' sendo proferido de tempos em tempos ou de Ami praticamente comportar-se como uma babá sua. Por outro lado, Chris estava se divertindo TANTO (aquele sádico!) com essa situação que havia praticamente se esquecido ou talvez preferisse ignorar o fato de ser da mesma equipe que Kare participara.
      - *suspiro* Está tudo bem, Ami-chan... - disse Paolla, antes que esta viesse com meia dúzia de termômetros assassinos na sua direção. Uma dose extra da 'Ami do Hospital' e Paolla decididamente iria preparar suas malas para a sua viagem de volta ao Brasil.
      - Alguma coisa está lhe preocupando? - perguntou Ami.
      - Só estava pensando... tentando descobrir o que teria acontecido para Kare agir dessa forma. - respondeu Paolla, seu olhar se perdendo na dimensão do quarto. - O que levaria os outros a permitir que ela fizesse isso. Ou o porquê de tudo isso estar acontecendo...
      - Nada a ver com esse cristal? - perguntou Ami em seguida, erguendo uma sobrancelha.
      Esse ato foi repetido por Paolla, seguido por um sonoro "QUE CRISTAL?!?!" por parte da brasileira. Seus olhos castanhos e surpresos logo encontraram em cima de sua cama o objeto questionado por Ami: um pequeno cristal num azul transparente, perfeito em sua forma. Um prisma hexagonal reto, com duas pirâmides em suas extremidades.
      "O diário de Kyn?!?" surpreendeu-se Paolla por saber o que aquilo era.

***
      Durante as nossas vidas existem vários momentos. Não importa quão sutis tenham sido, nem quantas vezes tenham aparecido. Mas em nossas vidas existem momentos. Alguns deles são especiais, enquanto outros são apenas fruto do cotidiano. Entretanto, um bom observador notaria que todo momento é precioso. Todo momento era especial.
      Para um apaixonado, o melhor momento é ao lado da pessoa amada.
      Para um ser vingativo, o melhor momento é com um coração em sua mão.
      Para todos existe um melhor momento. Um que parece ser maior do que qualquer outro. Ainda que limitado pela ilusão do que nossos olhos conseguem enxergar, esse sempre será o melhor momento. Ainda que essa ilusão dure apenas por um instante, aquele instante foi o suficiente para aquele ser o melhor momento de sua vida.
      E aquele momento de paz estava sendo exatamente o melhor momento de três pessoas. O mundo não era um lugar tão negro quanto alguns podiam dizer, bastando apenas um pouco de boa vontade para observar melhor na névoa da desconfiança. Essa boa vontade era o suficiente para iluminar pela densa névoa e revelar o lado que muitos tentam esconder. O lado da ausência.
      A ausência sempre tem dois significados, assim como a ausência de tudo e a ausência de nada podiam significar a mesma coisa ou terem um significado bem oposto. Olhar para a ausência era como olhar para um mundo novo. Ten'ou Haruka, naquele seu melhor momento, observava a ausência ao lado de Kaiou Michiru, que também estava em seu melhor momento.
      Ambas as garotas observavam a ausência da adrenalina em seus sangues. Não uma ausência qualquer... depois de alguns anos acumulando experiências inacreditáveis e surreais, era estranho voltar a olhar para o mundo com os mesmos olhos. E por não olharem com esses mesmos olhos de outrora, elas não conseguiam dizer o que havia de tão diferente.
      Ao mesmo tempo, sabiam dizer perfeitamente. Sentiam a ausência de seus amigos, assim como a ausência das aventuras. Bakemonos, youmas, aliens e tantas outras criaturas que encontraram durante aqueles anos; um seguindo após o outro, um demônio atrás do outro e uma nova maneira de olhar o dia a cada vez que o Sol se levantava. E estar sempre a acordar com o Sol na mesma posição que costumava estar durante todos os dias do ano era algo... comum.
      Similarmente era o restante do dia. Mas a aurora sempre haveria de ter um significado diferente. Naquela manhã, o sentimento não havia sido diferente. Pelo menos, não deveria. Entretanto, Ten'ou Haruka, também conhecida por Sailor Uranus, havia notado uma diferença. Uma diferença que perdurara por alguns meses, mas que apenas naquele dia ela notou.
      Era uma diferença. Uma ausência a tudo que ela estava acostumada. Descobrir uma ausência talvez seja uma tarefa tão difícil quanto encontrar algo que está acrescido no seu dia-a-dia, como Haruka tornou a observar enquanto seu dia passava. Encontrar Michiru era parte desse dia-a-dia, e caminhar com Tomoe Hotaru e a garota de seus sonhos era a melhor parte desse dia. Pensativa, porém, ela logo notou a diferença.
      A ausência. Difícil era de acreditar, mas a ausência que estava notando não era algo tão trivial quanto parecia. Não era a ausência de Meiou Setsuna, a Guardiã do Tempo que sumira depois do 'Evento'. Mesmo porque ela já era ausente em sua natureza misteriosa. A líder das Outer Senshi, entretanto, nunca havia falhado com seu dever.
      Alguns meses atrás, isso teria feito uma grande diferença no seu modo de vida. Mas Ten'ou Haruka dificilmente teria abandonado sua missão, seja essa qual fosse. Ao seu lado, Kaiou Michiru agiria sempre ao seu lado. Sempre com o mesmo objetivo que ela. Todavia, aquilo não importava tanto quanto a ausência. Levemente sorrindo para si mesma, Haruka ergueu seu rosto, encontrando o Sol a despontar no céu.
      Ela havia sido a ausência. Fazia muito tempo que ela não conversava com as Inner Senshi. Muito, muito tempo. E não as via desde que Juuban High School havia sido demolida. Ela se lembrava muito bem daquela área de sua vida, assim como tantas outras experiências que marcaram a sua vida como Outer Senshi. Sabia também que elas não iriam procurar a ajuda delas... não enquanto Satori Ryu estiver por perto para orientá-las o melhor possível.
      Só que falharam ao não perceber que Satori Ryu já não era o mesmo desde o 'Evento'. Que ele agora também tinha problemas a tratar. Problemas pessoais que necessitavam de tempo para fechar as feridas. Ainda que suas palavras fornecessem uma sabedoria por trás delas, Haruka sabia que tinha sido sua ausência que havia colocado tanta responsabilidade no Dragon Kishi.
      Agora, notava ela como a guerreira de Urano, ele estava muito mais confuso que anteriormente. Seu pensamento o levava a dizer conclusões mais tardias que antes. Conclusões que poderiam vir a revelar o problema que tentava solucionar sozinho. "Mas nunca esteve sozinho..." adicionou Haruka aos seus pensamentos.
      Mas também era-lhe claro agora que havia um motivo para a sua ausência. Olhando para baixo e afagando os cabelos arroxeados de Sailor Saturn, ela olhava para uma das suas razões em querer se distanciar. A outra razão caminhava ao seu lado, silenciosamente seguindo o mesmo caminho escuro da incerteza.
      Uma incerteza que nasceu em seu coração no minuto em que reconhecera Seph. Apenas tendo comentado com Michiru sobre o fato, Haruka tinha poucas dúvidas de que Seph fosse aliado das Senshi. Um jovem gênio dos cristais, ele catalogava mais rápido que qualquer um as mais de setecentas variedades de cristais, assim como suas utilidades. Ele, além disso, era o filho de comerciantes bem quistos por sua família na época do Milênio de Prata.
      Porém, o que ele fazia com aquelas roupas e se identificando como 'Uranus Destiny Kishi'? E ele era um selenita reencarnado ou um sobrevivente da Queda? As perguntas não foram respondidas pelo espelho de Michiru e Haruka sabia que sua espada não traria as respostas do rapaz. Todavia, isso não impedia que fosse trabalhar sobre o assunto.
      Pesquisando nas suas memórias e com a ajuda de Michiru, Haruka identificava-se cada vez mais com Sailor Uranus. Com a Senshi de Urano. Por outro lado, as pesquisas levaram a pouco avanço, em especial por não serem mais do que meras lembranças de um passado BEM longínquo.
      - Ainda pensando nesse assunto? - perguntou a garota ao seu lado.
      Haruka esboçou um sorriso, confirmando com um gesto de sua cabeça. Ela suspirou em seguida, tentando evitar mencionar a frustração com aquele avanço tão lento. Pior também era estar consciente de que nada podia fazer para acelerar o processo ou conduzi-lo da forma que lhe conviesse.
      - Não apenas a presença dele me incomoda, como também a possibilidade de muitos ainda estarem por aqui. - respondeu Haruka, segurando firme a mão da namorada. - Muitos como nós. Parte do povo que juramos um dia defender e proteger... e se aquela garota é uma de nós, não sei se conseguiríamos... se conseguiríamos... é difícil. - terminou ela, frustrada em sequer conseguir completar a frase.
      - Não importa quão dolorosa seja a missão, nós sempre conseguimos alcançar o sucesso. - disse confiante a Senshi de Netuno. - De uma forma ou de outra, o objetivo sempre é alcançado.
      - O que me preocupa é não saber se existe um caminho mais fácil.
      - Os caminhos mais fáceis nem sempre são os menos dolorosos. - disse uma terceira voz, assustando o pequeno grupo de Senshi. - Tampouco são os caminhos que trazem sabedoria e conhecimento.
      Olhando na direção de um beco escuro, Haruka tentava enxergar melhor a figura que pronunciara aquelas palavras. Era claramente uma voz masculina, adolescente. Ao mesmo tempo, o tom de voz era tão familiar e misterioso quanto poderia ser da Outer Senshi que faltava naquele momento. Não fosse pelo fato de ser masculina, Haruka teria pensado se tratar de Fate.
      Mas não era a Guardiã do Tempo. E tampouco deixava de ser familiar. Saindo das sombras do beco, traços de uma figura encapuzada num manto negro se formavam. Duas linhas verde-escuras sinoidais (meio período defasadas, se é que isso importa aos fanáticos de matemática por aqui) bem finas marcavam as bordas do manto, com exceção do capuz negro que cobria sua cabeça por completo. Impedindo que seu rosto fosse visto, o garoto não era mais alto que Haruka, e sequer parecia uma ameaça para as três.
      Haruka tentou se aproximar do garoto, mas ele logo a deteve com um gesto de sua mão direita. Sem energia ou qualquer efeito pirotécnico, mas apenas com um gesto simples que pedia a atenção da Senshi. Sem saber direito o porquê, Haruka resignou-se em respeitar a identidade do estranho. Hotaru, por outro lado, estava um tanto assustada e se colocara atrás de si, segurando firmemente em seu corpo.
      Michiru, porém, foi mais atenta. Ela observara no gesto a oportunidade de conseguir uma informação interessante. Havia um anel no anular que chamara muito a sua atenção. Um anel formado por uma metade dourada e outra prateada, que se fundiam numa pequena placa oval de cristal. Algo bem incomum, ainda mais considerando os filamentos de esmeralda a formarem o símbolo de Plutão na dita placa.
      - Quem é você? - perguntou Haruka, agora notando o anel.
      - Quem eu sou não importa no momento, Sailor Uranus. Mas em três dias, as Senshi precisarão de sua ajuda. - respondeu o garoto, gesticulando para que não se aproximassem. - Isso é tudo que precisam saber.
      Em seguida, a figura correu para as sombras. Haruka não havia ficado atrás, parada e abobalhada. Ao contrário, como parte de sua natureza, ela correu atrás do desconhecido. Entretanto, a 'perseguição' durara tão rapidamente quanto a 'conversa': o estranho não mais existia e tudo o que Haruka conseguira havia sido um pedaço da manga do manto.
      - Chikuso... - murmurou a Senshi de Urano. - Ele escapou.
      - O que vamos fazer? - perguntou Michiru, logo se aproximando da garota. - Esperamos?
      Haruka apenas respondeu com um aceno de cabeça. Seus olhos não abandonaram as sombras por onde a figura desaparecera, como se esperasse que surgisse em seguida no mesmo lugar.
      - Hai. - confirmou Haruka. - Vamos seguir as ordens do emissário de Fate. - concluiu ela, analisando o tecido em suas mãos.
      Michiru observou o que Haruka conseguira, logo chegando à mesma conclusão que Haruka. Eram poucas as pessoas que haviam visto um tecido tão distinto quanto aquele e se esquecido. A figura do encapuzado logo então foi reconhecida por ela, sendo de uma memória enterrada juntamente com o Milênio de Prata. Do tempo em que Fate se preocupava com a movimentação nos arredores do Milênio e das raras vezes que usava um emissário.
      Um garoto de feições muito semelhantes àquele que aparecera.
      - Estou com medo... - declarou simplesmente Hotaru, o estranho tendo despertado um sentimento que há muito não se revelara. Um pesadelo que não se acabara com a infância de Sailor Saturn.

***
      E embora as pessoas possam ter diferentes reações quando confrontadas com o desconhecido, havia uma em especial que não estava a ter receios de seu próprio destino. Edson Makoto Kimura não se incomodara tanto com o desaparecimento de Daniel 'Tolaris' por muito tempo. Também já estava se esquecendo da preocupação que o trouxera ao Japão e o sumiço de brasileiros em parques. Pingüins, por outro lado, não eram algo a ser esquecidos tão facilmente. Tampouco uns com foguetes nas costas.
      Porém, como Edson não era o tipo de pessoa pessimista e cultuadora de Murphy (ao menos, não num nível como MADS), ele sabia realmente aproveitar da melhor forma possível os eventos ao seu redor. Por exemplo, se haviam vinte pessoas se espremendo para jogar Final Fantasy VII, ele era uma dessas vinte pessoas e estaria deliciando-se em dar palpites e dicas para que logo chegasse a sua vez. E quando esta chegasse, colocaria em prática todas as suas teorias no jogo.
      Agora, se estava no Japão, equipado com três excelentes dicionários, hospedado num dos MELHORES hotéis de Honshu com TUDO PAGO e com vinte mil ienes semanais a aparecerem misteriosamente numa conta ainda mais misteriosa sua... bem, quem se importaria com um brasileiro trancafiado em seu quarto de hotel a jogar alguns dos vários jogos de RPG existentes na Terra do Sol Nascente? Certamente que não seria o gerente do hotel que estava a lucrar com seus extravagantes (e tudo previamente pago para Edson) pedidos do maior vício existente no mundo: serviço de quarto.
      Sendo assim, Edson tinha realmente poucos motivos para não acreditar que aquele fosse o seu Melhor Momento (tm) da vida. Aliás, quem se importava com mistérios de um filantropo anônimo? Apenas por alguns dias, Edson ficou desconfiado... mas logo a falta de destino e excesso de tédio logo o obrigaram a se envolver com aquele estilo de vida altamente perigosa.
      Edson, no entanto, servirá como um dos vários exemplos de Murphy nesta história. Perceba que tudo está indo perfeitamente bem para ele, embora hajam algumas coisas estranhas e misteriosas que não estão sendo dadas muita atenção. Muito natural, considerando que preocupar-se demais não leva você a lugar algum. Muito natural também que tudo que está em excesso faz mal.
      Alegria em excesso então começará a fazer mal a Edson. Essa questão se complica, menos para Murphy. Já que em algum momento, as coisas iriam dar errado e que o brasileiro estava muito preocupado com os acontecimentos... havia uma coisa para Murphy fazer. Deixe sua vítima pensar então que as coisas estejam revertendo. Que tudo então pareça ser uma imagem do próprio paraíso terreno. E então, quando menos esperar... faça tudo virar ao avesso.
      Mas não de forma que ele perceba e diga 'Céus... Murphy atacou de novo'. Não, deve ser mais sutil... sutil como o próprio Murphy. Faça algo que não seja esperado, algo que faça arrependimento ser apenas um eufemismo de suas ações. Ao mesmo tempo, não faça de forma que seja algo que leve ao suicídio. Assim, você entenderá um dos vários meios de Murphy. Claro, ele pode fazer ainda algo que você esperasse que acontecesse mas que não acreditava que fosse acontecer... afinal, ele quer fazer algo inesperado, não? Além disso, já faziam dois dias que Edson pronunciara sua sentença de morte... e também dois dias que a repetia.
      "Nada vai da errado, nada vai dar errado... la-la-la... Toma isso, Weapon desgraçado!" pensava ele, quase derrubando o PlayStation do lugar. O que realmente aconteceu em seguida e pifando o jogo de dois dias de Edson Makoto Kimura. Como se nada disso fosse o suficiente (nada é o suficiente para Murphy, crianças), o CD do jogo escapou de sua trava de segurança e praticou um pouco de aerodinâmica.
      Em outras palavras, quase acertou o pescoço de Edson. Nisso, numa onda maciça de azar e gargalhadas de Murphy, o brasileiro nissei foi obrigado a olhar com olhos MUITO surpresos para o que quase aconteceu. Assustado, foi correndo buscar um copo d'água para si... quebrando a torneira em seguida. Seu pequeno paraíso terreno foi aos poucos se tornando seu inferno terreno. Caso Daniel 'Tolaris' estivesse ali para rir com Murphy, talvez adicionasse que faltaria que Chibiusa caísse na cabeça de Edson.
      O que, de fato, aconteceu.
      - BAKA! - gritou a garota de cabelos rosados, acertando com Luna-P a cabeça daquele que confortou sua aterrissagem. - E agora?... preciso achar o tempo certo para salvar okaachan. - disse ela, um tanto pensativa.
      Claro, momentos antes, também pronunciara a frase de azar instantâneo. Não demorou muito até que desaparecesse por completo do quarto, como se tivesse sido uma aparição de um mundo que teria acontecido se não fosse a ação de um anjo negro. Já Edson, ao despertar, teve que encontrar diante de si um quarto em processo de inundação...
      ... e uma estranha esfera de cristal dourada na sua frente.

***
      Naquele mesmo instante, embora fosse sábia o suficiente para evitar falar a frase proibida da vida e evitar uma onda intensa de azar, Paolla Limy Matsuura estava a observar incrédula para o cristal que se materializara em seu novo quarto. E talvez um pouco mais incrédula ao reconhecer o objeto como sendo o diário de Kyn.
      Por outro lado, a brasileira tinha uma crescente experiência com o mundo dos fanfics. Talvez não tão grande quanto a de CERTAS pessoas, mas razoavelmente grande. Nessa sua larga experiência, porém, não havia nada semelhante a 'o que fazer quando seu mundo tornar-se REALMENTE aquele do fanfic', mas haviam similares. Em especial os Self-Insertions.
      Claro, nenhum NESSE nível no fandom brasileiro... e MADS iria certamente começar a reclamar que realmente não haveria muita coisa com que comparar o fandom brasileiro, dada a sua quase estática produção lenta de fanfics e poucos votos ao Torneio NDK de FanFictions (aliás, não se esqueça de votar neste fanfic, sim? ^^). Porém, era possível imaginar o que aconteceria. Além disso, ela era uma Destiny Kishi.
      Logo, desconfiança era sua regra dourada quando em confronto com o diário de Kyn. Seria realmente o diário de Kyn ou algo que o macabro ficwriter (ou ficwriters, por pouco que ela se importasse no momento) estaria a tentar fazer que ela acreditasse? Tudo pode se tornar uma armadilha no instante em que déjà vu's se tornam a fonte de paranóia de uma pessoa.
      Ainda olhando fixamente para o cristal, a ficwriter apoiou a mão em seu queixo, pensativa. Muitas coisas estavam acontecendo repentinamente para uma garota que, inicialmente, apenas queria conhecer a terra de seus ancestrais e comprar 'aqueles bonequinhos que juntam pó no quarto', como dizia sua mãe. Parecia que toda a sua vida estava se tornando uma saga de um fanfic, exatamente como os quais os rapazes escreviam e enviavam para que fossem traduzidos.

***
      - Gomen nasai... - ela repetiu ao fechar seus olhos diante daquele mundo de cristal prateado. - Mas não posso desistir de tudo isso. Não posso desistir... de você. - disse ela, sorrindo levemente para si mesma. - Eu não consigo viver sem vocês...
      Mais uma vez ela segurou em suas mãos o cristal, embalando-o e apertando-o contra o peito, como em uma despedida. E enfim, após alguns minutos de silêncio, Kyn dirigiu-se até o armário, onde vários vestidos estavam pendurados, aguardando o momento de serem usados. Saphir havia dito que iria para a Capital, na festa da Princesa Serenity, não era isso?
      Festas eram ocasiões que exigiam trajes adequados... embora ela não os fosse usar por muito tempo.
      Quando Kyn finalmente escolheu e colocou o vestido que iria usar para ir até a Capital, ela saiu de seu quarto, certificando-se antes de que Saphir já havia partido. Seria uma surpresa para sua irmã... assim como um dia, seria uma surpresa quando visse o seu diário.
      Ela sabia que os dias do Milênio de Prata estavam contados, mas que ainda havia uma esperança.
      E era nessa esperança que ela depositava todas as suas forças... era por crer nessa esperança que ela havia feito aquele diário.
      Ele seria necessário... no momento certo.

***
      E aquele era o momento certo. Sorrindo perante àquela que o ajudara em um momento de grande dor e dificuldade, ele sabia que havia escolhido o momento certo para reaparecer e...
      - BAKA! - ela gritou, dando um passo à frente, aproximando-se do rapaz que lá estava. - Por que não avisou que estava VIVO?!
      - Eu... não pude, Shine-hime. - respondeu o rapaz, segurando uma esfera de cristal dourado que levava pendurada ao pescoço. - Sumimasen.
      A figura de Sailor Venus, guardiã da Princesa Serenity, sempre fora altiva, cheia de confiança. Era estranho vê-la com lágrimas nos olhos, que brilhavam refletindo as luzes do palácio da Capital. Engolindo um pouco de saliva para conter a vontade que tinha de contar a ela tudo o que havia acontecido nos anos em que estivera desaparecido, Firebird olhou para o rosto da princesa de Vênus, esperando encontrar nele a mesma alegria de antes.
      Ela ficava esquisita com aquele uniforme, com corpete branco, saia laranja e laço azul, mas ele não devia estar em melhores condições, pensava o selenita, sentindo o vento lunar brincando com as faixas de tecido laranja que envolviam sua cintura e prendiam a bainha de sua katana junto ao seu corpo. A jaqueta laranja também não ajudava muito em sua aparência, assim como as botas que, sendo da mesma cor de suas calças, confundiam-se com elas.
      - Mas é sempre bom ver alguém querido de volta, Firebird. - falou uma voz masculina. - Okaerinasai.
      - Domo, Artemis-san. - sorriu Firebird, olhando para o gato branco com uma lua crescente na testa, que se aproximava do 'casal laranja'. - Agora seria melhor entrarmos, ne? Serenity-hime não pode ficar sem uma de suas guardiãs, estou certo?
      Sailor Venus ruborizou quando viu que o rapaz lhe oferecia o braço, convidando-a a entrar no salão de bailes do palácio. Ao contrário das demais Senshi, ela não precisaria entrar sozinha. Sempre alguém a acompanharia por todos os tempos.

***
      - Gomen nasai, Ami-chan. - falou uma desolada Paolla, sentando-se novamente na beira da janela, segurando em seu colo o cristal que aparecera tão repentinamente. - Eu simplesmente não sei o que fazer com isso...
      A mercuriana não respondeu, mas apenas sentou-se ao lado da ficwriter, com as mãos sobre o colo. Havia em suas atitudes algo fraternal, nada comparado à 'Ami do hospital', felizmente.
      - Limy-chan...
      "Ack!" pensou Paolla, refletindo em COMO essa fala soava infantil aos seus ouvidos. Não que não gostasse de seu nome japonês, muito pelo contrário, mas... parecia que se estava falando com uma CRIANÇA!
      - ... pelo menos você sabe O QUÊ é isso?
      - Hai. - disse a brasileira, controlando o tom de sua voz com cuidado... como se agora escolhesse melhor as palavras em relação à uma vida anterior ou tentasse descobrir qual era realmente a sua posição quanto a isso. - É o diário de Kyn.
      Ami olhou atentamente para o cristal. Não que ela duvidasse de coisas mágicas e da estranha tecnologia do Milênio de Prata, uma vez que ela mesma havia sido uma das pessoas mais expostas àquele tipo de tecnologia... mas era ainda curioso pensar em como um cristal tão pequeno poderia guardar tantas informações. Informações de uma vida inteira.
      Não demorou muito para que Ami descobrisse o que aquele cristal então significava no presente atual. Era uma vida inteira... Kyn era uma das poucas pessoas do Milênio que ela se lembrava que mantinham tal tipo de cristal de memória com tanto afinco. Muita informação deveria estar contida ali, bem nas mãos de Paolla... e ela sequer poderia imaginar o quanto ali poderia conter.
      - Uma excelente forma de recuperar as suas memórias, não acha? - Ami comentou, um tanto temerosa por não desejar apressar o processo.
      - Sim, mas...
      Paolla hesitou. Segurando o prisma, ela o observou com um olhar profundo e reflexivo. Sabia perfeitamente o que significava o comentário de Ami. Sabia também das conseqüências que aquilo traria. Uma vantagem seria a eliminação completa daqueles déjà vu's aterrorizadores. Em compensação, ela sequer era capaz de imaginar os infortúnios que aquilo levaria para equilibrar a Lei de Murphy.
      - Mas...?
      A brasileira suspirou, ponderando enquanto conversava com sua nova e recém-descoberta irmã. Sua voz obteve um tom sério e quase triste ao mesmo tempo, um turbilhão de incertezas a invadir sua mente.
      - Sinceramente, eu tenho medo do que pode estar aqui dentro. Do que pode estar registrado, de tudo. - desabafou a ficwriter, seus olhos a analisar superficialmente o objeto quase 'Cassiopéico'. - No fundo, eu não sei se quero me lembrar de tudo.
      - Você não é a primeira nem a última pessoa a ter esse tipo de medo, Paolla-san. - falou uma voz, das muitas que haviam dentro do templo nesses últimos dias, entretanto fazendo ambas as mercurianas quase caírem e a lutarem para recuperar o equilíbrio o mais rápido possível antes que algo ou ELAS caíssem.
      Levemente ofegantes, mas com os corações no lugar original, as duas viraram-se na direção da porta para ver quem estava lá.
      - {Whew... nada de youmas ou bakemonos aparecendo de surpresa, pelo menos...} - suspirou Paolla, sem perceber que estava falando em português.
      - Nani? - perguntaram Ami e Mamoru, em coro.
      - Hã?! Ai, falei em português de novo, ne? Desculpem...
      - Não se preocupe, Paolla. - riu Mamoru, entrando no quarto agora ocupado pela ficwriter. - E digo isso em relação às duas coisas, a ter falado em português e a ter medo do seu passado. Pense... não poderíamos ter vidas comuns, pacatas, caso não tivéssemos lembrado do que fomos um dia? Seríamos felizes desse modo, mas... - ele respirou fundo, antes de continuar. - ... quem pode afirmar isso? Setsuna? Acho que nem mesmo a Guardiã do Tempo seria capaz de nos dizer o que seria das nossas vidas se fôssemos pessoas comuns, como todos aqui éramos ANTES de tudo acontecer.
      - Wakarimashita, Mamoru-san. - interrompeu Paolla, pegando o cristal de seu colo. "Mas eu AINDA sei como usar isso?"
      O nervosismo na brasileira era evidente, visível pelo tremor de suas mãos enquanto deslizava os dedos da mão esquerda sobre o cristal, movimentando-os como se fosse encaixar duas peças de modo a formar uma única. Entretanto, algo em sua mente a dizia para parar. Inconscientemente, ela parou o processo, descendo do parapeito da janela e deixando o cristal novamente sobre a cama.
      Mamoru e Ami a olharam, sem compreender nada. Quando ela finalmente virou-se de frente para os dois, ambos pensaram que algo muito terrível podia estar contido naquele cristal, algo que ela não queria que fosse revelado.
      - Se quiser, nós podemos esperar lá fo... - começou Mamoru.
      - Não, não é isso. - falou a ficwriter, coçando a cabeça, levemente envergonhada. - É que...
      - Nani?
      - Eu... estou sem óculos... e não enxergo nada sem eles! - ela sorriu, fazendo os dois ficarem com gotas gigantes nas cabeças.

***
      Detalhes, detalhes e mais detalhes. Impressionante como detalhes conseguem preencher totalmente o tempo e a mente de uma pessoa, tomando inclusive o lugar de coisas mais importantes, sobressaindo e tornando-se tão importantes quanto o fato principal, ou até mais.
      Porém, nesse instante, um detalhe era o que não deixara de chamar a atenção de Daniel 'Tolaris': os olhos esmeraldinos do rapaz que estava à sua frente, com trajes semelhantes aos seus.
      "Cuidado com os olhos da serpente."
      A voz daquele que o alertara em seus sonhos ainda não saíra de sua memória, deixando-o intrigado. Não sabia ao certo onde estava, tampouco quem era aquele que estava à sua frente. Era estranho... ele o chamara de 'Aleph', não de 'Daniel' ou pelos outros apelidos que possuía. Porém, uma grande surpresa tomou conta de si mesmo quando ouviu sua própria voz dizendo palavras que não haviam passado pela sua mente.
      - Mais uma vez nos encontramos, Art.
      - Sim... mais uma vez nos encontramos. - repetiu Art, seu sorriso se tornando algo mais suave. - Já faz um bom tempo, Aleph-kun.
      - Meu nome é Daniel. - disse apenas o brasileiro, escondendo qualquer emoção em sua voz. Entretanto, não era ele capaz de esconder o seu olhar, que se estreitara na direção do jovem adulto de cabelos prateados.
      Quase a analisar, quase a tentar desvendar um mistério... seus olhos fizeram sua testa franzir diante do enigma. Era quase um jogo de olhares, do qual apenas ele participava, do qual apenas ele estava ciente. Art, como aparentemente era o nome da serpente, ficou alheio a toda a análise. E seus olhos logo revelavam a Daniel que muito ele já sabia.
      - Como quiser... Daniel-kun. - mencionou Art, novamente capaz de desviar a sua atenção de seus olhos. - Mas eu já esperava por isso.
      - Esperava pelo quê?
      - Você não é o primeiro que se recusa a aceitar a verdade. Antes de você, Daniel-kun, Silver Sky e Moon Fox não quiseram sequer ouvir o que eu tinha a falar. - disse Art antes de um suspiro reprovador. Caminhando em torno de 'Tolaris', ele exibiu um fraco sorriso. - Não sei se toda a sua memória foi resgatada, mas acho que você os conhece melhor como Hélio Perroni Filho e Henrique Loyola.
      - E eu deveria ouvir o que você tem a falar depois dos dois já se recusaram a isso? - riu Daniel, enquanto pensava no que poderia fazer diante de Art. - Aliás... o que são aqueles 'caixões'?
      - Casulos, você quer dizer. - respondeu Art, observando os movimentos de seu novo 'companheiro'. - Mas creio que poderia ouvir parte do que tenho a dizer, Aleph.
      - Eu já disse, o meu nome é Daniel... - o recém-despertado falou, sua voz saindo por entre seus dentes, cerrados pela súbita raiva que sentiu pelo selenita. - Agora, qual o VERDADEIRO motivo para ter acelerado o Despertar?!
      - A necessidade nos obriga a fazer coisas que fogem da nossa compreensão, Daniel.
      - E lá vem você enrolando de novo... custa falar objetivamente, cara?
      Art sorriu novamente, o que serviu apenas para aumentar a irritação de Daniel. Parecia que as peças começavam a formar o quebra-cabeças, trazendo à tona sentimentos que jamais julgara possuir. Sentimentos... ou lembranças de um passado há muito esquecido?
      De qualquer forma, Daniel não conseguiria responder a essa pergunta. Não com o pouco tempo que havia passado desde que saíra do 'casulo prateado'. Respirando fundo, lutando para controlar a vontade que tinha de pular no pescoço do engraçadinho que continuava a sorrir cinicamente em sua direção, Daniel 'Tolaris' relaxou seu corpo, buscando uma calma que sabia que lhe pertencia naturalmente. "Stand by.", ele ordenou mentalmente a si mesmo e já se controlando.
      - Estou pronto para ouvir o que tem a dizer... - ele falou, em um tom muito mais grave do que o normal. - ... Earth Destiny Kishi.

***
      - Não consigo... - foi a única frase que conseguiu dizer.
      - O que houve? - perguntou um rapaz alto, de cabelos pretos, que estava por perto.
      - Estou preocupada com uma coisa... alguma notícia do Martin, do Ricardo ou do hóspede de Usagi-san? - ela perguntou, deixando o cristal repousando sobre a cama novamente.
      - Iie. - respondeu uma terceira voz, feminina. - Estamos pensando ainda no que vamos fazer, se continuamos procurando ou se avisamos a família de Graminho-san que...
      Paolla abafou a muito custo um grito de espanto quando ouviu o sobrenome do 'hóspede-desaparecido-de-Usagi'. Contudo, sua súbita palidez não deixou de ser notada por Ami e Mamoru. Ela sabia que o tal hóspede era brasileiro... e que havia sido SUPOSTAMENTE raptado por pingüins, visto as penas que haviam sido encontradas no local. Porém, ela só não podia imaginar que era ELE...
      - O que foi, Limy-chan? - perguntou Ami, passando a mão na frente dos olhos atônitos da brasileira.
      - O nome do rapaz que foi raptado... o primeiro nome... - disse Paolla, quase não encontrando as palavras certas para a pergunta.
      - Usagi-san nos disse que ele se chamava Daniel, mas...
      - Chikuso! - gritou Paolla, assustando a todos. - TOLAAAAARIIIIIIS!!!
      Mamoru e Ami ficaram apenas observando a súbita reação - e mudança de humor - de Paolla. Gritando, ela encontrou um certo alívio, mas que não amenizava a preocupação. Não demorou até que tirasse os óculos e colocasse a mão sobre o rosto, apoiando o cotovelo em seu joelho. O grito havia chamado a atenção dos demais, que entraram no quarto rapidamente. Em pouco tempo, estavam ao redor da cama, onde ela havia se sentado.
      Pequenas lágrimas de revolta haviam se formado em seus olhos, escorrendo pela mão que ainda cobria seu rosto. Ela simplesmente não conseguia compreender qual a relação que seu amigo teria com os Destiny Kishi; agora eram três amigos desaparecidos. Ao mesmo tempo, os demais não conseguiam compreender o porquê de tal reação quando Ami dissera o nome do hóspede de Usagi. Afinal, quantos Daniel Graminho's existiam no Brasil? Um?
      Numa tentativa de descobrir o que estava acontecendo, Ami sentou-se na cama, ao lado de Paolla, aproximando-se lentamente. Não demorou até que os gatos guardiões se aproximassem do local, pulando na cama, o gato branco colocando a pata sobre a perna da brasileira para lhe chamar a atenção. Sua face indicava o pouco sucesso que estiveram obtendo em conseguir pistas, mas não era isso que estava refletido em seus atos.
      Ele sabia que a reação de Paolla não era como se o rapaz fosse um mero conhecido, mas como se ele fosse uma pessoa muito importante, um amigo muito próximo, alguém por quem ela se importava muito.
      - Anoo... - começou Artemis, seus olhos pacificando um pouco a garota. - Você o conhecia?
      - Hai. - ela respondeu, enxugando algumas lágrimas com a mão e controlando com custo o choro iminente. - O conheci pela Internet, assim como aconteceu com o Martin, mas com ele era diferente. Daniel estava estudando na mesma universidade na qual entrei neste ano. E conheci Ricardo pessoalmente na minha estadia do hospital.
      - Hmm... estava pensando na possibilidade deles terem desaparecido por terem alguma relação com você? - perguntou Chris, apoiando o pé na cama e roçando seu queixo com uma mão. - Pode ter sido obra daquela garota.
      - O grande problema, - interrompeu Ryu. - é que não sabemos os objetivos dela. Lembrem-se, nem temos tanta certeza quanto aos propósitos de Mercury Destiny Kishi.
      Um silêncio fúnebre e pesado caiu sobre o grupo, após a fala de Satori Ryu. Embora a maioria quisesse acreditar naquela que se dizia aliada, um grande ponto de interrogação permanecia sobre a figura de Paolla Matsuura, Mercury Destiny Kishi. Racionalmente, era a verdade. Emocionalmente, a situação era bem diferente... mas não era hora de se deixar levar pelas emoções. Todos sabiam disso.
      Todos sabiam disso. Inclusive a própria 'selenita-recém-despertada'. E foi por isso que ela se levantou da cama, pegou o cristal e começou a caminhar na direção da porta.
      - Você sabe que temos que ser realistas. - foi a única fala de Ryu, quando notou que Paolla estava se retirando do local.
      - Eu mesma não saberia dizer melhor, Satori-san. - respondeu Paolla, ao passar por ele. - Afinal, a racionalidade é uma das características mais marcantes das mercurianas.
      Ela colocou o cristal dentro do bolso de sua calça jeans e saiu da sala, sem olhar para trás. O silêncio permaneceu no quarto, pesado, até que uma pessoa resolveu falar e tirar todos de uma possível depressão silenciosa.
      - Parece que descobrimos um elo importante entre os desaparecidos, minna-san. - falou Ami, levantando-se da cama. - Temos uma pista em nossas mãos e não podemos deixá-la escapar.
      - Mas como vamos chegar a alguma conclusão somente com a informação de que ambos estão relacionados à Paolla, de alguma forma? - perguntou Rei, abraçando Chris.
      - Espere... - falou Chris, estalando os dedos. - Quando o seu hóspede chegou, Usagi? E como ele é fisicamente?
      - Anoo... ele chegou há uns quatro dias. Fisicamente... mais alto que Mako-chan, cabelos castanho-escuros, levemente encaracolados e curtos... tem olhos verdes. Não parece ser do tipo atlético e tem um olhar estranho... parece daqueles psicopatas dos filmes gaijin.
      - Então ele chegou no mesmo dia que Mo e eu. De acordo com a descrição que você me fez, ele pode ser o rapaz que estava no aeroporto quando houve o ataque dos pingüins. E, se a minha memória não me falha, ele estava acompanhado de um casal oriental.
      - Talvez eles possam nos ajudar de alguma forma. - falou Luna, percebendo onde Chris estava querendo chegar. - Temos como saber QUEM ele é?
      - Hey! Você está falando com quem pode fazer quase tudo com um computador, neko-chan! - exclamou Chris, piscando um olho. - Dêem um tempo ao Chris aqui e logo terei a informação que queremos dos computadores da JAL.
      O Dragon Kishi saiu imediatamente do quarto, ávido para pegar o seu computador e começar a 'trabalhar' numa coisa mais produtiva. Mamoru e Usagi também saíram, sob a desculpa de que deveriam inventar alguma desculpa para os pais de Usagi para justificar a ausência do estudante de intercâmbio; os outros simplesmente se retiraram do quarto para retomar seus afazeres. Artemis, no caso, para voltar a dormir.
      Em poucos minutos, Ami se viu sozinha dentro do quarto. Em silêncio, ela caminhou até um criado-mudo que havia ao lado da cama e abriu uma das gavetas. Dentro dela estavam a Cassiopéia de Tieko e os CD-ROMs do curso de Medicina da Universidade de Tóquio.
      Mesmo sabendo que entenderia muito pouco do que estaria escrito nos arquivos gravados, Ami ligou o lap-top e procurou algo que pudesse ajudá-la a aprender mais sobre a ficwriter brasileira. Só o papel de parede do Windows já a impressionou. Era uma foto tirada por Genkage e publicada na Newsweek... uma foto de Sailor Mercury.

***
      *blink*blink*
      Foi a reação de Daniel ao término do 'discurso' de Art.
      Isso queria dizer que ele estava BEM surpreso com o que acabara de ouvir. Ou talvez que nunca tivesse escutado tanta besteira junta em toda a sua vida; mas o fato dele simplesmente ter piscado, sem pronunciar UMA palavra sequer, era algo considerado GRAVE, pelo menos por Tieko e por Anne. Era um claro indício de que alguma coisa não estava bem... e não eram os parafusos que teimavam em querer pular de dentro de sua cabeça.
      - Então? - perguntou Art, os braços cruzados em frente ao seu corpo. Um sorriso ainda estava presente. - O que me diz disso?
      - Só posso dizer uma coisa, Earth Destiny Kishi. - suspirou Daniel, fazendo uma caneta prateada aparecer em sua mão direita. - Onde você deixou os manuscritos feitos até agora? Gostaria de me situar antes de tomar qualquer decisão.
      - Como quiser... - respondeu o Destiny Kishi, apontando para uma mesa no centro do salão.
      Caminhando solenemente, como nunca havia feito em seus 19 anos de vida, Daniel 'Tolaris' passou ao lado dos casulos, observando os símbolos neles gravados e dedicando uma atenção especial aos que emanavam um estranho brilho. Começando pelos não brilhantes, ele conseguiu identificar alguns símbolos; Plutão, Mercúrio, Urano e Marte, do qual havia saído. Porém, nada o preparara para o que estava para ver.
      Nos dois casulos brilhantes, haviam os símbolos da Lua e de Júpiter. E, dentro deles, ele pôde reconhecer Henrique 'Ranma' Loyola e um outro rapaz... cuja descrição batia com a que tinha de Hélio Perroni Filho.
      Engolindo em seco, tomando cuidado para que Art não percebesse seu súbito nervosismo, Daniel continuou seu trajeto até a mesa, pegando uma folha por vez para que pudesse ter mais tempo para pensar no que poderia fazer para impedir o plano maluco do que se auto-intitulava 'líder dos Destiny Kishi' e também para tirar do rosto dele aquele sorrisinho cínico e maldito...
      Mas, antes de tudo, ele precisava saber o que havia acontecido e conhecer as identidades atuais dos outros Destiny Kishi, que Art dissera saber. Ele precisava saber se algo de grave havia acontecido com alguém... e se não estava ficando mais doido do que de costume.

***
      Dizem que a vida é feita de momentos felizes e de momentos tristes. Não existiria a eterna felicidade, apenas a somatória de momentos perfazendo uma vida completa. Simplesmente porque algo sempre impediria que tudo desse certo e, neste caso, não me refiro a Murphy ou à qualquer outra 'entidade sobrenatural', mas simplesmente à ação da ordem natural das coisas ou, quem sabe, a algum distúrbio na Linha Temporal...
      "Nah, estou ficando paranóica de novo." pensou Paolla, sentando-se à sombra de uma árvore. Desta vez, sentada em SOLO FIRME.
      Tirando o cristal de dentro de seu bolso, ela ficou a fitá-lo durante alguns instantes. A coloração azul-topázio dele era maravilhosa, não havia qualquer imperfeição em sua superfície, nada. Ele era perfeito. Sim, essa era a palavra exata para defini-lo. Perfeito.
      Na mente da brasileira, duas sensações se misturavam: por um lado, o cristal era algo desconhecido, porém, também lhe era incrivelmente familiar. Como um amigo, um confidente para todas as horas e que jamais iria lhe trair.
      Que jamais iria lhe trair.
      Naquele momento, era justamente do que Paolla Limy Matsuura necessitava: de alguém em quem confiar.
      - Nessas horas... quem melhor do que uma pessoa que sempre conviveu comigo? - comentou Paolla, fazendo um movimento com a mão direita. - Mercury Destiny POWER!
      O brilho azulado saindo por entre os galhos das árvores chamou a atenção de Rei e de Ryu, que correram até o bosque. Porém, durante a curta corrida dos dois híbridos, Kyn já iniciara o processo de ativação do seu diário. As peças do cristal deslizaram e se encaixaram perfeitamente, criando um painel holográfico na frente da mercuriana.
      - Kyn! - gritou Rei, aproximando-se cada vez mais rápido.
      - O que vai fazer, garota?! - gritou Ryu, em um ritmo mais veloz do que o da Senshi.
      Momentos antes de tocar no teclado holográfico, Kyn virou-se para Rei e Ryu e sorriu, seus olhos azuis transmitindo uma estranha paz e serenidade.
      - Não se preocupem comigo. - ela pediu, sorrindo com ternura. - Com isso, poderei me lembrar de tudo... e poderei ajudá-lo melhor na sua missão, Moon Dragon.
      O sorriso e a serenidade vista nos olhos azuis de Mercury Destiny Kishi chegava a incomodar Ryu; sua Ligação estava disparando, como se indicasse que Algo Ruim (tm) estava para acontecer.
      E ele jamais poderia imaginar o quão certo estava.
      O grito que foi ouvido por todo o Templo Hikawa chamou a atenção de todos que lá estavam. Porém, embora o grito indicasse que havia algo de errado, nenhum dos selenitas presentes no templo soube dizer precisamente do que se tratava... porque aquele não era um grito comum. Era um misto de dor... desespero... medo... e incrivelmente semelhante ao choro de uma criança abandonada.

***
      Art sorriu quando viu que, mesmo de olhos fechados, Daniel estava colocando-se à mesa de escrita, ao lado de duas outras pessoas. Tais pessoas não eram totais desconhecidas para o brasileiro que se aproximava DORMINDO, o que fez com que uma delas parasse suas atividades e colocasse uma mão na cabeça, enquanto gotas apareciam por todos os lados. A outra, por sua vez, não conseguia parar de rir, embora a situação não fosse apropriada para isso.
      - Damn! Tolaris, ACORDA!!! - gritou um deles, o mais próximo do dorminhoco, colocando sua mão sobre o ombro dele e balançando-o furiosamente.
      Um tanto surpreso, Daniel abriu os olhos subitamente, como se acordasse de um pesadelo, apenas para fechá-los rapidamente, tentando protegê-los da luz repentina. Em seguida, lentamente começou a abri-los novamente, desta vez, para identificar o local onde estava e quem havia lhe acordado de maneira tão 'gentil', para retribuir o favor em outra ocasião.
      *blink*blink*
      Ele estava exatamente no mesmo lugar de seu sonho. Com a exceção de que estava sentado em uma mesa mais comprida, ao lado do primo-do-seu-primo Fernando, que havia desaparecido há dias, e ao lado de uma outra pessoa que, pelas descrições que tinha, só poderia ser H-kun. Mas o que havia passado dentro de sua mente era só um sonho, não era?
      - ... Henrique? O que está acontecendo?! - exclamou Daniel, olhando excessivamente para o rosto de Ranma, examinando-o.
      - Pára de ficar me olhando assim e presta mais atenção ao seu redor! Art fritou o resto do seus miolos? - gritou Henrique, visivelmente irritado.
      - Não era um sonho?
      - Era, Aleph... - respondeu Art, aproximando-se. - ... um sonho bem realista, não concorda? Sobre essa mesa estão os papéis que você queria examinar. Páginas cuidadosamente escritas por Kare, Neko e eu... sendo agora complementadas pelas palavras de Moon Fox e Silver Sky.
      - Então tudo o que você me disse é verdade. - falou Daniel, levantando-se da cadeira onde estava sentado. - E o que vai acontecer se eu me recusar a escrever o surgimento de Neo Crystal Tokyo?
      O sorriso que surgiu no rosto de Art não agradou nenhum dos três, principalmente Hélio, cuja expressão facial mostrava sinais de fadiga e, seu corpo, diversos ferimentos. Em pouco tempo, Daniel entendeu o motivo do sorriso cínico e do estranho brilho dos olhos esmeraldinos de Art... daqueles olhos de serpente.
      - Gotcha... - murmurou Art, a única coisa inteligível que Daniel conseguira ouvir antes de um grito animalesco e insano, repleto de dor e fugindo de qualquer coisa que pudesse ser dita senciente ou racional. Demorou pouco até descobrir que tratava-se de seu próprio grito.
      Um choque, vindo de algum lugar de sua cabeça, percorreu seu cérebro, causando-lhe uma dor que jamais imaginara um dia sentir. Parecia que toda a energia existente no universo estava se concentrando em um único ponto, descarregando toda a fúria dos elementos de uma só vez.
      Nos raros momentos em que conseguia abrir seus olhos e fixar seu olhar em algum ponto, Daniel só conseguia enxergar uma coisa à sua frente: o sorriso tenebrosamente sinistro de Art que, em conjunto com seus olhos de serpente, era a exata imagem que Daniel 'Tolaris' tinha do inferno.
      Entretanto, mal poderia ele imaginar que esse inferno estava apenas começando, enquanto sua visão se turvava e sua mente balançava entre o real e o imaginário no ápice daquele choque.
      Claro, isso sem contar o 'Inferno Tolariano'...


Página integrante da Jikan no Senshi Destiny Kishi
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