Tempestade de Ilusões
by
Ami Ikari & X/MADS!

Capítulo 15: Filhos da Morte e do Caos

"Four to lead, four to follow, one to live, to never know sorrow. One to know what walks before, one to command forever more."
-= Anônimo =-

      Martin Siu. Vinte anos, traços orientais, não muito magro nem baixo. Bacharelando de Ciências da Computação da USP escolhido para uma experiência educacional na Universidade de Tóquio. Três meses de adaptação à língua e aos costumes, dos quais metade podia ser jogado fora para o propósito que a Universidade tinha. Atualmente sendo arremessado de um lado para o outro dentro de uma psiquê incomum à sua natureza anterior à viagem.
      "Minha vida é tão curta..." comentou Martin para si mesmo, descrevendo a si mesmo. "E este ano dava para descrever um fanfic estranho."
      De qualquer forma, ele não estava tão alterado quanto podia imaginar. Certamente que se ele comparasse as suas diferentes fases, ele podia dizer que jamais poderia colocar o Martin dos anos colegiais ao lado do atual e dizer que eram a mesma pessoa. Ao menos, era assim que ele conseguia se ver. Havia muitos traços em comum, embora houvesse muito mais diferenças.
      Todavia, nada ainda poderia comparar-se aos dias que passara no Japão. E tampouco ao olhar não muito agradável de Shiraha Natsume diante dele. Quer dizer, ele até preferiria dizer que era um olhar ofensivo, de que ela estava prestes a enfiá-lo dentro de alguma furna para assá-lo e rir insanamente enquanto cortava em fatias irregulares os seus miolos ao sabor de seu sangue efervescido e... melhor parar de dar idéias.
      Entretanto, era ainda um olhar quase... analisador. Sim, essa era a palavra que mais poderia se encaixar durante todos aqueles trinta minutos de silêncio que se seguiram desde que ele a havia encontrado novamente. Sentados um de frente para o outro, armas de diferentes tipos e formas adornavam as paredes ao redor deles, enquanto uma fogueira acesa continuava a arder atrás de Natsume. Ao lado do fogo, as tábuas de lei do dojo eram indiferentes à análise feita pela mais velha do Shiraha. Martin, é claro, não estava gostando da sensação de ser... 'destrinchado', como ele mesmo mencionara em seus fanfics.
      - Yuurin me contou que você conversou com Yukiko. - falou Natsume, sua voz sendo grave e rouca. - Isso é verdade?
      - ... sim. - respondeu Martin, incerto do que estava acontecendo. Por outro lado, ele resolveu adotar a técnica 'o que fazer quando um gato falar com você'. - Conversamos a respeito de Karasu-san, o computador dela.
      - Só por curiosidade... você tem alguma cicatriz? - perguntou Natsume, um tanto incrédula sobre o rapaz estar INTEIRO depois de uma conversa com sua neta Yukiko.
      - Hmm... nenhuma muito interessante. - respondeu Martin, levando a mão esquerda à nuca. - E tampouco vinda de alguma forma esdrúxula.
      - Você tem uma? - perguntou ela novamente.
      - Duas por arranhão e uma de queimadura. - respondeu Martin, estendendo o braço esquerdo. - Todas nesse braço.
      - Hmm... tudo bem, então. - concluiu enigmaticamente Natsume. - Pode ficar quanto tempo quiser em nossa casa. - disse ela, agora abrindo um sorriso... estranho. - Ou por quanto agüentar.
      - Anoo... domo arigato. - agradeceu Martin. - ... incomoda-se se eu perguntar uma coisa?
      - À vontade. - respondeu Natsume, comportando-se de modo muito diferente que o anterior. - Desde que não seja a minha idade.
      - O que mantém as pessoas afastadas daqui? - perguntou Martin, indo diretamente ao assunto que o preocupara desde que chegara.
      - Yukiko é a herdeira deste dojo. - disse Natsume calmamente. - E ela não permite que ninguém treine sem sua autorização.
      - ... não entendi. - disse Martin, curioso sobre a 'autorização'. - O que quer dizer?
      - Quer dizer que quem desobedecer saberá o porquê do dojo ser chamado por Shiraha. - respondeu uma terceira voz. Martin ficou surpreso por não ser a voz de Yuurin, mas de Yukiko.
      - Yukiko? - estranhou igualmente Natsume. - O que faz aqui?
      - Se ele quer ficar aqui, terá que seguir as ordens do dojo. - disse ela, aproximando-se de um apoio com alabardas. - E isso significa que deverá treinar sob a supervisão do sensei.
      - Já passaram quatro anos desde que você 'treinou' o último, Yukiko. E o último era o melhor aluno de seu pai. - mencionou Natsume, seu olhar se estreitando na direção da neta.
      - Mais um motivo para eu treiná-lo. - disse Yukiko, jogando uma alabarda na direção de Martin, que a tomou em pleno ar antes que fosse espetado por ela. - Tenho que desenferrujar alguns ossos, obaa-san.
      - Ele sequer sabe o básico, Yukiko! - disse Natsume, seu olhar sendo reprovador. - Você vai acabar machucando-o muito.
      - Eu tomo cuidado. - respondeu simplesmente Yukiko, segurando a alabarda na direção de Martin. - E estamos usando as mesmas armas.
      Isso, por um lado, era verdade. Martin segurava uma alabarda idêntica à de Yukiko. Era aproximadamente de sua altura, a ponta inferior mais parecendo com uma pequena ponta tetraédrica de metal, enquanto a lâmina principal parecia um misto de uma meia-lua e um pequeno machado. Havia também uma fita vermelha desgastada na base do metal brilhante, toda desfiada.
      - Não há vergonha em se retirar de uma batalha injusta. - disse apenas Natsume, desta vez na direção de Martin. Yukiko, por outro lado, olhava-o de uma forma provocativa, muito familiar de seus anos de infância e prática de esconde-esconde.
      - Bem... eu sempre gostei de aprender coisas novas. - disse Martin simplesmente, levantando-se. - E também posso desistir na hora que eu quiser.
      - Muito bem, MADS. - disse Yukiko, segurando a alabarda com as duas mãos, a lâmina direcionada para o abdômen de Martin.
      - Obrigado... Coronis. - respondeu Martin, percebendo então algo muito peculiar no nickname.
      Ainda assim, ele sabia que alguma coisa devia servir as aulas recebidas em Tóquio. Principalmente se considerar que ele quase morreu naquelas tarefas diárias. Fugir, por exemplo.
      No entanto, a alabarda chamou a sua atenção também. Embora nunca tivesse segurado uma arma, nem mesmo sob a tutela do senhor Hino, ela parecia estar muito confortável em suas mãos. Era quase como... segurar uma vassoura mais longa. Dada a comparação rudimentar, Martin sorriu para si mesmo. Se havia uma coisa com que ele aprendera durante os pequenos e curtos jogos de capa-e-espada de sua infância era como aproveitar uma arma longa como aquela.
      Aquele formato da alabarda também era-lhe muito agradável, assim como o peso. Era como se ele sempre tivesse praticado com alabardas. Claro que isso era uma ilusão apenas. No entanto, ele estava curioso para saber o quanto dela era... real. Sem sofrer muito, preferencialmente.
      Outra coisa que revelou-se óbvia foi que perder tempo para fazer essas comparações era algo idiota. Martin percebeu isso quando a alabarda de Yukiko aproximou-se perigosamente de seu rosto. Ela havia praticamente usado a alabarda como uma lança e quando Martin olhou para seu rosto, ela mantinha um sorriso de vitória.
      - Melhor prestar atenção, MADS. - disse Yukiko, preparando-se para um novo ataque. Desta vez para arremessar ao longe a alabarda de Martin.
      O ficwriter afirmou com a cabeça, apertando e afrouxando o cabo de madeira em sua mão direita. Como se segurasse uma vassoura invertida, ele deslizou sua mão esquerda na direção da ponta, enquanto sabiamente andava para trás. Entretanto, num rápido movimento, Yukiko correu em sua direção.
      *CLANG*
      Todavia, o golpe pretendido não havia funcionado. Erguendo instintivamente a sua alabarda, Martin bloqueara a lâmina de Yukiko com a sua própria. No mesmo movimento, ele aproveitara para usar sua perna direita como pivô, segurando a alabarda de Yukiko com a sua lâmina, soltando a posição de sua mão esquerda. Nisso, ele acabara ficando de costas para a garota, mas numa posição indefesa de pouco período. Erguendo levemente a alabarda, a ponta triangular encostava no queixo dela.
      - Acho que não sou só eu quem preciso acordar... Coronis. - devolveu Martin com igual sarcasmo, logo depois soltando a alabarda no chão. Claro, também porque ele não queria ser chutado daquela posição.
      - Como você fez isso? - perguntou então Natsume. - Eu não me lembro de nada parecido com isso.
      - Essa é uma boa pergunta. - respondeu Martin, olhando inseguro para a alabarda. - Se descobrirem a resposta, é melhor me contarem...
      Assim, o ficwriter saiu o mais rápido que conseguiria do recinto antes que Yukiko o desafiasse para uma revanche.
      "Geez... vai começar agora uma nova fase 'Façam patê de chinês'?" pensou ele rapidamente. "Talvez seja melhor voltar agora para Tóquio..."

***
      Entretanto, era exatamente disso que Maury Sillery estava a sentir falta naquele instante. Bem, talvez não exatamente um 'patê', mas algo parecido. Por outro lado, ele também não gostaria de tirar os privilégios de Makoto na arte culinária.
      No momento, ele estava interessado em como iria se apresentar ao chinês. Seria melhor um 'vou te matar' ou uma aparição demoníaca de Uranus Dragon com direito a muito "rock n'roll"? Literalmente, é claro. Perdido nessas decisões desde que colocara seus olhos naquele... fanfic, Maury estava longe do que se poderia denominar 'normal'. Assim como qualquer um das redondezas, convenhamos.
      Mas, perdido em seus pensamentos, Maury estava particularmente curioso sobre como um pingüim iria colocar os foguetes nas costas. E o quanto acarretaria ao equilíbrio ecológico se ele eliminasse alguns dos 'parentes' daqueles pingüins do aeroporto. Outra coisa que era interessante saber era COMO eles haviam entrado/aparecido no aeroporto. Assim como a doida que ficou lutando contra Strike Fiss.
      Outra coisa interessante a se saber era o que aquele pingüim estava a fazer olhando na sua direção e com um foguete com o dobro de seu tamanho nas costas... espera um pouco. Um pingüim com um foguete nas costas?
      *BLINKS*BLINKS*
      - De novo? - questionou Maury, amaldiçoando os seus deuses.
      - PEN-PEN! - gritou o pingüim, assim como os trinta outros comparsas atrás dele. - PEN! PEN! PEN-PEN!
      Essa cena, por outro lado, também havia sido observada por Paolla Limy Matsuura, a segunda candidata a ter seu cérebro colocado num liqüidificador psiquiátrico depois de MADS. Estreitando o seu olhar, uma expressão séria invadiu seu rosto. Era quase como se ela fosse uma outra pessoa naquele instante e ela sequer duvidava disso.
      Sabia também que Maury não teria tempo para se transformar se estivesse ocupado em se desviar de trinta ou mais foguetes em sua direção. Decidida de que, como antes, a vida de seus amigos era muito mais importante que uma mera 'identidade secreta' a la Clark Kent, Paolla deixou que o poder voltasse a fluir dentro de seu corpo.
      - Mercury Destiny Power... - sussurrou ela, seu olhar fixado nas criaturas que forneceriam algumas explicações ao seu futuro analista. Ao mesmo tempo, um pedaço de Paolla também morria no processo.

***
      Ao mesmo tempo, essa cena não poderia deixar de perturbar o ambiente. Principalmente se um híbrido estiver a passear por perto dele. A Ligação que Ryu mantinha de sua herança kalyriana começou a tinir como um alarme em sua cabeça. Minako, que caminhava ao seu lado, percebeu a mudança da expressão do rosto de seu namorado, assim como a ordem que foi dada por ele em seguida.
      - Henshin yo. - disse ele, puxando-a ao saltar para dentro do bosque do Hikawa Jinja.

***
      Alternativamente, como a demonstrar que os pingüins fogueteiros também estavam sujeitos à Lei implacável de Murphy, vinham na direção oposta à de Ryu e Minako as outras Senshi. Makoto e Ami, para ser mais exato. Aos curiosos e mais sádicos leitores, lembro-lhes que Tsukino Usagi estava a tratar de assuntos mais... pertinentes ao hóspede/vítima mais recente de Tsukino-ke. Porém, voltando a atenção a Makoto e Ami, elas estavam a caminhar na direção do Hikawa Jinja.
      Sabendo previamente que Minako certamente iria parar por um bom tempo em sua própria casa em companhia de Ryu, ela eventualmente se esqueceria de avisar Martin sobre a condição atual de seu primo. Ami decidiu então que iria avisá-lo, enquanto Makoto queria saber mais a respeito dos fanfics. De uma forma talvez não muito agradável de se escrever.
      Entretanto, todos os pensamentos de Ami haviam sido esquecidos quando ouviu um grito deveras familiar:
      - PEN-PEN!
      Seus olhos abriram-se abruptamente, surpreendendo Makoto. Ami, por outro lado, não deixou sua amiga na expectativa, logo a puxando rapidamente para dentro do templo shinto.
      - Os pingüins! - mencionou Ami, assustada de que a vítima agora fosse Martin. Ou que Paolla agora estivesse ali.

***
      - PEN-PEN! - gritou uma vez mais o pingüim-líder. Desta vez, porém, toda a massa de pingüins começou a disparar foguetes, ao mesmo tempo em que emitiam um estranho brilho esverdeado.
      Maury, é claro, amaldiçoou mais uma vez os seus deuses. Desviando-se como podia dos foguetes mais próximos, ele começou a correr. Precisava ganhar alguma distância para então transformar-se e mostrar aos pingüins como NÃO desperdiçar um ataque-surpresa. Claro, isso seria algo fácil de se fazer se não tivessem uns trinta foguetes perseguindo-o.
      Porém, assim como os deuses da sorte de Martin, os de Maury sorriram na sua direção. Embora que de uma forma bem estranha e peculiar.
      - Mercury Time... STOP! - gritou uma voz vindo do telhado do templo.
      Ao mesmo tempo, uma névoa semelhante ao golpe inicial de Sailor Mercury envolveu o local. Maury agradeceu que estivesse fora daquela névoa, ao contrário das infortunadas aves. O Dragon Kishi observou com certa cautela e surpresa que tanto os foguetes quanto os pingüins estavam paralisados. Era como se alguém tivesse apertado o botão de 'pause' da vida real!
      - Hey! Anda logo que eles não vão ficar assim por muito tempo. - pediu então a voz que iniciara o ataque. Maury olhou então na direção do telhado, sua visão sendo levemente ofuscada pelo Sol que estava a se pôr.
      Decidido de que a figura misteriosa teria seus motivos para dizer aquilo, Maury não hesitou por mais nenhum instante. Clamando o poder em suas mãos, o pingente do Outer Dragon Kishi brilhou em seu pescoço, manifestando sua forma selenita.
      - Uranus Dragon Power! - gritou ele.
      Simultaneamente, veio uma explosão que ele reconheceu apenas pelos efeitos colaterais. Luzes.
      - Moon Chromatic BEAM!
      Aparentemente, a sorte de Maury estava mudando.
      Em poucos instantes, o que antes eram aves tradicionalmente originárias de locais frios e foguetes ameaçadores, tornaram-se o que muitos chamariam de 'poeira cósmica', e não podendo garantir as refeições futuras dos países famintos com pingüins assados. À frente da poeira, um guerreiro pousou sobre seus pés, com o olhar fixo no telhado do templo. Atrás dele, uma Senshi de uniforme laranja posicionava-se para lutar contra a grande massa de pingüins que começava a se aproximar do templo.
      Olhando rapidamente para trás, o Dragon Kishi notou a chegada de Sailor Mercury e Sailor Jupiter, que corriam em sua direção. Dois Dragon Kishi e quatro Senshi seriam suficientes para deter os pingüins, era a opinião dele. Sua atenção voltou-se à pessoa que, há alguns instantes atrás, estava sobre o telhado, as feições ocultas pela sombra de seu corpo.
      - Dragon Kishi! Sailor Senshi! A luta é de vocês! - ele gritou, saltando para o telhado.
      Sailor Venus teve tempo apenas de concordar com um aceno de cabeça, sendo encarada logo após por uma das aves, que começava a se aproximar de seus pés. Sailor Jupiter sorriu por alguns segundos quando viu Uranus Dragon, preparando-se para socar um grupo de pingüins que começava a cercá-los. Saturn Dragon, por sua vez, estava um pouco ocupado tentando tirar um pingüim que grudara em sua perna, para poder cumprimentar as Senshi que se reuniam. Sailor Mars, ao ver Sailor Mercury, subitamente se lembrou de um detalhe MUITO importante para a mercuriana.
      - Sailor Mercury! Paolla-san estava... - ela começou, sendo interrompida por uma patada de um pingüim levemente GRANDE para o usual.
      - Nani?! - Sailor Mercury exclamou, ficando distraída o suficiente para não perceber a manobra de cinco pingüins, que se uniram para formar uma ave maior e bem mais assustadora. Infelizmente, ela só percebeu isso quando a sombra de seu atacante a cobriu.
      Agindo por reflexo, a mercuriana fechou os olhos e protegeu a cabeça com seus braços. Ela não teria tempo de lançar qualquer ataque, por mais simples que ele fosse. Sentindo o calor do corpo da ave aproximando-se do seu, a Senshi gritou, mais por instinto do que por medo propriamente dito.
      - IIE! - gritou uma voz, deveras familiar para Sailor Mercury, que sentiu os braços de uma pessoa envolver seu corpo e rolar para o lado, tirando-a do alcance das garras (?) do pingüim gigante.
      Sailor Jupiter suspirou de alívio quando viu que Sailor Mercury havia sido salva, mas sentiu algo estranho. Aquele guerreiro que havia tirado a mercuriana do alcance do ataque era muito parecido com aqueles que haviam aparecido na Juuban High School. A mesma sensação de familiaridade foi compartilhada por Sailor Venus, Saturn Dragon e Uranus Dragon, que pensaram a mesma coisa. "Depois que terminarmos com isso, você não vai escapar..."
      Sailor Mercury abriu os olhos, piscando várias vezes para ter certeza do que via. Um rosto semelhante ao dela própria, como se um espelho estivesse colocado entre ela e o guerreiro que a salvara. Um rosto gravado profundamente em sua memória, mas não como o de um inimigo. Era um sentimento terno, quase fraternal... como o rosto de uma pessoa muito querida.
      A pessoa que a salvara sorriu levemente, como se pedisse para que fosse reconhecida. Mas não era o momento para conversas; percebendo que a sombra estava aumentando de tamanho sobre as duas, o salvador de Sailor Mercury estendeu a mão direita espalmada na direção da ave e gritou:
      - Water FLASH! - e um jato de energia azul passou pelo corpo do pingüim, fazendo com que a expressão de seu rosto não ficasse muito agradável... pelo menos, para ele.
      - Quem...? - a mercuriana começou, sendo interrompida pela pessoa.
      - As perguntas ficam para depois. Agora temos trabalho a fazer... - ela respondeu, piscando levemente seu olho direito e levantando-se ao ajeitar o cabelo que caía sobre seu rosto. - Mercury Time... STOP!
      A visão dos pingüins paralisados agradou muito os demais guerreiros, que sorriram malignamente enquanto preparavam seus ataques.
      - Sparkling Wide PRESSURE!
      - Venus Love Me CHAIN!
      - Burning MANDALA!
      - Uranus Earth TREMBLE!
      - Saturn Silence SWING!
      - Shine Acqua ILLUSION!
      - Water FLASH!
      O ataque conjunto de todos os guerreiros, aliado ao fato de que a maioria das aves estava paralisada, colocou rapidamente um ponto final naquela batalha. Mesmo os pingüins que não estavam paralisados foram atingidos pela grande quantidade de energia, sendo transformados imediatamente em poeira. E novamente não podendo agraciar os países famintos com sua carne. (Hmm... pingüim assado é bom?... E espero que ninguém do IBAMA ou de alguma ONG esteja lendo. ^^;;;;)
      "Menos mal para aqueles que sofrem do estômago quando vêem cenas sangrentas e mórbidas..." pensou o desconhecido, preparando seu corpo para saltar e sair do recinto antes que fosse pêga e tivesse que responder a algumas perguntas. De novo.
      - Ja ne, Senshi!

***
      Edson Makoto Kimura já estava a uns bons cinco minutos olhando para o saguão do hotel no qual iria ficar. Já era muito estranho que não ficasse na casa de seus parentes, mas aquilo era demais. Os olhos orientais de Cloud piscaram diversas vezes diante do nome do hotel.
      - Hotel StarNight... - ele sussurrou, quase como uma prece aos kamis para que nada desse errado.
      - Isso mesmo. - Kiriko falou, sorridente. - A sua reserva foi confirmada há dez dias atrás. - e estendeu um cartão magnético na direção do garoto atônito. - Aqui está a sua chave. Tenha uma boa estada em Tóquio! - disse ela, rapidamente percorrendo os dez metros da portaria e com meio corpo fora do hotel. - Ja ne!
      "Ela não..." Edson pensou, vendo Kiriko sumir pela mesma porta em que havia entrado, deixando-o só com as suas malas, no meio do saguão do Hotel StarNight. E cheio de desconhecidos indagando que tipo de pessoa era ele. Edson, por sua vez, foi apenas capaz de dar um sorriso e abanar as mãos.

***
      Nesse mesmo intervalo de tempo, Daniel 'Tolaris' estava ocupado tentando estabelecer um canal DECENTE de comunicação entre ele e Usagi. Seu Inglês também não era dos melhores, mas era BEM melhor do que o dela. E sem um sotaque carregado.
      - <Desculpe. Meu inglês não é bom.> - falou Usagi, suspirando. Obviamente, estava esperando algum outro hóspede com que não tivesse que praticar o que 'aprendeu' na escola. - <Obrigada por paciência comigo.>
      - Iie, doi itashimashite. - respondeu Daniel, lembrando-se vagamente das aulas de japonês na faculdade.
      Usagi sorriu, levantando-se da cadeira onde estivera sentada durante uma hora tentando conversar com seu hóspede.
      - <Biscoitos?>
      - Hai. Arigato.
      Acomodando-se melhor na cama depois que Usagi virou-se para ir à cozinha, Tolaris suspirou profundamente, desejando que seu conhecimento de japonês fosse um pouco melhor. Fechando os olhos por alguns instantes, ele quase não ouviu um som peculiar proveniente da janela do quarto.
      - Pen pen...

***
      Uranus Dragon viu quando o guerreiro desconhecido começou a correr na direção da floresta do templo e imediatamente foi em seu encalço, disposto a impedir que aquela excelente oportunidade para conseguir respostas a algumas perguntas desaparecesse no ar como no aeroporto. Ao mesmo tempo, a 'excelente oportunidade' amaldiçoava a si mesma por ter usado duas vezes um ataque que retirava uma boa parte de sua energia.
      "Damn! Desse jeito ele vai me pegar..." pensou o desconhecido, correndo o máximo que seu corpo permitia. Olhando para trás, para ver seu excelente perseguidor e observador de 'excelentes oportunidades', a figura acabou por não esconder uma surpresa em seus olhos. "Eu tenho que... peraí! O que é AQUILO?!?!?!"
      Foi com um certo espanto que Uranus Dragon viu seu alvo parando subitamente, voltando-se de frente para ele e flexionando levemente as pernas, como se estivesse se preparando para lutar ou para saltar. E, quando finalmente a sombra deixou o rosto do desconhecido, ele conseguiu ver nitidamente as feições de quem estava perseguindo.
      De cabelos azuis, graciosamente caindo sobre o rosto, olhos da mesma cor, o Outer Dragon Kishi ficou paralisado durante alguns instantes, apenas olhando para a garota que estava perseguindo. Não fosse os trajes, ele juraria que estava diante de Sailor Mercury. Era impressionante a semelhança entre ela e a Senshi de Mercúrio.
      Aproveitando a parada repentina de seu perseguidor, a guerreira tomou impulso e saltou, com uma pirueta, sobre Uranus Dragon, caindo exatamente atrás dele e, ao contrário do que todos pensaram, quando viram a manobra, não o atacou pelas costas, preferindo correr na direção das Senshi, que se posicionaram para um contra-ataque.
      Ainda correndo, a garota concentrou energia em sua mão direita, mantendo-a segura com o punho fechado. A luz azul tornava-se mais forte a cada metro que ela se aproximava das Senshi. E, com o rosto iluminado pelo sol e pela luz que seu próprio corpo emitia, a guerreira deixou a todos espantados com a sua incrível semelhança física com Sailor Mercury, que não podia fazer nada, senão preparar seu contra-ataque. Não havia tempo para uma análise com seu computador, devido a velocidade com que a guerreira se aproximava, concentrando mais e mais energia.
      - Sailor Senshi! ABAIXEM-SE!!! - ela gritou, quando estava a poucos passos de distância de Sailor Mars.
      Sem titubear, talvez mais por reflexo do que por medo, todos saíram do raio de alcance do ataque da guerreira, compreendendo então o motivo de seu retorno. Depois de se virarem, é claro.
      - Water FLASH!!!
      E a energia concentrada atingiu um grupo de seres que estava prestes a atacar as Senshi enquanto elas estavam distraídas, observando a perseguição de Uranus Dragon.
      Logo após liberar toda a energia que estava em sua mão, a guerreira caiu sobre os joelhos, respirando com dificuldade. Sailor Mercury, aproveitando a súbita parada de toda a ação, pegou seu computador e iniciou uma análise rápida da desconhecida. Não foi surpresa notar que ela estava quase no limite de sua energia, estando consciente quase que exclusivamente pela própria força de vontade.
      Uranus Dragon e Saturn Dragon aproximaram-se da desconhecida, segurando-a firmemente pelos braços. Ela não poderia fugir, não naquele momento. E foi com uma certa facilidade que eles a colocaram de pé, notando que suas pernas tremiam no esforço de firmarem-se no chão. Ela NÃO fugiria naquele estado.

***
      Mais e mais vezes ela se amaldiçoava por ter usado o Mercury Time Stop. E TRÊS vezes, ainda!
      Por outro lado, Murphy talvez estivesse a ensinar que não se podia achar que um trabalho estava terminado até que REALMENTE estivesse terminado. Pelo menos, a não ter que ficar indo e vindo tantas vezes no mesmo local. Ou então para dar uma ênfase maior no quesito 'discrição em batalha'.
      Seus braços doeram um pouco quando os dois Outer Dragon Kishi a pegaram, forçando-a a ficar de pé. Não havia qualquer condição dela fugir, disso ela tinha plena consciência. De todos, ela era a que tinha menos preparo físico, a que menos poderia usar ataques energéticos, dando preferência ao Water Flash, que quase não gastava energia de seu corpo frágil. Sua principal habilidade era a inteligência e ela sabia disso perfeitamente. Idiota, idiota, idiota!
      Mas a visão 'dela' viva compensava todo o esforço. Ela estava bem... e era isso o que mais importava. Afinal, era uma promessa que devia ser cumprida, não importasse o tempo que isso levasse... ou quando precisaria ser feito. O que a incomodava, entretanto, era o olhar investigador das Senshi, principalmente de Sailor Mercury.
      "Você não muda mesmo..." pensou ela, olhando para a dita Senshi.
      - Eu me preocuparia com outras coisas, se estivesse no lugar de vocês, Sailor Senshi. - falou uma voz, de dentro da nuvem de poeira levantada pelo ataque da desconhecida.
      "Quem?..." pensou a guerreira, firmando o corpo sobre suas pernas e logo abrindo seus olhos em espanto. "Não pode ser..."
      - Quem é você? - perguntou Sailor Venus, vendo uma pessoa saindo da nuvem. Aos poucos, a forma se revelava feminina e com várias outras sombras a surgirem ao seu lado.
      - Eu sou a Arauta da Morte... - ela respondeu, saindo totalmente da proteção da nuvem, cercada por várias criaturas semelhantes a tartarugas.
      - Você não tem outra frase de efeito, não? Você disse isso da última vez... - falou Saturn Dragon, soltando o braço da desconhecida e tirando sua katana da bainha.
      - Eu realmente me preocuparia com outras coisas... - respondeu a garota, um sorriso sarcástico em seu rosto. - ATAQUEM!!!
      As 'tartarugas' deram um passo à frente, ficando com as quatro patas no chão. Subitamente, todas colocaram as cabeças dentro dos cascos e somente um som foi ouvido antes que uma imensa quantidade de energia saísse dos cascos na direção das Senshi e dos Dragon Kishi.
      - KAPPA!!!

***
      A julgar pelos ruídos que vinham da cozinha, Daniel nem queria imaginar no que poderia estar vindo ao seu encontro, biscoitos com dureza muito maior do que os canos que havia usado na construção do Mini Baja da Unicamp, ou até mesmo alguma 'surpresa' que exigiria dele um maçarico para que fosse quebrado em pequenos pedaços antes que fosse deglutido. Isso é, se seu esôfago sobrevivesse ao calor e à resistência do 'material'.
      - {Com certeza isso deve ser alguma praga da Paolla por causa dos meus comentários quando ela está dirigindo...} - comentou Daniel, certificando-se de que ninguém poderia estar ouvindo a sua frase.
      Realmente, ninguém estava ouvindo o que ele dissera. Ninguém HUMANO...
      - Pen?
      "Estou ficando mais doido do que de costume ou eu ouvi alguém falando 'pen'?" pensou Daniel, virando-se na direção do som, para ver um grupo de sete pingüins olhando para ele com a cabeça levemente inclinada para o lado, como se quisessem entender o que ele havia dito a alguns segundos atrás.
      - {Pingüins? Desde quando os japoneses têm o costume de ter pingüins como bichos de estimação?!} - foi o último comentário do brasileiro antes de ver, horrorizado, os sete 'bichos de estimação' pulando em sua direção, com a expressão de 'vou te matar' estampada nos bicos (?).

***
      - <Desculpe demora, procurando por...> - foram as primeiras palavras de Tsukino Usagi enquanto entrava no quarto onde havia deixado seu hóspede.
      Curiosamente, não havia ninguém no cômodo. A Senshi do Amor e da Justiça foi capaz apenas de piscar audivelmente seus olhos, notando somente uma peculiar presença no quarto. Algumas penas pretas, bem finas, estavam caídas no chão, próximas da cama.

***
      - KAPPA!!!
      O impacto da energia sobre o chão fez com que as Senshi e os Dragon Kishi ficassem afastados uns dos outros, tornando-os alvos ideais para as 'tartarugas', que se dividiram em diversos grupinhos e posicionaram-se de modo que nenhum guerreiro poderia ajudar outro que estivesse em dificuldades. A luta agora era individual.
      Sim, individual, exceto para Uranus Dragon, que ficara frente a frente à guerreira de trajes violetas e ao lado da guerreira de trajes azuis. Com o canto dos olhos, o Outer Dragon Kishi as comparou, notando a verdadeira semelhança dos trajes das duas. Era como se fossem uniformes, diferindo apenas pela cor das faixas, das jaquetas e pelo fato da menina de violeta estar usando sapatilhas, mais confortáveis para combates, típicas de artistas marciais. Agora, de que grupo pertenciam, era uma outra questão.
      - Está se sentindo confuso? - indagou a de violeta, sorrindo malignamente para Uranus Dragon. - Ou está se sentindo em desvantagem, por estar conosco nessa batalha?
      - Então vocês são companheiras... - rosnou Uranus Dragon, olhando para a de azul, que puxou muito fracamente a kodachi de sua cintura, ainda embainhada. - Eu desconfiava disso.
      - Iie. - retrucou a de azul, cuidadosamente apoiando-se na kodachi e tentando ficar em pé. - Não sou companheira dela.
      - Agora está renegando seu próprio grupo, mercuriana? - perguntou a guerreira, ironicamente. Ela sorriu na direção dos dois, como se soubesse de cada passo que seria dado a partir daquele instante.
      - Não estou renegando nada, Saturn. - devolveu a garota, seu corpo se apoiando na mão sobre a bainha, enquanto sua mão direita retirava a kodachi.
      - Traidora... - rosnou Saturn, desembainhando rapidamente sua katana.
      A garota saltou, concentrando uma aura negra ao redor da katana em suas mãos. Uranus virou-se momentaneamente para ver o que a de faixas azuis iria fazer, até que seu sexto sentido disparou. Havia uma coisa errada... ele virou seu rosto quase que reflexivamente para a atacante. Ao contrário do que Uranus Dragon imaginava, ela não saltou para atacar a que antes havia chamado de mercuriana. Ela saltou em sua direção, pronta para atacá-lo.
      - Masaka... - disse ele, amaldiçoando os seus deuses da 'sorte'.
      Não havia tempo para que ele se defendesse, devido ao fator surpresa e tampouco para que pudesse pegar suas adagas e bloquear a lâmina, que vinha perigosamente em sua direção. Puro instinto preencheu sua mente e ele tentou se esquivar com seus reflexos ampliados. Entretanto, aquilo não seria o suficientemente rápido para evitar a tragédia, seus músculos mal conseguiam responder ao chamado de sobrevivência.
      Mo estava a amaldiçoar a si mesmo por ter deixado a sua guarda baixa durante aquela briga das duas, imaginando estar alheio e imune diante delas. Agora era claro que tudo não havia passado de uma armadilha da qual ele caíra perfeitamente. Quase conformando-se com a idéia de ser ferido daquela forma, Uranus Dragon fechou os olhos e manteve a expressão de seu rosto serena. Não queria dar a sua atacante o gosto de ver medo em seus últimos momentos.
      *CLINK*

***
      Saturn Dragon nunca se sentira numa situação tão ridícula. Primeiro ele havia sido atacado por um bando de pingüins e, agora, por um bando de... TARTARUGAS?!?! O que estaria acontecendo, uma fuga em massa do zoológico mais próximo?! Em pouco tempo viriam pandas gigantes em seguida...
      - Era só o que me faltava... agora tenho tartarugas ninjas tentando me atacar. - riu Strike Fiss, tirando a katana da bainha.
      Empunhando a katana em suas mãos, Strike Fiss olhou de modo 'ameaçador' para os fugitivos do museu de História Natural, imaginando que eles seriam tão lentos quanto as tartarugas que ele conhecia.
      Infelizmente, eles sorriram de modo não muito animador para o príncipe de Saturno, quando este preparou-se para atacá-los.

***
      E essa também era a impressão que Sailor Jupiter teve momentos antes de ver seu 'Sparkling Wide Pressure' passar POR BAIXO das estranhas criaturas, que pularam no exato momento em que a Senshi lançou a energia na direção delas. Era a primeira vez que algo semelhante acontecia com criaturas que NÃO eram nenhum tipo de supra-youma ou mega-generais do Reino Negro ou até mesmo dragões. Elas pareciam ser meras tartarugas!
      Porém, o maior problema não era esse, mas sua própria falta de atenção. Sailor Jupiter percebera que todos haviam sido separados pelo ataque inicial, menos Uranus Dragon e a guerreira desconhecida, não muito distante dela própria, possibilitando que ela ouvisse quase tudo o que se passava com seu amado.
      *CLINK*
      O som de metal se chocando contra outro metal tirou totalmente a atenção de Sailor Jupiter, que sentiu como se todo o peso do mundo estivesse apoiado sobre suas costas.

***
      *CLINK*
      "Clink?!" pensou Mo, franzindo a testa. Se aquilo era a morte, ele decididamente precisava retornar à vida para contar a Chris o quão estúpido era. Por outro lado, ele sentiu algo sendo pressionado em seu corpo e ele decidiu por abrir os seus olhos para ver o que havia acontecido.
      E para constatar, abismado, que ainda estava vivo devido a ação da mercuriana, que bloqueara a katana com sua kodachi. Ele já não conseguia compreender mais nada, afinal, quem seria aquela garota de faixas azuis?! O uniforme era extremamente semelhante ao da outra, mas ela afirmara que não estava renegando seu próprio grupo...
      - Hey, você está de que lado?! - exclamou Uranus Dragon, segurando a garota pelos ombros e notando que a atacante ainda impulsionava seu ataque sobre a kodachi.
      - O que... você... acha?! - retrucou a garota, com o cansaço refletido em sua voz. Ela tinha apenas forças para colocar a lâmina diante da outra.
      Mo percebeu aquilo, e em pouco tempo colocava suas mãos sobre as da garota, tentando afastar as duas lâminas de modo mais seguro. Com as forças que se reuniam depois daquele susto, a kodachi ganhava através de Uranus Dragon a energia necessária para contrabalançar a aura negra da katana.
      Sorrindo malignamente, a outra guerreira deu um passo para trás, desequilibrando a dupla que lutava consigo. Aproveitando o momento, ela tentou fincar a lâmina da katana no braço direito de sua 'companheira', forçando-a a largar a kodachi. Ela não conseguira uma boa profundidade, o que significava que o ferimento não iria incapacitá-la para sempre... mas era o suficiente para que a aura tocasse seu sangue e que uma grande quantidade de dor fosse colocada dentro do sistema nervoso. Para uma pessoa com níveis mínimos de energia, era o suficiente para que não acordasse tão cedo.
      As pupilas da garota se abriram, indicando a intensa dor que sentia. Em seguida, seu cérebro cuidou para que seu corpo se 'auto-desligasse' para não sentir mais aquele alerta, uma das reações naturais que tinha quando confrontada com aquela quantidade de dor. Ela soltou a kodachi, caindo suavemente no chão e sem emitir um único som. Sangue começou a sair de seu ferimentos, enquanto seus olhos permaneciam abertos diante do vazio.
      - Agora poderemos lutar sem interrupções. - riu 'Saturn', saltando para o telhado do templo.
      Mo olhou para o ferimento no braço daquela que salvara sua vida duas vezes e, sem hesitar, usou uma das faixas azuis, que estavam presas na cintura da garota, para tentar estancar a hemorragia. Mesmo sabendo que logo o tecido estaria encharcado e não evitaria o sangue de sair pelo corte, o Dragon Kishi prendeu o pano no braço dela e colocou a kodachi ao lado.
      Em seguida, ele pulou para o telhado, ficando diante da misteriosa guerreira de Saturno. Um arrepio correu pela coluna do Dragon Kishi quando olhou fixamente nos olhos de sua oponente. Eram olhos frios, sem emoções, como ele só havia visto em pessoas que não tinham medo nenhum de morrer... ou de matar alguém. Eram os olhos de uma pessoa sem coração.
      - Pronto? - ela perguntou, colocando a katana na bainha e ficando em posição de ataque.
      - Eu sempre estou pronto. - Maury respondeu, as adagas cintilando em suas mãos, refletindo a luz do Sol.
      O som de metal se chocando contra metal ressoou por todo o templo, como se toda a batalha estivesse centrada nos dois guerreiros sobre o telhado. Os movimentos da katana da garota eram quase perfeitos, executados como se ela estivesse dançando ou simplesmente brincando com a lâmina que começava a se aproximar ameaçadoramente do corpo do Dragon Kishi. Não havia mais nenhuma dúvida no interior de Mo de que ele não estava lutando contra uma pessoa qualquer, mas contra uma especialista. A distância que ela mantinha dele era a prova disso; embora os ataques fossem corpo-a-corpo, ela não permanecia mais do que alguns instantes em uma distância menor do que um metro, tirando vantagem assim sobre as suas adagas de curta distância.
      Pular para o telhado havia também sido uma boa estratégia da qual Uranus Dragon agora não podia fugir. De lá, ele dificilmente conseguiria utilizar de seu elemento sem ferir alguém próximo a ele. Se olhasse para baixo, poderia perceber as dificuldades que Makoto estava a ter para tentar se aproximar dele e ajudá-lo.
      Os passos dela eram firmes; as sapatilhas deslizavam centímetro a centímetro enquanto ela se preparava para atacar, para somente então atingir uma grande velocidade, desferindo seus ataques com a lâmina. Ataques que um terrestre normal jamais conseguiria notar. Mas Maury Sillery não era um terrestre normal. Ele era um Dragon Kishi. Um selenita reencarnado.
      Em uma tentativa de tirar a vantagem que a distância conferia à estranha, Uranus Dragon saltou e, com um rápido movimento com as pernas, chutou os joelhos de sua oponente e atacou, o metal da adaga finalmente provando o sangue da outrora 'guerreira invencível'. Quando ele olhou novamente para a garota, um sorriso abriu-se em seus lábios, notando que havia um corte na pele delicada do rosto dela.
      Aproveitando a flexão de suas pernas, Mo conseguiu maior impulso para atacar novamente, desta vez, concentrando sua energia para vencê-la definitivamente. Quando ele saltou, cobrindo o Sol sobre a garota, esta, mesmo estando caída, sorriu.

***
      Determinadas cenas de nossa vida aparentam passar pelos nossos olhos em câmera lenta, como se todos fôssemos personagens de um filme. Algumas dessas cenas ocorrem nos momentos mais felizes que uma pessoa pode experimentar, porém, também podem ocorrer em momentos que deveriam ser apagados da memória de qualquer ser humano. Infelizmente, estes nunca são esquecidos e tampouco podem ser deletados como arquivos corrompidos da memória de um computador; além de serem os mais dolorosos na lembrança, são os que ficam marcados para sempre nas nossas vidas, traumatizando os que os assistem e que deles participam.
      A vontade de Chris Stover, naquele momento, era a de se beliscar e acordar, saindo de um pesadelo que jamais poderia ser real. O mesmo sentimento era compartilhado por Kino Makoto, que não queria acreditar nas imagens que seus olhos enviavam ao seu cérebro. Aquilo não podia ser real. Não deveria ser real, nunca seria real, nunca, nunca, nunca...
      Real ou não, era isso o que Saturn Dragon e Sailor Jupiter viam, horrorizados. Até aquele momento, ninguém pensara na gravidade do ataque de Mo, pois sua oponente dificilmente possuiria a agilidade necessária para contra-atacar. No fundo de seu coração, a Senshi implorava a todos os kamis para que ela não fosse tão ágil o quanto era necessário; ela sabia que, dessa forma, estava desejando a morte de uma pessoa... para que o seu amado sobrevivesse. Ainda assim, desviar-se era uma tarefa fácil, mas não era o que os olhos da guerreira indicavam ao sorrir para o Dragon Kishi.
      O brilho refletido pela lâmina da katana da guerreira, porém, fez com que a maior parte das esperanças de todos se esvaísse. Sangue começou a escorrer pelo metal, sendo acompanhado pelo peso de um corpo caindo em um local sólido, fixo. Os olhos de Mo não conseguiam acreditar no que viam, mas a dor que sentia em seu abdômen apenas vinha confirmar o que seus olhos o informavam. Uranus Dragon havia caído em um truque tão velho quanto a existência de todos.
      - NÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOO!!! - foi o grito desesperado de duas pessoas, que correram na direção do templo.
      Mais rápido e ágil do que a Senshi, Saturn Dragon corria como nunca havia corrido em toda a sua vida, chegando ao telhado antes de Sailor Jupiter, mas a tempo de encontrar a estranha guerreira sorrindo com sarcasmo, seu braço estendido a segurar a katana cuja lâmina estava enterrada no corpo de um Dragon Kishi. Com uma desenvoltura sem igual, ela provocava dor com sua lâmina ao fazer que Uranus Dragon se levantasse com seus próprios esforços, a katana firmemente enterrada em sua carne.
      Os mais observadores e sádicos diriam que os olhos da garota brilharam quando viram o olhar de fúria do príncipe de Saturno, que empunhava a Kurounoken com tal força que poderia verter sangue de seu próprio punho. Rindo como uma louca, ela se divertia ao ouvir os gritos de dor de sua vítima, girando sem piedade ou compaixão o cabo da katana, dilacerando ainda mais a carne já castigada pelo corte. Mais e mais sangue vertia do ferimento, a dor tão intensa que faria uma pessoa comum perder a consciência. Mas ele não era uma pessoa comum; era um Dragon Kishi. E por esse motivo, Maury Sillery permanecia de pé, empunhando suas adagas.
      Fúria podia ser vista faiscando dos olhos de Saturn Dragon, ou melhor, de Chris Stover. Ele já não era um kishi destinado a defender os inocentes contra o mal naquele momento, mas um rapaz que presenciava o sofrimento de seu melhor amigo. E usaria o poder de um Dragon Kishi aliado ao ódio que sentia da garota para que ela pagasse por tudo que havia feito.
      - É para isso que você vive? - resmungou Chris, a Kurounoken firme em suas mãos e seu olhar sendo capaz de matar uma pessoa comum. Ao mesmo tempo, saltava na direção do telhado, caminhando com a ira e a raiva a ferverem o sangue em suas veias. - Para trazer dor às pessoas? Ou para dominar o mundo, como tantos outros?
      - Você nunca entenderia, Saturn Dragon. - ela riu, girando mais uma vez o cabo de sua katana, torturando sua vítima. - É tolo demais para isso.
      Maury já não respondia a nenhum estímulo, todo o seu sistema nervoso centrado na dor que sentia. Mais sangue vertia do corte da lâmina, o volume aumentando a cada espasmo que seu corpo sofria, em convulsões provocadas pela dor. Os olhos, úmidos de lágrimas, não expressavam mais qualquer sinal de consciência, apenas um sofrimento que não poderia ser expresso em simples palavras. Seus ouvidos já não conseguiam compreender as palavras desesperadas de seu amigo, tampouco os gritos de Sailor Jupiter, que não conseguia passar pela barreira dos Kappa para chegar ao telhado do templo.
      Com os olhos vidrados, sem qualquer emoção que não fosse o ódio, Chris Stover empunhou a Kurounoken em posição de ataque, com a firme intenção de acabar com a vida da garota com um só golpe. Isso era a única coisa na qual ele conseguia pensar, em matar a garota que estava à sua frente.
      A Kurounoken rasgou o ar, tão veloz quanto a luz, com uma força que cortaria qualquer coisa que estivesse dentro do seu alcance de ataque, talvez até faria com que o corpo da garota fosse dividido em dois. Um sorriso começou a se esboçar no rosto do canadense... transformando-se em um grito de desespero quando ele finalmente viu o que havia feito.
      As risadas da estranha guerreira penetravam nos ouvidos de todos como agulhas afiadas, machucando, torturando, com seu cinismo sem fim. A cada vez que olhava para o que havia acontecido, ela ria, a katana já guardada em sua bainha e as mãos, apoiadas na cintura. As faixas de tecido tremulavam com o vento, dando a ela um ar de superioridade, o que a fazia rir mais e mais, frente ao desespero de Chris Stover.
      - Ja ne, Senshi! - ela gritou, desaparecendo no ar, assim como todos os Kappa que lá estavam.
      A risada insana ainda ecoava na mente de todos, enquanto os olhos de Chris não podiam acreditar no que viam. Lentamente, seu campo de visão desceu, da expressão de dor de seu amigo, que mantinha a boca aberta, em um grito que jamais sairia de sua garganta, para o verdadeiro motivo de tanta dor. A katana do príncipe de Saturno, a Kurounoken, estava estancada no corpo de seu melhor amigo, fazendo com que mais sangue escorresse pelo telhado, tingindo o solo sagrado do templo shinto de vermelho.
      Ainda em estado de choque, Chris puxou rapidamente a katana, fazendo com que o corpo de seu amigo, já sem sustento, começasse a se desequilibrar e a cair. Ele correu para perto de seu amigo, cujo rosto começava a tentar desfazer a expressão de dor e de tristeza.
      - Mo! Por favor... me perdoa... - foram as únicas palavras que o Dragon Kishi conseguiu pronunciar, sua voz fraca e quase muda.
      - A culpa... não é sua... Chris. - Mo murmurou, a dor aumentando a cada instante que se passava. Ele sabia que seu tempo de vida era curto; o corte atingira a coluna, rompendo a medula espinhal. Se permanecia de pé, era ainda por sua própria força de vontade. - Just do me a favor...
      Chris concordou com um gesto, momentos antes de ver que as pernas de Mo estavam fraquejando.
      - ... get the S.O.B. - sussurrou o Dragon Kishi, perdendo o equilíbrio e caindo do telhado do templo. Saturn pensou ter visto Maury a sorrir, mas não conseguia prestar atenção nisso. Tudo o que queria era segurar seu amigo.
      Em um impulso de puro desespero, Chris estendeu a mão, tentando segurar o braço do amigo. No chão, Sailor Jupiter corria para tentar aparar a queda de seu amado, inúmeras lágrimas escorrendo pelo seu rosto durante o curto trajeto que pareceu ser infinito.
      Mas era tarde demais. Nenhum dos dois conseguiu alcançar o Dragon Kishi em seus últimos momentos de vida.
      Antes que seu corpo caísse nos braços de sua amada para um último abraço de adeus, Maury Sillery despediu-se do mundo, desfazendo-se em meio a luzes e brilhos que teriam como destino final, a eternidade, onde todos os selenitas repousavam. Não houve tempo para a Senshi se despedir da pessoa que amava. Nada sobrara daquele que dedicara a vida a defender a paz, nada... somente as adagas, caídas no telhado, que ele empunhava, orgulhoso em ser um Dragon Kishi.
      Descendo do telhado carregando o par de adagas, Saturn Dragon entregou uma delas, a que possuía o símbolo de Jupiter gravado, a Kino Makoto. A marca era recente, feita enquanto Maury estava no Canadá, lembrando-se do amor que havia deixado no Japão. A outra adaga, ele guardou, como última lembrança de seu amigo.
      Como uma última homenagem ao Dragon Kishi, uma fina chuva começou a cair sobre Tóquio.
      - Dizem que, quando chove no dia da morte de uma pessoa, era chegada a hora dela. - disse Akai, chegando no templo naquele momento e aproximando-se da mercuriana desfalecida. - Tudo o que podemos fazer agora é chorar pela partida de um companheiro... e de um grande guerreiro.
      - Temos novos inimigos, Akai. - falou Sailor Mercury, caminhando na direção de Akai.
      - Un. - concordou a Dragon Kishi de Marte, desembainhando sua katana e colocando-a rente ao pescoço da garota caída. - E você vai ter muito a explicar... - ela ameaçou, mesmo sabendo que a garota não poderia ouvir nem as suas palavras nem os gritos de tristeza de Chris e Makoto.
      Um a um, os guerreiros entravam no templo, respeitando a tristeza daqueles dois selenitas. Akai foi uma das últimas, sua cabeça meneando tristemente a perda. Nem por isso, deixou de cutucar o pescoço da garota, porém com uma férrea vontade a controlar o impulso de obter uma vingança ali mesmo. Seus olhos já não podiam ser mais vistos, ocultos por sua cabeleira.
      - Isso... isso não podia ter acontecido. - sussurrou Kano Akai a ninguém em particular. Guardando a sua katana e disposta a carregar a guerreira para dentro do templo, nenhuma pessoa foi capaz de diferenciar as suas lágrimas das gotas de chuva que caíam em seu rosto.

***
      Não adiantava. Por mais que ele caminhasse e procurasse alguém, tudo o que conseguia encontrar eram ruínas do que deveria ter sido um grande império. As construções, ou o que havia sobrado delas, eram majestosas, belíssimas, e que inspiravam nele um estranho sentimento.
      Saudades.
      Sim, eram saudades o que ele sentia enquanto caminhava para dentro de um dos prédios destruídos, saudades de tempos que não pertenciam à sua memória recente, pelo menos, não ao que se lembrava de ter vivido em seus dezoito anos de vida.
      As solas de seus tênis não faziam qualquer barulho enquanto ele caminhava pelo ambiente, porém, em pouco mais de dois minutos após ter entrado no recinto, o barulho de passos pôde ser ouvido por toda a parte, ecoando pelas paredes. Assustado, o rapaz parou, o barulho cessando ao mesmo tempo. Quando retomou seus passos, o barulho também voltou a ecoar.
      - Afinal, o que é que... - ele começou, somente então olhando para suas próprias roupas. - Ah, bom. São as minhas botas que estão fazendo baru... PERAÍ! DESDE _QUANDO_ EU USO BOTAS???
      Um riso abafado foi ouvido pelo prédio, sem passar despercebido pelo rapaz. Intrigado, porém, ele preferiu observar a si mesmo antes de correr na direção do som. Atônito, notou que estava usando roupas semelhantes às da garota que o atacara (literalmente) no aeroporto de Tóquio, quando estava chegando de sua longa viagem, com a única diferença de que sua jaqueta e as faixas de tecido em sua cintura eram vermelhas. E sem as sapatilhas. Preso nas faixas de tecido, havia um pequeno bastão, também vermelho.
      Instintivamente, ele pegou o bastão, imaginando o que poderia ser feito com uma 'arma' tão pequena que não conseguiria atingir ninguém sem colocar a vida do seu portador em risco. Instintivamente, ele desejou que o bastão se tornasse maior...
      ... e uma luz avermelhada começou a emanar da arma, que aumentou de comprimento até atingir aproximadamente um metro e meio.
      - Jeez! Isso é o que chamo de desejo rapidamente atendido... - pensou ele, sem sequer cogitar a hipótese de virar-se para trás e procurar por uma bela deusa nórdica a sair de dentro de um espelho. Por outro lado, ele também não havia usado o telefone (ainda).
      - Estou vendo que você já se lembrou de boa parte de suas habilidades, meu amigo. - disse uma voz, vinda das sombras. - Bem mais rápido do que eu.
      - Quem... quem está aí?! - exclamou o rapaz, posicionando-se para defesa. O bastão parecia estar começando a brilhar numa aura de fogo naquele instante, parecendo corresponder com seus instintos. - Apareça!
      - Será que você vai me reconhecer, _Tolaris_?
      Daniel 'Tolaris' baixou a guarda quando ouviu a voz chamando-o pelo nickname que usava na Internet. O tom de voz não era de ninguém que conhecia, ao mesmo tempo que era... diferente. Quem... quem poderia estar chamando-o de uma maneira tão familiar? Como se o conhecesse por muito e muito tempo?
      O dono da voz, saindo das sombras, mostrou ser um rapaz de cabelos pretos, de brilho esverdeado. O traje que usava era semelhante ao seu, embora sua jaqueta e suas faixas de tecido fossem bordô. Ao nível dos olhos, um feixe de luz violeta era quase imperceptível... menos para aqueles que já tivessem conhecimento de tal feixe.
      - Você me é familiar. - falou Daniel, fazendo o bastão voltar ao tamanho original e guardando-o em sua cintura. - Mas não consigo me lembrar direito de quem você é...
      - Está tudo bem. - respondeu o garoto, exibindo um sorriso estranho. Ele caminhou mais alguns passos até estar numa distância confortável a Daniel. - Pessoalmente, você nunca me viu mesmo... não nesta vida.
      - Nani?! Do que está falando?! Eu...
      - Não tenho muito tempo, Tolaris. - interrompeu o rapaz, pedindo silêncio com um gesto. - Em breve, você terá as piores experiências de toda a sua vida terrena e receberá a visita de pessoas de quem você VAI se lembrar. Só peço uma coisa: não se deixe levar pelos olhos da serpente. - e ele começou a desaparecer, sua imagem ficando mais transparente.
      - ESPERE! O que você quer dizer com 'olhos da serpente'?! - exclamou Daniel, tentando agarrar o braço do rapaz.
      - Você vai entender na hora certa. Agora... prepare-se para os piores momentos de toda a sua vida, Daniel Graminho. Só não se deixe levar pelas suas emoções.
      - Pelo menos me diga quem é você!
      - Meu nome é Chronos, mas você me conhece melhor por M... - ele falou, sem conseguir concluir a sua frase. Ou talvez sem desejar concluí-la.

***
      Art olhava atônito para a esfera de visão que flutuava ao lado de um casulo de prata. Ele simplesmente não conseguia acreditar no que acabara de ver; tal esfera era especial, projetava exatamente o que se passava na mente daquele que estivesse dentro do casulo, como as demais faziam com todas as regiões do universo.
      - Art? - chamou Kare, aproximando-se dele.
      - O que foi desta vez?
      - Só vim avisar que Uranus Dragon está morto.
      - Un. Só isso? - resmungou Art, ainda olhando para a esfera.
      - E que Kyn está em poder das Senshi e dos Dragon Kishi.
      - Isso não é nenhuma novidade, Kare. Ela sempre esteve do lado deles, afinal, Sailor Mer...
      - Eu quis dizer que Kyn é PRISIONEIRA deles, Art. - interrompeu Kare, batendo levemente a ponta de sua sapatilha no chão. Ao mesmo tempo, não tentava disfarçar o sorriso em seu rosto. - Eles pensam que ela é nossa aliada e que serviu somente de isca para o ataque que terminou com a morte do Dragon Kishi.
      - QUE ATAQUE??? - exclamou Art, virando-se enfim para a garota. Surpresa era transparente em seu rosto, ao mesmo tempo que não conseguia acreditar na audácia que Kare tinha para dizer tais palavras para sua pessoa. Principalmente sabendo quais eram suas intenções com relação à unidade do grupo. - Eu não...
      - Você estava muito quieto. Era hora de fazer alguma coisa para conseguirmos reunir a todos... lembre-se de que já perdemos um, estávamos na iminência de perder a segunda. Não podíamos correr esse risco, embora Mercury já estivesse sendo considerada 'carta fora do baralho'. - retrucou Kare, com as mãos em sua cintura. Seu sorriso desapareceu, enquanto demonstrava que eram necessárias mãos fortes para fazerem o plano ser concretizado. Suas mãos. - E como anda o processo de Marte?
      - Interessante. - disse apenas Art, não gostando do rumo que as coisas estavam indo. Sem demonstrar isso, ele se virou na direção do casulo, enquanto sua mente trabalhava. - Agora vá.
      Kare surpreendeu-se com a reação de Art, que retomou rapidamente o controle de suas emoções, não se importando com o que aconteceria com Kyn. Ela imaginava que ele ao menos tentaria modificar a situação, como fizera na época em que a mercuriana estava à beira da morte. Dando de ombros, Kare simplesmente saiu do salão, indo na direção de seu quarto... ela precisava descansar um pouco depois daquele confronto. Além disso, havia o ferimento provocado por Uranus Dragon.
      Na mente de Art, entretanto, algo mais importante do que Kyn o preocupava. Sim, ele estava preocupado com sua amada, mas a aparição de Chronos na mente do guerreiro de Marte era algo que ele nunca pensara precisar cogitar em seus planos.
      Aquilo poderia estragar todo o processo de recuperação de memória... e Aleph poderia se tornar um grande empecilho aos seus planos, caso se aliasse a Moon Fox e Silver Sky. Isso não era admissível em seus planos... e ele deveria estar agora pronto para mudar alguns fatores.
      Com uma meta a se formar em sua mente, Art começou a fazer algo que ele aprendera muito bem com o ex-líder dos Destiny Kishi. Com olhos bem atentos, ele fixou sua atenção em centenas de esferas de visão que apareciam em pleno ar diante de si. Sim, ele faria algo tão elementar quanto ser um Destiny Kishi. Ele iria observar.


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