Tempestade de Ilusões
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Ami Ikari & X/MADS!Capítulo 01: Contato Imediato de Terceiro Grau! Ou Seria Quarto...?
"Se algo ruim tem uma probabilidade muito remota de acontecer, acontecerá."
-= Murphy =-Os dias demoraram para passar, na opinião de Paolla Matsuura e de Martin Siu. Claro, isso geralmente acontecia quando se espera ansiosamente por um dia em particular.
"Como dizia o velho ditado, 'panela olhada nunca abre fervura'... pelo menos eu tive aquele fic para traduzir enquanto esperava." pensou uma ficwriter perdida num enorme aeroporto.
Ambos sabiam que iriam viajar juntos, no mesmo vôo da JAL. O único problema era que estavam indo sem a companhia de um guia de intercâmbio e NÃO se conheciam pessoalmente. A viagem seria a primeira oportunidade de se conhecerem. E, sim, não sabiam qual era o número da poltrona do outro. Acham que uma agência se incomodaria com isso? Mas é CLAAAAAAAAAAARO... Afinal, o objetivo era para que todos se conhecessem, não?
- Ei, Martin! Como é que você vai reconhecer a Paolla? - perguntou um rapaz ao lado dele.
- Boa pergunta, Cousin. A única coisa que sei é que ela é nissei.
- Boa sorte, então. - respondeu o garoto. - Olha o que tá vindo ali.
Se Henrique e/ou Hélio estivessem ali, Martin tinha a certeza absoluta de que eles não conseguiriam parar de rir quando avistassem o grupo de japoneses chegando no saguão do aeroporto.
- SEM comentários, Ricardo. - avisou o garoto de óculos.
Bem próximo dali, para ser mais exato, ATRÁS de Martin, e de COSTAS, uma menina nissei esperava pelo amigo que havia ido buscar a passagem dela. Ela estava com os braços cruzados, do lado de um carrinho com duas malas, mais uma mochila. Ela, enfim, esboçou um sorriso de satisfação quando avistou quem esperava.
- Tó as passagens, Paolla.
- Obrigada, Edson.
- Já descobriu COMO vai reconhecer o Martin?
- Ainda não. - respondeu ela, esmaecendo o sorriso. - Só sei que ele é oriental, mais nada. Ah, e que usa óculos.
- Grande. - disse 'mui' entusiasticamente Edson ao estreitar os olhos na direção dela. - Você e eu TAMBÉM somos orientais e usamos óculos. Assim como pelo menos metade daquele grupo que tá vindo ali. Ainda bem que vocês não dependem um do outro para embarcar, senão...
- Eu não embarcava nunca, ne? - riu Paolla, sem olhar para trás.
- Não tá na hora de você ir para a fila de embarque? - perguntou Edson, olhando no relógio.
- Ih, é mesmo! Obrigada por me trazer até aqui, Edson... - respondeu Paolla, virando subitamente.
- Acho que vou ver novamente a livraria antes de embarcar... - falou Martin, virando subitamente.
*POF*
- AI!
- OUCH!
- Paolla, tá tudo bem? - perguntou Edson.
- Martin, não quebrou nada? - perguntou o 'Cousin', sabendo de antemão COMO ele havia quebrado um braço. Embora fosse difícil de acreditar que um esbarrão pudesse fazer isso com uma pessoa...
No entanto, nenhuma das duas vítimas havia pronunciado qualquer coisa. A simples menção dos nomes havia sido o suficiente para encadear uma linha de pensamentos muito familiar. E que resultaria claramente na remotíssima probabilidade de haverem tantos orientais de óculos no aeroporto nomeados por Martin e Paolla. Assim sendo, ambos os acidentados permaneceram num estado quase catatônico, olhando-se com olhares pesquisadores.
- Martin? - perguntou Paolla, piscando os olhos.
- Paolla? - perguntou Martin, piscando os olhos.
- Problema resolvido! - exclamou um sorridente Ricardo, que olhou então para o relógio. - Agora vão os dois, tá na hora do embarque!
Os dois precisaram, literalmente, ser empurrados até a área de embarque pelos respectivos amigos, pois o choque tirou alguns parafusos do lugar... Isso se Martin ainda considerava que tinha alguns.***
A viagem transcontinental foi razoavelmente tranqüila para os passageiros daquele vôo da JAL. Não houveram roncos ensurdecedores ou rapazes pedindo amendoim para a aeromoça; porém, para compensar, houve um longo papo de oito horas entre dois passageiros que, mesmo estando em assentos MUITO distantes, insistiram em conversar durante TODA a viagem. Entretanto, como, para a felicidade dos ouvidos locais, aqueles dois passageiros precisavam parar em algum momento.
Nenhum deles iria, a partir daquele vôo, questionar uma única vez na vida sobre o fato de tantas religiões considerarem as refeições como as horas sagradas do dia. Afinal, durante essas sagradas horas, eles eram OBRIGADOS a permanecer em seus lugares.
Não, é claro, que algum deles estivesse prestando atenção nos olhares dos demais. Obviamente, a conversa não teria iniciado de forma tão emotiva e descontraída caso eles não tivessem certeza de quem era o outro... e enfim quebrando a magia da ilusão da Grande Rede. Daria, inclusive, para escrever um fanfic na opinião de Martin. Mas ele logo desistiu da idéia quando ele lembrou de uma certa área de fanfics alocada em seu computador.
Algo também realizado por Paolla. No entanto, isso não mudava aquele fato: a ilusão havia sido desmanchada.
- Acho que demos trabalho para as aeromoças... - comentou Paolla, enquanto pegava as malas no aeroporto de Tóquio.
- Por que você acha isso?
- Bom, elas não falaram 'viaje sempre conosco, obrigada' nem para mim nem para você. - riu Paolla, jogando uma mala para Martin. Não, ele não caiu com o impacto. - Agora só falta achar a nossa guia.
- Aww... eu SABIA que estava esquecendo de alguma coisa! Eu não vim com a minha camiseta estampada com a metade da bandeira brasileira! - riu Martin, estalando os dedos.
- Pare com isso, não estamos em um fanfic de NDK!
- Gomen, ne? - disse ele, sorrindo abertamente. - Faz parte de ser um importante (e raro) Inner NDK. E não se esqueça... - terminava ele, piscando um olho. - Ai to kichigai no koushi-fuku Noburu Daragon Kishi MA-DU-SU! Yomi ni kawatte oshiokiyo!
Rindo muito, os dois foram até o saguão do aeroporto procurar pela guia que os levaria para as casas de seus anfitriões. E, NÃO, ele não estava com uma roupa de nobre. (Geez...)* Nota: As falas em inglês estarão indicadas por <>, as em português estarão indicadas por {} e as em japonês estarão normais, quando se passar em Tóquio. No Brasil, as falas normais serão em português.
***
Exatamente no centro do saguão do aeroporto de Tóquio, uma jovem garota de uniforme consultava uma lista, constantemente. Ela andava em círculos, como se quisesse realmente aliviar a tensão de seu corpo e a irritação de sua mente. Claro, isso colocava o número máximo de pessoas à sua volta reduzido ao mínimo possível.
"De novo. Não colocaram as fotos DE NOVO." pensou a garota. Estreitando o seu olhar e 'encarando' a folha de papel, ela estava seguindo um dos vários padrões conhecidos pela OMS para aliviar o stress. "Pena que não posso chamar o chefe de baka. Como ele quer que eu reconheça dois estudantes brasileiros SEM UMA MÍSERA FOTO?" esbravejava ela em sua mente.
Não muito distante, uma determinada área de seu cérebro alertou-a sobre um evento não tão distante assim... isso a estimulou a sorrir maquiavelicamente ao queimar seu chefe com seu olhar. "A não ser que um deles esteja com uma camiseta com a bandeira nacional... hehehehe..."
Quando Martin e Paolla saíram da área de bagagens conversando em português, a jovem garota sorriu. Os kamis pareciam estar sorrindo para ela naquele instante, pois o Português facilitou um pouco o trabalho da ascendente guia japonesa. Claro, o fato dela ainda se lembrar de algumas palavras que um certo aluno pronunciara nessa língua havia ajudado em muito... porém, o susto não foi menor quando ela conseguiu distinguir os traços do casal. "Não eram para serem brasileiros?!"
Todavia, não levou muito tempo até que ela se lembrasse que os últimos brasileiros não pareciam ser TÃO brasileiros assim... "Talvez seja moda por lá enviar pessoas com traços orientais." concluiu a guia.
- {Ei, Paolla! Aquela ali não parece ser uma guia?} - falou Martin, apontando para a jovem uniformizada. Sem contar, é claro, que havia uma estranha sensação de... déjà vu?
- {Parece... e o uniforme dela tem as cores da central de intercâmbio. Vamos até lá?} - respondeu a garota.
- {E como você sabe que são as cores da agência???} - perguntou Martin, franzindo a sua testa.
- {Bem, não é todo mundo que veste uma camiseta com o mesmo logo que as das cartas...} - esclareceu Paolla, causando uma gota de suor gigante na testa de Martin.
- Oh. - foi a única e desanimada contra-resposta. Entretanto, o garoto logo sorriu. - Daqui a pouco, adquirirei a técnica da magia Es'Dee!
- Nani yo? - perguntou Paolla, familiar com a língua do ficwriter. Em outras palavras, uma mistura de línguas para confundir qualquer outro que não pertencesse ao Grupo.
- Es'Dee Magic, my dear... Es'Dee Magic. - disse apenas o ficwriter.
- {Que é Es'Dee?} - perguntou ela.
- Sore wa... himitsu desu, ne? - respondeu maquiavelicamente o ficwriter. Entretanto, isso bastou para que Paolla se lembrasse de algo oriundo nas origens do Grupo.
- Five Huge Sweatdrops, Three Hundred FaceFaults, Eight Thousand BodyFaults... and a bit of Es'Dee Forms. - recitou cantarolando Paolla, rindo em seguida. - Não somos ainda personagens de anime, MADS. - falou ela, piscando um olho. - Não ainda...
- Não custa nada tentar. - retribuiu, piscando um olho, o ficwriter para a garota dos 'bonequinhos que juntam pó'.
Assim ambos caminharam rindo até a guia, que continuava um pouco espantada. "Também sabem japonês?! Que TIPO de alunos de intercâmbio estão mandando desta vez?!?"
- <Boa tarde, você é a guia da central de intercâmbio que vinha buscar dois estudantes brasileiros?> - perguntou Paolla em Inglês. Seu japonês ainda não era tão fluente como parecia ser.
"Anoo... gomen, ne? Eu esperava quatro canadenses doidos, dos quais dois seriam extremamente nocivos à saúde mental", pensou ironicamente Martin.
- <Sou... meu nome é Tennotsukai Asuka. E você é...> - respondeu Asuka, virando algumas folhas de papel em uma prancheta.
"Hmm... todos esses papéis para colocarem apenas DOIS nomes? Ou todo mundo vêm hoje?" indagou-se Martin, embora estivesse motivado demais com a viagem e o encontro para poder se preocupar com aqueles... 'detalhes'.
- <Paolla Matsuura.>
- <Ah, achei. E você, rapaz...>
- <Martin...>
Asuka engoliu em seco quando ouviu o nome de Martin.
- <Siu.>
E suspirou aliviada quando ele terminou de falar. "Se ele falasse 'Genkage' ou coisa parecida, eu desmaiaria..."
- <Vejo que já estão com as suas bagagens. Vamos?> - perguntou ela. Novamente se esquecendo de dizer que eram bem-vindos...
- <Vamos.> - respondeu Paolla, sorrindo.
- HAI! - exclamou Martin, sorrindo abertamente.
Uma pequena gota apareceu na cabeça de Paolla. E eles desataram a rir novamente. Agora era a vez DELA estar próxima ao Super Deformed.***
Momentos depois, a Network Vehicle de Asuka já estava nas ruas de Tóquio, levando os dois estudantes para seus destinos. Por algum motivo, Martin estava inquieto, tenso... talvez imaginando o que o esperava.
- {Paolla, se tudo ocorrer conforme aquele fic que planejamos, adivinha ONDE eu vou parar...} - disse ele, não escondendo a sua ansiedade.
- {Ah, Martin, vai com calma! Aquelas histórias são pura ficção, nós nem sabemos as identidades das Senshi! Tudo o que escrevemos é baseado em suposições.} - respondeu Paolla, indicando o quanto o ficwriter estava exagerando naquela hipótese.
Claro, o fato de MADS, Ranma e H-kun serem ficwriters que tendiam a aproximar a ficção ao real ao invés da operação oposta não passou despercebido por Paolla. Mas aquilo apenas iria complicar as coisas para o ficwriter... dizer que a história era realista era como dizer 'Sim, você está certo. Lá vamos nós para NDK...' para o garoto.
- {As linhas do Destino são várias... e Murphy cedo ou tarde nos dará a mais irônica e sádica possível.} - respondeu o garoto solenemente, atento a um fantasma invisível do lado de fora de sua janela. O que, é claro, não deixou de provocar uma risadinha de Paolla, acompanhada de uma gota.
- {Fica calmo, Sui.} - falou Paolla, sorrindo para despreocupá-lo e usando um dos vários nicknames do garoto em questão. - {Histórias são histórias, não confunda com a realida... *gasp!*}
Paolla engasgou quando viu ONDE que Asuka havia estacionado o carro. Seu precário conhecimento de japonês lhe permitiu ler DOIS kanjis da placa: "Hi" e "Kawa", para ser mais preciso. Era pouco, mas já fez com que ela entendesse que seu amigo estava com certa razão... estranhamente, estava com uma estranha e irônica razão...
Paolla, no seu íntimo, começou a indagar se Martin soubera de tudo aquilo anteriormente ou se ele havia realmente preparado tudo aquilo. Contudo, toda a sua paranóia havia desaparecido ao se lembrar que ela estava falando de MADS. Mas aquilo ainda não deixava de ser uma suspeita.
- <Chegamos!> - exclamou Asuka, abrindo a porta do carro. - <Martin, é aqui que você vai ficar.>
- Hikawa Jinja. - falou Martin, antes mesmo de descer do carro. Claro, ele sequer precisou que alguém dissesse o que era aquele enorme templo shinto. Ele sabia apenas pela expressão surpresa de Tieko. - Kami-sama...
- {Vai com fé, Martin. Aquilo que você e o Henrique escrevem sobre a Rei é tudo ficção, NE?!}
O barulho de panelas caindo e de pessoas correndo, aliado à visão de um senhor de idade e um rapaz fugindo de uma garota com quase a mesma idade que Paolla, a fizeram mudar levemente de idéia. Sem mencionar um leve e irônico 'Eu não disse que era sorte demais eu vir para o Japão com duas bolsas mágicas?' de Martin.
Rei parou de correr quando viu Asuka acenando para ela, com uma gota na cabeça. Ela deu um sorriso cordial e escondeu atrás das costas a vassoura que estava usando para bater em Yuuichiro.
- <Sejam bem-vindos ao Templo Hikawa.> - cumprimentou Rei, educadamente curvando-se e estrategicamente entregando a vassoura ao Ajudante Oficial do Templo (tm).
- Rei, este é o seu novo hóspede. - falou Asuka, empurrando 'delicadamente' Martin.
Martin curvou-se e cumprimentou Rei, logo depois observando cuidadosamente os 'detalhes' do local onde ia ficar. Principalmente a sua observação sobre estar diante de uma oportunidade de ser o mais novo aprendiz forçado de mais uma das famosas técnicas 'Saotome mais Miyagi mais Ojii-san igual a ossos doloridos'. Só parou suas 'atentas' observações quando uma mala atingiu a sua cabeça.
- Itte...!
- {Martin, não esqueça a sua mala!} - gritou Paolla, rindo. - {Ah, sim, e não babe muito!}
- {Babar ou ser moído de tarefas?} - perguntou Martin, massageando a cabeça e flexionando uma sobrancelha.
Asuka riu da situação, embora não entendesse o que falavam, e esperou que Martin assinasse alguns documentos antes de seguir em frente e deixar Paolla na casa dos Mizuno. "Eu tenho a nítida impressão de que ela me fez assinar um termo de responsabilidade por estar aqui... será que eu ainda volto para continuar escrevendo fics? Será que eu AINDA volto para casa?"
Claro, o fato dos papéis estarem em japonês e não haver nenhum equivalente em inglês parecia reforçar aquela idéia do ficwriter brasileiro. Especialmente quando Asuka parecia estar com uma certa pressa ao desaparecer com Paolla pela escada do templo shinto.
Martin permaneceu durante algum tempo olhando na direção do portão. Como se estivesse refletindo, sua mente não demorou até divagar e encontrar uma conclusão estranha para o que estava acontecendo. "Weird... Asuka nem perguntou se eu era religioso ou não."
Indubitavelmente, aquilo seguia mais uma parte da lógica fundada por ele. MADS simplesmente havia chegado àquela conclusão e nada mais bastava para confirmar a ele que estava diante de um fanfic. Entretanto, havia escapado um padrão de 'guia de intercâmbio'.
"Ela não perguntou..."
Para Martin Siu, aquilo era classificado como 'Out Of Character'. Isso significava que algo estava absurdamente errado. Além do fato de estar no solo do Hikawa Jinja, em Tóquio.
- <Você fala japonês?> - perguntou Rei, depois que Asuka e Paolla partiram. Nisso, a atenção de Martin havia se dissipado para a pergunta da garota. Um tanto temeroso por causa da 'recepção', tudo o que ainda conseguia pensar era 'O que estou fazendo aqui, Murphy?'.
- ... não muito, na verdade. - respondeu Martin, em japonês.
- Que bom... - falou Rei, sorrindo. Isso também favoreceu à conclusão MADSiana de que Algo estava errado. - Vamos, o Yuuichiro vai mostrar onde é o seu quarto. - terminou a garota, caminhando na direção do templo.
"Espero que a Paolla tenha melhor sorte do que a minha..." pensou Martin, carregando suas malas, que se limitavam na verdade a uma mala e uma valise, para dentro do templo. "... e que eu não tenha que praticar 'artes marciais'... ou aprender a educar meu corpo em quinze dolorosas lições."***
Minutos depois (graças à habilidade automobilística de Asuka), a campainha tocou na casa dos Mizuno. Ami correu para abrir a porta e receber a nova hóspede.
- Irashaimase! - cumprimentou Ami, sorrindo. Como uma boa mercuriana, ela sabia distinguir com perfeição os momentos de cada emoção que possuía. Não, é claro, que isso tenha diminuído a saudade que sentia por Ken. - <Seja bem-vinda! Sou Mizuno Ami, muito prazer.>
- <O prazer é meu.> - respondeu Paolla, também sorrindo. O que poucos, no entanto, sabiam era que aquilo já estava sendo um esforço hercúleo para a garota. Ela estava muito cansada por causa da viagem. Não a de Brasil-Japão, mas da distância entre Hikawa Jinja e Mizuno-ke. - <Sou Paolla Matsuura.>
Vendo as duas frente a frente, Asuka começou a notar como elas eram parecidas fisicamente. Mesmo corte de cabelo, quase a mesma estatura, silhuetas semelhantes... "Nah, deve ser só coincidência."
Assim como Martin, Paolla também teve que assinar mais alguns documentos antes que Asuka fosse embora. "Será algum termo que isenta a companhia de qualquer dano moral e/ou físico causado por batalhas que envolvam Sailor Senshi?" De qualquer forma, ela também não entendeu muita coisa, os documentos estavam todos escritos em japonês... kanji, para piorar a situação.
- <Tenha uma feliz estadia!> - desejou Asuka, logo tomando os papéis e voltando ao seu Network Vehicle.
A poeira ergueu-se diante do portão de Mizuno-ke, para a surpresa das duas garotas. Paolla tentou dizer a si mesma que aquilo devia ser 'natural', já que Asuka também deveria ter outras víti... quer dizer, alunos para 'entrega' no aeroporto. A brasileira então desvencilhou-se daquele pensamento, tomando a sua bagagem no mesmo instante.
Ami, por outro lado, era uma boa anfitriã. Pegando uma das malas de Paolla, ela conduzia a recém-chegada na sua casa. Ainda sob o espanto inicial de Paolla, Ami apenas sorriu ao caminhar para o segundo andar da mansão. Paolla continuou a observar maravilhada a decoração da casa, enquanto seguia como um zumbi os passos da mercuriana. Não levou, portanto, muito tempo até que Ami e Paolla encontravam-se diante do quarto de hóspedes, ainda decorado para o gosto de Mizuno Ken.
- <Desculpe, o quarto foi arrumado para o meu primo...> - disse Ami, entrando logo depois da brasileira.
- <Tudo bem, eu gosto assim.> - sorriu Paolla, colocando as malas sobre a cama.
Logo em seguida, Paolla abriu uma mala em particular. Com uma certa avidez sobre seu conteúdo, a brasileira apenas atiçou a curiosidade natural de Ami. A primeira coisa que Paolla tirou de sua bagagem não foi nada mais, nada menos do que um lap-top Cassiopéia. Sorrindo, a brasileira olhava quase maquiavelicamente para o aparelho. Ami, por outro lado, olhou com um crescente interesse para o computador e não resistiu em fazer _A_ pergunta.
- <Você gosta de computadores?> - perguntou Ami, olhando quase que predatoriamente sobre o lap-top.
- <Adoro. Principalmente para usar a Internet.> - respondeu Paolla, com um igual olhar.
- <O seu lap-top está equipado com modem?> - perguntou Ami, em seguida. Claro, isso também estava lhe dando uma certa sensação de... déjà vu. Só esperava que Paolla quisesse jogar xadrez naquela noite...
- <Está, mas não vou conectá-lo aqui. Não quero dar nenhuma despesa para vocês.> - disse amavelmente Paolla, notando que tinha inclusive uma extensão telefônica no seu quarto.
- <Pode usar o meu computador, se quiser.> - convidou a mercuriana, movendo o polegar ao quarto ao lado.
Paolla sorriu. Estava se dando bem com a garota com quem iria conviver por um ano. E isso era fundamental para uma boa sobrevivência em um país estranho. Colocando o lap-top sobre a escrivaninha, a ficwriter começou a arrumar as suas coisas.
Algumas horas depois, ambas estavam conversando como boas amigas, no quarto de Ami. Evidentemente, o computador estava ligado e conectado à Internet. E sim, ambas estavam conversando na frente do monitor.
- <Ei.> - observou Paolla, mexendo no navegador. - <Você andou visitando páginas de fanfics. Gosta?>
- <Um pouco. Comecei a ler alguns.>
- <Hmm... você entrou na página do Martin. Reconheço a URL. Você... não leu... os fanfics... sobre...> - gaguejou Paolla, percebendo o óbvio.
- <As Sailor Senshi? Li alguns, por quê?> - perguntou Ami, misturando um pouco de curiosidade com um nervosismo controlado.
- <Não ficou ofendida da gente ter usado o seu nome nas histórias? Quero dizer, de ter te relacionado com a Sailor Mercury?> - perguntou mais explicitamente a brasileira, engolindo um pouco de sua própria saliva.
- <Não...> - respondeu Ami, sentindo os dedos gelarem.
- <Tivemos que usar alguns nomes que apareceram na Times e na Newsweek para criar as identidades secretas das Senshi. O seu foi um deles. Desculpe, se isso te magoou.> - disse Paolla quase que rapidamente e tentando evitar qualquer conflito com sua anfitriã e nova amiga.
Ami suspirou aliviada no instante que Paolla havia dito aquilo. Em seguida, ela agradeceu aos seus kamis pela brasileira não ter percebido aquilo. No entanto, seu segredo não havia sido descoberto. Se bem que 'M. Arty' podia ter dado muitas pistas naquele período...
- <Mas como vocês relacionaram os nomes com as Senshi?> - perguntou Ami, plenamente curiosa.
- <Ah, o Martin e o Henrique são ótimos em fazer a tradução dos nomes japoneses. Eles relacionaram os nomes com os elementos de cada Senshi. O mesmo foi feito para os Dragon Kishi e os Noble Kishi.>
- <O seu amigo tem um nome bastante familiar para mim.>
- <Martin, ne? Eu sei. Marty Genkage. Li as reportagens e traduzi os fics dos rapazes.>
- <Hn. Então você é Tieko?>
- <Sou. Martin é MADS... e Xiao, Martin, Alex, Dohko, Sui, X/MADS, McSiu, etc, etc, etc...>***
Alias, alias e alias. Para os filhos da Grande Rede, possuir um alias é mais do que possuir um nickname, um apelido. Possuir um alias era como herdar todo um significado, um nome, uma lenda. Muitos sujeitam este alias como um segundo nome, uma homenagem para um ídolo, um seriado... não importa realmente. Alias é um nome... mágico.
Mágico... um alias é um nome na verdade. Um nome utilizado tão apenas entre os filhos da Grande Rede e capaz de provocar reconhecimentos sob a simples menção deles. MADS era o alias de Martin Siu. Assim como Tieko pertencia a Paolla Matsuura. Entretanto, nomes mágicos também tiveram sua origem, também tiveram a sua história.
Há muito tempo atrás, houve um lugar onde reinava-se a magia. Poucos acreditariam se fosse dito que a Lua abrigara vida em sua superfície. Mas isso havia acontecido. Eram os tempos do Milênio de Prata, quando a existência de vida em diversos planetas do universo era conhecida. Seus habitantes eram denominados selenitas, governados pela sábia Rainha Serenity e pelo seu marido, Eclypse, o Moon Dragon.
Aquela era realmente uma época mágica; onde fatos que atualmente seriam impossíveis eram reais no Milênio de Prata. Como a existência de magia. Pura e simples... magia.
Fatos que jamais seriam explicáveis racionalmente segundo a nossa filosofia científica. Mas facilmente explicada pelos selenitas.
No entanto, nem a razão, nem a magia foram capazes de salvar o Milênio de Prata de sua destruição. A razão científica, entretanto, jamais impediria que a Princesa Serenity sacrificasse a vida pelo seu amor... e jamais conseguiria impedir que a Rainha Serenity usasse o poder máximo do Ginzuishou para salvar as almas das pessoas que amava. Qual a verdadeira importância da razão, se ela não pode evitar perdas como essa?
Foi a razão que impediu a Guardiã do Tempo de alertar sua rainha sobre o destino do Milênio de Prata. Que manteve oculta de todos, inclusive das Senshi, dos Dragon e dos Noble Kishi, a existência da última equipe de elite selenita. A sua equipe.
A destruição teve o seu culpado, e ele não foi Beryl ou Metallia.
Foi aquela que recebeu o Time Staff das mãos da primeira Rainha Serenity. Aquela que primeiro soube utilizar a Garnet Orb apropriadamente.
Sailor Pluto.
Mas ela jamais se arrependeria daquilo... da destruição do Milênio de Prata. Impassível, ela sabia a resposta. Tudo... tudo era parte do Tempo.
Magia cobriu a sua visão, fornecendo algo que poucos imaginariam possuir. Magia, e não a razão fria da ciência selenita. Os pensamentos começavam a se misturar com as suas visões, mas ela logo conseguiu obter controle sobre o fluxo do Tempo novamente. Ela era a Guardiã do Tempo.
Ela sempre seria a Guardiã do Tempo.
Naquele instante, um par de olhos violetas observaram novamente o desenrolar do Tempo. Simultaneamente, uma fina linha de sangue escorria da testa da Guardiã do Tempo.***
Distantes daqueles pensamentos, duas pessoas tentavam se acostumar a uma nova rotina. Claro, imaginar que isso pudesse ocorrer de um dia para outro seria extraordinário, principalmente pelo fato de sequer terem começado a rotina. No entanto, aquela primeira noite dos dois estudantes havia sido tranqüila. Não houve seqüestros, ataques youmas, corujas piando, sapos coaxando ou qualquer coisa que pudesse perturbar o sono de ambos.
Assim sendo, Paolla acordou muito bem disposta e ao mesmo tempo que Mizuno Ami. Não levou muito tempo até ambas estarem preparadas para o dia e irem tomar o café da manhã.
- <A minha mãe sempre sai muito cedo. Espero que não se importe de comer sanduíches.>
- <Sem problemas.>
Elas realmente eram muito parecidas. Em poucos minutos engoliram seus sanduíches e foram até o Templo Hikawa, onde as amigas de Ami haviam marcado um encontro para conhecer os novos estudantes.
"Algo me diz que já vi esta cena antes..." pensou Paolla, caminhando ao lado de Ami. "Nah. Deve ser mais um déjà vu. Tieko, Tieko, você precisa PARAR de pensar em fanfics. Você está aqui para APRENDER coisas novas..."
- <A essa hora o seu amigo já deve estar acordado, ne?>
- <Acho que sim...> - respondeu Paolla, pensando seriamente em parar de escrever e traduzir fanfics quando voltasse para casa.***
Martin, por outro lado, já estava acordado há um bom tempo no Templo Hikawa. Desde as sete da manhã, para ser mais exato. Não era um horário ruim, uma vez que ele acostumava acordar bem antes em período de aulas. Todavia, nada o havia preparado para o que teria que fazer.
Quando Ami e Paolla chegaram, às nove, ele já havia arrumado metade dos quartos do templo, varrido as folhas do chão, ajudado o Yuuichiro a consertar algumas telhas e, no exato momento em que elas passaram pelo portão do templo, ele estava apoiado na vassoura, exausto.
Ami não conseguiu conter o olhar de espanto quando viu Martin apoiado na vassoura. Ele parecia estar MUITO cansado: os cabelos, mais bagunçados do que de costume, estavam caindo em seu rosto, os óculos só estavam em seu rosto graças à cordinha, a camiseta tinha uns leves toques de marrom-poeira-de-templo e sua respiração estava um 'pouco' pesada.
Paolla, por sua vez, tinha os olhos arregalados de espanto. Era a segunda vez que ela sentia que já passara por uma situação semelhante. O déjà vu estava ficando mais freqüente a cada momento que passava.
- {Martin, você tá legal?} - perguntou a brasileira.
- {Experimenta fazer em duas horas metade das tarefas do templo sozinha e você saberá como estou me sentindo...} - respondeu o garoto, 'gentilmente' a convidando a realizar tal proeza ao estender a vassoura.
Rei apareceu em seguida, ao ouvir vozes do lado de fora do templo.
- Ami-chan! Então essa é a sua hóspede?
- Ohayo, Rei-chan. Esta é Paolla Matsuura.
"... a sortuda", acrescentou Martin para si mesmo.
- Venham, vamos entrar. Daqui a pouco as outras chegam.
Não demorou muito para que mais pessoas chegassem. Em meia hora, todos estavam reunidos no templo, com a não notável e não muito impressionante exceção de Usagi, que chegou ligeiramente atrasada.
- Parabéns, Usagi! - exclamou Akai. - Só cinco minutos desta vez! Um dia você consegue chegar na hora.
- {Geez! Pensei que ela fosse demorar mais.} - comentou Martin, cutucando o braço de Paolla, que continuava com a sensação de déjà vu. "Isso ainda vai acabar com a minha viagem..."
- Agora que já chegou todo mundo, creio que podemos prosseguir com as formalidades, ne? - riu Minako, com Artemis no colo.
- É mesmo. - falou Rei. - <Estas são as minhas amigas. Usagi, Ami, Minako, Makoto e Akai. Aquele é o Mamoru e os gatos são Luna e Artemis.> - ela prosseguiu, apontando um de cada vez.
- Watashi wa Paolla Matsuura desu. - falou Paolla, curvando-se para todos os presentes.
- Watakushi wa Martin Siu desu. - falou Martin, também se curvando, mas sentindo algum 'peso da idade'. Ou talvez fosse o avô de Rei...
"Alea jacta est..." parafraseou mentalmente o ficwriter. A Gangue da Coelha estava completando-se...***
Alea jacta est. A sorte está lançada, como disse o imperador romano. Mas para o senhor daqueles olhos castanho-claros, havia muito mais do que a simples sorte. Havia muito mais do que isso. Havia o Destino. Poucas foram as pessoas que observaram a real existência do Destino como ele. Foi o Destino quem guiou os seus passos até aquele momento.
Agora não passava tudo de sorte. Desde a vinda Dele que tudo não passava de sorte. Mas ele não se desesperaria com aquilo. Era a chance que esperava. Sua mente, quase tão antiga quanto a própria humanidade, estava elétrica, manuseando cada linha de pensamento cuidadosamente. Como a preparar um bom texto para uma grande platéia.
Uma coisa não escapou à sua astuta observação. Poucos selenitas foram agraciados com a bênção da ressurreição terrena. Mas era ainda menor o número deles que guardavam parte de suas lembranças latentes em seus cérebros. Os que se lembravam do passado dificilmente conseguiam ter uma vida normal. Esses eram os escolhidos para defender a Terra. As Senshi, os Dragon Kishi e os Noble Kishi.
Incoerente.
Por que os maiores guerreiros do Milênio de Prata renasceriam como terráqueos para defender o planeta que, em parte, foi o causador da queda do Milênio? Por que a Guardiã do Tempo não evitou aquela tragédia? Quantas vidas poderiam ter sido salvas se ela tivesse intervindo?
O futuro poderia ter sido modificado.
E o destino dos selenitas poderia ter sido diferente.
Mas era tarde. Nada seria capaz de modificar o passado.
Todavia... o futuro já estava... escrito?
Agora era tudo baseado na sorte.
Alea jacta est... palavras muito sábias.***
Ainda era dia quando as apresentações e o 'pequeno' bate-papo sobre os fanfics terminaram. Demorou um pouco, aproximadamente três horas, para que Martin e Paolla conseguissem TENTAR explicar como eles faziam as histórias e como faziam as relações entre as Senshi e elas. Claro, aquela cena da Makoto e do Maury mereceu uma explicação BEM maior e MAIS convincente.
Além da explicação convincente, também mereceu uma sessão de perseguição protagonizada por Makoto e Martin. Ele na frente, lógico.
- <Makoto-san! Não fui EU quem escreveu aquilo, EU JUROOO!> - dizia o garoto ao correr e recobrar milagrosamente as energias gastas durante as tarefas do templo. - <Eu JURO que foi o autor de 'Sailor Moon Alternative Reality'! Está lá! Está lá!>
- <Aiaiai... quanto tempo ele agüenta correr, Paolla?> - perguntou Minako, vendo a perseguição ao redor do templo.
- <Quer sinceridade? Não sei.> - respondeu Paolla, com um olhar meio calculista, observando as inúmeras voltas que Martin havia completado ao redor do templo. - <Conheço ele pessoalmente há muito pouco tempo.>
- Há quanto tempo eles já estão correndo? - perguntou Rei.
- Dez minutos. - respondeu Ami, olhando no relógio.
Alguns minutos depois, Makoto parou ofegante na frente das meninas. Claro, Mamoru e Artemis estavam alheios àquela diversão 'mundana'.
- Vocês viram o Martin? - perguntou a garota de cabelos castanhos e olhar quero-matar-ficwriter-chinês.
- NANI?! - gritaram todos.
- Ué, ele não passou por aqui? - perguntou Makoto, franzindo a testa e recuperando parte de suas energias.
- <O que aconteceu?> - perguntou Paolla, entendendo muito pouco da conversa, mas entendendo MUITO bem que Makoto não havia ainda alcançado o garoto chinês na perseguição. Para a sorte dele.
- <O Martin sumiu.> - respondeu Mamoru.
- Nani?! - exclamou Paolla. - <Mas... mas...>
- Vamos procurá-lo. - falou Akai, correndo na direção do bosque.
Não demorou muito depois de Akai colocar um pé dentro do bosque para que um grito fosse ouvido. Não, não era um demoníaco 'novo inimigo que quer matar as Senshi' e tampouco era um grito de alguma garota gritando por ter encontrado Jack, o Estripador, no banheiro.
- HEEEEEELP!!! - ESTE havia sido o grito, hentai.
Todos voltaram correndo na direção do grito, que parecia ter vindo do telhado do templo. Quando olharam para cima, viram um Martin sentado no telhado, pensando em como descer sem se machucar. Muito, é claro.
- {Como foi que você subiu aí?} - perguntou Paolla, intrigada.
- {Juro que não sei.} - respondeu Martin, olhando para o que parecia ser a altura de um prédio de vinte andares. - <Alguém me ajuda a descer, onegai shimasu!>
Depois de tirar Martin de cima do telhado usando uma escada (ao contrário do que ALGUÉM poderia dizer a respeito de 'corpo de bombeiros'), todos voltaram a se reunir no salão do templo. Esquecendo temporariamente a perseguição, Makoto preparou chá para todos, especialmente para Martin, que ainda estava tremendo um pouco, ainda sem entender COMO havia chegado até o telhado. Não, é claro, que ele estivesse arrependido daquilo. Afinal, ELA não queria mais fazer patê de Martin naquele instante.
Subitamente, um barulho na janela chamou a atenção de todos. Era Ryu, sentado no parapeito, acompanhado de Lockheed. Ele olhava para Martin de modo estranho, como se o estivesse investigando.
- Konnichi wa, minna. - cumprimentou Ryu, escondendo qualquer emoção que obtivera após o 'Evento'. - Então este é o gaijin que chegou ontem?
Ao que pareceu, nem todas as palavras haviam sido ignoradas por Martin, que ergueu seu rosto na direção do recém-chegado. Será que ele já estava com uma reputação tão ruim para ser chamado de gaijin naquele instante??? E, é claro, ele fez uma nota mental para tentar mudar rapidamente os nomes colocados nos fanfics para evitar mais... confusão. Principalmente com um ano BEM longo em Tóquio...
- Hai, Ryu-chan. - respondeu Minako. - Este é Martin Siu e ela é Paolla Matsuura.
- <Boa tarde e sejam bem-vindos a Tóquio. Eu sou Satori Ryu.> - cumprimentou Ryu, olhando fixamente para Martin, que apenas olhou para o seu chá na esperança de ler o futuro ou algo parecido. "Esse cara tem algo estranho... assim como essa garota." - <Aliás... devo dizer que foi um bom pulo aquele ali. Foi muito bom.>
- PULO?! - exclamaram todos, olhando com olhos de pires para Ryu.
Martin, por sua vez, apenas franziu a testa. Pulo? Ele havia pulado mais de meio metro de altura? E sem se machucar?
- Vocês não viram?! - estranhou o Dragon Kishi com a falta de perspicácia do grupo. - Ele tava correndo da Mako, e de repente tomou impulso, saltou, bateu com os pés naquela árvore que a Kitty usava para treinar, deu uma pirueta e caiu sentado no telhado do templo, sem deixar cair os óculos! Foi excelente!
- <Aham... sem querer ser chata... Ryu-san, você pode repetir em inglês, por favor?> - pediu Paolla, sem entender a empolgação de Ryu. Ou ainda o nome 'Kitty' ter sido entoado de forma tão distinta...***
Mais tarde, quando já estava anoitecendo, Martin pegou um cartão telefônico e foi até a cabine próxima ao templo para telefonar para casa. Ou o mais perto dela.
"Essa eu PRECISO contar para Cousin... se bem que nem eu estou acreditando que fiz tudo aquilo..."
- Alô? Ricardo? É o Martin.
- E aí, como anda a vida em Tóquio?
- Bem movimentada... - disse o ficwriter, um tanto nervoso sobre como iria começar a dizer tudo aquilo. "Para não dizer perigosa..." - Ricardo? Por algum acaso do destino, o Saotome está por aí?
- Tá sim, quer que eu o chame?
- Não, não precisa. Só o avise que a VERDADEIRA Kino Makoto quase me matou por causa daquela cena de DK2 e que seria bom procurarmos nomes de pessoas mais... calmas para os fics. Tive que correr por dez minutos por causa do que Saotome escreveu...
- Ué, alguém mandou você fazer exercícios por causa daquilo? "Makoto? DK2? Do que que ele tá falando?"
- Não, foi o Instinto de Sobrevivência (tm) mesmo.
- Hahahahahaha! Não acredito! E o que você fez?
- Dunno. Disseram que eu pulei, bati numa árvore, dei uma pirueta e caí sentado no telhado do Templo Hikawa. Sem deixar cair os óculos!
- Te... te... TEMPLO HIKAWA???? Repete!
- Templo Hikawa. Sabe que até me deu idéias para novos fanfics? - comentou Martin, sorrindo malignamente. - Quem sabe algo com Kino Makoto...
- Novos fanfics? De NDK?
- Pois é. Hoje conheci o Satori Ryu.
- O Moon Dragon?!
- Hey, não sabemos se ele realmente é um Dragon Kishi! Lembre-se que aquilo são todas puras e simples suposições!
- É, você tem razão...
Martin continuou conversando com seu primo até os créditos do cartão acabarem, uma vez que precisava se certificar que a página fosse mudada URGENTEMENTE para evitar alguns 'perigos'. A noite já havia coberto toda a cidade de Tóquio, tornando-a mais perigosa, mas ele se preocupava com a sombra de alguma garota alta e incrivelmente forte à espreita, com um castanho rabo-de-cavalo voando com o vento, lembrando a cauda de um gato preparado para dar o bote.
"Nah, chega de paranóia." pensou ele, começando a andar. "A caminhada até o templo é curta e o único perigo que eu corro aqui é o de levar uma vassourada da Rei. Aliás, eu preciso comprar o uniforme da escola na qual vou estudar. Aquela bolsa era para a Universidade de Tóquio, mas falaram que teria que passar um trimestre em outra escola, para melhorar o meu japonês... Falando nisso... ONDE será que me matricularam? Acho que Paolla deve ter ainda os papéis... Cadê o meu cartão de chamadas locais?" pensou Martin, dando meia-volta e retornando à cabine.***
Na casa de Ami, Paolla estava ajudando a sra. Mizuno a lavar a louça, conversando alegremente com as duas. As três possuíam diversos assuntos em comum, inclusive o fato da sra. Mizuno ser médica, de Ami desejar seguir a mesma profissão da mãe, e de Paolla estar indo cursar o primeiro ano de Medicina na Universidade de Tóquio. Em suma, um trio de assassinas de branco (brincadeirinha! ^^").
- <Você é um pouco mais velha do que eu, ne, Paolla?> - perguntou Ami, guardando um dos pratos no armário.
- <Bom... eu tenho 18 anos.>
- <18? Uns dois anos mais velha do que eu?>
- <O sistema educacional do Brasil é diferente. Estou atrasada um ano, mas os estudantes costumam ingressar na faculdade com 17 anos. Porém, vou ter que ficar um trimestre na Juuban High School, para poder acompanhar melhor as aulas na Universidade de Tóquio.>
- Sugoi! <É a mesma escola onde eu e as minhas amigas estudamos! Mas você precisa do uniforme...>
- <Você me leva amanhã em uma loja onde eu possa comprá-lo?>
- <Claro...> - respondeu Ami, sorrindo, quando o telefone tocou. - <Com licença.>
Chegando próxima ao telefone, Ami enxugou suas mãos no avental e o atendeu alegremente. Não que nunca ela fosse alegre, é claro.
- Moshi moshi?
- Alô? ... é da casa dos Mizuno?
- É... Martin-san?! - exclamou Ami, reconhecendo a voz e o sotaque. - <Aconteceu alguma coisa?>
- <Não, eu queria falar com a Paolla, por favor.>
Ami passou então o telefone para Paolla, que tirou o avental de coelhinhos e atendeu.
- {Alô? Martin?}
- {Paolla, você sabe ONDE nós vamos estudar?}
- {Parece que é na Juuban High School.}
- {Ah...} - esclareceu-se o garoto. Pouco depois, ele piscou duas vezes os olhos e disse MUITO surpreso. - {NA-NI?! ONDE você disse?!}
- {Juuban High School, Martin.} - respondeu Paolla, logo entendendo o que o amigo queria dizer. - {Ah, não... de novo aquela sensação de déjà vu! Escuta, Martin. Amanhã eu vou até o templo junto com a Ami, nós vamos comprar o meu uniforme. Esteja pronto bem cedo.}
- Geez... {se depender do avô da Rei, pode ter certeza de que estarei acordado MUITO cedo.}
Paolla desligou o telefone e ficou pensativa. Tudo estava acontecendo de maneira muito familiar, tanto para ela como para Martin. Intrigada, ela subiu as escadas e foi até o quarto, pegar seu lap-top. Ela não ia conectar-se à Internet... mas reler uma história escrita por Henrique, Martin e Hélio há pouco tempo. Era o texto mais recente.
Por curiosidade, ela também abriu outro arquivo. Era o do seu primeiro fanfic baseado em NDK, ainda inacabado. "Ufa. Nada do que escrevi está acontecendo... ei, Tieko! Você deve estar ficando MAIS louca do que de costume! Você é só uma ficwriter, não a dona do destino! Pelo menos... não terei problemas com Sailor Dark Mercury ou coisa parecida."
- {Isso anda muito esquisito. Muito esquisito pro meu gosto.} - murmurou Paolla, fechando o arquivo e iniciando um novo. Desta vez, uma carta para sua mãe.***
As luzes do quarto de Martin demoraram para se apagar naquela noite. Naquele momento, ele acabava de conectar seu antigo hard drive no seu novo lap-top, parte do pacote do misterioso programa da USP que lhe dera a viagem para o Japão e a transferência da bolsa de estudos. Na verdade, ele estava ansioso por aquilo. Claro, a noite anterior não havia beneficiado-o muito, estando cansado demais da viagem. Olhando para a pequena tela do lap-top, ele resolveu que quando fosse comprar o material no dia seguinte, ele haveria de encomendar um monitor e um teclado maior.
Para muitos, escrever e ver em coisas minúsculas podia não ser um problema, mas para o garoto míope ali era um problema GRANDE. Principalmente quando estava empolgado com alguma coisa. Ligando a pequena máquina, ele esperou com muita ansiedade pelo programa de dominação mundial do tio Billie. Não demorou muito até ele finalmente observar a tela de entrada personalizada de seu computador.
- Okaerinasai, Eiki-san... - disse suavemente o garoto, aparentemente cumprimentando o computador.
Mas, sequer deram dez segundos e ele já estava acionando o editor de textos menos utilizado. Em outras palavras, o WordPad que raramente era usado pelas pessoas. Ele não se incomodava com isso, estando tão ansioso para digitar novamente. As idéias começavam a surgir e foram se depositando no fundo de sua mente.
Sim, ele estava empolgado. Estava empolgado e escrevendo um novo fic. Não era exatamente algo inédito, era quase um diário, narrando o que havia acontecido com ele desde que chegara ao Japão, mas com detalhes completamente inventados. Claro, o fato dele estar usando com uma certa e grande preferência a terceira pessoa ao invés da primeira estava visivelmente destruindo a imagem de um 'diário' comum.
- {Isso vai ficar melhor do que Angels...} - murmurou quase maquiavelicamente Martin, digitando em seu lap-top.
As frases se formavam em sua mente, e uma força estranha estava a dominar seus dedos no feroz bater do teclado. Isso, e adicionando a singular sinfonia das teclas no Templo Hikawa. E, felizmente, ele sequer tivera que esperar diante de uma folha em branco até que sangue escorresse de sua cabeça. A inspiração já era grande demais para ele poder resistir ao teclado.
Claro, para a sua segurança pessoal, estava escrevendo em português.***
Distante de tudo e de todos, uma outra pessoa também estava escrevendo. No entanto, aquela figura solitária escrevia uma história para ninguém. A caneta corria suavemente pelo papel, marcando-o com letras firmes e femininas. A mão que segurava a caneta parecia fazer com um certo gosto aquela ação tão interessante. O que, estranhamente, não era muito diferente das emoções da escritora. Havia sim um gosto especial...
Era chegada a hora da vingança. Os traidores seriam punidos, com todos os requintes de crueldade que ela conhecia.
Era a hora da doce e melodiosa vingança.
Seus olhos pareciam brilhar diante da luz das velas.
Página integrante da Jikan no Senshi Destiny Kishi
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