Tempestade de Ilusões
by
Ami Ikari & X/MADS!

Capítulo 19: May My Dream Become True

"Illusions commend themselves to us because they save us pain and allow us to enjoy pleasure instead. We must therefore accept it without complaint when they sometimes collide with a bit of reality against which they are dashed to pieces."
-= Sigmund Freud =-

      Quando Makoto acordou, não esperava encontrar aquela cena na cama ao lado. Espantada, ela levantou-se, desligou o laptop de Paolla, que ficara ligado a noite inteira, e fez com que a ficwriter se deitasse na cama, ajeitando as cobertas para que ela não se sentisse desconfortável.
      Após trocar de roupa e pentear o cabelo, a Senshi de Júpiter saiu do quarto, deixando a brasileira dormindo. Na sala do templo, Rei, Luna e Artemis já estavam tomando o café da manhã enquanto as outras não chegavam.
      - Ohayo, Mako-chan. - cumprimentou Luna, um sorriso escondendo uma noite de insucessos de descobertas. - Anoo... onde está Paolla-san?
      - Achei melhor deixá-la dormindo mais um pouco. - respondeu Makoto, tomando seu lugar à mesa. - Quando acordei, ela estava dormindo sentada, com as mãos ainda no teclado do computador.
      - Eu vou ficar com ela, então. - disse Luna, saindo da sala com outras preocupações. Fato era que Chris não saíra de seu quarto depois do segundo acidente da brasileira. - Sumimasen, minna-san.
      Pouco depois, o silêncio foi erguido entre as duas Senshi e o gato branco. Não havia o que comentar numa manhã. Estavam ainda cansados depois de tantos acontecimentos, tantas recordações e tantas mentiras. Tudo o que passaram até então teria sido uma ilusão criada pelos Destiny Kishi?
      Talvez pela simplicidade que possuem em mãos no momento que escrevem as histórias, no momento em que tudo não passa de personagens sem a emoção humana... no momento em que deixam de viver... COMO podia ser tão FÁCIL dizer que sua vida inteira pode ter sido a mentira de um Destiny Kishi? Que suas alegrias e tristezas eram devidas à fértil imaginação de uma só pessoa?
      - Mas qualquer que seja a mentira da vida, nós ainda vivemos e lutamos por ela. - murmurou uma voz alta.
      Chamando a atenção das duas Senshi, ali estava Chris Stover. Os seus olhos cansados e um pouco vermelhos indicavam o resultado de uma noite em claro, seu sorriso indicando nada menos do que vitória. Após várias horas numa busca quase infinita, ele estava a provar o valor de todo o conhecimento adquirido durante sua vida.
      - De qualquer forma, já sei quem era o cara que acompanhou o tal Daniel. - comentou Chris, dirigindo-se avidamente para a caixa de sucrilhos, o pote de geléia e a caneca de café. - Ele se chama Edson Makoto Kimura e adivinhem? Ele está no Hotel StarNight. A garota devia ser a guia de Daniel, e descobri que é uma novata, Kirisawa Kiriko. Ela mora a uns três quarteirões daqui e o hotel não muito longe de Tsukino-ke.
      - ... foi um bom trabalho, Chris. - falou Makoto, surpresa com a quantidade de informações que o canadense foi capaz de levantar em uma noite de pesquisa apenas.
      Ao mesmo tempo, ela começou a imaginar quantas pessoas no mundo também tinham essa habilidade... o que caía inevitavelmente sobre como os fanfics da tal Exodus FanFictions conseguiam tantos detalhes da vida de cada um dos selenitas reencarnados.
      - Oh. Não precisam me venerar por causa disso. - respondeu Chris sarcasticamente, recebendo então uma cotovelada de Rei. - Ouch... de qualquer forma, podemos ir a qualquer hora. Mas me dêem um tempo para recuperar um pouco de sono... - adicionou Strike Fiss, caindo na tigela de cereais.
      - ... ele é realmente único. - observou Rei, sob o olhar agora mais espantado de Makoto.

***
      Quase doze horas. Esse havia sido o tempo entre o acidente de Paolla Matsuura e onde Satori Ryu agora se localizava. Provavelmente, os demais já estavam começando a se acostumar com suas misteriosas viagens de treinamento, porém... porém não havia sido um treinamento que levara o Dragon Kishi da Lua a estar ali. Seus olhos rubros avistavam o horizonte azul, uma brisa salina acariciava seu rosto, e o Sol estava a despontar no Leste, tingindo as ondas do mar com um vermelho quase nefasto e profano, mas também sacro e revitalizador. Banhando-se nos primeiros raios solares, ele se virou na direção do motivo que o levara até aquele cais.
      - Sabe que lugar é esse, Seph? - perguntou Ryu, indicando algumas ruínas à sua direita. O selenita meneou a cabeça numa negativa. - Esta era a Torre StarLight. Onde várias coisas interessantes ocorreram. Ali. - ele falou, apontando para um lugar aparentemente comum. - Ali foi onde Eclypse morreu. São muitas lembranças.
      - Lembranças são sempre boas. Mostram nosso passado, nossa vida e o que aprendemos dela toda. - comentou Seph, quase alheio aos sentimentos que arrebataram o híbrido instantes antes. - Mas não foi para me mostrar o túmulo de Eclypse que me trouxe aqui.
      - Não. Não foi. - concordou Ryu, caminhando até as ruínas. - Mas é apropriado que ele seja a testemunha dos maiores traidores do Milênio de Prata. - afirmou o Dragon Kishi, seu olhar quase atravessando Seph. - Não estou certo, 'Destiny' Kishi?
      - Não sou um traidor, Silver. - respondeu Seph, ainda muito calmo para o gosto de Ryu. - E não quero entrar em detalhes quanto aos como e porquês de estar aqui. Eu vim por minha própria vontade.
      - Para quê? Fazer seus 'mistérios'? Para colocar a história em ordem? Qual é o final desta vez? - perguntou Ryu, sem diminuir a ironia em sua voz, o uniforme de Seph pouco ajudando a convencê-lo de que não fosse um Destiny Kishi. A função logo se tornava óbvia. - Qual é o final, Seph?
      - Não há um final. - murmurou Seph. - E não vim até aqui com você para ser insultado. Eu vim contar onde fica o Salão Prateado que você tanto procura, Silver. DISPOSTO a me ouvir? - perguntou ele agora com ironia.
      - E por que iria dizer isso?
      - Porque não sou um traidor, Silver. Nunca fui. Ninguém foi. Proteger o Tempo não significa alterá-lo a seu bel-prazer para que tudo dê certo e que os mocinhos vençam após uma árdua batalha. Não funciona assim. Nunca funcionaria assim. - respondeu Seph, seu olhar um tanto desapontado com a teimosia que Kyn às vezes proporcionava aos seus próprios aliados. Promessas e juramentos nada significavam diante do bem-estar do Tempo. - Observar sem interferir foi a primeira lição, mas alguns nunca aprendem... e precisam às vezes serem castigados.
      - O que quer dizer?
      - O que quero dizer é que Kyn está tão preocupada em recuperar suas preciosas memórias para saber onde está novamente o Salão Prateado que se esqueceu de verificar a essência do Tempo. Eu lhe digo o que está errado, Satori Ryu, Silver, Moon Dragon. O que está errado é ISSO! - esbravejou o selenita, indicando uma área qualquer do oceano.
      Moon Dragon apenas observou o local, como se alguma coisa fosse acontecer. Nada havia, mas Seph parecia estar confiante de que alguma coisa aconteceria realmente. Algo grande. Tão grande que se esqueceria de qualquer coisa para conseguir ajuda contra o que quer que fosse provocar o acontecimento. Assim, ele apenas observou. E esperou um minuto. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis... dez minutos e nada.
      - Afinal, O QUE era para estar ali? - perguntou Silver, observando agora que inclusive Seph estivera a olhar para o lugar indicado.
      - Isto. - respondeu apenas Seph, posicionando-se para manter seu equilíbrio. Em instantes, tudo começou a tremer.
      A Ligação de Ryu então explodiu, como se tudo estivesse errado. Como se o mundo inteiro estivesse errado. Era uma dor muito mais... uma presença muito maior do que ele podia lembrar das invasões de Dark Angel. Um efeito quase avassalador em seu espírito, enquanto seu corpo mal conseguia se sustentar diante da dor e do tremor que aumentava.
      Não demorou muito até se tornar um pequeno terremoto e algo realmente ruim acontecer. Os olhos do líder dos Dragon Kishi observaram algo que ele jamais esperava que fosse presenciar. Um enorme cristal começava a brotar do chão, como se fosse o prelúdio de um apocalipse.
      E não era também um cristal qualquer... de um material que ele lembrava de seu passado no Milênio de Prata. Erguendo-se, ele mostrava sua presença ao mundo, sua magnificência quase transparente dividindo os primeiros raios solares em centelhas de arco-íris. Uma imagem bela, não menos do que magna, a revelar-se.
      A julgar pela amplitude do estrondo de sua Ligação, Satori Ryu estava também certo de que não estava acontecendo apenas naquela parte do mundo, que não estava acontecendo apenas em Tóquio ou no Japão, mas no mundo inteiro. Ao mesmo tempo que era bela a imagem, ela era futurística e... errada. Não era para aquilo estar acontecendo, não era para nada daquilo estar acontecendo.
      Ainda que fosse para um mundo melhor, para Crystal Tokyo... estava errado. Estava errado. Os fins não justificam os meios. Não esses meios. Rangendo os dentes, Ryu se equilibrava na terra que se firmava, seus olhos capturando logo a essência do Senhor dos Cristais e demandando uma explicação simultaneamente a uma intervenção.
      Ele respondeu muito pouco, mas o suficiente para o líder dos Dragon Kishi. Muito mais do que o suficiente.
      - Algumas pessoas precisam aprender da forma mais difícil. - comentou Seph da Casa de Amber, Uranus Destiny Kishi.
      - Onde está o Salão? - foi a resposta de Moon Dragon para o que estava acontecendo diante de si.

***
      Ah! Mas como seria fácil a vida se tudo fosse fácil. Determinações não existiriam se tudo fosse fácil, se não houvessem dificuldades. São as dificuldades que no final formam todo o esforço, toda a exultação de ter vencido os obstáculos impostos. A vida por si só já é um desafio.
      Por mais que queiramos que as coisas fossem fáceis, estamos sempre procurando alguma tarefa, algo que nos engrandeça diante de nós mesmos. Para dizermos a alguém que conseguimos transpor obstáculos, que não somos facilmente desafiados e derrotados. Ao contrário, desafios cada vez mais difíceis e complexos se revelam todos os dias e muitos dos quais também são resolvidos. Cabe então a Murphy balancear parte desse curioso e excitante desafio da vida.
      Afinal, sabemos que nada é realmente fácil, sempre exigindo algum esforço nosso. Seja para transpor os obstáculos como para não criar outros em seu lugar. Por outro lado, algumas pessoas não possuem nem um pouco desse espírito aventureiro e sedento de desafios. Marty Genkage se alimentava desses desafios, enquanto outros preferiam manter-se o mais afastados possíveis para que jamais as dificuldades os alcancem.
      Kirisawa Kiriko não pertencia nem à uma classe e nem à outra. Ela gostava de desafios, afinal palavras-cruzadas e trânsito eram seu passatempo preferido. Porém também gostava muito de não ter desafios, assim sobrando mais tempo para seus passatempos não recomendados a pessoas com amor à vida. Claro que nem ela e nem uma pequena população sádica do planeta se incomodavam com isso.
      Porém, Murphy também existia para essas pessoas. Coisas fáceis são difíceis de aparecerem. Assim sendo, quando Kirisawa Kiriko, novata do CGISQADP - Clube de Guias de Intercâmbio Sádicas Que Adoram Dirigir Perigosamente (tm) - estava no aeroporto esperando suas novas vít... quer dizer, recém-chegados estudantes de intercâmbio, alguma coisa iria acontecer.
      Óbvio que tendo acontecido o que aconteceu na sua primeira experiência dentro do clube não seria algo que se tornaria a repetir. Olhando para os lados apenas para confirmar, não havia qualquer sinal de fumaça negra que daria origem a uma doida-varrida ultra-poderosa e nem mesmo lutadores de sumô que atrapalhariam uma fuga oportuna do local. Murphy, no entanto, não era uma manifestação muito bem conhecida pela novata.
      No caso, Murphy escolheu um avatar muito especial para que a vida de Kirisawa Kiriko se tornasse repleta de desafios. Principalmente para reerguer sua vida e/ou recuperar parte de sua personalidade quando o mundo desmoronasse na sua cabeça. Não literalmente, é claro. Este avatar, ao contrário do que muitos possam estar imaginando, não era um ficwriter agourento ou coisa parecida, mas estava muito próximo da profissão do primeiro. Esse avatar sorria para Kiriko no meio do aeroporto.
      Kiriko sorriu de volta, mesmo não entendendo bem o porquê de uma pessoa como aquela estar sorrindo para ela. Não era um conhecido, pelo que estava tentando se lembrar. Além disso, não era uma pessoa ruim... era até atraente. Será que a aceitaria como namorada?
      Mas também é óbvio que Murphy não agüenta às vezes guardar um segredo por muito tempo para observar melhor o desespero das pessoas. No caso, um par de olhos de serpente brilharam na direção de Kirisawa Kiriko, pouco antes do mundo desmoronar na sua cabeça. Agora literalmente.

***
      Só que Murphy não age apenas usando um avatar, como também ajuda esse avatar de outras formas. Claro que da pior forma possível para todos. Para 'equilibrar' os lados da balança. Por isso, enquanto o aeroporto caía na direção da cabeça de Kirisawa Kiriko para dar origem a mais um dos pilares de Crystal Tokyo, as pessoas que eram melhor capacitadas para prevenir tal desastre foram notificadas por uma forma quase inacreditável de premonição pré-catastrófica ou pré-apocalíptica para alguns.
      Esse aviso, por sua vez, veio na forma mais desagradável, porém indicadora de que não era algo onírico: dor. Uma dor intensa a abalar três pessoas naquele mesmo instante em que a Ligação de Satori Ryu explodiu num nível muito alto para manter qualquer tipo de restrição quanto a 'como parar de forma menos violenta quem causou isso', assim como a Ligação de Rei praticamente a impeliu a demolir a mesa para apaziguar a dor.
      Essas três pessoas, por alguma coincidência do destino mágico, estavam todas separadas, mas com uma forte indicação de onde deveriam ir para parar ou suavizar ao máximo aquela dor tão intensa que brotava em suas mentes e causava inclusive ferimentos em seus próprios corpos. A mente era realmente capaz de fazer coisas inacreditáveis, diria algum observador local que não estivesse próximo demais a alguns dos perigosos cristais a racharem o asfalto. Por outro lado, essas três pessoas agora estavam reunindo energias para irem ao foco de tanta dor.
      Um detetive, por assim dizer, iria logo procurar um ponto em comum entre essas três pessoas, caso soubesse que haveria uma ligação entre o surgimento de enormes cristais no meio de centenas de cidades e essa dor inexplicável que apenas essas três pessoas pressentiram. Mas esse mistério não era tão misterioso para Earth Destiny Kishi, provido de um sorriso único de vitória naquele instante.
      Essas três pessoas, no entanto, não sabiam de absolutamente nada, excetuando que havia REALMENTE sentido uma coisa MUITO ruim. Cada uma reagiu de sua forma, o que não foi muito diferente além de buscar ajuda para combater o mal eminente, apocalíptico e perverso que estava para surgir, arrebatando todo o universo conhecido da pior forma ainda desconhecida e que as impediam de dizer sem muitos pleonasmos.
      Acordar cuspindo sangue e sentindo uma dor terrível a dominar seu corpo, por exemplo, é uma situação que impede a escolha certa de palavras. Entretanto, a mente de Paolla Matsuura sabia perfeitamente o que aquilo estava significando ao avistar uma enorme edificação cristalina a alguns metros de sua janela.
      Outro exemplo é ter sofrido a pior dor que já tivera em sua vida toda e então concluir logo depois que não havia sido nada diante do susto que era ter seu braço quase arrancado por um monolito azul cristalino a brotar no chão de um cômodo de hotel a vários metros acima do solo. Essa, ao menos, era a opinião de Edson Kimura ao se chocar com um 'eu' interior até agora desconhecido em sua vida.
      Porém, de modo menos drástico que os anteriores, a situação de Seph não deixava de ser conflitante. Estando em seu uniforme e indicando já o seu despertar, ele estava muito mais ciente do que os dois brasileiros na questão sobre a causa de tamanha tormenta cerebral. Raciocinando rapidamente, ele logo somou às contradições que havia encontrado no Tempo no período em que estivera recuperando-se da sua batalha contra Kare o fator de ter sentido de forma tão brutal aquele desvio temporal.
      Ele havia se lembrado de seu batizado no Portal do Tempo, um rito que Sailor Pluto havia realizado quando os nomeara Destiny Kishi. Quando os nomeara como os guardiões do Tempo. Ele estava ligado ao empo, à sua própria essência. O que acontecia ao Tempo... ele podia perceber o que acontecia ao Tempo. Claro que teria sido melhor se fosse de forma menos dolorosa, mas a vida não é fácil, ne?
      Todavia, uma única fala representou a de todos eles, pronunciando-a em um uníssono que espantaria até mesmo a Art pelo sincronismo.
      - Problemas... - eles disseram, erguendo seus olhares num ponto em comum da nova geografia japonesa. Um enorme cristal prateado despontando a partir do aeroporto internacional.

***
      Problemas bem grandes. Aliás, grandes seria apenas um pequeno eufemismo diante da sensação que tinha recebido alguns instantes atrás e que ainda o atordoava. Porém, o que ele poderia fazer diante daquele problema tão grande? Se acreditasse em sonhos, ele decerto teria logo se transformado num ser super-poderoso aos sete anos de idade e não teria agora realmente algo com que se preocupar.
      - Sonhos são às vezes uma forma diferente de contar a verdade sobre si mesmo. - murmurou uma voz. Isso espantou Edson Makoto Kimura, principalmente pelo fato de que NÃO era uma voz dentro da sua mente e que ele REALMENTE estava escutando uma voz com todo aquele pandemônio na cidade.
      Por outro lado, podia ser apenas a sua imaginação pregando uma peça maior do que a do cristal dourado que mergulhara na sua cabeça e dera as mais indescritíveis histórias que poderia ter visto numa tela de cinema. Isso sem contar com a não-realmente-necessária 'autenticidade' na catarse com um público, já que seus músculos ainda estavam um tanto doloridos depois da última 'sessão da tarde'.
      - Quem disse isso? - perguntou ele, virando-se na direção de onde pensara ter ouvido a voz. Para então ter a certeza absoluta de que ele não havia realmente imaginado ter ouvido uma voz dizendo uma coisa daquelas como se nada estivesse acontecendo ao mundo naquele instante.
      Era uma garota, o que o fez estranhar muito. Quer dizer, agora estava virando um babe-o-magnet no Japão?!? Afinal, a garota não era uma garota apenas. Era uma garota BONITA. Possivelmente inteligente. E bonita. Vestia uma roupa um pouco justa. E ela era bonita. Era uma espécie de macacão rosa, não era? Bem, que importava se ela era bonita? Seus cabelos pareciam ser como uma suave cascata de fogo, e seus olhos... Ah! Seus olhos eram como duas pequenas jóias celestes.
      Ao mesmo tempo, pareciam duas esferas de vida flamejante que... que... que estavam olhando perigosamente na sua direção se ele continuasse a olhá-la daquela forma? De qualquer forma, ela era bonita, suas curvas bem... hmm... a saúde adverte que seria melhor analisar o que ela tinha a dizer.
      - Quem eu sou não importa. - respondeu a garota, novamente tendo a atenção para si de forma menos... apaixonada(?). - Tudo o que tem a fazer é pronunciar três palavrinhas para que seus desejos se tornem realidade e o mundo dos sonhos abrir seus portões para a sua presença.
      - Hmm... eu gosto desse enigma. Todos os tipos de desejos? - perguntou Edson, já imaginando que aquela seria sua tão prometida Belldandy. Embora ela não tenha (até onde ele sabia) saído de um espelho.
      - Apenas diga 'Venus Destiny Power', está bem? - resmungou a garota, desaparecendo num turbilhão de estilhaços de cristal.
      Vendo que não estava ferido, Edson apenas permaneceu observando o último lugar que a beldade havia aparecido... pouco antes de recobrar a plena consciência do que havia forçado-o a olhar para lá antes. Confirmar que não era um truque da sua mente. Ele sabia que não era, principalmente pela dor que sentia a partir do ferimento do seu braço, o cristal tendo tomado boa parte do quarto.
      - Só espero não precisar pagar por causa disso... - comentou o brasileiro, recordando-se das palavras proferidas pela bela garota dos sonhos. Não vendo o porquê de não fazer e tampouco o perigo que aquilo poderia significar, ele resolveu obedecer. - Ikuzo! VENUS DESTINY POWER!!!
      E então a maldição começou. Quer dizer, os portões do mundo dos sonhos se abriram diante do espírito aventureiro de Edson 'Cloud' Kimura para que seus desejos se tornassem realidade. Pelo menos quanto à parte sobre-humana para dirigir-se ao caos na Terra. (^^;)

***
      Por outro lado, se alguém podia concluir uma coisa quanto ao Senhor dos Cristais, essa coisa era refletida pelas exatas palavras de Satori Ryu ao ver uma sombra dourada indo velozmente na direção do aeroporto internacional de Tóquio sem nem mesmo ter dito o real propósito que o fizera perder a noite inteira numa caminhada sem fim que era a exata localização do maior tesouro que Ryu desejava naquele mesmo instante que era exatamente o Salão Prateado onde iria jogar sinuca, baseball ou boliche com a cabeça do desgraçado que estava atormentando a sua vida e a do mundo inteiro com cristais gigantes surgindo na superfície da Terra.
      Um passatempo agradável, por assim dizer. Ah! As palavras...
      - Ele É rápido. - concluiu o líder dos Dragon Kishi, transformando-se em seguida e adquirindo velocidade para alcançar a sua resposta quanto ao seu recente desejo por sangue. Literalmente.
      Ao mesmo tempo, Ami, Rei, Makoto, Minako, Usagi, Tux... quer dizer, Mamoru, Artemis, Luna, Akai, Lockheed e Kaya observavam uma mancha azulada no horizonte ao se reunirem para saberem das novidades de Chris-dormindo-na-tigela-de-cereais sobre os resultados da incrível pesquisa que fizera e também por causa do chamado de Ami pouco depois que os tremores começaram.
      Ami estava visivelmente preocupada, não apenas pelos cristais, por Chris estar praticamente se afogando na tigela de cereais com leite, pelos tremores sobrenaturais numa região onde eram comuns terremotos SEM crescimento de cristais e pelo simples fato de que isso a deixava preocupada por serem possivelmente uma obra dos Destiny Kishi dos quais sua reencarnada recém-descoberta irmã gêmea alguns segundos mais nova participara no passado. Sua preocupação foi refletida pela ligeira intensidade de energia que possuía em seu corpo ao correr na direção dos quartos de hóspedes do Templo Hikawa para tentar se certificar que o que estava pensando não estava acontecendo.
      Claro, todas as esperanças de Ami para que a mancha azulada que correra provavelmente na direção do mal de tudo que há não tivesse sido realmente sua recém-descoberta irmã gêmea reencarnada no Brasil haviam se despedaçado frente ao vazio do quarto. A cama ainda desfeita indicava que saíra correndo de lá para onde quer que fosse. O armário aberto, por sua vez, dizia que ela se trocara rapidamente para onde quer que fosse a sede do mal de tudo que há que causou possivelmente aqueles respingos de sangue no lençol que Rei iria reclamar por ser obrigada a lavar aquela mancha quando descobrisse. Não demorou muito até que lágrimas se formassem na mercuriana, suas emoções tendo sido elevadas diante dos acontecimentos e revelações naquele último mês.
      Numa tempestade de acontecimentos ao seu redor, ela mal conseguia pensar direito sobre o que fazer, tomando aos poucos a linha de raciocínio que possuía para não cometer um engano. Por outro lado, era da sua irmã de que estava se preocupando e quem devia estar em maior perigo. Considerando ainda o passado da sua infância selenita, ela tinha motivos o suficiente para ficar preocupada.
      Definitivamente preocupada e com milhares de linhas de pensamento sobre o que fazer em seguida, Mizuno Ami apenas decidiu por correr o quanto antes para socorrer sua irmã - essa mesma, a reencarnada recém-descoberta que tornara-se amiga dela em pouco menos de dois dias de convivência e que trouxera um amigo com quem Mako-chan gostava de praticar um cooper estranho com armas e utensílios de cozinha a cada página que lia dos tais fanfics.
      Entretanto, ela não dera um passo sequer para fora do Hikawa Jinja, por maior que fosse a sua velocidade. Como se estivesse agora dentro de um daqueles fanfics perturbadores da Exodus FanFictions, ocorreu o famoso clichê de Murphy onde tudo começava a cair desesperadamente no abismo das emoções do cyberpunk. Em outras palavras, ela trombou com a pessoa que planejava agora quebrar o recorde de velocidade estabelecido por Seph da Casa de Amber.
      Em palavras ainda mais modestas, ela bateu de frente com Satori Ryu. Como Murphy estava com pressa, acabaram por não cair numa posição comprometedora, porém ambos com preocupação visível em seus rostos. Também não era por um possível comentário comprometedor que poderia vir dos demais que assistiam atônitos aos movimentos do líder dos Dragon Kishi e da mais inteligente das Senshi.
      Simplificando as nossas vidas, eles resumiram em menos de um minuto todo o trágico acontecimento sobre os tremores, os selenitas reencarnados recém-descobertos, os cristais e os desaparecimentos dos mesmos selenitas numa direção suspeita pela enorme edificação de cristal a despontar no meio de todos os cristais e que supostamente parecia pertencer ao mesmo lugar onde iria surgir a sede de Crystal Tokyo. Para o espanto geral dos que ali estavam e não compreendendo palavra alguma daquele japonês mais rápido que o famoso trem-bala. Excetuando Chris, que acordou com o barulho todo e não se afogou em sua perigosa tigela de cereais com leite.

***
      Silêncio. Um profundo silêncio que era apenas quebrado pela respiração de três pessoas naquele instante tão estranho do Tempo. Uma dessas pessoas podia ser o responsável pela destruição de quase uma galáxia inteira. Outra pela destruição permanente de uma das mais tradicionais formas de governo no Reino Negro. A última apenas poderia ser a culpada pelo maior desastre conhecido da humanidade.
      O primeiro apenas meneou a cabeça levemente, em profunda desaprovação e falta de qualquer idéia sobre o que viria a seguir. Cobrindo com a mão direita seus olhos azuis-acinzentados, seu cabelo negro e curto bagunçava-se ainda mais depois de vários dias de cativeiro. Seu nome era Henrique 'Ranma' Loyola e era um ficwriter brasileiro. Agora era Moon Fox, a.k.a. First Writer e Moon Destiny Kishi.
      O segundo apenas chorou em desalento e incapacidade de pronunciar com palavras a sensação de perdição na qual se encontrava. Ignorando hematomas e ferimentos leves, ele agora recusava-se olhar para o texto diante de si. Um pouco mais baixo que Henrique, seus olhos azuis refletiam a mesma umidade e tristeza que as de Moon Fox. Seu cabelo curto e castanho-escuro tentava em vão cobrir com a franja bagunçada o domínio de desespero que começava no âmago de seu ser. Seu nome era Hélio 'H-kun' Perroni Filho e era um outro ficwriter brasileiro. Agora era Silver Sky, a.k.a. Guardian of the First Silver Book e Jupiter Destiny Kishi, preparado para amaldiçoar a pessoa que deu aquele nome e a frase de transformação estúpidos que tinha.
      O terceiro estava apenas alheio a todas aquelas reações exageradas de seus companheiros, observando sua obra-prima colocada nas folhas de papel. Quando diziam que sua escrita não ficava muito atrás do quase apocalíptico final de todos os tempos com direito a personagens super-poderosos a nascerem de todos os cantos para a grande batalha celestial e garantir seu lugar no Inferno Tolariano (tm) onde Chibiusas dominariam o mercado de ações e seriam a divindade local, essas pessoas não estavam apenas brincando. Com um sorriso que ia de orelha a orelha, ele observava o quanto podia reverter uma péssima situação em alguma coisa muito, muito...
      - TERRÍVEL!
      - Nan da? - questionou o terceiro a Moon Fox, flexionando uma sobrancelha. - Mas está indo tudo de acordo com o plano...
      - Você quer dizer com o plano DELES, ne? - mencionou Henrique, observando suas três únicas esperanças surgirem repentinamente e serem açoitados mentalmente pela pena volúvel de Aleph. - Você PERCEBE o que está acontecendo?!? Ou essa tiara fritou de vez o que restou de seus miolos?
      - Ranma, Ranma, Ranma... você tem que aprender a ver o melhor lado das coisas. - afirmou Aleph, como se soubesse de alguma coisa que o ficwriter não tinha ainda percebido. - E se o enganei tão bem, os três não irão sequer perceber o que está acontecendo...
      - Quer se explicar de uma vez? - ordenou Moon Destiny Kishi, não suportando agora ver Silver Sky chorando daquela forma. E isso era uma cena TRISTE de se ver.
      - Simples! Muito simples na verdade. - colocou Aleph, produzindo um enorme diagrama de Tóquio do nada. Ele circulou então três pontos bem próximos. - Aqui estão Seph, Kyn e Firebird. Eles devem se encontrar quando chegarem simultaneamente neste ponto. - disse ele, circulando o aeroporto internacional. - Aqui está Art e também a tão venerada Krys-chan de Firebird. Você ainda se lembra do quanto ele idolatrava aquele pingente, ne?
      - Un. Mas continue logo com isso, que até aí não é nenhuma novidade. O que vem depois? - pediu Henrique, querendo saber o que estava por trás daquela prática suicida quase caótica de Aleph.
      - Ok, ok, ok... quando Art perceber que está em minoria, ele vai ter que chamar por Kare e Neko. Elas despertarão daqui a pouco e irão socorrê-lo e ESSA é a nossa oportunidade! Kyn, Seph e Firebird são imbatíveis quando estão juntos. Um pensa, o outro distrai e o último ataca. Tudo tão rapidamente que Art, Neko e Kare nem terão uma chance contra eles. Daí, eles vêm e resgatam a gente e depois MASSACRAMOS essa tríade distorcida dos Destiny Kishi.
      - ... - Henrique 'Ranma' Loyola nunca esteve tão sem palavras em suas duas vidas quanto naquele instante. Muitos diriam que isso era um presságio de um apocalipse, enquanto outros espirrariam cinqüenta vezes seguidas e outros ainda diriam que era um sinal de boa sorte.
      Aparentemente Aleph pertencia ao último grupo, enquanto Silver Sky chorava agora mais alto e preparado para um iminente homicídio. Aleph, com seus olhos verdes-acinzentados a brilharem sem limites e seu cabelo negro levemente bagunçado a irradiar o poder de um deus através de uma simples caneta, esperava agora seus elogios.
      Infelizmente(?), Moon Fox continuou sem palavras por um bom tempo e Silver Sky continuava a chorar. Havia um detalhe que Aleph não percebera devido ao tempo que não permanecera para analisar o novo Art. Um Art que simplesmente não era mais o mesmo que o de vinte mil anos atrás, quando ainda estavam sob o domínio do Milênio de Prata. Ele agora tinha olhos de serpente, traiçoeiros e inteligentes como nunca. Dotados de um brilho de perseverança e determinação para alcançar seus mais absurdos sonhos. Sonhos de cristal.

***
      Art, por sua vez, estava rindo como nunca. Ele estava feliz depois de tantos anos, depois de tanta espera. Seus sonhos estavam se tornando agora em realidade. Pura realidade. Foi com enorme satisfação que ele observava o crescimento dos cristais que um dia seriam a base de sua Crystal Tokyo. De sua tão sonhada e utópica (argh!) Crystal Tokyo.
      Um mundo sem violências, sem guerras, sem crimes... onde apenas haveria paz, amor e justiça. O mundo maravilhoso que ele mesmo visitara. Um mundo que havia sido então destruído com a invasão de Dark Angel, que havia sido desmanchado, apagado de sua existência com a morte de elementos muito importantes para a sua vinda.
      E agora, tudo estava voltando. E voltando numa taxa muito melhor do que a anterior, em sua opinião. Definitivamente, a ação de Destiny Kishi na Linha Temporal era capaz de modificar algumas das coisas mais interessantes que podia imaginar. Essas coisas interessantes refletiam, por exemplo, na verdadeira realização do mundo de cristal e beleza de Art. Uma vinda bem acelerada por sinal.
      Assim, ele estava feliz. Seu sonho estava se tornando completo a cada instante e faltaria pouco até ele ser concluído pelas mãos hábeis dos Destiny Kishi que ficaram no Salão Prateado. Earth Destiny Kishi agora não se importava com qualquer coisa. Que viessem dragões, youmas, bakemonos, Dragon Kishi, Noble Kishi, Senshi... viesse o que viesse, nada importava. Ele estava feliz e estava gargalhando de felicidade. Nada poderia agora impedir a vinda de Crystal Tokyo. Absolutamente... NADA!
      Olhando ao seu redor, ele observava as pessoas gritando e correndo em pânico, assustadas demais com a vinda do Novo Mundo. Levaria um tempo até que se acostumassem, até que percebessem a realidade de uma utopia idealizada por milênios. Ao seu lado, estava uma garota tão assustada quanto os demais e que correria muito caso Art não estivesse segurando seu braço com força.
      - Eu realmente não queria chegar a esse ponto, mas você é importante para as próximas fases de meu plano. - mencionou Art para a garota, um sorriso vitorioso estampado em sua face. - Em breve, tudo vai mudar.
      Kirisawa Kiriko apenas continuou a gritar em pavor, enquanto seus olhos registravam atônitos a destruição do aeroporto e enormes pedaços de aço e concreto caindo perto dela. Art, por sua vez, mantinha sua atenção para os cristais, que subiam na direção do céu como se magnetizados, vislumbrados pelo aparecer do Despertar do Mundo.
      Aquele era apenas o primeiro estágio. Ele esperou tanto tempo... tanto tempo... lágrimas de alegria formavam-se em seus olhos esmeraldinos, enquanto um pilar azulado de cristal surgia no centro do aeroporto. Kiriko continuava a gritar em pânico, não percebendo a verdadeira grandeza daquele lugar. Em pouco tempo, aglomerados de cristais se formavam como pedaços de quartzo abertos ao mundo. Art sorria cada vez mais.
      O local não havia sido escolhido por acaso, tendo sido calculado em primeira instância sobre o maior paradigma dos traidores. Ele completaria assim um trauma, ainda que pequeno sobre suas mentes fragilizadas por suas ilusões, por todos aqueles anos em que estivera observando. Os primeiros raios solares já começavam a atingir os destroços do aeroporto e sendo também testemunhas do amanhecer da nova era.
      Dividindo-se, multiplicando-se, os raios iluminavam por completo aquele local através dos cristais. Nunca mais haveria uma noite em que a Escuridão fosse tomar conta. Não mais haveria um lado negro no coração humano. Não mais... não mais. Art banhava-se naquela gama infinita de cores e luzes, como se pertencesse a uma paisagem divina. E ele agora apenas sorria, por sua voz ser incapaz de manifestar a tão inesperada alegria de seu coração. Uma alegria que seria completa em alguns instantes.
      - CHOTTO MATE!!! - gritou uma voz. Feminina. Como Art premeditara.
      - Enfim, você veio... - comentou Art, seu sorriso sendo uma pequena amostra da concretização de seu sonho.
      - Atashi wa Jikan no Senshi Mercury Destiny Kishi! - ela continuou, SEM fazer determinadas seqüências de movimentos comuns às Senshi.
      - Eu já sei quem é você, Kyn. - comentou Art, virando-se para trás. Acima do pilar principal, lá estava a figura que esperava para completar seu sonho. Para que tudo se tornasse inteiro.
      Ainda segurando Kiriko com sua mão esquerda, ele moveu seu braço direito, como se estivesse brincando com uma capa invisível. Uma centelha de luzes voltou a cobrir sua imagem, enquanto seu uniforme de Destiny Kishi aparecia em seu corpo. Em seguida, algo inesperado por Kyn.
      - Earth Destiny Power... - sussurrou o selenita, seus olhos esmeraldinos jamais deixando de observar a expressão do rosto de Kyn.
      A terra começou a tremer, despedaçando-se diante das palavras de Earth e logo formando gigantescos blocos castanhos em pleno ar. Kyn agora percebia que Art estava muito mais forte do que anteriormente. Muito ainda sendo um eufemismo. Art também estava determinado a concluir qualquer que fosse seu plano e a presença dele agora não a surpreendia mais. Depois de Kare, ela agora esperava qualquer coisa dos selenitas sobreviventes.
      Suas faixas continuavam a brincar com o vento, enquanto seus olhos azuis observavam a seqüência de transformação de Art atentamente. Era algo diferente. Muito diferente do que ela poderia esperar. Não demorou muito até que uma armadura castanha rompesse dos blocos de terra, juntando-se em seguida e sobrepondo o uniforme dos Destiny Kishi. A armadura, por sua vez, lembrou muito a Kyn sobre as imagens do Príncipe Endymion pouco antes do baile fatídico na Lua.
      - Watashi wa Jikan no Senshi Earth Destiny Kishi. - disse Art, jogando para trás uma capa branca. - Crystal Tokyo wo kono te ni...
      - Não se eu impedir! - gritou uma outra voz. Masculina. Como Art também premeditara. - Watashi wa Jikan no Senshi Venus Destiny Kishi!
      - Firebird! - gritou Kyn em reconhecimento. Agora estava começando a ficar mais tranqüila. Saltando numa pirueta de cima de seu posto, ela se juntava ao Destiny Kishi que saía das sombras.
      Firebird... ela realmente não esperava encontrá-lo naquele lugar. Mas estava satisfeita que tivesse. Não queria envolver as Senshi naquela batalha, principalmente porque os Dragon Kishi viriam atrás e Chris agiria com insensatez diante de Earth Destiny Kishi. Uma aura azulada a cobria, preparando-a para o ataque de Art. Ela sabia quem ela devia atacar agora. Sabia quem era o mestre dos fantoches - ou pingüins, tartarugas e o que mais eles traziam do zoológico.
      As faixas alaranjadas de Firebird tangiam às vezes com as de Kyn, enquanto Art parecia apenas estar esperando por mais alguém. Kyn imaginou que fosse Chronos, uma das pessoas que talvez conseguiriam parar o estágio avançado de treinamento que Art devia ter se imposto desde a queda do Milênio de Prata. Por outro lado, Chronos devia ter acabado de se Despertar e talvez não ajudasse muito.
      Percebendo que estava fugindo sua mente da batalha, ela voltou a olhar para Firebird, que parecia estar agindo como ela se lembrava. Um olhar flamejante de raiva indicava que Art seria o responsável por algo muito doloroso. Porém, ela sabia que ele sabia que ela sabia que ele sabia que antes de qualquer vingança ou punição, eles deveriam impedir Art a todo custo de alterar a Linha do Tempo daquela forma. Deviam parar... Crystal Tokyo.
      Uma aura em chamas parecia cobrir o pássaro de fogo, o brilho dourado a emancipar o poder de seu Elemento. Metal restante do aeroporto retorcia-se diante da vontade de Venus Destiny Kishi, que começava a ultrapassar os limites de um Aceito. Notificando que seria perigoso estar próxima dele, Kyn recuou um pouco, permitindo que seu próprio Elemento se formasse em suas mãos. Não havia muito tempo, por alguma ironia do destino, e deveria terminar aquela batalha o mais rapidamente possível.
      - Esperando alguém, Art? - resmungou Firebird, formando uma corrente prateada em suas mãos. Ela parecia pulsar com vida, o brilho dourado de Firebird estendendo-se por ela.
      - Hai... - respondeu Art, surpreendendo os dois Destiny Kishi. - Mas parece que não virá. Não faz mal. - ele completou, sorrindo novamente. Um brilho arcano começou a se formar em sua mão livre, enquanto esta tomava a katana em suas costas. - CRYSTAL WEAPON! KASUNAGI NO TSURUGI!!!
      A katana de Art então se despedaçou, confundindo Firebird e Kyn por um instante. No outro instante, a aura de Art partiu o cabo da sua katana quando ele a soltou. Os pedaços dela se espalhavam por todos os cantos, o cabo permanecendo imóvel no chão. Entretanto, Art estava confiante, o que deixava Mercury e Venus Destiny Kishi confusos sobre o que fazer além de observar os eventos. Foi então que perceberam que o ar se movimentava ao redor de Art.
      Os estilhaços da katana circulavam seu antigo senhor, refletindo uma luz acastanhada para todos os lados. Um círculo de luz avermelhada formou-se ao redor dele, incluindo também a sua refém. Não demorou até um bloco imenso de cristal castanho aparecer acima da cabeça do Destiny Kishi.
      Tocando com o indicador o cristal, este explodiu, obrigando os dois outros Destiny Kishi a cobrirem seus olhos para não se ferirem muito com os fragmentos. Em seguida, puderam apenas observar uma katana nas mãos de Art, formada a partir daquele único pedaço de cristal. Não... Kyn corrigiu a si mesma, pois era uma espada maior que uma katana. Uma tachi.
      Inconscientemente, ambos os Destiny Kishi recuaram diante de Art. Um poder muito superior ao próprio selenita emanava daquela tachi arcana. Quando e como Art havia conseguido tal arma era ainda um mistério a ser resolvido. Mas que ambos gostariam MUITO de resolver DEPOIS que Art estivesse literalmente a sete palmos abaixo da terra. Seu olhar quase insano de felicidade e vitória absoluta indicava que não seria impedido por palavras. Apenas a morte o pararia de trazer Crystal Tokyo.
      - As you would say... it's party time! - falou Earth Destiny Kishi, erguendo a tachi cega na direção o céu e causando tremores na terra.
      Seu sorriso obviamente apenas perturbou os dois Destiny Kishi que agora esperavam por um milagre.

***

Por outro lado, muitos dizem que anjos são um milagre divino que apareceriam de tempos em tempos para trazer a Paz ou o Juízo Final, mas que traziam em seus objetivos o bem-estar da boa humanidade. No caso, já havia sido revelado um anjo algum tempo atrás. Um anjo negro que trouxera o caos na Terra, após a vinda de um anjo da esperança. E embora tudo isso fosse bonito, apenas seria preciso que o anjo da esperança superasse o anjo negro.
      Entretanto, o anjo negro não estava mais ali, apenas a sombra de todos os seus atos tenebrosos e vis sobre a alma humana. Porém, o anjo da esperança ainda estava ali. Sempre esteve presente no coração humano, transcendendo agora sua existência na forma de uma pessoa. Na forma de um anjo. E esse anjo estava agora prestes a combater as sombras do anjo negro.
      A luz contra as sombras, as sombras contra a luz. Seria uma batalha eterna da qual ela jamais pensaria agora em desistir. Ela tinha esperanças. Esperanças para todos. Não, não estava vendendo. Suas esperanças refletiam nas pessoas ao seu lado. No que cada um acreditava, no que todos acreditavam. Um mundo, um futuro onde não seria necessário ter esperanças. Onde o Mal jamais os tocaria.
      Esse era o mundo que buscavam. Um futuro melhor para as crianças, velhos e adultos. Para todos. Esse mundo maravilhoso podia ser reduzido a duas palavras, no entanto. Crystal Tokyo. E agora o anjo da esperança era obrigado a destruir esse mesmo sonho. Todavia, não era a mesma Crystal Tokyo que acreditavam. Era a Crystal Tokyo distorcida pela mente de um ser malévolo. O anjo tinha plena certeza daquilo, pois uma utopia jamais chegaria repentinamente trazendo desespero e pavor no coração das pessoas.
      Tsukino Usagi estava certa disso e estava preparada para combater o mal que assolara o mundo naquele instante. Entretanto, uma preocupação transparente sobre o bem-estar de todos podia ser visto na expressão de seu rosto ao olhar os demais. Ela não queria que nenhum deles se ferisse, ao mesmo tempo que sabia que seria incapaz de lutar contra esse mal sem o apoio deles nos momentos mais críticos.
      Ela crescera e aprendera com eles. Tuxedo Kamen, Sailor Mercury, Sailor Mars, Sailor Jupiter, Sailor Venus, Moon Dragon, Mars Dragon, Saturn Dragon, Luna, Artemis, Lockheed, Kaya... todos eles. Inclusive os que ali não estavam. Neptune Dragon, Uranus Dragon, Jupiter Dragon, Venus Dragon, Pluto Dragon, Earth Dragon... Noble Kishi... todos eles. Todos.
      Não havia então espaço em seu coração para dúvidas e medos. Ela iria combater o mal que atormentava as pessoas naquele instante. Por mais difícil que fosse, por mais impossível que parecesse... ela iria combater. Ao lado deles. Estando eles juntos de si ou em seu coração. Ela iria, não importasse qual fosse o preço que tivesse que pagar.
      - Moon Eternal MAKE UP!!! - gritou Tsukino Usagi.
      Ela não era mais agora Tsukino Usagi, a garota medrosa que gostaria apenas de se casar e ter filhos numa casa comum e tendo uma vida comum ao lado de seu amado Chiba Mamoru. Ela era Tsukino Usagi, Sailor Moon, Princesa Serenity... um anjo da esperança. Uma guerreira do Amor e a Justiça. Porém não era piedade e compaixão que estavam presentes em seus olhos azuis. Era a pura e simples determinação necessária para sempre seguir em frente.
      A tropa de oito dos mais fortes guerreiros selenitas foi então liderada pelo seu espírito de combate. Confiante, ela abriu a porta da sala, preparada para ir enfrentar o mal ao lado de seus amigos mais queridos. Com um passo firme, ela iniciou sua jornada.
      E então parar temporariamente devido a uma pessoa bloqueando o caminho. Entretanto, não era uma pessoa qualquer. Para um alívio oculto de todos, tampouco era o anjo negro. Mas uma pessoa que trazia em seu olhar noites de insônia e uma determinação sem limites para alcançar os limites da realidade. Como se tivesse lutado no céu e no inferno para trazer alguma coisa deveras importante.
      Roupas gastas que pareciam ter sido consumidas em dias o que levaria anos para chegarem a tal estado cobriam-no por completo, uma camada de neve e outra de terra a cobrirem seus ombros e completar a sua fadiga. Entretanto, ele estava ali de pé, como se a anunciar algo muito importante. Nenhum dos guerreiros sequer pronunciou uma palavra, ainda que tivessem certeza de que aquela pessoa não esperaria encontrar de frente numa sala de um templo shinto a presença de nove guerreiros selenitas que pertenciam às lendas urbanas de Tóquio no presente atual.
      - Vão. Eu explico mais tarde. - falou a figura, abrindo caminho e dirigindo-se para outro canto do templo.
      Sailor Moon acenou com a cabeça, voltando à sua jornada após tropeçar no pequeno degrau do templo e sendo amparada por Tuxedo Kamen. Moon Dragon, entretanto, continuou a liderança, não diminuindo a chama de combate e confiança do grupo. Em seguida, se dirigiram a uma enorme edificação de cristal nos arredores do aeroporto internacional de Tóquio.

***
      - Earth Power Hurricane!!! - gritou Art, desvencilhando do chão vários fragmentos de rocha.
      Firebird saltou para o alto do cristal principal, movendo sua corrente prateada para diminuir os pedaços de rocha. Escapando ileso, ele sabia porém que Art estava agora agindo como gato/serpente, brincando com sua presa antes de arrebatar a vida deles. Quer dizer, ele estava com quase a plena certeza de que, tendo atingido seus objetivos, Art não estaria agora preocupado em conseguir mais Destiny Kishi para alterar a Linha Temporal. Por outro lado, isso era um péssimo sinal para a sua vida.
      Kyn corria para a esquerda, a direção oposta de Firebird, concentrando sua própria energia em seu Water Flash. Ainda incerta sobre a funcionalidade de seu golpe perante a nova energia surpreendente de Art, ela sabia que agora não era um momento de hesitações. Tanto ela quanto Venus Destiny Kishi sabiam que havia pouco tempo para tanto. Se Crystal Tokyo continuasse surgindo naquele ritmo, haveria pouco o que fazer para extraí-la da Linha Temporal.
      Eles TINHAM que conseguir deter Art. Apenas isso importava, não incomodando o preço que teriam que pagar para que Crystal Tokyo fosse impedida. Todavia, ambos estavam começando a se cansar, enquanto Art nem parecia estar se esforçando na batalha. Olhando um pouco distante, Kyn observava a quarta Silver Chain que Firebird convocava para atingir, sem sucessos, a defesa de Art.
      Realmente, ela tinha acordado com o pé esquerdo naquele dia. Mas o que poderia ter mudado tanto assim o selenita com quem se afeiçoara no passado? Art nunca havia sido tão violento quanto estava sendo naquele momento. Quer dizer, pelo menos em termos de trazer a realidade ao caos e usar ainda uma refém que estava muito mais bem protegida do que outra coisa. Aliás, a refém era um fator curioso para Paolla.
      Quais eram os motivos da refém? Afinal, Art estava com poder suficiente para destruí-los num piscar de olhos e sem precisar de uma refém. Era um enigma entre muitos, as interrogações jamais sendo solucionadas. Antes disso, porém, havia o problema da defesa de Art ser tão forte quanto o ataque desde que adquirira a katana de cristal. Qualquer que fosse a constituição mágica daquela arma, era muito eficiente contra seus Water Flash e as Silver Chain de Firebird.
      - ART! - gritou Kyn, chamando a atenção do selenita. Esse foi o momento perfeito para Firebird, que mergulhou de onde estava para o lado de Earth Destiny Kishi. - WATER FLASH!!!
      Surpreendido pelo ataque de Kyn e pela súbita presença de Firebird, Art sorria internamente pela imprevisibilidade que estavam adquirindo com a batalha. Acabaria por trazer resultados deveras interessantes. Claro que eles ainda não tinham a mesma experiência que vinte mil anos traziam para o campo de batalha. Assim, ele não apenas conseguiu desviar-se da esfera azul de energia de Kyn como também aplicar um golpe deveras doloroso com sua tachi cega no abdômen de Firebird, arremessando-o ao longe com o impacto.
      Firebird cuspiu sangue, porém manteve um sorriso estranho em seus lábios. Quando Art olhou para a corrente de Firebird, ele entendeu o porquê de tal sorriso. A corrente estava presa em Kirisawa Kiriko, a sua refém. Com um puxão inesperado para Art, a sua carta extra no jogo havia sido retirada por Firebird. Mas isso também não importava a Earth Destiny Kishi. Ele havia já colocado sua outra carta no baralho.
      Kiriko ainda estava no meio do ar, sendo puxada pela corrente de Firebird, quando Art ergueu sua mão. Naquele instante, cinco pessoas gritaram de dor. Uma dor intensa a atingir diretamente seus cérebros com uma violência sem limites. Três dessas pessoas estavam no Salão Prateado, gemendo devido à intensa dor e tentando a todo custo consertar a Linha Temporal ao mesmo tempo que evitavam os olhos bisbilhoteiros de suas carcereiras.
      A quarta pessoa havia sido Kirisawa Kiriko. E embora ela não estivesse com uma tiara em sua cabeça, a dor não sendo tão grande quanto a que as três pessoas anteriores deviam estar sentindo, ela sentia uma dor inacreditável em seu abdômen. Suas mãos tremiam, enquanto sua mente recusava-se a olhar qualquer coisa que não fossem os olhos de Firebird. Tristes, muito tristes eram os dela. Finalmente havia se lembrado. Finalmente o havia encontrado. Mas que tragédia o destino reservava para seu coração.
      Com olhos em lágrimas, ela mal conseguia suportar a dor e instintivamente tentou colocar sua mão trêmula sobre o local de tanta dor. Por que Firebird estava tão chocado? Por que aquelas lágrimas tão tristes? A realização era breve para ela, Kirisawa Kiriko, para a Krys-chan de Firebird da Casa de Shine. Sua mão não encontrara apenas o sangue em seu abdômen, como a origem de tamanha dor. Ainda envolta pela corrente prateada de Firebird, ela sabia que aquilo que tocava com gentileza devia ser a ponta de algum cristal. Não um, nem dois... ela decerto havia caído num dos amontoados de cristais. Malditos eles fossem... agora que finalmente o havia encontrado...
      Firebird não conseguiu dizer uma palavra, tendo sido a quinta e mais afetada pessoa. Um brilho dourado refletia-se de sua testa, evidenciando a Tiara de Raguel colocada com muita agilidade por Art. E aquele havia sido o preço da sua ousadia em tentar resgatar a única pessoa que amava, a sua única Belldandy. A única que seria capaz de preencher seus sonhos e seu coração.
      Ele agora a olhava atônito, o sangue dela a verter da enorme ferida, os cristais a espetarem-na como se fossem lanças num corpo qualquer. Mas não era qualquer uma, era a SUA, A SUA Krys-chan. Seu pingente dourado parecia partir seu coração ao meio, sendo agora tão pesado, tão pesado... E agora, tão fraco e fragilizado, Firebird apenas conseguia dizer uma coisa. Uma coisa apenas que saía do fundo de sua alma.
      - KRYS-CHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAN!!! - gritou ele, correndo na direção de seu único amor. Ele ignorava agora a Tiara de Raguel, para o espanto de Art, mas também apenas se importava com Kiriko. "Tão pouco tempo, tão pouco tempo..." lamentava-se o selenita. Nenhuma dor afligia mais a sua alma do que a da perda de sua amada Krys-chan...
      - Fire-kun... - sussurrou Kiriko, cerrando aos poucos seus olhos diante do mundo ao seu redor. - ... ai shiteru yo.
      - KRYS-CHAN!!! KRYS-CHAN!!! - gritou Firebird, não sentindo sequer quando suas lágrimas começaram a cair sobre o corpo de sua Krys-chan, de sua Kirisawa Kiriko-chan.
      - ... isso não é tocante, Kyn-chan? - perguntou Art, cinicamente.
      - Urusai, Art. - rosnou a Destiny Kishi, não acreditando em suas próprias palavras ou mesmo no comportamento de Earth Destiny Kishi.
      - ... você... - murmurou Venus, lançando adagas pelo olhar para Art, soltando então o braço de sua única Belldandy. Um tom de ameaça era o que mais chamava atenção em sua voz que soluçava diante do esforço que agora era falar. - ... pagar caro. - completou Firebird, segurando com firmeza a corrente. Esta se desvencilhou da garota, colocando-a gentilmente no chão, após levantar com cuidado dos cristais.
      - Acho que não. - brincou Art, erguendo sua tachi na direção de Firebird. Kyn apenas conseguiu observar espantada para as rochas que voavam em direção a Firebird, enquanto a tiara que ela pensara existir apenas em seus sonhos brilhava cada vez mais, como se sob o comando do selenita.
      Firebird, entretanto, havia sofrido mais do que era possível imaginar para seu estado atual de Despertar. Mas sua mente vívida era incapaz de registrar qualquer coisa que não fossem os olhos umedecidos de sua amada na sua direção. Ah! O sangue, o sangue... aquela imagem jamais sairia de sua mente. E essa imagem demandava um preço. Um preço que apenas Art poderia pagar. Apenas Art. Um preço de sangue.
      Kyn concentrava sua terceira Water Flash, embora estivesse certa de que não agüentaria por muito tempo. Agora, ela estava desejando que as Senshi estivessem ali. E os Dragon Kishi. E os Noble Kishi. Qualquer um capaz de parar Art. Ou Firebird, antes que ele se machucasse seriamente. Esse último pensamento acabou por ser ignorado por Paolla, que agora tinha a certeza de que não importava realmente para Firebird. O nome que ele gritou tantas vezes havia sido o mesmo que poderia se lembrar dele sussurrando com ternura aos ventos de Plutão durante o Milênio de Prata.
      A situação não estava muito boa, Art tendo desenvolvido uma velocidade que poderia até mesmo ser comparada à de Seph. Era inacreditável! Ela mal tivera tempo de perceber a presença de Art aproximando-se de Firebird. Ou mesmo quando ele o socou em seu abdômen. Ou quando chutou as pernas e depois as costas. Ou ainda quando arremessou o recém-despertado selenita na direção do cristal principal.
      Estava realmente rápido. Quando Kyn conseguiu perceber alguma coisa, Firebird já estava com vários ferimentos e ela não duvidava que muitos deles iriam causar hematomas que durariam dias. Se Firebird sobrevivesse. Em seguida, Art já estava muito próximo DELA. E então Paolla desistiu de seu Water Flash. Quem ela pensava enganar? Art estava muito forte e mesmo que seu ataque o atingisse, ele decerto não sentiria.
      - Desistindo? - perguntou Art, sorrindo. Kyn apenas olhou para o lado, um pouco envergonhada pela sua própria fraqueza. Não adiantava ser mais esperta se seu ataque não servisse para nada. - É até melhor... agora podemos ir para casa, Kyn-chan. - concluiu o selenita, colocando sua mão sobre o ombro de Kyn.
      Ela simplesmente mexeu o ombro violentamente, como se não quisesse que Earth Destiny Kishi a tocasse. Ele suspirou diante daquela reação. Ainda havia muito de Paolla e Kyn que haveria de compreender.
      - Vamos... vamos para casa. - disse suavemente o selenita.
      - MATE! - gritou uma voz. Masculina.
      - Está atrasado. - afirmou Art, observando uma figura no alto do pilar de cristal.
      - Teki zai teki sho. - comentou Paolla, aproveitando o momento para dar uma rasteira em Art. Após o breve fracasso, ela pulou para perto da base de cristal com o mesmo movimento.
      Ao alto, Seph da Casa de Amber apenas podia sorrir quando via um certo grupo de pessoas movendo-se no horizonte. Art também sorria, enquanto recolhia Firebird pelo colarinho. Seu sonho estava próximo de ser concretizado. Que trouxessem dragões, youmas, bakemonos, Elementais, Aceitos... nada interviria. Seu sorriso apenas aumentou diante da presença de Seph. E agora apenas faltava Chronos.


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