Tempestade de Ilusões
by
Ami Ikari & X/MADS!

Capítulo 08: Youkoso!

"I do not fear computers. I fear lack of them."
-= Isaac Asimov =-

      - YATTA!!! - gritou Tolaris, para o desprazer de Edson. Já era a quinta vez que ele lia o e-mail da CORI. E a décima quarta vez que gritava em seu ouvido. - EU VOU PARA O _JAPÃO_!!!
      - Eu JÁ entendi, Tolaris! - gritou pela quarta vez o ficwriter, quase rosnando e totalmente arrependido por ter permitido que Daniel Tolaris verificasse o seu mailbox. - Mas QUER fazer o FAVOR de prestar atenção no que eu disse???
      - EU-VOU-PARA-O _JAPÃO_!!! - disse Daniel, MAIS uma vez. Já Cloud suspirou. De novo.
      - Tolaris... - disse ele calmamente. - PRESTA ATENÇÃO!!!
      Claro, sob a última ordem, Daniel subitamente foi impelido a obedecer. Sentando-se rapidamente na borda da cama do ficwriter, apenas imaginava se Edson tinha algo em comum com a Hino Rei dos fics do ficwriter desaparecido.
      - ÓTIMO! - falou Cloud, sentando-se então na frente do computador e virando-se para encarar Tolaris. - Você ouviu o que disse?
      - HAI! - respondeu animadamente Tolaris, pouco depois tendo o bom senso de abaixar a cabeça e diminuir um pouco o crescente entusiasmo. - Qual parte? A que eu ia para o JAPÃO ou a que eu devia estar na CORI até amanhã?
      Edson Makoto Kimura não conseguiu se conter. Quase espumando de raiva e desejando estrangular o pescoço, ele resistiu à tentação (não AQUELA tentação, seu hentai) e contou até dez. Feito isso, sua cabeça estava um pouco mais calma, fria e racional. Ele então começou a repetir BEM PAUSADAMENTE o que ele estava praticamente implorando para que Daniel Tolaris se lembrasse de fazer quando chegasse ao Japão.
      - Tolaris, pelo amor de KAMI-SAMA, NÃO se esqueça disso. - disse ele, ao qual Tolaris acenou a cabeça, entendendo o que ele queria. - QUANDO chegar em Tóquio, eu repito, QUANDO chegar em Tóquio, NÃO mencione de FORMA ALGUMA para os outros onde está HENRIQUE.
      - Un. Não falar para ninguém. Entendido. - disse Tolaris, resistindo à urge de sorrir.
      - BOM! - disse Cloud, num tom de ameaça. - Por que senão não terá adiantado nada o que fizemos até agora. MADS não pode saber disso, Tolaris. E para que ele não saiba, NINGUÉM lá pode saber o que aconteceu aqui em São Paulo. Capite?
      - Oui, mon captaine. - falou Daniel, muito mais sério. - Mas vai ser muito difícil para que eles descubram que eu FUI para lá. Quer dizer, Tóquio é um formigueiro HUMANO, você sabe disso tão bem quanto eu.
      Nisso, Cloud não podia contestar. Entretanto, havia algo que todos que já leram algum fanfic da Exodus FanFictions tinha a certeza absoluta. Pelo menos, os que sobreviveram ao 'bombardeio' de fics...
      - Se alguma coisa muito ruim tem uma chance ínfima de ocorrer...
      - ... ela acontecerá. - completou Tolaris. - Sim, eu conheço a Lei de Murphy. Mas você sabe que isso é impossível de ser descoberto. A menos que MADS embirutou de vez e está a checar todos os dias os vôos da JAL no aeroporto... e isso É difícil.
      - Principalmente quando ele tem tanto material para cometer fanfics, ne? - sorriu Cloud, ato repetido por seu companheiro. - Bem, você deve querer fazer as malas agora, não?
      - Malas? - perguntou Daniel, sorrindo abertamente. - Para que malas?
      Dito isso, Edson apenas foi capaz de promover uma sessão de gota gigante de suor na testa.

***
      - Aaaw, Ami-chan! - exclamou uma desesperada ficwriter, sentada na cama de um hospital. - Você não vai me deixar sair nem para ver as cerejeiras floridas da primavera?!?
      - Iie, Limy-chan! - respondeu a Senshi de Mercúrio, com uma colher cheia de gelatina na mão, para o (maior) desespero da paciente. - As cerejeiras ainda estarão floridas amanhã, quando você tiver alta. Agora abra a boca...
      Cruzando os braços, Paolla fechou os olhos e fez uma expressão semelhante a que Usagi sempre fazia quando era contrariada, o que, de certa forma, divertiu a mercuriana e Ricardo, que a tudo assistia enquanto 'degustava' seu almoço hospitalar. Claro, deixando algumas coisas de lado, especialmente aquelas que ele não conseguia identificar nem pelo cheiro. Certamente, Usagi deveria ser a fornecedora de receitas dos cozinheiros do hospital...
      Ouvindo um barulho vindo do corredor, Ami voltou-se para a porta, assustando-se um pouco ao ver um chinês carregando duas maletas pretas entrando no quarto e pedindo silêncio com um gesto.
      - Abra a boca... - falou/cantarolou o ficwriter, pegando a colher da mão de Ami.
      - Iie... - respondeu Paolla, balançando a cabeça e abrindo a boca o suficiente para que Martin colocasse a colher cheia de gelatina colorida e de sabor indecifrável dentro dela. - *gasp!* Ami-chan! Eu...
      - ... é Royal! - terminou Martin, com a colher vitoriosa e vazia em sua mão.
      Entretanto, Martin não conseguiu deixar de rir ao ver a expressão de sua amiga, engolindo com sofreguidão o conteúdo da colher. "Kami-sama... que raios de gelatina seria essa?", ele pensou, percebendo que seu primo sabiamente havia deixado o potinho com a 'coisa' colorida de lado.
      - *cof*cof* Mal posso esperar para sair da... - começou Paolla, um pouco antes de raciocinar direito e reconhecer a voz que havia pedido/ordenado que ela abrisse a boca. Não era Ami, a voz não era feminina. Então... - Martin??? Você não devia estar na Universidade de Tóquio?!
      - Anoo... <se eu contar, você não vai acreditar.> - respondeu Martin, acrescentando uma nota mental "Porque nem eu estou acreditando direito nisso...". - <Mas eu trouxe algo para você.>
      Os olhos de Paolla brilharam quando viram a maleta grafite da Cassiopéia sendo colocada sobre a cama, junto com uma caixa de CDs. Ao contrário dos olhos de Ami, que parecia querer fuzilar o pobre ficwriter.
      - {Da próxima vez, procure esconder melhor o computador.} - falou Martin, piscando um olho para a estudante de Medicina que fazia o papel da paciente. - <Este é o seu material de estudo.>
      - Hai... domo arigato, MADS-san. - falou Paolla, agradecendo tanto o conselho dado quanto o material entregue. - <Mas... não teremos aulas?>
      - Iie. <Teremos um exame final para avaliar o quanto aprendemos, só isso.> - respondeu o ficwriter, omitindo sabiamente qual o grau de dificuldade da prova. - <Mudando de assunto, quando você sai daqui?>
      - <Senta primeiro, depois eu conto.>
      "Damn... I HATE when people talk this way." ele pensou, obedecendo rapidamente a ordem dada.
      - <Confortável? Ami-chan, cuide para que ele não caia da cadeira>, onegai. - continuou Paolla, enquanto 'Cousin' não agüentava mais segurar os risos e caía na gargalhada.
      - <Tieko-san, fale logo.> - pediu Martin, começando a esfregar as mãos de nervoso. - <Aconteceu alguma coisa?>
      - <Mizuno-sensei me dará alta AMANHÃ.> - anunciou a ficwriter, sorrindo e fazendo um 'V' com os dedos. - Anoo... Martin? Are you ok? MADS? Moshi-moshi? Say something, onegai... - ela pediu, agitando a mão na frente do rosto do chinês em estado catatônico.
      Isso porque as informações ainda estavam sendo processadas na mente de MADS enquanto sua amiga agitava a mão diante de seus olhos, esperando alguma resposta coerente sair de sua boca. Na realidade, a sequência de fatos lógicos formavam uma corrente lógica de pensamento muito inerente ao ficwriter. No caso, formou-se algo quase lógico ao contrário de um caos.
      01. Paolla havia caído de uma árvore, sobre uma pedra pontuda.
      02. Dois dias atrás, quando ela sofreu o acidente, Paolla ainda estava em estado de COMA profundo.
      03. 02 havia sido confirmado por Mizuno-sensei, que até permitira que Ami e ele entrassem na UTI para se despedir da brasileira, tão poucas chances ela realmente tinha de sobreviver.
      04. Ela saiu milagrosamente do coma e teria alta no dia seguinte.
      05. 04 é completamente impossível pela Lei de Murphy.
      06. 05 é totalmente verdadeiro, portanto, ou Murphy enlouquecera ou alguém estava manipulando os exames do hospital.
      07. Ele estava ficando mais doido do que pensara ser possível. Nota mental: revisar a Lei de Finagle.
      *blink*blink*
      Foi a única reação possível de Martin à notícia que Paolla acabara de dar. Sem dúvida nenhuma, aquele estava sendo um dia de muitas surpresas; primeiro, aquele discurso longo e sem sentido do reitor da Universidade de Tóquio. Claro, isso era facilmente suportável. Depois, ele recebeu a notícia de que o curso seria dado em CDs, em seguida, ele descobriu que uma MENINA seria a nova hóspede do Templo Hikawa. Estes dois fatos conjuntos felizmente o habilitaram a sair o mais rapidamente do Templo. Talvez até mais rápido que Asuka... Mas agora... Paolla teria alta no dia seguinte, sem pelo menos UMA SEMANA de observação???
      - Hmm... certo. Amanhã? - repetiu Martin, a voz mais baixa do que de costume. - Y'mean...
      - Hai! Amanhã estarei fora deste hospital! - exclamou a brasileira, quase pulando na cama, para o desespero de Ami.
      Nessas horas, Martin e Ricardo ficavam se perguntando como uma pessoa podia aparentar ser mais calma e racional em chats e e-mails e ser muito mais eufórica na vida real. Qualquer traço de semelhança com o rígido controle emocional de qualquer mercuriano seria mera coincidência depois da cena usagiana que ambos haviam acabado de presenciar.
      Vendo as gotas gigantes que se formavam sobre os seus dois amigos, Paolla ruborizou e se limitou a pegar sua Cassiopéia, ligando-a rapidamente. Era hora de continuar suas anotações e de começar seus estudos...
      - Che! Não se preocupe... os CDs não vão fugir. - disse Martin, erguendo-se um tanto cambaleante ao dirigir-se até a porta. Ricardo, seu primo, seguiu-o, incerto do que estava acontecendo diante daquela 'reação'.
      Ami, por sua vez, entendeu aquilo como um bom motivo para afastar a Cassiopéia das mãos de Tieko.
      - AMI-CHAN! - foi a última coisa que os dois chineses ouviram quando saíram daquele quarto de hospital.

***
      Do outro lado do mundo, era chegada a hora de várias pessoas conectarem-se à Internet e começarem o processo diário e quase 'sagrado' de verificar suas mensagens. Era sempre durante a noite que muitos deles reservavam alguns minutos para se comunicar com o resto do mundo através da Grande Rede, como diria MADS.
      O que não excluía um jovem estudante de Espírito Santo, um dos três membros-fundadores do Grupo de ficwriters. Sorrindo casualmente para o seu computador, ele esperou pacientemente a chegada de todos os seus e-mails para finalmente, começar a respondê-los. Muitos (dois ou três. Se tivesse sorte, uns cinco) certamente seriam pedidos de pessoas para que ele visitasse suas páginas sobre animes na Internet.
      Claro, os e-mails de seus amigos eram lidos em primeiro lugar, além de estarem em maior quantidade. Foi por isso que ele abriu o enviado por Edson Makoto Kimura. O fato de estar marcado com prioridade máxima também ajudou para que este fosse escolhido.
      "Há quanto tempo, Cloud." ele pensou, enquanto esperava a mensagem se abrir. "Quando foi mesmo a última vez que ele mandou uma mensagem???"
      Mas nada o preparara para a notícia que receberia pelo e-mail de Cloud. Seus olhos se arregalaram diante da tela do monitor quando leu as primeiras linhas da mensagem.
      - Masaka! - exclamou ele com extrema surpresa.

***
      "Masaka! Como foi que tudo isso começou a acontecer tão de repente???" perguntava-se um outro rapaz. Caminhando de volta para o Templo Hikawa junto com seu primo, Martin não conseguia deixar de pensar na estranha e constrangedora situação em que Asuka o deixara. Quer dizer... ele tinha que CONCORDAR com a permanência daquela menina no templo, sob os olhares nem um pouco cínicos de Yuuichiro e Ojii-chan.
      - {Interessante como Murphy consegue pregar peças inimagináveis nos homens...} - murmurou Martin após um suspiro, e esquecendo-se temporariamente da presença de seu primo ao seu lado.
      - Nani? - surpreendeu-se Ricardo, sendo aquela a primeira vez que ele falava desde que saíram do hospital. - {Falou comigo, Martin?}
      - {Hn? Ah! Não, não. Estava só pensando alto... acho que devo devolver o celular de Tieko quando ela sair do hospital, ne?}
      R-kun franziu a testa, notando que seu primo estava tentando desviar o assunto da conversa para algo mais 'inofensivo', sinal de que algo não estava bem no Templo Hikawa ou que Algo Ruim (tm) deveria estar para acontecer. Das duas hipóteses, ele só esperava que não fosse a última. Todavia, quando seu primo teimoso... err... teimava, não adiantava insistir. Ele teria que esperar até que Martin decidisse falar algo a respeito. Portanto, o chinês resignou-se a continuar caminhando ao seu lado, notando, por outro lado, as grandes lojas por perto.
      O sol da manhã ainda tentava aquecer as ruas de Tóquio, parcialmente cobertas pelas pétalas das cerejeiras que anunciavam a chegada da primavera. Sorrindo levemente, Martin colocou as mãos nos bolsos e fechou os olhos, buscando sentir melhor o calor dos raios solares em seu rosto e esquecer parcialmente os sons do trânsito japonês. "Carpe diem..." mentalizou ele, tentando se esquecer de tudo.
      *Tap*tap*tap*tap*
      "Tap tap?!?" pensou Martin, franzindo a testa. Aquilo certamente não era um som natural. Quer dizer, não era um dos vários sons corriqueiros que ele poderia ouvir no meio de Tóquio e ignorar. Uma estranha sensação então percorreu seu corpo, enquanto imaginava o que poderia ser. "O que poderia fazer 'tap tap'?"
      - {Você ouviu isso?} - ele perguntou ao seu primo mais novo, parando subitamente de andar.
      - {Ouvi o quê?} - indagou Ricardo, parando e olhando para seu primo mais velho.
      *Tap*tap*tap*tap*tappita*tap*
      - {ISSO!!!} - gritou Martin, apontando na direção do som, AGORA audível a Ricardo.
      Ambos não puderam deixar de dar algumas risadas quando viram a origem do estranho som: dois pingüins-imperadores caminhavam, ou talvez sapateavam, na direção deles. Ambos estavam com um foguete nas costas, andando do modo característico de qualquer pingüim. Infelizmente, a ação seguinte dos outrora simpáticos bichinhos fez com que os dois chineses engolissem em seco e se preparassem para a tática fanfictiana primordial em qualquer batalha. Estava saindo uma estranha fumacinha da base dos foguetes.
      Martin e Ricardo ficaram com olhos espantosamente grandes quando notaram um estranho sorriso (?) maléfico nos bicos dos dois pingüins e não tiveram dúvidas quanto ao próximo procedimento a ser tomado. Mais rapidamente do que qualquer um dos dois poderia se lembrar, vencendo até mesmo a perseguição de Martin ao redor do templo, ambos começaram a correr na direção de um abrigo SEGURO o suficiente para os proteger de DOIS foguetes que foram lançados na direção deles.

***
      Caminhando na direção da Juuban High School, Usagi já havia até desistido de tentar entrar na primeira aula. Era comum que se atrasasse, mas ela havia dormido DEMAIS naquele dia. Claro que, se ela tivesse olhado o relógio, teria percebido que o máximo que ela conseguiria de aula seria a metade da ÚLTIMA aula do dia.
      Seus pés esmagavam sem querer as pétalas das cerejeiras que se espalhavam pelo chão, enquanto caminhava sem qualquer preocupação, pensando nos biscoitos que faria para Mamoru depois que chegasse da escola. Pelo menos, era esse o pensamento que predominava em sua mente até que ouviu gritos familiares pedindo por socorro.
      Rapidamente, ela correu na direção das vozes que escutara e quase foi atropelada por dois rapazes que corriam na direção contrária àquela que estava tomando.
      - Martin? Ricardo?
      - Ohayo, Usagi-san! - cumprimentou o ficwriter, enquanto ultrapassava a loira. - Você está BEM atrasada, melhor CORRER!!! - gritou Martin, continuando sua corrida em busca de um lugar seguro enquanto um foguete passava por Usagi. Claro, dois pingüins continuavam indo atrás dos dois chineses da sua maneira característica.
      Usagi não conseguiu evitar um olhar de MUITO espanto quando viu as duas aves 'correndo' (??) atrás dos dois brasileiros. Poucos inimigos usavam 'armas de ataque' como aquelas desde o Reino Negro, e a tendência, segundo Ami-chan, era que os ataques fossem mais eficientes, tenebrosos e catastróficos... bem, talvez para aqueles dois, um ataque balístico de pingüins-fogueteiros fosse tenebroso e catastrófico o suficiente, dado a velocidade com que corriam.
      Observando cuidadosamente para ver se não havia ninguém por perto, Usagi ergueu a mão e preparou-se para se transformar.
      - Moon Eternal Make Up!
      E saiu correndo atrás dos pingüins, esperando apenas que não fosse tarde demais para salvar seus dois amigos mais recentes das garras (???) dos simpáticos e fofinhos bichinhos. Se bem que, do jeito que corriam, ambos discordariam brutalmente do 'simpáticos e fofinhos bichinhos'...

***
      Mizuno Ami olhou em seu relógio mais uma vez enquanto caminhava para fora do hospital, indo para a escola. Ela sabia que estava atrasada, e MUITO, mas a professora sabia do ocorrido com sua 'hóspede' e prometera não considerar os atrasos da primeira aluna da classe.
      Nada poderia acontecer enquanto estivesse na escola. Absolutamente, NADA poderia dar errado. Em breve, 'Limy-chan' estaria de volta às ruas, tornando desnecessário sua atenção constante, pelo menos enquanto não resolvesse estudar alguma matéria de Medicina através do CD-ROM. Nessas horas, a curiosidade mercuriana vencia o tradicional controle rígido das emoções que possuía.
      A japonesa já estava com um dos pés fora do hospital quando ouviu o grito que a faria mudar de idéia rapidamente. E acabava de experimentar o que acontecia quando se pensava que NADA de errado poderia acontecer...

***
      Finalmente Murphy estava dando sinais de que iria dar um pouco de paz na vida de Paolla. Ela sairia do hospital no dia seguinte, estudaria através de CDs em Inglês, poderia ficar horas e horas com sua Cassiopéia, escaparia da tenebrosa comida do hospital, iria fazer compras para si mesma e para suas amigas... o que mais uma garota poderia desejar?
      Ah, sim, uma garota também poderia desejar NÃO SER MORTA por aqueles pingüins doidos armados com foguetes que entraram em seu quarto pela janela.
      Os olhos de Paolla foram rapidamente tomados pelo puro terror quando viram as aves destruidoras se aproximando de sua cama, com olhares nada agradáveis. Não havia para onde fugir, a porta estava fechada e até que ela chegasse a ela, os bichos já teriam disparado seus foguetes. E a última coisa que ela queria era uma explosão dentro de um hospital.
      - Ack! SOCOOOORROOOOOO!!! - gritou a ficwriter, notando um leve sorriso nos bicos das aves, como se isso fosse possível.
      "Kami-sama... nessas horas é que eu queria ser uma Senshi e escapar daqui com um..." pensou Paolla, fechando os olhos e se encolhendo.
      - Shabon SPRAY!!!
      "Nani? Agora os meus pensamentos têm continuação verbal?" ela pensou, sentindo uma mão lhe pegando e lhe arrastando para fora do quarto.
      - Anoo... Sailor Mercury? - indagou Paolla, quando sua visão permitiu que o uniforme azul da Senshi fosse visto.
      - Hai. Perguntas ficam para depois, agora vamos sair daqui.
      - Claro, mas... posso perguntar só mais uma coisa? - retrucou a ficwriter, vendo um objeto vindo em sua direção, à frente de um rastro de fumaça. - Como vai parar aquele foguete?
      - Dessa forma! - respondeu a Senshi de Mercúrio, parando por uns instantes. - Shabon Spray... FREEZING!
      Tão logo a garota pronunciara aquelas palavras, as bolhas e a névoa formaram-se rapidamente. Tomando novamente o braço de Paolla, a Senshi a conduzia para fora do hospital no exato instante em que um certo foguete caía congelado ao chão.
      Sailor Mercury correu com Paolla ao seu lado, mas aquilo não era uma boa situação. Ao menos, para o ponto de vista dos 'simpáticos e fofinhos bichinhos' de Usagi. Com um olhar deveras malévolo e ameaçador, um som deveras característico foi ouvido no hospital.
      Um tap-tap ao som do tic-tac.

***
      Por outro lado, os pingüins não eram os únicos aborrecidos naquele mesmo instante. Duas pessoas que corriam pelas ruas de Tóquio estavam JUSTAMENTE se perguntando o PORQUÊ dessas estarem tão VAZIAS. Tão vazias que inclusive parecia que todos da cidade sabiam que aquele era o dia do "Ataque do Pingüim-Imperador" e resolveram ficar em casa, já que não era nada novo.
      Contudo, essa informação deveria ter sido compartilhada com aquelas duas pessoas, que afirmavam isso a cada passo dado em sua corrida. Haviam ganho já uma boa distância dos seus atacantes, embora a razão de estarem tão aflitos AINDA estava perigosamente próxima deles.
      - {O que vamos fazer???} - perguntou Ricardo, tentando ganhar uma melhor distância dos projéteis. - {E para onde estamos indo???}
      Martin, por sua vez, limitou-se a olhar para trás, aumentando então a sua auto-estima para correr mais rápido. A fumaça engraçada que saía tanto de seus tênis quanto dos seu primo não passou despercebida, ainda que ele não acreditasse que aquilo poderia despistar os foguetes.
      - Hikawa Jinja. - falou rapidamente o ficwriter. - {Temos que chegar até o Templo Hikawa.}
      Aquilo, por outro lado, ficou DEVERAS estranho para o parente mais novo. Não compreendendo o que uma ida ao templo faria (talvez rezar para os foguetes irem embora?), Ricardo franziu a testa antes de perguntar novamente (assim como ganhar uma melhor distância).
      - Nani yo??? {O que vamos fazer no templo? REZAR???}
      - {Não seria uma má idéia...} - respondeu Martin, sorrindo. - {Mas eu tenho outra coisa em mente.}
      - {O que?} - perguntou Ricardo, percebendo que AQUILO estava se aproximando muito rapidamente. - {Seu sistema de segurança?}
      - ... Geez... {sabia que estava esquecendo alguma coisa.} - falou Martin, mas logo voltando sua atenção para o que estava QUASE encostando nas suas costas. - Iie. {Lembra-se do Epicentro?}
      - {Você diz... as Senshi?} - perguntou Ricardo, lembrando-se dos cálculos que Tieko tivera que fazer com o que eles coletaram das revistas.
      - Hai. - respondeu apenas o ficwriter, abanando a ponta do foguete.
      - {ISSO É LOUCURA!!!} - exclamou R-kun, sua atenção dirigida para onde estavam no momento.
      - {Aceito sugestões.} - devolveu Martin, imaginando se poderia desviar o foguete sem que sua grata pessoa não explodisse.
      - ... - foi a resposta de seu primo. - {CORRE!}
      Martin, apesar da situação, não deixou de sorrir sarcasticamente.
      - {Para onde?}
      - Hikawa Jinja... - rosnou R-kun.

***
      Enquanto isso, uma pessoa andava preocupada pelas ruas de Tóquio também. Não pela súbita falta de pessoas ou pelas duas trilhas de chão mais desgastado. Também não era por causa das asas que haviam atrás de si e muito menos a sua roupa, já que estavam em meia-estação.
      Sua preocupação também não era devido ao lembrete mental que fizera para não se esquecer de comprar morangos se ela queria fazer biscoitos ao seu namorado. Não, sua preocupação era algo muito maior do que aquilo.
      - Onde eles estão??? - perguntou Sailor Moon, pela décima vez que andava atrás das duas trilhas de chão mais desgastado.
      Entretanto, embora não estivesse a esperar por uma resposta, ela o recebeu. Digamos até que de uma forma bem distinta.
      *tap*tap*tappita*tap*
      - Hmm??? - murmurou a Senshi, virando-se para trás.
      A cena, no entanto, foi tenebrosa até mesmo para a Coelha da Lua. Naquele instante, seus olhos estavam arregalados, tão surpresos estavam por encontrar AQUELA visão.
      Dois pingüins-imperadores a sapatearem na sua frente, com direito a cartola e bengala.
      - KAWAII!!! - gritou Sailor Moon, abraçando ambos os simpáticos e fofinhos bichinhos.
      Não levou muito tempo até que um deles resolveu bicar a mão da Senshi (e também respirar pesadamente). Usagi, ao que pareceu, lembrou-se então do que estava acontecendo e começou a repetir algo que ela jamais se esquecera.
      - Mesmo sendo simpáticos e fofinhos bichinhos, não posso permitir que estraguem este belo dia em que amigos visitam outros no hospital! - disse Sailor Moon, e SIM, ela estava fazendo OS gestos acrobáticos. - Ai to seigi no sera fuku bishoujo Senshi Sailor Moon! Tsukini kawatte oshiokiyo!
      As aves, por sua vez, não podiam de forma alguma perder aquela chance com a provavelmente-menos-desenvolvida-parente. Um se posicionou ao lado do outro, revelando um foguete nas costas de cada um quando colocavam suas asas uma ao lado da outra. De uma forma misteriosa e deveras usagiana, Sailor Moon imaginou se aqueles simpáticos e fofinhos bichinhos haviam sido adestrados por Kamia e Kazuya. "Gemini Attack de novo não!"
      - PEN! - gritou um dos pingüins.
      - PEN! - gritou o outro, fazendo gestos tão absurdos quanto se podia imaginar. Talvez uma imitação bizarra dos de Sailor Moon?
      - Pen PEN pen pen PEN! - terminaram ambos ao mesmo tempo. - PEN PEN!
      Nisso, nem mesmo Tsukino Usagi conseguiu resistir à sessão de gotas gigantes de suor na testa.

***
      - CORRE! - ordenou ela novamente.
      Paolla, por sua vez, não podia sequer dizer que estava com falta de fôlego, enquanto era praticamente arrastada pela Senshi nas ruas de Tóquio. Por outro lado, o 'incentivo' dado pela equipe de pingüins parecia animar a sua disposição. Principalmente porque eles agora estavam se dividindo em dois grupos. Um que disparava os foguetes. E outros que eram verdadeiros kamikazes das aves e a maior preocupação de Paolla. ESTES podiam se desviar de qualquer coisa que ela tentasse arremessar.
      Quer dizer, se ela conseguisse TEMPO para encontrar alguma coisa e atirar neles, é claro. No entanto, ela estava sendo escoltada (ou arrastada) por Sailor Mercury, e aquilo fornecia um pouco de conforto.
      Conforto que estava sendo 'invadido' pela estranha sensação de déjà vu que voltava a perturbar a sua mente...
      Desde o dia de seu acidente, o déjà vu parecia ter deixado de invadir sua mente, talvez devido ao fato de que estava mais preocupada em sobreviver e sair do coma. Agora, quando finalmente podia sentir que iria conseguir passar uma bela temporada em Tóquio, estudando e sem aquela sensação que lhe tirava o sossego, Murphy resolvera presenteá-la com um ataque de pingüins.
      Porém, o ataque dos pingüins não era o que mais preocupava a ficwriter. O que mais a perturbava era a sensação de déjà vu, que parecia estar ficando maior a cada instante que se passava na companhia daquela garota, a Senshi de Mercúrio.
      Sailor Mercury. Por que será que sua imagem lhe parecia ser tão familiar? Não apenas por tê-la visto nas fotos das inúmeras reportagens que lera, mas algo no fundo da alma da ficwriter dizia que a Senshi não era uma pessoa totalmente estranha de seu coração.
      Nesse momento, enquanto observava a figura de Sailor Mercury à sua frente, algumas palavras despertaram em sua mente. Palavras que ela imaginava ter sonhado, mas que agora eram tão nítidas quanto a visão da lendária Senshi. As palavras de Kyn, que voltavam à sua mente.
      "Você prometeu que jamais a deixaria sozinha. Ou melhor, NÓS prometemos."
      Confusa, Paolla balançou a cabeça até que se lembrou de outra frase da garota que a fizera retornar da morte. Palavras que poderiam enlouquecer qualquer pessoa... mas não ela.
      "Você sou eu assim como eu sou você. Somos uma mesma pessoa..."
      E a realidade dos fatos preencheu sua mente, a memória de tempos passados retornando ao presente.
      Ela prometera que jamais a deixaria sozinha. E a hora de cumprir a promessa estava se esgotando.

***
      Estar de volta em casa era tudo o que o jovem selenita poderia desejar em sua vida. E após anos de um árduo treinamento, seu desejo estava sendo realizado. Sorrindo, ele caminhava lentamente pelas ruas da cidade, feliz por não precisar se preocupar com muita coisa, a não ser em não deixar o tempo passar por ele sem que percebesse.
      Essa tarefa era um pouco difícil de ser cumprida, no entanto. Sentir o vento de Urano batendo em seu rosto era um de seus passatempos prediletos. Haveria muito tempo para fazer isso, muitos dias, meses... ele era livre, afinal. E teria tanto tempo quanto desejasse ter.
      O vento parecia brincar com as faixas pretas que contornavam sua cintura, tentando levá-las consigo sem, no entanto, conseguir. Olhando para o céu, Seph sorriu, como se cumprimentasse as estrelas que há muito tempo não via. Um céu que há muito tempo não contemplava.
      Estava o clima ideal para uma corrida.
      Sorrindo, o selenita preparava-se para iniciar sua diversão predileta, e Seph quase não conseguiu ouvir a voz de sua irmã mais nova lhe chamando. Virando-se para vê-la, seus olhos repentinamente encheram-se de espanto quando viu o orbe violeta com o símbolo de Plutão nas mãos da garota.
      - Chikuso... - Seph suspirou, fechando os olhos.
      O orbe violeta pareceu brilhar debilmente quando pousou nas mãos de Seph, mas sem deixar que a mensagem que carregava escapasse de dentro de si. Com a voz baixa, o jovem pediu para que sua irmã o deixasse sozinho.
      Ele precisava de um pouco de solidão para raciocinar... e talvez ter a certeza de que tudo não passava de um triste sonho.

***
      Edson Makoto Kimura estava começando a se arrepender profundamente do momento em que concordara em acompanhar Daniel Graminho na viagem para Campinas. Ele nem sabia exatamente POR QUE havia feito aquela sugestão absurda e POR QUE havia comprado a passagem na rodoviária, mas o fato era que ele ESTAVA em Campinas, acotovelando-se na sala da casa que Daniel compartilhava com mais vinte e quatro estudantes universitários para conseguir sua vez no jogo de videogame enquanto Tolaris tentava separar os itens necessários para uma viagem de seis meses ao Japão e tentava também, convencer seus pais a permitirem a viagem e mandarem o passaporte via SEDEX para que ele chegasse em menos de dois dias.
      "Ah, claro. Eu vim para CONVENCER o Tolaris a levar mais do que uma mala pequena para uma viagem ao Japão." pensou Edson, assistindo a uma cena protagonizada pelo personagem que lhe dera o nickname. "Será que ele não vai desligar esse telefone?"
      - Sim, mãe. Não, mãe. Tá bom, mãe. - eram as frases predominantes no diálogo entre Daniel e sua mãe, que seria melhor caracterizado como um MONÓLOGO. - Levar blusas? O quê??? Mandar blusas junto com o passaporte?! - exclamou Daniel, suspirando. - Tá bom, mãe. Põe, mãe. Não, mãe, não vou ficar muito perto das batalhas das Senshi... ei! MÃE! VOCÊ ANDOU LENDO AS MINHAS REVISTAS?! Sim, mãe. Avisa, mãe. Pode, mãe. Tá, mãe, fala pro Fernando que eu trago as coisas que ele quer, SE ele me pagar depois, ou avisa que eu mandei ele ir ver se eu estou na esquina da casa do vô Rubens. - e, enfim, preparando-se para desligar o telefone, ele continuou: - Tá bom, mãe, agora só me responde uma coisa... POSSO OU NÃO IR PRO JAPÃO???
      Um grito de alegria acompanhado de um pulo tirou todos os vinte e cinco jogadores de sua concentração.
      - Eu devo deduzir que esse grito quer dizer que a sua família deixou você ir pro Japão, acertei? - murmurou Cloud, momentos depois de recuperar a respiração normal, acelerada devido ao susto. - Vamos arrumar as suas malas?
      - Ah, sim! As malas! Estava me esquecendo disso! - respondeu Tolaris, com um sorriso imenso nos lábios. - Mas... eu só parto daqui a quatro dias, para que tanta pressa?
      Mordendo levemente os lábios para recuperar sua tradicional calma, Edson limitou-se a suspirar e a caminhar na direção do quarto de Tolaris, enquanto uma gota aparecia em sua cabeça.

***
      Surtos de riso intercalavam os momentos de silêncio dentro do Salão Prateado, onde uma jovem de cabelos prateados escrevia algo que a divertia imensamente. A tinta da caneta brilhava a cada palavra, cada frase escrita, cada ação descrita na história que se desenrolava na esfera brilhante que flutuava à sua frente.
      "Como se sente sendo perseguido por criaturas que só poderiam habitar a sua imaginação, Martin?" ela pensou, rindo quando viu os dois primos correndo desesperadamente. "E onde foi parar o seu bom senso? Onde foi parar a solução rápida para um problema? Certamente que consegue fazer algo com dois pingüins atrás de você, não?"
      - Neko-chan? - falou uma garota ruiva, chamando-a. A curiosidade era evidente em seu olhar. - O que está fazendo?
      - Nani? - resmungou a citada, virando-se na cadeira. Ela certamente não apreciava interrupções em momentos tão... dramáticos como aquele. - Ah, Kare-chan. É você.
      - Posso ler o que escreveu? - perguntou Kare, puxando o livro para perto de si, um sorriso genuíno para a amiga.
      Neko continuou sorrindo, enquanto observava Kare ler o que escrevera. Ela estava certa que a saturnina iria se divertir tanto quanto ela. Entretanto, não foi 'entreterimento' que possuía a expressão do rosto de Kare. Pelo contrário, seu rosto ficou extremamente pálido quando leu os parágrafos recém-escritos, deixando transparecer uma expressão de surpresa. Com um gesto, ela pegou sua caneta de dentro de seu bolso dimensional e começou a traçar outras palavras.
      - Neko-chan! O que deu em você?! - ela gritou, escrevendo furiosamente. - Não era hora de enviar os pingüins!
      - Mas... - começou Neko, estranhando o comportamento de Kare.
      - Eles entrariam somente quando TODOS estivessem reunidos! E ainda faltam dois! - as frases de Kare pareciam modificar as cenas que eram exibidas pela esfera de Neko, lágrimas se seguindo aos seus olhos. Kare não gostaria que Neko fosse punida por Art, que já não estava num dos seus melhores humores. - O que você fez pode ter conseqüências desastrosas...
      - Como assim?
      - Como o despertar precoce. Lembre-se, Kyn já se manifestou, embora ainda esteja latente... não falta muito para o despertar total de Mercúrio. O mesmo pode ser dito sobre Chronos.
      Neko não respondeu. Os únicos ruídos que quebravam o silêncio que se apossou do Salão Prateado eram os débeis gemidos provenientes do casulo deixado em um dos cantos do salão.
      Em seu interior, milhares de lembranças continuavam a atormentar e a torturar um rapaz terrestre... lembranças que ele gostaria que tivessem permanecido ocultas por toda a eternidade.

***
      A noite estava esplendorosa, como se também participasse da festa da Princesa Serenity. O ambiente interno do palácio era de intensa alegria, sem qualquer indício do que estava para acontecer. Era melhor assim, pensou um jovem selenita, aproximando-se do palácio.
      Um último olhar para trás fez com que seu coração ficasse dolorido, enquanto a imagem de seus pais adotivos permanecia acesa em sua memória. O último abraço de seu pai, desejando-lhe sucesso, o último beijo de sua mãe, pedindo-lhe prudência... sim, ele podia dizer que era feliz, embora tivesse ficado tão pouco tempo na companhia deles.
      Seu uniforme estava limpo e cuidadosamente arrumado, cortesia de sua mãe, que insistira em fazer com que seu filho fosse à festa da Princesa Serenity vestido como um nobre cavaleiro. Ela, que pouco sabia sobre os perigos daquela noite, que não sabia que a criança que um dia embalara nos braços caminhava para a morte certa.
      A lua crescente de sua braçadeira parecia brilhar, destacando-se em sua jaqueta prateada. As luvas brancas dadas por seu pai completavam o traje, dando-lhe um ar mais requintado. O ar dos nobres selenitas, de um rapaz de coração puro disposto a arriscar a própria vida em nome daqueles que amava.
      Parando por alguns instantes na escadaria do palácio, Moon Fox aguçou os ouvidos para admirar a música que saía dos salões. Mas era estranho... havia um par de vozes que podia ser ouvido, tendo a música como pano de fundo. Vozes que ele conhecia muito bem.
      Eram as vozes da Princesa Serenity e do Príncipe Endymion.
      Moon Fox sorriu quando viu o abraço apaixonado que os dois trocavam, provavelmente sussurrando juras de amor eterno. Ao lado, escondidos nas sombras, dois vultos, com faixas esvoaçantes presas às cinturas, observavam silenciosamente a cena. O guerreiro da Lua os reconheceu como sendo Chronos e Silver Sky.
      Todos estavam lá, dispostos a defender aqueles que amavam. E era por isso que iria lutar.
      Iriam lutar contra todos os contra-tempos. Iriam lutar contra seus destinos. Iriam... iriam lutar pelo que acreditavam. Iriam lutar, não apenas pelo Milênio de Prata e a paz que ela representava, mas pelos seus entes queridos. Por seus amigos. Por suas famílias.
      Por um mundo melhor.
      Subitamente, um estrondo tirou Moon Fox de seus pensamentos e o fez voltar-se para trás, na direção da casa que acabara de deixar. Horror tomou conta de seu cérebro quando viu labaredas erguendo-se aos céus, anunciando a partida dos habitantes daquela morada. Imediatamente após o estrondo, os dois vultos estavam ao seu lado, as mãos sobre seus ombros, como a confortá-lo.
      Era por eles que iria lutar. Pela lembrança do olhar de orgulho de seu pai... pela lembrança das lágrimas de ternura de sua mãe. Aquele que eles haviam julgado morto e haviam pranteado com tanta tristeza seria o que lutaria em seus nomes.
      Pelo amor de sua mãe...
      ... pelo orgulho de seu pai...
      ... e pela justiça de seu coração.
      Uma lágrima escapou dos olhos de Moon Fox, enquanto suas mãos amarrotavam as luvas de seu pai ao segurar o cabo da katana.
      - Otousan... Okaasan... - murmurou o guerreiro, tirando sangue de suas próprias mãos.

***
      O ataque era algo até previsível, na opinião de Saphir. Era apenas uma questão de dias para que isso se concretizasse, o Reino Negro deveria estar esperando apenas um momento 'adequado' para atacar a capital do Milênio de Prata, quando todas suas defesas estariam fragilizadas.
      E que ocasião melhor do que o baile da Princesa Serenity?
      Claro, Saphir apenas veio a descobrir a obviedade após o anúncio da Rainha Serenity. Apesar dos rumores de algum informante do Reino Negro ter aparecido, aquilo realmente não importava. Rainha Serenity confiava naquela informação e havia sido por isso que convocara as princesas para participar do baile, mas como as protetoras da princesa, como Sailor Senshi. Todas conheciam sua missão e dariam a vida para proteger a sucessora do Milênio de Prata. Felizmente, elas contavam com a ajuda do Príncipe Endymion, que protegeria sua amada com a própria vida.
      E contavam também com outras pessoas... que haviam jurado que lutariam ao lado do povo selenita até o fim de suas forças. Mesmo que isso custasse muito caro.
      Ela sabia que o preço que sua irmã iria pagar era muito alto, fazendo com que sua preocupação aumentasse em grandes proporções; além de se preocupar com a princesa, seu amor por sua irmã gêmea fazia com que Sailor Mercury lutasse com toda a força de seu coração, para que nada acontecesse com a metade de si que era mais frágil, mais reservada, mais... delicada.
      Um youma estava congelado à sua frente, graças ao seu golpe. Com um chute, Sailor Mercury fez com que seu corpo se desfizesse em milhões de pedaços cristalinos, dando fim a mais uma das inúmeras ameaças que pairavam sobre o Milênio de Prata. Um leve sorriso apareceu em seus lábios quando ela viu os cristais brilhando com a fraca luz emitida pela batalha, visão bela o suficiente para que se distraísse e não percebesse a presença de cinco youmas vindo em sua direção, até que fosse tarde demais.
      Com um grito característico de desespero, Sailor Mercury colocou os braços sobre a cabeça e fechou os olhos, esperando pelo ataque que levaria sua vida.
      Ele nunca ocorreu. Pelo menos, não daquela forma.
      - Mercury... Time... - uma voz conhecida recitou, pronunciando as palavras claramente. - ...STOP!
      Uma névoa semelhante ao de seu Shabon Spray cobriu a área onde estava. A demora no ataque fez com que a Senshi de Mercúrio abrisse os olhos, receosa do que poderia estar acontecendo. Surpresa tomou conta de sua mente quando percebeu que os youmas estavam paralisados, os corpos parados como se fossem atacá-la. Em sua direção, vinha Kyn, com a kodachi fora da bainha.
      Rapidamente, Kyn desferiu golpes certeiros com a lâmina de sua kodachi, atingindo os youmas em pontos vitais.
      - Saia daí, Saphir! Em cinco segundos, a névoa se dissipará e eles voltarão a se mexer! - ela gritou, puxando o braço de sua irmã.
      - Kyn? - indagou Saphir, olhando com assombro o rosto que era tão semelhante ao seu. - Eu pensei que...
      - Eu prometi, Saphir. Jamais poderia deixá-la sozinha nessa batalha, ne? - sorriu Kyn, piscando um olho para a Senshi. - Lembra-se do que eu disse, não?
      - Hai. - respondeu a mercuriana, vendo os corpos dos cinco youmas se desfazendo em pó. "E sempre confiei em suas promessas..."

***
      Faltavam poucos metros para que a corrida desesperada dos dois primos encontrasse seu final. Ao longe, o telhado do Templo Hikawa já era visível, tanto para Martin quanto para Ricardo, que até já esboçavam um sorriso de alívio. Nenhum dos dois ousava arriscar uma olhada para trás, receosos de encontrar um par de pingüins correndo... quer dizer, sapateando atrás deles; já bastava sentir nas costas a pontinha do foguete começando a alcançá-los.
      A sola dos tênis dos dois chineses estava tão fina quanto uma folha de papel, denunciando o quanto eles haviam corrido. O calor da calçada já começava a passar pela sola, chegando aos pés dos dois fugitivos desesperados, que nem sentiam o atrito do chão com a meia que estava tendo o mesmo destino da sola dos tênis.
      - {Hey, Martin!} - falou/gaguejou/balbuciou Ricardo. - {O que vai acontecer se todos aqueles cálculos da Tieko estiverem errados?}
      - {Cousin?... Nem pense nisso!} - respondeu Martin, tentando pegar mais fôlego. - {REZE para que eles estejam corretos, ou tudo isso vai pelos ares, com a gente junto!}
      Ricardo engoliu em seco e começou a fazer suas últimas preces aos seus kamis, pedindo uma morte rápida e indolor. Ou, pelo menos, para que as lendárias Senshi aparecessem e o tirasse daquela enrascada.
      "Mas o que as Senshi poderão fazer contra dois foguetes?!" pensou Ricardo, esquecendo-se momentaneamente da Lei de Murphy.

***
      Claro, ele não sabia que a pergunta que fizera era refletida na mente de outra pessoa. Embora com uma reação... hã... distinta.
      - ITTE!!! - gritou tal pessoa. - Isso machuca! - disse ela, já chorando novamente.
      Os dois pingüins-imperadores, no entanto, estavam começando a sentir pena de Sailor Moon. Quer dizer, isso ela tinha de monte atrás de si, mas como eles iriam matar alguém que acabara de CHORAR???
      Entretanto, a decisão dos dois pingüins não demorou muito.
      - Pen? - perguntou um.
      - Pen. - respondeu o outro, um som grave em sua voz.
      - PEN-PEN! - gritaram ambos para Sailor Moon. Pela expressão da Senshi, eles finalmente haviam conseguido a atenção da oponente.
      Todavia, não era um sinal de que eles iriam parar de dar bicadas em Sailor Moon. Até ela conseguia observar aquilo quando os olhos da outrora doces e fofinhas criaturinhas começaram a brilhar num verde pálido e tenebroso. Então, o que era impossível ocorreu.
      As duas aves moviam-se como uma só. Gestos estranhos aliados numa estranha e tribalística dança transformavam os dois pingüins em duas fontes de uma estranha aura esverdeada. Tal aura, no entanto, não era tão comum. Ela parecia ter forma, como se fosse uma corrente de ar visível.
      Incerta do que fazer diante do que parecia ser um tornado verde, Sailor Moon abandonou quaisquer emoções a respeito de 'sociedade protetora dos animais' e cautelosamente deu um passo para trás. Não era algo comum, quer dizer, do comum de uma Senshi, até o grau mais bizarro que ela poderia ter. Bem, você entendeu. Não era algo ao qual uma Senshi poderia se acostumar, ver um tornado verde semi-transparente a se formar em volta de dois pingüins-imperadores que lançam foguetes nas costas.
      Embora aquilo tudo pudesse ser considerado 'kawaii' para a Senshi, ela ainda tinha o bom-senso de perceber quando estava realmente em perigo. E esse bom-senso de Tsukino Usagi era forte o suficiente para alertá-la naquele instante. Olhando para os lados, a expressão de seu rosto ganhara uma nova definição. Não era o rosto desesperado de uma adolescente, e tampouco era o rosto alegre da adolescente que era.
      Era o rosto amadurecido de Serenity. Apesar de sempre estar tentando esconder aquele lado seu, para que suas amizades nunca tivessem o problema de enfrentar a tristeza sem um pouco de alegria, Serenity estava absorta daquela situação. Não é preciso dizer que Tsukino Usagi não gostava muito de seu lado mais 'sério' e triste. Porém, entre gostar e relacionar-se bem havia uma boa diferença para a loira. Por isso, ela ficou feliz por não haver uma alma sequer ali por perto. Ninguém iria se ferir.
      Mas a falta das Senshi ao seu lado certamente era algo que ela não contava. Ela poderia tentar conter o que quer que aquele tornado fosse fazer. Ela não tinha medo e isso era certo. Mas preocupação era um fator importante. Ela se preocupava com seus amigos e, por certo, com o que aquele novo tipo de inimigo(?) estava a planejar para eles. Resoluta do que deveria fazer, Sailor Moon encarou para o tornado. Ela estava decidida a esperar pelo melhor momento para seu ataque, não importasse o que viria a ocorrer depois.
      - PEN-PEN! - gritaram novamente as duas aves.
      Elas, de súbito, pararam de correr, chocando-se entre si. O choque produziu uma pequena explosão de luzes, o suficiente para que Sailor Moon fosse obrigada a colocar suas mãos na frente, para defender seus olhos daquela onda maciça de luz. Impulsionada para trás, ela chegou a encostar numa parede próxima.
      Quando a Senshi pressentiu que não havia mais tanta luz, ela decidiu abrir os olhos. Espantou-se por não se encontrar ferida e ainda mais por não encontrar estrago algum. Teria o tornado verde nada mais do que uma ilusão para intimidá-la? O que aquilo poderia ter sido? A pergunta continuava em Sailor Moon, que queria imensamente que Sailor Mercury estivesse ali presente. A Senshi certamente teria uma resposta para aquilo.
      Entretanto, ela não estava. E Usagi sabia que não poderia depender de todos para sempre. Pelo contrário, ela quem deveria defender as suas amigas. Ela tinha tanta ou mais responsabilidade quanto elas. Suas intenções eram sinceras e únicas, razão que a impulsionou a olhar para o seu oponente. Claro, ela ficou boquiaberta com o que encontrou.
      Não, não era o Leonardo ou o Tom. (Se bem que não haveria realmente MUITA diferença, em minha opinião. ^^;;;)
      Uma criatura de quase três metros estava diante de Sailor Moon. Alta, ela também era larga e forte. MUITO forte. Músculos proeminentes, dotada de quatro braços que certamente causariam muito estrago. Cada uma das quatro mãos possuía apenas três dedos, como se aquilo fosse o suficiente para fazer o que fosse necessário. Dotada de uma única cabeça, a criatura não deixava de ser muito bizarra.
      Urrando sons irreconhecíveis e sem descrição, a criatura gigantesca mantinha uma boca salivante na direção da Senshi. Sailor Moon chegou a temer por sua vida ao encontrar algo mais 'comum' à sua vida profissional. Claro, isso não a fez preocupar-se menos. Uma espécie de armadura metálica, muito segmentada, assemelhava a criatura com algum tipo de inseto negro. Todavia, esse 'inseto' era muito maior que seus parentes e estava prestes a devorar o que estivesse na sua frente.
      O pingüim, não tão 'kawaii' como no início, olhou para Usagi de uma forma que a fez perder o cetro. O objeto caiu no chão, enquanto Sailor Moon cogitou a idéia de uma saída estratégica para chamar as suas amigas. Isso, é claro, era algo extremamente contra a sua natureza. Superando o medo momentâneo da criatura bizarra que as criaturinhas fofinhas e simpáticas haviam se tornado, Sailor Moon foi recuperar o seu objeto de ataque.
      A fera rosnou uma outra vez, erguendo sua cabeça aos céus, quando uma esfera de luz sendo produzida em sua boca. Como se estivesse pronta a regurgitar a esfera na direção da Senshi, a criatura parecia estar apenas esperando o momento apropriado. Sailor Moon moveu-se bruscamente, mirando o cetro na direção da fera.
      Entretanto, isso bastou para a besta reagir. A esfera permaneceu parada em sua boca, pouco antes dele a engolir para dentro de si. Tomando a Senshi de surpresa, a criatura percorreu velozmente a distância entre eles. Com uma das mãos, tomou o braço direito de Sailor Moon, obrigando-a a novamente largar o cetro. Como se estivesse a brincar com Usagi e testando os seus fortes músculos, o pingüim mutante agitava-a de um lado para outro, como se ela nada mais fosse do que uma boneca de pano.
      Atirando a boneca com certo desdém, Usagi acabou por colidir numa parede, do outro lado da rua. Seus ossos doeram a cada instante, mas seus olhos azuis não viam aquilo ainda como derrota. Ela olhava não apenas para a besta, mas para o que poderia salvar a sua vida. Observava com muita avidez o seu cetro. Ela deveria recuperá-lo e então proteger as suas amigas. Era isso que ela faria.
      Mas a criatura tinha outros planos para a Senshi. Movimentando-se rapidamente, tomou Sailor Moon em seus braços novamente, arremessando de um lado a outro da rua. Em poucos instantes, uma densa nuvem de poeira erguia-se naquela região de Tóquio. Porém, mesmo a besta cansava-se de ficar a jogar de um lado para outro uma das pessoas que tinha poder suficiente para restaurar a paz no mundo. Depois de arremessar a Senshi para próximo do cetro, ele regurgitou a esfera de luz esverdeada de sua garganta novamente, como se quisesse realmente terminar o que começara. Sailor Moon observou aquilo com certo temor, mas tomou o cetro rapidamente.
      Ela tinha apenas uma chance. Mas não obstante o seu azar, a criatura diabólica soltou seu ataque antes que Sailor Moon pudesse pronunciar o seu próprio. A esfera, Sailor Moon percebia, tinha quase meio metro de di6ametro e estava indo em sua direção. Com lágrimas em seus olhos, ela começou a rezar para que um milagre acontecesse. Ela não desistiria, mas não conseguia deixar de imaginar a tristeza que deixaria atrás de si. Mesmo em seus últimos momentos, a Senshi não conseguia deixar de pensar no bem-estar das suas amigas. Era até estranho que estivesse a pensar nelas... e nele.
      A imagem de Mamo-chan preencheu seus olhos, enquanto ela esperava pelo ataque que tomaria a sua vida. Ela estava fraca demais com todos aqueles golpes físicos em sua pessoa.
      - Chotto mate! - gritou uma voz.
      Em seguida, uma rosa vermelha cortou os ares, acertando a garganta da fera. A esfera verde não suportou por muito tempo, explodindo em seguida. Sailor Moon olhou na direção de seu salvador, certa já de quem era.
      - Tuxedo Kamen-sama... - sussurrou ela, sentindo alívio percorrer seu corpo quando o mascarado aproximava-se dela.
      Entretanto não havia acabado naquele ponto.
      - Sailor Moon... - chamou Tuxedo Kamen. - Daijoubu?
      - Daijoubu. - disse ela, olhando na direção da cabeça sem besta. Quer dizer, da besta sem cabeça.
      Não levou muito tempo até que ela recuperasse a sua total forma, para a surpresa dos dois guerreiros. Espantados, eles observavam sem palavras a besta reconstruir sua cabeça de volta. Um olhar maligno marcava os olhos verdes e brilhantes do pingüim. Quase como a sorrir de pura maldade, ele observou o casal com certa expectativa, o seu sangue escorrendo pela ferida aberta pela rosa.
      Sem dar muita importância à rosa, a besta cometeu seu primeiro erro. Tuxedo Kamen observara aquilo com certo espanto, mas ele não abandonaria a sua amada. Claro, ele teria chegado mais cedo se tivesse algum meio. No entanto, ele havia conseguido os seus propósitos para salvar quem conquistara o seu coração. Óbvio que o fato de que estava incrivelmente atrasado para a faculdade e que havia se perdido numa passeata ajudara um pouco.
      Olhando fixamente para a rosa cravada no pescoço da fera, Tuxedo Kamen esperava que o que planejava desse certo. A besta urrou uma vez mais, erguendo sua cabeça para os céus, um ato que o guerreiro de cartola considerou bem oportuno. Aproveitando a sua sorte, uma aura negra envolveu por alguns segundos o corpo do mascarado.
      No instante seguinte, a rosa vermelha desenvolveu-se. Como se a vida brotasse daquela flor, ela ganhou uma nova dimensão, alongando-se ao redor da sua vítima. Em pouco tempo, a besta estava amarrada numa corda de espinhos. Ela tentou, é claro, libertar-se, mas não obteve sucesso. O corpo do pingüim mutante liberou uma intensa quantidade do seu líquido vital ao rasgar-se com o atrito dos espinhos.
      - PEN-PEN!!! - gritou a fera.
      Em seguida, ela conseguiu o imprevisto pelo mascarado. A rosa desmanchou-se em vários pedaços, enquanto caía no asfalto. Ofegante, a fera mantinha o aspecto de não ter gostado do 'presente' de Tuxedo Kamen. Com um olhar ainda menos amigável, a antiga 'criaturinha fofinha e simpática' estava a encarar os dois guerreiros, enquanto uma aura claro-esverdeada a cobria por completo. Tuxedo Kamen, diante daquela reação, só foi capaz de aproximar-se de Sailor Moon e colocar seu corpo entre a besta e a sua bela.

***
      O fogo crepitou de modo estranho naquele momento, tirando Hino Rei de sua meditação. Ela apenas esperava que não fosse nada realmente, que fosse algo de sua rotina. Chegara fazia pouco tempo da escola e estava a meditar, como de costume. Olhando novamente para as chamas, ela viu duas labaredas a quase atingir o teto do templo, como se a avisasse de um...
      "Perigo."
      Com somente um movimento, ela se levantou, ficando de pé perante a pira que crepitava cada vez mais forte, o fogo dando-lhe o aviso de um perigo iminente. Não era necessário todo o levantar do fogo... algo, no fundo de sua alma, a avisava que alguma coisa estava interrompendo a harmonia de seu templo. Ela suspirou, vendo os seus planos de um dia comum naufragarem.
      A mesma sensação foi compartilhada por Satori Ryu, durante o seu trajeto de volta ao Templo Hikawa. Acompanhado de longe por Kano Akai, ele sorriu levemente enquanto olhava discretamente para trás, na direção de sua companheira, e iniciou um caminho que somente os mais ágeis de todo o mundo poderiam fazer. Discrição não era o que preocupava sua mente, mas a rapidez necessária para chegar ao templo antes que fosse tarde demais.
      E isso ele jamais poderia permitir. Não dessa vez.

***
      Deveria ser a quarta vez que o avô de Rei e Yuuichiro andavam pelo templo, procurando pela nova hóspede. Era incrível, ela havia permanecido apenas DEZ MINUTOS sob os olhares dos dois e DESAPARECERA misteriosamente.
      A expressão no rosto do velho Hino era de profunda preocupação. Não apenas pela jovem, mas também pela reação que a central de intercâmbio teria quando descobrisse que ele havia perdido uma estudante. Isso faria com que a central nunca mais enviasse um escravo... quer dizer, aluno estrangeiro para ficar no templo.
      - Achou, Yuuichiro?
      - Nada! Algum sinal dela desse lado?
      - Também não! Continue procurando!
      A busca de ambos, porém, se restringiu ao prédio do templo e aos seus arredores. Nenhum dos dois pensou em procurar no pequeno bosque, onde, dois dias atrás, Paolla havia sido atacada por um guerreiro misterioso, e de onde um par de olhos rubros observava pacientemente a movimentação daqueles que fugiam desesperadamente, numa corrida pelas próprias vidas.


Página integrante da Jikan no Senshi Destiny Kishi
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