Tempestade de Ilusões
by
Ami Ikari & X/MADS!

Capítulo 02: Juuban High School?! Oh, no!!!

"O princípio dinâmico da fantasia é brincar"
-= C. G. Jung =-

      No dia seguinte, conforme o combinado, Ami e Paolla foram até o templo buscar Martin para comprar os uniformes da Juuban High School. Usagi, Minako e Makoto também foram junto, pois não resistiam a um dia de compras nas lojas. As cinco se encontraram na frente do templo, pontualmente às nove horas da manhã, inclusive Usagi.
      Não, não houve registros de porcos voadores naquele dia em Tóquio, mas soubemos que o Inferno está sofrendo um bravo Inverno...
      - Incrível! Ela chegou na hora marcada! - exclamou Makoto, cruzando os braços e olhando admirada para a líder das Senshi.
      - Não perco um passeio nas lojas de jeito nenhum. - riu Usagi, o que, de certa forma, assustaria qualquer indivíduo do sexo masculino ali presente. - Vou aproveitar e comprar parte do meu material escolar e uma fita nova pro meu uniforme.
      - <Será que Martin-san está pronto?> - perguntou Ami, erguendo uma sobrancelha e virando-se para Paolla.
      - <Ele disse que ia acordar bem cedo.> - respondeu a garota, sabiamente ocultando o 'detalhe' da causa...
      - <E acordei mesmo.> - falou Martin, vindo na direção das meninas, já arrumado, com o cabelo penteado, os óculos no lugar e vestindo uma calça jeans, uma camiseta branca e tênis. Limpos. - <Deu tempo de terminar as tarefas e de tomar um banho decente.>
      Claro, o fato de que Yuuichiro havia trabalhado mais rápido quando ele havia mencionado 'shopping' e 'HINO REI-SAN!' ajudou-o consideravelmente. E, é claro, sabendo que, onde ia uma, iam as outras; ele precisaria de um... bagageiro. Quem melhor do que um voluntário?
      - <Então vamos. As lojas devem estar abrindo.> - falou Minako, animadamente. Para a simples e sádica futura diversão do chinês.
      O grupo já estava chegando no ponto de ônibus quando ouviram a voz de Rei, que estava correndo para alcançá-los. Atrás dela, vinha um Yuuichiro ofegante. Ao que parecia, para Martin, o rapaz havia 'convencido-a' a deixá-lo ir com ele. Como era previsto pelo ficwriter.
      - Ei, estavam indo sem me esperar? - indagou a Senshi de Marte.
      O ônibus não demorou muito para chegar e os oito entraram nele. Assim que Martin entrou no ônibus, ele ficou um tempo observando o motorista, que não entendeu o porquê daquele garoto estar o olhando daquela maneira. Nem ele, nem os demais.
      - {Martin, o que você estava fazendo?} - perguntou Paolla, quando ele finalmente sentou ao seu lado.
      - Aww... No Zoicite as bus driver. - comentou sorrindo o garoto.
      Dez minutos depois, eles desceram no centro de Tóquio. Martin e Paolla não chamavam muito a atenção nas ruas, por serem orientais, mas se destacavam um pouco por ficarem olhando para os prédios, um pouco maravilhados demais. Em pouco mais de cinco minutos de caminhada, eles chegaram na loja de uniformes escolares. O que, aparentemente, surpreendeu Martin Siu.
      Ele ia para uma escola que não tentava sugar ao máximo o dinheiro dos estudantes? AQUILO era novidade, sem dúvidas... se bem que, ele lembrou a si mesmo, ele estava no Japão.
      - <É aqui.> - falou Ami. - <Vamos?>
      - Ami-chan, nós vamos comprar alguns livros que ficaram faltando. Você fica com eles para evitar confusões? - perguntou Rei, já puxando Yuuichiro-bagageiro para o seu lado ao também ver um par de sapatos LINDOS.
      "Confusões?!" pensaram Martin e Paolla, simultaneamente. Claro, o fato de Martin estar escrevendo MAIS um fanfic o deixava um tanto estranho. No momento, 'estranho' felizmente se limitava a 'olhe para os prédios e reze para nenhum bakemono sair voando deles'.
      - Hai. Depois eu vou comprar os meus livros com eles.
      Martin e Paolla entraram na loja e Ami pediu dois uniformes, um masculino e um feminino, da Juuban High School, para a vendedora. Ela estendeu os pacotes com os uniformes para os dois, que foram prová-los. Claro, a curiosidade de Martin sobre o fato da vendedora sequer ter perguntado os números o intrigou um pouco...
      - Anoo... Ami-san... - chamou Martin, colocando a cabeça para fora do provador. - <Tem certeza de que é assim que o uniforme deve ficar?>
      - <Assim como, Martin-san?> - perguntou Ami, sem entender a pergunta e já franzindo a testa.
      - <Com a gola ASSIM.> - respondeu Martin, saindo do provador. A gola estava um pouco apertada, forçando-o a ficar com a cabeça sempre reta, e finalmente entendendo porque a vendedora não perguntara os números. - <Não consigo mexer o pescoço...>
      - <Ih, você precisa de um número maior!> - riu Ami, pedindo outro para a vendedora. - <Paolla-san, conseguiu colocar o uniforme?>
      - <Esse laço não é um pouco grande DEMAIS?> - perguntou Paolla, mostrando o laço para Ami.
      - Tottemo kawaii ne, Paolla-san! - riu Martin, vendo a amiga vestida com uma saia azul marinho toda pregueada, uma blusa branca com gola de marinheiro azul e duas listras vermelhas e um laço azul IMENSO. Sem contar a meia branca soquete e o sapato preto.
      Paolla ia retrucar, mas parou quando viu o amigo vestido com uma calça azul marinho e um blazer com seis bolsos de zíper com argolinhas e a gola fechada com uma estrela amarela.
      - Pppff...
      - {Se rir de mim...} - ameaçou o garoto.
      - {HAHAHAHAHAHAHA! Tá parecendo uma daquelas fotos do Trio Three Lights quando estão em uniformes escolares!}
      - Geez... {ao menos eu não vou precisar esconder os disquetes num laço azul.} - retrucou o garoto, piscando o olho e mostrando levemente a língua.
      - Nani?!- exclamou Paolla, estreitando o olhar, deixando os olhos mais puxados do que de costume, fuzilando o amigo levemente e mostrando a língua. Mais alguns minutos e os dois estavam engajados em uma 'guerra de mostrar a língua para o outro'.
      - <Bem...> - começou Ami, com uma gota gigante na cabeça. - <Acho que os uniformes serviram, ne? Vamos comprar os livros?>
      Martin e Paolla pagaram a vendedora e saíram da loja com seus pacotes, rindo muito. Ou melhor, tentando saber qual deles estava 'melhor' vestido para a 'moda do ano'. Quando entraram na livraria e encontraram as outras, eles ainda estavam rindo um do outro.
      - <Nossa, que alegria!> - comentou Makoto, sorrindo. - <Do que estão rindo tanto?>
      - <Err... bem...> - gaguejaram Martin e Paolla, lembrando-se de que elas também usavam aqueles uniformes. E, sim, o fato de Makoto ter perseguido Martin no dia anterior havia REFORÇADO a lembrança.
      - <Foi... uma piada que o Martin contou.> - respondeu Paolla, sem pensar. E sem dar tempo para Martin dizer o contrário.
      "Geez... Agora só espero que elas não me peçam para contar a piada, porque eu não me lembro de NENHUMA."
      Quando Usagi abriu a boca para falar, Martin sentiu seu sangue congelar. Felizmente, Ami o empurrou para a seção de livros escolares rapidamente. Os livros que precisariam eram especiais, feitos para estrangeiros com pouco conhecimento de japonês. "Será preciso um verdadeiro milagre para que eu consiga entender alguma coisa durante as aulas.", pensou Martin, antes de abrir um dos livros.
      Mas seu rosto pareceu brilhar quando ele leu a primeira página. Paolla também se alegrou ao ler um dos livros.
      - <Eu não acredito! Os livros têm página dupla!> - exclamou Martin. - <Uma parte é em japonês e a outra, em inglês!>
      Claro, Martin anotou mentalmente para verificar quem havia sido o doido varrido que publicou aquilo. Paolla, por sua vez, pegou uma lista de dentro da bolsa e começou a ver os títulos dos livros que precisaria. Martin fez o mesmo, também aproveitando para comprar alguns livros extras e, depois correu para uma loja de bolsas para comprar uma pasta para guardar os livros.
      Claro, também correu para evitar que alguma das meninas lhe pedisse para ajudá-la a carregar parte das compras.
      "Eu, hein? Já vi o jeito que Yuuichiro está... e ainda gosto muito da minha velha coluna. Do jeito que está."

***
      Naquele instante, entretanto, a história escrita para nenhuma pessoa em particular continuava existindo. E sendo escrita. A caneta continuava correndo pelo papel, mas, desta vez, a letra era masculina. Ele leu o que estava escrito sobre 'vingança' e apagou parte das linhas, reescrevendo-as.
      "Não será necessário chegar a tanto. Eles compreenderão o que queremos e nos ajudarão. Por bem... ou por mal."
      Os traços mais firmes escreveram parte de uma história. Uma história de glória e felicidade, onde ele finalmente seria feliz ao lado da pessoa que amava. A Silver Pen deixava um rastro brilhante nas palavras escritas. Um rastro que ele interpretava com sendo a mais bela esperança para o seu povo.
      Ele escrevia calmamente, dentro de um grande salão. Não havia razão para ter pressa. A história estaria concluída em breve... dando-lhe o perdão pelos seus pecados.

***
      "Assim como eram perdoados os pecados de todos os que viviam sob a Terra. A luz de esperança e... Não, não, não... isso não fica bem." pensou uma certa pessoa. Caminhando calmamente, seus pensamentos ainda estavam difusos devido à noite anterior. Ele estava empolgado e isso não o ajudava muito no quesito 'pensar'. Martin conhecia muito bem a si próprio, ou assim ele se julgava. Sabia, por exemplo, que a cena final dos seus fics deveriam ser a primeira coisa a ser planejada.
      Isso porque delimitava o limite necessário para tanto. A idéia de fazer um 'diário' persistia, mas ele necessitava ainda de uma cena final. Uma cena que ele julgasse apropriada e que talvez pudesse concretizar seus sonhos de ficwriter. Não, não era o sonho de 'Tonight I will conquer the World, Pinky', mas um muito mais significativo para ele.
      Escrever algo que emocionasse profundamente uma pessoa. Assim, ele continuava a imaginara a cena final de seu novo fanfic. Com o olhar atento, o futuro cientista da computação observou então que estava próximo de seu destino. A escola já estava no seu raio de visão e isso favoreceu a ele que se lembrasse dos fatos ocorridos durante aquela manhã. Ele havia esperado muito por aquele dia...
      Finalmente chegara o dia que ele tanto havia esperado. O dia em que ele confrontaria tudo o que supunha ter aprendido em sua vasta pesquisa para os fanfics. Martin lembrou nitidamente o seu embaraço quando precisou da ajuda da sacerdotisa do Templo Hikawa para fechar a gola de seu uniforme, mas isso certamente seria amenizado quando, mais tarde, soubesse que Paolla tivera a ajuda de Ami para dar O laço de trás da saia. As pastas pretas estavam prontas, com os livros, os cadernos e os estojos, tudo preparado desde o dia anterior. Assim era como ele se recordava.
      Também, se não fosse o fato de Martin estar seriamente nervoso com a chegada das aulas, ele teria comentado algo sobre 'jardim-de-infância' e 'primeiro dia de aula' com Hino Rei. E que, NÃO, não era preciso que alguém o levasse até lá.
      Torcendo as mãos de ansiedade na frente da Juuban High School, enquanto esperava por Paolla, Martin começou a pensar na sorte que tivera. Ou azar... se ele permanecesse muito tempo na frente de Makoto-san. Todavia, eles iriam para uma turma especial, composta apenas de estrangeiros, durante o primeiro trimestre. Depois, Martin e Paolla partiriam para a Universidade de Tóquio. Para não dizer que poderiam então ser humilhados perante toda a escola com um japonês deveras rudimentar. E ter toda sua pesquisa de línguas ir por água abaixo.
      Mas aquilo seria reposto da melhor forma.
      Paolla, por outro lado, estava quase suando frio de nervoso enquanto caminhava até a Juuban High School ao lado de Ami. Era algo até comum para ela, que sofria de uma pequena paranóia... morria de medo de chegar atrasada.
      - <Ami-san, tem certeza de que não estamos atrasadas?>
      - <Calma, Paolla-san, ainda falta uma hora e meia para o sinal tocar...> - respondeu a garota de cabelos azuis que caminhava um pouco atrás da ficwriter brasileira.
      "Whew, tive sorte de ficar na casa dela... acho que eu teria um ataque nervoso se ficasse na casa da Usagi... PERAÍ! Tieko, você NEM SABE se ela é do jeito que eles escrevem nos fics! Tsk, hora de parar de escrever. MESMO."
      - Geez... {espero que eu não esteja parecendo TÃO nervoso quanto você.} - comentou uma voz deveras familiar para Paolla. Infelizmente, a voz havia sumido para dentro da Juuban High School antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.
      Ami, por outro lado, riu apenas, antes de entrar na escola e ir para a sua classe.

***
      Na hora do intervalo, Ami e Makoto haviam ido buscar os dois estrangeiros para conhecerem a escola. Não muito tempo depois de uma caminhada, o grupo avistou algo... curioso. Ao longe, no corredor, havia uma pessoa parada, de pé, como se esperasse por alguma coisa... e segurando uma vasilha e um par de hashi.
      - <O que é aquilo?> - perguntou Paolla, forçando um pouco a sua vista para ver melhor.
      - Anoo... Usagi-chan. - respondeu Ami, com um sorriso amarelo. - <Ela chegou atrasada de novo e ficou de castigo no corredor.>
      - <Mas nem no intervalo ela pode sair?> - indagou Martin, franzindo a testa, enquanto o grupo se aproximava.
      - <Poder, pode. Mas acho que sensei deve estar MUITO nervosa...> - riu Makoto, vendo uma mulher aparecendo na porta e ralhando com Usagi.
      - Hmm... - pronunciou Martin, tomando mais notas mentais. Ao que lhe parecia, não estava TÃO errado nos fics.
      "Che! Saotome vai ter uma surpresa quando ver este novo fic..." pensou Martin, fazendo notas mentais para um maior 'realismo' dos fics.

***
      Por outro lado, outra pessoa também estava a fazer notas mentais. Mas não era uma pessoa comum. Tampouco eram notas comuns. Refletindo, a Guardiã do Tempo, Sailor Pluto, concluiu que jamais havia sentido remorsos em sua vida. Afinal, como alguém poderia sentir remorsos, sabendo que o que viria a acontecer estava destinado a acontecer? De qualquer forma, ela estava sentindo essa estranha sensação naquele instante.
      Perdida no espaço e no tempo, ela vagava lentamente numa superfície dominada pelo frio intenso. Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, ela não estava no planeta em que estava a responsável do futuro. Do futuro brilhante que era Crystal Tokyo. No momento, ela estava em casa. Depois de centenas de anos afastada, ela estava em casa.
      Plutão não estava muito diferente da época do Milênio de Prata, lembrava ela sarcasticamente. Todavia, havia uma sutil diferença, percebida apenas pela Senshi. Enquanto ela caminhava, ela notava o quão morto estava o planeta. Morto...
      Estranhamente, aquilo não a assustou ou a deixou alterada. Afinal, com a linha do tempo totalmente destruída pela invasão de Dark Angel, ela raramente poderia ficar assustada ou surpresa novamente. Entretanto, o que a mais excitava era o fato de terem conseguido uma vitória decisiva.
      Avistando uma construção em ruínas ao longe, ela estava certa de seu destino novamente. Estava também ciente que a linha temporal estava, aos poucos, voltando ao seu trajeto original. Para sua infelicidade, Nemesis ainda causava uma distorção no futuro... mas Lucifer já não seria mais um problema. Um ano já havia passado e não haviam indícios dele querer retornar. Estando unido eternamente com a Noble Kishi que conquistara seu coração de pedra, Lucifer jamais retornaria para a linha temporal. Disso, estava certa a Guardiã do Tempo.
      Quanto aos vários integrantes daquele teatro sem final, estavam todos voltando aos seus lugares, todos voltando a agir de acordo com o Destino... a Senshi suspirou de alívio quando percebeu isso. Havia ainda a esperança de Crystal Tokyo 'renascer'. Mamoru e Usagi iriam garantir isso à Guardiã, líder das Outer Senshi. E, onde havia esperança, havia de estar a Guardiã do Tempo. Pelo menos, a sua essência.
      Chegando às ruínas, a Senshi não se surpreendeu quando avistou uma figura ali. Parada, com as costas apoiadas num pilar derrubado, a figura esperava ansiosamente por aquele momento. Para Pluto, aquilo fazia parte da nova linha temporal. Para Pluto, tudo fazia parte do seu ciclo.
      Caminhando sem temor, Pluto aos poucos conseguia distinguir melhor a figura ali de pé. Vestida em mantos negros, a figura sequer olhou na sua direção. Com o olhar preso num ponto qualquer das ruínas, a figura era claramente masculina. Uma sensação de déjà vu percorreu na Senshi de Plutão, enquanto seu maior nemesis aparecia novamente diante de si.
      - Ohayo, Fate-san. - cumprimentou gentilmente a figura masculina.
      Sailor Pluto não respondeu. Ela continuou caminhando, até seus olhos violetas encontrarem os azuis olhos do seu nemesis. Parando ali na frente dele, seu corpo não estava nas melhores condições e sequer haviam chances de sobrevivência sem ajuda. Havia um pequeno rombo em seu abdômen e a Time Staff não estava em suas mãos. Ao contrário, estava ali algo arrancado de si durante a dura batalha.
      - Tome. E vá embora. - disse puramente Fate, entregando o objeto para o seu nemesis. Suas mãos gentilmente o depositaram na mão dele, revertendo a sua transformação.
      Afinal, ela era a Senshi do Tempo. E haveria de zelar por todos os tempos. Por todas as linhas temporais. Com a transformação revertida, havia apenas em seu olhar um pedido de socorro. Seu corpo desprotegido endureceu diante do clima frio de Plutão, congelando-a rapidamente num bloco de gelo.
      Diante da morte da Guardiã do Tempo, o seu nemesis apenas espremeu a mão, vertendo o próprio sangue com o objeto pontiagudo. Seus olhos azuis sequer olharam para o que havia em suas mãos ou para o corpo imóvel da Guardiã do Tempo. Todavia, ele tinha a plena certeza de que ela apenas estava confiando a ele parte do poder que ela tinha. Era-lhe óbvio que estaria a ser o próximo Guardião daquele tempo. Ou então, aquele que escolheria o próximo.
      Segurando a Star Seed de Sailor Pluto, ele notou um padrão quase inexplicável de poder. Algo quase caótico, sem seguir ordem alguma, regra alguma. Sentiu-se então como se fizesse parte do Tempo. Parte de algo grandioso... e ele tinha o poder suficiente para se aproveitar daquele dom. Ele sempre tivera.
      Ele agora podia salvar o seu próprio tempo. Sua própria linha temporal. Ele... Ele tinha... Em suas mãos estava a essência cristalizada da Wand de Sailor Pluto. A Star Seed pareceu brilhar em agonia perante o que ele planejava para ela. Nisso, o brilho tomou a forma de uma Time Staff distorcida, negra com uma jóia dourada e reluzente. Aquela agora era a SUA chave para o tempo. A chave de sua vitória absoluta.
      - Domo arigato gozaimasu, Fate-san. - agradeceu a figura, caindo novamente nas sombras das ruínas.
      Repentinamente, o ar se rasgou diante de um movimento de suas mãos e ele sabia que estava finalmente voltando para seu próprio lar. Destruído, mas com a esperança de um novo amanhecer.
      Um amanhecer glorioso... que marcaria a volta de Lucifer.
      - Vai me pagar muito caro, Apocalipse... - avisou o portador do poder do tempo sobre as dimensões. - Vai pagar muito caro... para Dark Angel.
      Seus olhos azuis pareceram derramar uma lágrima, enquanto seu corpo desaparecia daquela linha temporal... e daquela dimensão.
      Dark Angel retornava ao seu mundo. Para restaurar a sua própria história... seu próprio passado.

***
      Voltar ao seu mundo. Ou sentir uma forte sensação de recordação. Qualquer uma das duas definições serviria para explicar o que Paolla Matsuura estava sentindo naquele instante. Vendo a professora ralhar com Usagi, algo inexplicável atingiu a mente da ficwriter. Paolla começou a sentir tonturas, inclusive precisando se apoiar na parede. O déjà vu estava ficando cada vez mais forte, cada vez mais REAL. Ela já verificara, não havia nada em sua história que remetesse àquela cena. Nada de Usagi levando bronca da professora por estar comendo durante o castigo.
      Mas então, o que poderia estar causando tamanho desconforto?
      Makoto percebeu quando Paolla cambaleou e a segurou, antes que caísse no chão. O toque das mãos de Makoto foi a última coisa que ela sentiu antes de cair nos braços de Morfeu.
      Minako olhou para o rosto de Paolla e se espantou com a extrema palidez que ele havia adquirido. Com a ajuda de Martin, e sem a mínima vontade de transformá-lo em purê, Makoto pegou Paolla no colo e a levou para a enfermaria.

***
      Estava escuro lá dentro. Por um instante, ela pensou em recuar, em aceitar a proposta de voltar para casa e desistir de tudo aquilo. Não era exatamente isso o que ela havia planejado para si mesma. Bastava-lhe uma vida normal, sem aventuras ou atribulações... três mercurianos já haviam sido escolhidos, por que ela teria que ser a quarta? Existiam pessoas mais corajosas do que ela em Mercúrio.
      Mas ela havia sido a escolhida. Pessoalmente. E, pela honra de sua família, não poderia desistir.
      "Boa sorte, Kyn."
      A voz de Hypnos não saía de sua mente. Ele havia lhe desejado sorte... embora não soubesse por que estava partindo.
      Ninguém sabia. Nem mesmo ela, quando fora chamada. Havia partido rumo ao desconhecido e passara por várias provas.
      Esta era a última.
      - Se quiser, ainda pode desistir, Kyn. - disse uma voz solene, sem o tom de reprovação que ela esperava.
      - Não. Eu vou até o fim. - respondeu Kyn, entrando no salão.
      A escuridão era total dentro do salão, depois que a porta se fechou. Ruídos ameaçadores a assustavam, tirando-a de seu caminho. Tudo o que deveria fazer era caminhar em linha reta, era isso o que sua sensei havia falado antes do teste.
      Os ruídos, pertencentes a criaturas ocultas na escuridão, eram a personificação de seu maior medo. A aspirante a guerreira de Mercúrio tinha sua fraqueza e estava perante a ela; Kyn temia o escuro, o desconhecido. Esse era o seu teste. Ela devia enfrentá-los. E vencer.
      Respirando fundo, ela parou de andar e fechou os olhos. Uma aura azul claro a rodeou, iluminando parcialmente o ambiente, mas ela não via essa luz. Kyn recomeçou a sua caminhada, ainda de olhos fechados. Ela não estava fugindo dos seus temores, estava se integrando a eles. De olhos fechados e levada pelos seus instintos, ela aos poucos se tornava parte daquela escuridão. Parte do desconhecido.
      Do seu desconhecido. Pequenas gotas de suor escorriam pelo seu rosto, o suor frio do medo, do pavor, que parecia estar dominando-a quase que completamente. Seus passos pararam novamente; a mercuriana parecia estar paralisada. Subitamente, uma figura apareceu à sua frente: a imagem de sua irmã gêmea, escolhida para ser a Senshi de Mercúrio, para ser uma das guardiãs da Princesa Serenity. Ela parecia sorrir e estendia-lhe a mão. Kyn tocou a mão da figura etérea como se fosse real. As provas de sua irmã lhe pareciam tão difíceis, especialmente naquela idade... Mas agora, Kyn estava mais velha do que na época da convocação de sua irmã. E por isso, ela não podia desistir.
      O barulho de passos voltou a ressoar pelo salão, mostrando para quem estivesse por perto, que Kyn não desistira da prova. Ainda de olhos fechados, ela sabia o seu caminho.
      Seus pés bateram em algo duro, indicando o fim da caminhada. Ela abriu os olhos e encontrou o salão iluminado. À sua frente, estavam Sailor Pluto, sorrindo levemente, e Chronos, que, com o braço esticado, lhe fazia um sinal de vitória.
      E ela finalmente olhou no que havia batido. No pedestal cristalino, estava o símbolo de sua vitória.

***
      A luz forte invadiu os seus olhos, deixando-a ofuscada. Por um instante, ela hesitou em abrir totalmente os olhos, temendo ver coisas irreais à sua frente.
      Lentamente, vozes familiares a foram trazendo de volta à realidade... assim como o aroma suave de chá quente.
      - <Ela acordou!> - exclamou uma voz, vendo Paolla abrir os olhos, sonolenta... para depois arregalá-los, assustada. - {Ei, o que foi?}
      - {Hn? Nada, nada.} - murmurou Paolla para o seu amigo, e conseguindo se apoiar em seus próprios cotovelos.
      - {O que esperava ver aqui? Uma Chibiusa te observando?} - perguntou sarcasticamente Martin, suspirando levemente. - {Depois sou eu quem pensa muito em NDK... não se preocupe, de acordo com as minhas análises, não há nenhum youma, bakemono, dragão, selenita, kalyriano, híbrido, Dragon Kishi, Noble Kishi ou Sailor Senshi na área.}
      Makoto, Minako e a médica da escola se olharam sem entender nada e depois olharam para Martin e Paolla. "Oopsie. Acho que falei besteira."
      Sem saída, eles apenas ergueram os ombros e sorriram levemente.
      Seria um trimestre MUITO complicado para a pobre Juuban High School...
      Bem, mas dizem que o tempo passa mais rápido quando se faz alguma coisa ou quando se está na companhia de um amigo, não?

***
      - Kakkoi! Agora estou conseguindo entender o que vocês falam!
      A alegria de Martin não era injustificada. Depois de um árduo trimestre de aulas, sem contar os intermináveis finais de semana limpando o templo e fazendo mais e mais tarefas, ele estava com um nível de japonês bom. O suficiente para um bom entendimento para ambas as partes.
      E também para enfim descobrir que o avô de Rei havia-lhe perguntado no começo se ele queria ser um ajudante do templo em troca de algumas aulas a la Miyagi. Martin quase estapeou sua testa por ter feito um 'sim' com a cabeça naquele instante...
      Mas aquele era um dia de festa no Templo Hikawa. Era o último dia do verão e, conseqüentemente, o fim de um trimestre de aulas. As notas haviam sido divulgadas e, graças a isso, Martin e Paolla iriam para a Universidade de Tóquio. Graças à listagem, lá estava uma Usagi MUITO alegre... afinal, um 100º lugar para Usagi não era algo que se via todo dia. Assim como um bando de torradeiras voadoras passando em algum lugar da Sibéria.
      Makoto estava na cozinha, preparando um bolo muito cheiroso e um assado. A maravilhosa arte culinária de Mako-chan era algo que ninguém ousava contestar... principalmente seus estômagos. Ela havia escolhido muito bem as especiarias que usara no assado, cujo aroma começava a se espalhar pelo templo, causando uma série de crises de salivação intensa em todos.
      - Mako-chan! - exclamou Usagi, SEM um mangá nas mãos (não, nenhum bando de focas com cartolas e bengalas passou pela sala dançando). - O cheiro está MARAVILHOSO.
      - Desta vez, Usako, tenha mais calma. Deixe sobrar comida para a Paolla e para o Martin. - alertou Mamoru, piscando um olho para Usagi.
      Usagi virou-se de lado, dando as costas para Mamoru (não sem antes mostrar-lhe 'generosamente' a língua), emburrada. Um 'eu não sou tão gulosa assim' estava para sair da boca de Usagi quando Rei entrou na sala com um envelope nas mãos.
      - Martin-san, isto acabou de chegar. É para você.
      - Obrigado, Rei-san. - respondeu Martin, pegando o envelope. "Amarelo? SEDEX?! Geez, estão me dando a impressão de ser MUITO importante..."

***
      Muito importante. Havia acontecido algo muito importante. Ele conseguia sentir isso na sua própria pele. O arrepio percorreu todo o seu corpo novamente, dando-lhe a certeza de que precisava para continuar escrevendo. Finalmente havia acontecido o que ele tanto esperava para alcançar a sua paz interior. Seus informantes não haviam mentido ou inventado aquelas histórias sobre sua ex-sensei.
      Ela estava morta ou estaria morrendo naquele exato instante, dando-lhe a liberdade para prosseguir em sua missão. Sua essência já não possuía um corpo e jamais ditaria ordens, por toda a eternidade. Nada mais lhe impedia de ir em frente, ele já não temia a distorção da linha temporal, tampouco um paradoxo. A única coisa que realmente importava era o renascimento da utopia que tanto amava...
      E sua amada estaria com ele. Ele veria seus doces olhos e seu sorriso, mais uma vez.
      Desta vez, para sempre.

***
      Todavia, naquele instante, Martin ainda estava tentando entender POR QUE raios Henrique e Hélio haviam enviado disquetes pelo correio quando poderiam ter passado os arquivos por e-mail, quando Paolla sorrateiramente pegou um deles e colocou no drive do seu lap-top. Era impressionante a quantidade de disquetes enviada pelos dois ficwriters; sem dúvida nenhuma, eles haviam se superado daquela vez.
      - SETE disquetes?! Kami-sama, o que foi que eles colocaram aqui? Todas as histórias de NDK? - exclamou Martin, fazendo uma nota mental: lembrar de comprar um zip drive antes de voltar para casa. Pouco depois, ele estreitou os olhos e notou um fato 'interessantíssimo'. - Anoo... apressadinha... já pegou um deles, ne?
      Se Paolla não estivesse meio de costas para Martin, ele teria visto o rosto dela mudar instantaneamente da cor natural para whoopywhoopy EXTRA plus (tm) diante do comentário.
      - Sou curiosa, pensei que já tivesse percebido isso. - ela respondeu, esperando seu rosto voltar à cor natural antes de virar-se para Martin. - By the way, a produção de fics nunca esteve tão acelerada... se bem que os arquivos não estão zipados.
      - Será que eles esqueceram que eu TROUXE o meu hard drive comigo?
      "Ou que a Paolla pode facilmente pegar pela Net os fics anteriores?... se é que já não fez isso."
      - Com toda certeza. - disse Paolla, entregando o lap-top para o bacharelando de ciências da computação. - Se bem que este aqui não é fic. Mensagem para você, MADS...
      Martin franziu a testa e pegou o lap-top para ler a carta. Não muito longa, felizmente, porque logo Makoto entrou na sala carregando uma bandeja muito cheirosa... não, não era o bolo que ela estava trazendo e tampouco apareceu um general do Reino Negro para acabar com a festa. Era o prato principal. E sim, ele sabia que, se a carta fosse longa, ele não teria muito o que comer de acordo com o olhar glutônico de Usagi.
      - Sabem que esse cheiro atrai qualquer pessoa do lado de fora? - perguntou Ryu, entrando na sala. - Posso me juntar a vocês?
      "Desde quando o Ryu-chan pegou essa mania de ficar vigiando o templo?" pensou Minako, afastando-se um pouco para que Ryu se sentasse ao lado dela. Claro, o fato do 'Evento' passou despercebido pela Senshi loira.
      Em poucos minutos, sete meninas, três rapazes, dois gatos e dois dragões estavam saboreando o fruto da arte culinária de Makoto. Mesmo comendo, Martin não conseguia tirar os olhos do pequeno monitor do lap-top, lendo alguns trechos da carta de seu primo. Claro, com uma certa dificuldade em sua própria formatação de texto naquilo. Apenas estava esperando que o monitor chegasse em breve... MUITO breve.
      Paolla, no entanto, já havia se distraído (novamente) e estava conversando com Ami sobre Biologia enquanto comia. Evidentemente, nenhuma das duas mencionou qualquer coisa relacionada com o corpo humano ou zoologia, embora um belo exemplar de galináceo estivesse destrinchado em cima da mesa.
      Felizmente, para os demais, também não discursaram sobre nenhum tipo de aparelho digestivo.

***
      Enquanto isso, do outro lado do mundo, uma outra pessoa estava a raciocinar seriamente sobre algo deveras estranho. Aliás, algo MUITO estranho. Deitado em sua cama, Ricardo ainda segurava inclinadamente a carta em suas mãos, estendendo-a ao alto, como se a proximidade dela impedisse a sua leitura. O papel cobria a lâmpada de seu quarto, de modo que a luz forte não o ofuscasse. As letras pareciam saltar do papel para dentro de sua mente.
      Era madrugada em seu lar. Mais precisamente, meia-noite. "A essa hora, Cousin já deve ter recebido aqueles disquetes... e deve estar lendo a minha carta. Pena que isto chegou depois que enviei aquilo para ele."
      Imagens da manhã passada vinham e saíam de sua memória, constantemente, deixando-o quase tonto. Havia passado o dia inteiro procurando entender o que estava acontecendo... assim como Martin havia ficado quando recebera o comunicado da USP a respeito da bolsa da Universidade de Tóquio. Mas para ele tudo parecia ser mais fácil; Martin não tinha um ano inteiro de árduo estudo pela frente... ao contrário de Ricardo. Era seu ano de vestibular.
      Quando recebera a carta e a abriu, sequer teve vontade de continuar a tomar seu desjejum. Lembrou-se de que quase derrubara a xícara de chá, com os olhos brilhando ao ler dezenas de vezes a mesma notícia.

***
      Prezado(a) Ricardo Gen,

É com enorme satisfação que nós da International Interchange indicamos a aprovação para o seu pedido de intercâmbio para Tóquio, Japão. Aguardamos ansiosamente pela confirmação de seu pedido, assim como os documentos previstos para a transferência. Por favor, compareça na unidade em que solicitou o pedido com os devidos documentos, mencionados durante a sua inscrição. Esperamos que aproveite a sua estadia.

Muito obrigado(a),

Jennifer Lightheart.

      - Eu vou para o JAPÃO??? - gritou então o garoto, com uma estranha indignação de quem iria para um intercâmbio.
      Os olhos azuis, quase tão claros quanto gelo, do garoto percorreram novamente a carta, como se tentasse se certificar daquilo que lia. Simplesmente não poderia participar daquele intercâmbio... e haviam dois fortes motivos para tanto. Uma razão era que ele não tinha a menor idéia de onde teria que confirmar e levar os tais documentos. A outra era que ele estava seguro que não havia ido a nenhum centro de intercâmbio nos últimos doze meses... e que era um ano de vestibular aquele.
      Seu cabelo curto quase se levantou arrepiado numa menção de rebeldia, enquanto o negro azulado refletia a luz matinal do Sol. Sem desejar amassar a carta, Ricardo estava ciente que deveria fazer algo a respeito. Esse algo, em sua opinião, referia-se primeiro a descobrir COMO aquilo havia acontecido.
      A segunda coisa, mais interessante e talvez complexa, era descobrir QUEM estava por trás disso. Se ele ainda estivesse paciente, ele poderia até mesmo TENTAR ouvir os motivos pelo qual ele havia sido escolhido para aquela 'brincadeira'. Não era que ele não gostasse de brincadeiras ou ainda de viajar, mas ele tinha um forte motivo para não fazer naquela época.
      Bem, na verdade, DOIS fortes motivos. Olhando diretamente para os seus pais, ele sabia que ia ter uma longa conversa... de noite, é claro. Porém, pelo olhar que estava recebendo, ele estava crente que havia pensado em voz alta novamente. "Oh oh... hora de sair..."
      - Japão? - perguntou a sua mãe, que franzia a testa.
      - Deixe-me ver isso. - ordenou imediatamente seu pai, tentando pegar a carta que recebera.
      Bem, talvez ele tivesse pensado em voz alta... talvez alta demais. De qualquer forma, já não tinha mais escolha. Entregando a carta para seu pai, ele começou a estratégia mais lógica de um adolescente naquele instante. Em outras palavras, ele estava atrasado para a escola.
      Saindo com certa pressa e puxando seu irmão mais novo, Ricardo já saía do apartamento paulistano antes mesmo que seus pais dissessem um 'Ah'...

***
      Algo não se encaixava em toda aquela história. Quer dizer, já era estranho que dois ficwriters do grupo já estivessem no Japão, ambos de intercâmbio. Porém, ambos TAMBÉM não tinham maiores preocupações como aquele maldito vestibular que o aguardava no final do ano. Claro, o que ERA estranho era o simples fato que ele NÃO tinha procurado nos últimos doze meses qualquer central de intercâmbio... muito menos uma que se chamasse International Interchange. As coincidências estavam muito estranhas em toda essa história. "Agora só falta o Henrique e o Hélio receberem uma tal 'cartinha' sobre intercâmbio... God, this IS creepy..."
      Através da orientação educacional do Colégio Bandeirantes, onde estudava, Ricardo ficara sabendo dos detalhes do intercâmbio. Sua documentação estava toda preparada, a burocracia não seria nenhum problema, como costumava ser em qualquer programa de intercâmbio. Faltaria somente algumas coisas, como a autorização de seus pais e o seu...
      - Passaporte? - indagou Ricardo, ainda olhando para a orientadora. - É só isso que falta?
      - Exatamente. - respondeu simplesmente a orientadora, num esforço de gastar o mínimo de saliva possível.
      - Mas... e quanto ao vestibular?
      - Bem, você ficará fora por seis meses... tendo o equivalente de estudos por lá, a escola acredita que estará apto para fazer a prova no final do ano. - respondeu a orientadora, como se o garoto duvidasse dos 'milagres' daquela escola.
      - Mas não tenho que fazer a matrícula ANTES? - perguntou Ricardo, estreitando o seu olhar na direção da orientadora.
      - Oh. - disse apenas ela, quase caindo da cadeira. - Você anota a sua opção e a escola se encarrega do resto.
      Isso, evidentemente, ocasionou numa gota de suor imensa no garoto.
      - Para quando está marcada a viagem? - perguntou Ricardo, franzindo a testa. E obviamente vendo a 'imensa' vontade da mulher.
      - Daqui a cinco dias. - respondeu a orientadora, aparentemente com pouca paciência.
      - QUÊ?! Ci... cinco dias?! E por que isso não chegou para mim ANTES?! - exclamou Ricardo, colocando as mãos na cabeça.
      - Problemas de burocracia, Ricardo...
      O desesperado aluno suspirou, pegou os papéis e saiu da sala, com a típica expressão de alguém que sai da orientação educacional. Sim, aquela cara de 'nunca mais quero entrar naquele lugar'.

***
      "E nunca mais quero entrar mesmo. A não ser para pegar aqueles papéis que larguei sobre a mesa da sala..." pensou Ricardo, virando a cabeça para olhar o relógio. "Meia noite e meia. A essa hora eles já devem ter lido os detalhes do intercâmbio... agora eu só quero ver se vão deixar que eu vá para o Japão em um ano de vestibular."

***
      Contudo, um ano de vestibular seria a menor das preocupações de Ricardo Gen, caso ele soubesse o que estava a acontecer. Naquele exato instante, uma garota, de longos cabelos prateados, olhos rubros e fina silhueta, aproximou-se do escritor, colocando a mão em seu ombro.
      A história sem leitores deveria ser concluída. Ele imediatamente largou a caneta e virou-se para ela, esperando que ela dissesse algo.
      Ela apenas sorriu. E ele entendeu o que ela queria dizer; seu trabalho estava encerrado, era a vez dela continuar a história. Um conto escrito por várias pessoas, que, unidas em um só objetivo, conseguiam escrever de maneira tão semelhante que dificilmente alguém notaria a diferença se as frases não estivessem manuscritas.
      O salão permanecia vazio, com a exceção dos dois escritores.
      - Art, eu sou a última?
      - É, Neko. - respondeu o rapaz, brincando com os cabelos da garota, suaves como fios de seda. - Reúna os restantes para que possamos pegá-los de uma só vez.
      - E Kare?
      - Kare está cuidando de alguns detalhes... não se preocupe com isso, apenas termine esse pedaço, ou não conseguiremos reunir todos em um lugar só. - falou Art, distanciando-se da cadeira onde Neko estava sentada.
      - Art.
      - Hn?
      - Por que decidiu reuni-los em um lugar tão distante da casa deles? - perguntou Neko, virando-se para trás.
      - Porque eu queria dar um presente para eles antes que tudo terminasse... - respondeu Art, continuando a sair do salão. "Cumprirei o meu juramento... 'traidores'. Mesmo que não saibam, vocês estão me ajudando a cumpri-lo..." - Domo arigato gozaimasu... - ele sussurrou, baixo o suficiente para que Neko não ouvisse, mas com o mesmo tom sarcástico que lhe era característico. - Tomodachi..


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