Ser livre é libertar-se

 

É difícil ser livre, já que não é só escolher e pronto. Este é o lado fácil da liberdade. Ou melhor, não é liberdade no sentido pleno. Ser livre é agir de acordo com uma opção consciente e movido pelas próprias convicções. Em cada ato, chamado de ato livre, quando isto acontece, a responsabilidade aparece. E então ela não será um fardo, mas a conseqüência direta do agir.
As coisas e os animais não são livres: não decidem o que fazer, outros decidem por eles. E por isto não têm responsabilidade sobre nada. É um viver cômodo, não? Em certo sentido é menos complicado viver assim... mas nós seres humanos, se vivermos deste jeito, ou seja, os outros decidindo por nós, nós estaremos abdicando do que de mais precioso há na pessoa: a liberdade de escolher o que fazer da vida. E sem este privilégio, não somos verdadeiramente humanos.

A pessoa escolhe

Entre todas as criaturas do mundo somente o ser humano tem a possibilidade de escolher. Por quê? Ora, o homem e a mulher não nascem feitos, mas ao longo de toda sua vida vão se desenvolvendo, crescendo, incorporando na sua existência tudo o que sonharam e conseguiram concretizar. A pessoa vai se fazendo. Poderá ir para um lado, para o outro, não precisa seguir forças de fora. Em determinadas ocasiões, diz: "minha vida decido eu". Uma frase bem simples, mas de difícil vivência, pois implica sobretudo ser livre e ser responsável. Característica única que só o ser humano tem e o torna um ser que pensa, consciente e criador. Esta maravilhosa característica única e privilegiada, dá à pessoa humana, como uma dádiva, possibilidades exclusivas como descoberta de si mesma, dos outros e do mundo, dos acontecimentos, de Deus.
Será que em troca de uma vida sem preocupações poderíamos abandonar o poder de conhecer, de saber o sentimento do mundo, de criar coisas novas, de andar, de ter amigos, de escolher que curso superior fazer, enfim, de ter contato com inúmeras descobertas que acontecem ao nosso redor?
Que nome tem este comportamento tão conhecido nosso? Liberdade. Bonita palavra para ser usada em poesias, mas difícil de encarar no dia-a-dia. Mesmo assim, ela é o maior ideal que os homens já tiveram. Houve lutas por ela. Mas nunca a humanidade desistiu dela... Se o fizer, deixará de ser pessoa.

A liberdade de cada dia

De uma coisa, no entanto, temos que ter clareza: a liberdade não é ilimitada. Não há liberdade absoluta. Quando conseguimos a liberdade, ela sempre será limitada. Limitada por condições externas e internas. Em outras palavras, o mundo, a sociedade colocarão condições, limites. Internamente também há condições. Quando projeto um ideal ele é perfeito, mas quando o alcanço, vejo que não é bem aquilo que projetei.
Internamente, os condicionamentos são meu temperamento, minha inteligência, minha personalidade.
Ser livre é uma existência condicionada, é também saber viver com estes limites que condicionam a liberdade efetiva. Sem dívida, a existência humana está entre o sonho de uma liberdade e o viver a liberdade dia a dia.
Assim, a liberdade não é algo definido, pronto. É uma luta, uma conquista que fazemos todo dia para melhorar a liberdade que temos e conseguir mais. Se agirmos assim, aquilo que de concreto já temos vai se aproximando do que queremos. E quanto mais a liberdade concreta se aproxima da liberdade ideal, mais será necessária a responsabilidade. Quanto mais conseguirmos ultrapassar os condicionamentos esternos e internos, mais responsáveis seremos e mais estaremos agindo de acordo com a nossa natureza. E mais humanos seremos.
Decidir algo e por isto ser responsável é não parar de lutar pela vida e pelo que se quer ser. E como tal, decidir também é ser responsável pelas conseqüências que pode trazer.
Nossos atos e nossa vida não são só nossos, eles atingem outros e estes outros que serão atingidos não são objetos ou animais, mas seres humanos que querem, também, o melhor para si.

Gládis Teresinha Wohlgemuth


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