O TEMPO DO SONHO

 

No começo a Terra era uma planície nua. Tudo era escuro. Não havia vida nem morte. O sol, a lua e as estrelas dormiam embaixo da terra. Todos os ancestrais eternos também dormiam, até que eles acordaram de sua própria eternidade e saíram à superfície.
Quando os ancestrais eternos se levantaram, vagaram pela terra, às vezes sob a forma de animais – como cangurus, emas ou lagartos - , às vezes com forma humana, às vezes meio animal e meio humano, às vezes meio humano e meio planta.
Dois desses seres, autocriados a partir do nada eram os Ungambikula. Vagando pelo mundo, encontraram pessoas feitas pela metade. Tinham sido criadas a partir de animais e plantas, mas não passavam de montes informes, jogados e amontoados perto do local onde poços de água e lagos salgados podiam ser feitos. Essas pessoas estavam todas emboladas, sem membros ou rostos.
Com suas grandes facas de pedra, os Ungambikula esculpiram cabeças, corpos, pernas e braços. Fizeram os rostos, as mãos e os pés. E finalmente os seres humanos foram terminados. Cada homem ou mulher foi feito a partir de uma planta ou animal, e, cada pessoa deve fidelidade ao totem do animal ou da planta do qual foram feitos – a ameixeira, a semente do pasto, os pequenos e grandes lagartos, o papagaio, o rato.
Quando terminaram seu trabalho sagrado, os ancestrais voltaram a dormir. Alguns voltaram para suas casas subterrâneas, outros se transformaram em rochedos ou árvores.
Os caminhos percorridos pelos ancestrais são caminhos sagrados. Em cada lugar por onde o ancestral passou, deixou o traço sagrado de sua presença – um rochedo, um poço, uma árvore.
Pois o Tempo do Sonho não está somente no passado, pois é o eterno Agora. Entre cada batida do coração, o Tempo do Sonho pode voltar.


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