Palestra: Co-Dependência e Espiritualidade

Por Dr.ª Marisa, em 17/12/1997

Obs.: os trechos abaixo não reproduzem integralmente a palestra em função de serem anotações.

Ela começa informando que o texto co-dependência em geral era utilizado para referir-se a co-alcoólicos, mas que em função das queixas que chegam aos consultórios, de pacientes que reclamam de tristeza profunda e um vazio espiritual, o conceito está mudando. O termo co-dependência passa a referir-se àqueles que abriram mão de seus verdadeiros "eus" e construíram falsos "eus". Os profissionais estão se rendendo a um fator – a espiritualidade. Hoje a definição mais atualizada é a do ser humano que abriu mão de seu eu e formou cascas ou vernizes. A espiritualidade é o Self, ou si mesmo, ou seja a verdadeira identidade, a parte mais próxima da alma, que após o nascimento é contaminada pelo social. A idéia mais próxima de um exemplo é a da criança que não sofreu abusos e permanece serena, espontânea, confiante, que numa atividade qualquer não é reprimida. A espiritualidade é isso, ou seja, a parte pura, divina de cada um. Não há conotações religiosa, quando dizemos divina. A coragem de viver está presente nesse caso. Embora existam vários nomes, como por exemplo Alma, Espírito, Self, Eu Superior, chamaremos esse eu verdadeiro de criança divina. A co-dependência é uma doença secundária. Nascemos crianças divinas e com o tempo desenvolve-se o falso eu que instala-se como abusos emocionais, sexuais e físicos. Ela faz uma observação que o pior no abuso é a rigidez, que vai cristalizando e é progressivo. A solução é o autoconhecimento.

Abusos Emocionais

É mais forte do que podemos suportar no processo chamado reversão. Por exemplo um pai que deixa a família e a mãe elege um dos filhos para suprir o papel do marido. Esse filho entra no papel e não sai mais, nem para casar-se, porque na verdade casou com a mãe.

Abusos Sexuais

O que caracteriza abuso é toda palavra, olhar ou intenção que traia a confiança da criança. Não é só violência ou estupro, mas um olhar, gesto ou intenção, porque as crianças captam devido à sensibilidade. Seus efeitos são graves, podendo fazer estragos como:

Dissociação: nesse processo não sente nem percebe o mundo, como se estivesse fora. Defende-se assim e de um certo ponto para frente não sente mais aos outros, nem a si mesma. Esses efeitos são os traumas e cria-se estruturas para defender-se da dor.

Desordem de múltipla personalidade: muitos "eus" não integrados, para conseguir viver e aí a pessoa torna-se seca.

Abusos físicos

Na Idade Média, crianças que choravam e tinham ataques eram consideradas loucas ou possuídas pelo demônio e por isso eram assassinadas. Quem mudou o curso disso foi Russeau.

Surras nas Escolas: até há pouco tempo ainda existia punição por motivos muitas vezes banais. Por conta desses traumas é que surge o falso "eu".

Freud achava que não havia abusos, somente fantasias infantis. Esse conceito está ultrapassado. Todos esses mencionados são co-dependentes ou os que abrem mão do "eu" para defenderem-se dos abusos, maus tratos, fome etc.

No alcoolismo, todo lar é violento, não existe um que não seja. Existe trauma, abandono e medo nesses lares. A conseqüência é o falso eu, que surge por uma questão de sobrevivência, criando mecanismos de defesa. Uma criança vê o pai batendo na mãe ou nos irmãos e precisa desse falso eu, criando papéis ou máscaras.

Há quem diga que não sofreu abusos físicos ou sexuais, mas apenas emocionais. Este último é tão importante quanto os outros, afinal, é abuso demais exigir que uma criança seja uma dançarina quando sequer tem coordenação motora, ou então querer que os filhos se casem com os parceiros idealizados pelos pais. Isso vai moldando o eu como um sistema de crenças.

 

Papéis com os quais nos envolvemos

Vítima: entende que algo errado está acontecendo e pede ajuda.

Mártir: esse já diz que tudo está certo, porque está cumprindo seu carma.

Perfeccionista: não aprende com os próprios erros e ainda enlouquece a família.

Loucos: são os bodes expiatórios; percebem os segredos da família.

Super empreendedores: o tipo com trinta anos que já é um presidente de empresa e que com trinta e dois morre de enfarte (trabalhados compulsivo).

Agradadores/bonzinhos: nunca dizem não.

Irônico: é o comediante que ri das desgraças.

Outros: abandonados, ovelhas negras, inadequados ou perdedores (nada dá certo) etc.

 

Co-Dependência

Todo adicto e alcoólico é co-dependente. Não há separação

Características: dor, tristeza, confusão mental e emocional, vazio interior, não sabe se faz isso ou aquilo, dor emocional, baixa auto-estima etc.

E como ficou a criança divina? – Ferida e sem referencial.

O caminho é o inverso: maior espiritualidade é menor co-dependência.

 

Como resgatar a espiritualidade?

Não é só rezando. Cada dia que passa tem que aumentar a espiritualidade e ir preenchendo o vazio. Jung dizia que a solução é espírito x espírito (álcool nos E.U.A. é spirit). Resgatar a si mesmo, deixar de ser escravo dos papéis, das personagens ou máscaras (parece mais difícil do que largar cocaína). Se a pessoa chega ao fundo do poço, as explosões começam e junto a autodestruição, a vontade de morrer ou matar. Os profissionais que ajudarão precisam ser amorosas, para ajudar o ego ir rompendo com as crenças e ir se despedindo dos papéis, porque a queixa básica é de sofrimento, inadequação, mal estar e um vazio.

Dicas:

    1.  
    2. Identificar os papéis
    3.  
    4. Aceitar
    5.  
    6. Viver o luto
    7.  
    8. Despedir-se

No item 1, é importante quebrar os segredos e parar de proteger. Os que sofrem abuso protegem os abusadores porque na verdade têm vergonha e medo de mostrar dificuldades. E por que continua apanhando? A proteção é de si mesmo: orgulho entra e acaba atrapalhando. Sente-se culpado às vezes, não admitindo falar mal dos pais.

No segundo item, aceitar e junto com isso vem a raiva – como pude negligenciar isso? A vivência da raiva vem com aceitação. Descobre que era assim e ficou sendo devido aos outros.

Desperdiçou a vida para ouvir alguém dizer que te ama de vez em quando, sente-se vazio porque acreditou em algo que foi do outro, daí a raiva, é claro.

Quando ao luto, vai vivenciar de verdade o vazio e ver a proporção dele. Daí vem o choro. As MADAS são assim, quando se retira a droga do amor. É preciso ter coragem de ficar só, pois muitos deixarão de te amar, te acharão egoísta, ingrata, fria e mal agradecida. O luto é o parar de acreditar que vai casar com o pai (projeção). Cuidado do "pai" por trinta anos e quando fica só vai procurar outro. A procura deve ser a de conseguir se preencher sem o pai, ser a sua própria família amorosa que nunca teve.

E, finalmente, despedir-se dos personagens, deixar a criança divina surgir. Deixar de ser protetora, e salvadora incomoda muito aos outros. Poucos te apoiarão para deixar o papel de perdedora. Muitos maridos não querem, porque não terão a quem chamar de incompetente. Poucos reforçarão tua despedida e te darão entusiasmo para o eu verdadeiro começar a surgir. Difícil para uma mãe dizer para o filho crescer e viver, já que ela tem um relacionamento emocional desequilibrado.

 

Abrir mão dos personagens dando vazão para o verdadeiro surgir

As famílias e instituições vão reforçar os papéis. Politicamente é desinteressante, pois o "eu" verdadeiro quebra regras e padrões, tem vontade própria. Por exemplo, um casamento em que os dois não moram juntos, ou deixar um pouco os filhos para se cuidar. Se aquele irmão que não casou para cuidar dos pais vê isso, diz não acredite porque é louca.

OUSAR é uma boa palavra, as crianças são assim, sem medo de errar. Quando mais falsos, mais abusadores existirão.

Co-dependência era um termo usado apenas para o ambiente de alcoolismo, agora verifica-se que é aplicável a outros problemas e assim está passando para o coletivo e quiçá irá para o universal. Abrir mão do conveniente para os outros é a questão principal no desligamento dos papéis.

Volta ao Lar

Aprenda a amar a si mesma como mulher

Para amar a si mesma como mulher, a menina precisa ser

amada por uma mulher. Isso não tem nada a ver com

orientação sexual. Tem a ver com a essência do seu ser. Muito

já foi escrito sobre mães fracassadas como mães. Esse fracasso

tem maior impacto nas meninas e é devido especialmente à

falha na intimidade do casamento. Em razão dessa falha, a

mamãe é frustada e solitária. Ela pode voltar-se para o filho e

fazer dele seu Homenzinho, rejeitando a filha. Ou pode se

voltar para a filha e usá-la para preencher seu vazio. Nessa

situação confusa, a filha não pode ser amada por si mesma. Ela

adota o eu solitário e cheio de vergonha da mãe, que só deseja

o amor do marido.

Quando a menina não tem o amor saudável da mãe, ela cresce

sem experimentar os aspectos cruciais da sua identidade

sexual. Por isso tantas mulheres tem o pensamento mágico de

que só valem como mulheres quando um homem as ama. Se

esse é o seu caso, você precisa deixar que sua criança ferida

experimente o amor de uma mulher. Encontre duas ou três

mulheres dispostas a serem vulneráveis com você. Não tentem

fazer terapia uma com a outra, nem resolver os problemas.

Apenas estejam todas ali, apoiando umas às outras na procura

do eu verdadeiro. As mulheres naturalmente se unem tendo

como base a vulnerabilidade. Geralmente o elo é a vitimização

comum. Sua menina interior precisa saber que tem você para

ajudá-la a se tornar independente. Ela precisa saber que pode

conseguir isso com você e com seu grupo de apoio, que não

precisa de um homem para ser feliz. Ela pode querer um

homem na sua vida, como parte de sua tendência feminina

natural para o sexo e para a união com um homem. Mas terá

maior probabilidade de conseguir isso se for auto-suficiente e

independente. Seu grupo de apoio de mulheres estará ao seu

lado enquanto você procura atingir seu objetivo.

Texto extraído do livro volta ao lar de John Bradshaw.

Vergonha e auto-estima

 

O psicólogo Nathamel Branden diz que a auto-estima é a nossa reputação interior. Quando vivemos a vida envergonhados e acreditamos que não temos valor, essa reputação é baixa – e o resultado é a baixa auto-estima. Nosso relacionamento com nos mesmos é tenso e opressivo. Em " Honoring the Self". Branden lembra:

  • Encontramo-nos no meio de uma rede quase infinita de relacionamento, com os outros, com as coisas, com o universo. Entretanto, às três da madrugada, quando estamos a sós, temos ciência de que a relação mais íntima e poderosa de todas, aquela da qual nunca fugiremos, é a relação de cada um consigo mesmo. Nenhum aspecto significativo do pensamento, da motivação, dos sentimentos ou dos comportamentos deixa de ser afetado pela nossa auto-avaliação. Somos organismos, que além de conscientes, são autoconscientes. Esta é a nossa glória e, às vezes a nossa carga.
  • Embora os seres humanos sejam intrinsecamente autoconscientes – capazes de autopercepção – uma efeito básico da vergonha é a constrição da autopercepção. Como o profundo sentimento de inadequação que acompanha a vergonha é forte demais para ser agüentado conscientemente, autocrítica e o julgamento autodestrutivo. Por exemplo, como nossa raiva muitas vezes é assustadora demais para ser admitida, tendemos a projetá-la no exterior, e a enxergar os outros como zangados, ou como críticos, agressivos, injustos, preconceituosos, controladores ou mesquinhos. Ao pensar em nós como vítimas dos outros, podemos negar a realidade de sermos, de fato, vítimas de nós mesmos. Quanto mais insistimos em não ter essa consciência, mais aprisionados ficamos.

    A recuperação da culpa doentia, e da vergonha e baixa auto-estima que lhe servem de base, começa com a disposição em ser autoconsciente, em ser honesto acerca dos próprios pensamentos e sentimentos, como vamos discutir em profundidade nos próximos capítulos. Brandem resume da seguinte forma as habilidades de percepção que precisamos nos dispor a praticar para recuperar a auto-estima – o que ele chama de aprender a respeitar o eu:

    Trecho retirado de: " Um livro para curar o coração e a alma". Autora – Joan Borysenko – Ed. Cultrix.

     

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