FALECEU GLENN SEABORG (1912-1999)

 

Glenn T. Seaborg foi um dos cientistas que mais contribuiu para
reescrever a tabela periodica dos elementos e o unico a ser homenageado em
vida com o nome de um elemento quimico. Seaborg faleceu em 25 de fevereiro
p.p., aos 86 anos de idade, de complicacoes de um derrame que sofreu
durante a reuniao semestral da ACS - Sociedade Americana de Quimica
realizada em agosto p.p., em Boston.
Apesar de ter nascido no estado de Michigan, aos 10 anos de idade
Seaborg mudou-se para Los Angeles. Ai, ao cursar Qumica no 2 ano do ensino
medio, foi imediatamente atraido para uma carreira em ciencias exatas: Por
que alguem nao me falou disso antes? ele escreveu.
Dai em diante, eu ja sabia o que queria. Eu senti que queria tornar-me
um cientista e direcionei todos os meus esforcos neste sentido. Seaborg
fez a graduacao na Universidade da California em Los Angeles (UCLA), onde,
embora ele adorasse Fisica acima de tudo, ele estudou Quimica porque os
quimicos conseguiam arranjar emprego. Ele comparava a sua pos-graduacao na
Universidade da California em Berkeley (UCB) a uma peregrinacao a Meca,
tendo obtido seu ttulo de Ph. D. em 1937.
Apos dar aulas em Berkeley por alguns anos, Seaborg se afastou para
chefiar a secao que trabalhava com os elementos transuranicos dentro do
Projeto Manhattan (responsavel pelo desenvolvimento da bomba atomica
durante a 2a. Guerra Mundial). Mais tarde ele retornou a Berkeley para
dirigir trabalhos de pesquisa em Quimica Nuclear no Laboratorio de
Radiacao da Universidade da California, agora denominado de Laboratorio
Nacional Lawrence em Berkeley (LBNL). Descobridor de muitos elementos
transuranicos, ele atrasou o anuncio da descoberta do plutonio (1940-41),
ao dar-se conta que ele poderia ser adequado para a construcao de uma
bomba atomica.
Seu trabalho no projeto Manhattan fazia parte de uma corrida de doido
para vencer os alemaes na producao de tal arma. Acabou engendrando uma
tecnica automatica para isolar plutonio. O trabalho era exaustivo e num
dado momento, Seaborg escreveu, uma prateleira despencou e quebrou um
frasco, sendo que um quarto do estoque de plutonio do mundo ensopou um
exemplar do jornal Sunday Tribune. Em 1945, Seaborg fez parte do Comite
Franck, que recomendou que a bomba atomica recentemente desenvolvida fosse
demonstrada sobre uma ilha ou no deserto para observadores das Nacoes
Unidas. O comite esperava que o poder devastador da arma fizesse com que o
Japao capitulasse, o que poderia ter poupado muitas vidas.
As pesquisas de Seaborg sobre os elementos transuranicos culminaram com
o recebimento do Premio Nobel de Qumica de 1951, juntamente com o fisico
da UCB Edwin M. McMillan (1907-1991). Este e Philip H. Abelson, em 1940,
foram os primeiros a provar a existencia de um elemento transuranico, por
eles denominado de netunio. Quando McMillan teve que se afastar para
contribuir com o esforco de guerra, Seaborg recebeu permissao dele para
continuar com a pesquisa. Com o pos-graduando Arthur C. Wahl e outros
colaboradores, conseguiu isolar e identificar o plutonio e outros quatro
elementos. Apos ganhar o Premio Nobel, ele ainda esteve envolvido na
descoberta de mais cinco elementos.
Nos anos seguintes, Seaborg se envolveu na direcao/assessoramento de
diversos orgaos americanos. Apos ter sido reitor da UCB de 1958 a 1961,
foi presidente por dez anos da Comissao de Energia Atomica dos Estados
Unidos. Um de seus maiores orgulhos era ter contribuido para que o numero
de usinas nucleares civis passasse de dois para mais de 70.
Ele tambem defendia o banimento de testes de armas nucleares. Seaborg
sempre que possivel se envolveu nas atividades de sociedades cientificas.
Foi presidente da AAAS - Associacao Americana para o Progresso da Ciencia
em 1972 e da ACS em 1976. Recebeu diversas medalhas e honrarias, entre
elas, em 1979, a Medalha Priestley, a maior homenagem prestada pela ACS a
cientistas. Recentemente, quando a revista Chemical &Engineering News
comemorou seus 75 anos, ele foi votado pelos leitores da revista como um
dos Top 75 Distinguished Contributors to the Chemical Enterprise. O
recebimento da medalha por esta honra durante a reuniao da ACS em Boston
em agosto p. p. foi uma das suas ultimas aparicoes em publico.
Ele se deliciava pelo fato de, em 1997, o elemento 106 ter sido
denominado seaborgio em sua honra. Ele dizia Daqui a mil anos ele ainda
sera seaborgio, quando muito provavelmente ter-se-a que procurar em livros
obscuros para encontrar qualquer referencia ao que eu fiz.
Segundo Darleane C. Hoffman, professora de Quimica da UCB que continua
trabalhando em Quimica Nuclear e ganhadora da Medalha Priestley a ser
entregue em 2000, Seaborg considerava isso uma honra maior ainda que o
Premio Nobel.
Um mes antes da morte de Seaborg, a revista Science publicou nota sobre
a provavel descoberta do elemento 114, por cientistas americanos e russos,
nos laboratorios de Dubna, na Russia.
Seaborg descreveu suas pesquisas e descobertas em interessantes artigos
publicados no Journal of Chemical Education. Entre eles se destacam:

- Nuclear fission and transuranium elements: 50 years ago. J. Chem. Educ.
66 (1989) 379.
- Nuclear synthesis and identification of new elements. J. Chem. Educ. 62
(1985) 392.
- The transuranium elements. J. Chem. Educ. 62 (1985) 463.
- Prospects for further considerable extension of the periodic table. J.
Chem. Educ. 46 (1969) 626.
- Some recollections of early nuclear age chemistry. J. Chem. Educ. 45
(1968).

Cabe destacar ainda, um artigo de Seaborg: The research style of Gilbert
N. Lewis: Acids and bases. J. Chem. Educ. 61 (1984) 93.
   Finalmente, para uma histria dos elementos transurnicos, leia: M.
Tolentino & R. C. Rocha-Filho. "A nucleo-sntese dos metais transurnicos".
Quim. Nova, 18(4): 384-395 (1995).

[Esta nota está  baseada no artigo A legend has left us, de Sophie L.
Wilkinson, no Chemical & Engineering News de 08/03/99, vol. 77, n. 10, pp.
29-31, e copiada do Boletim Eletrônico da SBQ]

[Home]
1