PROF.
ROMEU COMENTA ARTIGO SOBRE TABELA PERIÓDICA PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO
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Gostaria de parabenizar a Folha pela
publicação do artigo do biólogo Oliver Sacks sobre a história da tabela periódica dos
elementos (caderno Mais, 13/06/99), muito bem escrito. A tradução feita pela Sra. Clara
Allain está bem feita; todavia, não poderia deixar de destacar alguns erros cometidos.
Como a Sra. Allain
não tem formação na área de Química, acabou erroneamente traduzindo
alguns termos de forma literal, o que, infelizmente, acabou "estragando"
a matéria. Vejamos:
1) em vez de traduzir "rare earth elements" como "elementos terras
raras", traduziu como "elementos terrosos raros";
2) em vez de traduzir "electronic shell" como "camada eletrônica",
traduziu como "casca eletrônica";
3) ora traduziu "transition elements" como "elementos transitórios"
(ERRADO) ora como "elementos de transição" (CORRETO);
Mais grave ainda foi a tabela periódica usada pela Folha para
ilustrar a matéria (p. 5-5). Usou-se uma tabela obsoletíssima,
provavelmente da 1a. metade da década de 70, com massas atômicas
relativas desatualizadas e até nomes de elementos totalmente errados
(elementos 104 e 105). No próprio texto Sacks se refere ao elemento 104
como sendo o rutherfórdio (na tabela aparece o nome obsoleto
"kurchatóvio") e, de passagem, menciona o elemento 112 (a tabela pára no
elemento 105, erradamente denominado de "hâhnio"; o nome correto atual é
dúbnio e existem nomes aprovados para até o elemento 109, além de nomes
sistemáticos para os 110, 111 e 112).
Em 1995, quando a Sociedade Brasileira de Química lançou sua tabela
periódica dos
elementos, na qualidade de secretário geral da SBQ, procurei a Folha
(então na era dos encartes) para propor que no início das aulas de 1996
a Folha distribuísse aos seus leitores exemplares da tabela periódica,
com a publicação concomitante de textos sobre a tabela. A idéia não foi
aceita, infelizmente. De qualquer modo, a SBQ poderia ter sido
consultada e poderia ter dado autorização para que a Folha publicasse os
nomes corretos (que vão até o elemento 112) e as massas atômicas
relativas corretas na tabela periódica que ilustrou a matéria.
Não entendo porque até hoje, mesmo na era da internet (que
possibilita o envio de um texto para ser rapidamente revisado em
qualquer ponto do país), a Folha não tem um quadro de possíveis
assessores por área do conhecimento, a serem consultados sempre que
necessário. A revisão desse artigo por um químico teria evitado que
esses erros "grosseiros" tivessem saído publicados.
Finalizando, a impressão que me fica é que a Folha tem boas idéias
mas pouco cuidado ao executá-las. Por que?
Atenciosamente,
Prof. Romeu C. Rocha Filho
Dep. Química - UFSCar
fone +55 (16) 260-8208
fax +55 (16) 260-8350
e-mail: romeu@dq.ufscar.br
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