SINTETIZADOS
NOVOS ELEMENTOS SUPER-PESADOS
************************************************
No final de maio, um grupo de
cientistas americanos submeteu um
artigo à revista 'Physical Review Letters' comunicando a descoberta dos
elementos 118 e 116. Três átomos desses elementos super-pesados foram
detectados a partir de experimentos realizados no cíclotron de 88
polegadas do Laboratório Nacional Lawrence de Berkeley (LNLB), em
Berkeley, Califórnia.
Os pesquisadores, liderados pelo químico nuclear Kenneth E.
Gregorich, bombardearam um alvo de chumbo-208 com um feixe intenso de
íons criptônio-86 de alta energia (em média, cerca de 2 trilhões de íons
por segundo). De acordo com os pesquisadores, os dois núcleos
fundiram-se e emitiram um nêutron, produzindo um núcleo com 118 prótons
e 175 nêutrons. Após 120 microsegundos, este nuclídeo, 118/293 (número
atômico/número de massa), emitiu uma partícula alfa, decaindo para um
novo elemento, 116/289 . Este nuclídeo, por sua vez, após 600
microsegundos, sofreu decaimento por partícula alfa para um isótopo do
elemento 114. A cadeia de decaimento foi detectada até o elemento 106,
seabórgio, como mostrado a seguir:
118/293 - 116/289 - 114/285 - 112/281 - 110/277 - Hs/273 - Sg/269
Os elementos 114 (vide abaixo), 112, 110, 108 (Hs) e 106 (Sg) já
tinham sido descobertos por outros grupos. Entretanto, seus isótopos
obtidos em Berkeley não haviam sido observados anteriormente.
O bombardeio de alvos de átomos pesados por íons acelerados foi
utilizado pelos cientistas do Grupo de Pesquisas de Íons Pesados (GSI),
em Darmstadt (Alemanha) para criar os elementos 107 a 112, mas antes do
atual experimento se pensava que esta técnica, conhecida como "fusão
fria", não pudesse ser usada para produzir elementos mais pesados que o
112. Entretanto, cálculos recentes do teórico Robert Smolanczuk, do
Instituto Soltan para Estudos Nucleares, na Polônia, e cientista
visitante no LNLB, indicaram que haveria a possibilidade de taxas de
produção mais altas para a reação Kr/86 + Pb/208, o que levou à
realização do experimento bem-sucedido.
Recentemente, o elemento 114 foi possivelmente observado em Dubna,
Rússia. Segundo divulgado pela revista Science no final de janeiro de
1999, cientistas russos e americanos, utilizando uma técnica mais
energética ("fusão quente"), podem ter produzido o elemento 114 pela
primeira vez. Neste caso, um alvo de plutônio-244, fornecido pelo
Laboratório Nacional Lawrence de Livermore, em Livermore, Califórnia,
foi bombardeado com o isótopo extremamente raro cálcio-48.
A partir de dados do experimento, cientistas russos encontraram um
padrão de decaimento radioativo que parece ser de um isótopo 114/289,
com um tempo aparente de vida de 30 s (bastante alto, para o caso de
átomos super-pesados). Esse resultado, no entanto, ainda está por ser
confirmado, sendo que Gregorich afirma que o pessoal do LNLB está 90%
convencido que os russos estão certos.
Os experimentos do LNLB entusiasmaram os químicos e físicos
nucleares, pois eles pensam que estão mais próximos de atingir a tão
propalada ilha de estabilidade prevista há décadas, isto é, a região da
tabela periódica em que existiriam elementos super-pesados atipicamente
estáveis. Os cientistas do GSI em Darmstadt já estão tentando reproduzir
os recentes resultados do LNLB e poderão, em breve, anunciar a
confirmação da descoberta do elemento 118.
Mais informações:
- Elemento 114:
Chemical & Engineering News, v. 77, n. 5, p. 8, 1999.
http://www.sciencenews.org/sn_arc99/2_6_99/fob4.htm
- Elementos 118 e 116:
Chemical & Engineering News, v. 77, n. 24, p. 6, 1999.
http://enews.lbl.gov/Science-Articles/Archive/elements-116-118.html
(Romeu C. Rocha-Filho romeu@dq.ufscar.br)
|