Oi! Esta é a minha

Pequena Página

e o objetivo é conhecer pessoas através dela.
Pessoas que tenham algo em comum comigo...

Tenho 44 anos, moro no Rio de Janeiro, sou soropositivo.
Independente e solitário.
Procuro antes de tudo, amigos prá conversar, ir a um cinema, tomar um chope.

Se você puder, se você quiser, entre em contato.
Meu email é geocorreio@geocities.com


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P Á S S A R O S  (14/08/1984)

Por trás das grades contempla o sol numa visão listrada em ferro.
Lá fora, o tempo passa, passam as pessoas e,
Por vezes, percebem que ele existe.
Sente olhares às vezes; não mais que poucas vezes.
A solidão da jaula traz angústia e, em saltos felinos, busca:
Aqui ou ali pode haver uma saída.
Há uma porta, sim, há!
Ele a vê, ele a toca.
O ferrolho aberto é um convite a fugir, mas... fugir para o quê?
Há, entre a porta e a rua, um abismo
E mesmo em saltos de leão, a margem oposta pode fugir.
Não ousa tentar... não percebe forças.
A angústia da jaula é morte
Mas a morte buscada não é digna. Nem do seu corpo, nem da sua época.
Poucos o olham agora.
Flutuando (parece) sobre o abismo está.
Atiram pedras, paus imaginários talvez.
As pessoas, estas são reais e,
Mesmo não podendo tocá-las, ele o sabe.
Tenta agredi-las, tenta...
Sente carícias sobre os pelos de sua cabeça
Para estas, reserva um sorriso que a boca já não sabe exprimir.
Talvez falem os olhos, já que consegue abri-los de todo.
Como será o seu olhar? Existe alma nos leões ou nas flores?
O sol sempre se põe a esta hora e é sempre listrado em ferro e distante.
Amanhã renasce e torna a se por.
Talvez um dia pereça de vez; talvez chova uma eternidade.
Um vendaval inesperado abre a porta e,
Atrás da jaula surge repentina torrente. O que fazer?
Agora o único real é mesmo o nada.
Vê-se o vulto de um leão, que,
Já esquecido de sê-lo, salta entre as margens do abismo e cai.
Dali, das entranhas da terra,
Úmida pela torrente, áspera de vento, de pedras e de paus,
Ergue-se o pássaro.
Estranho...
Não deveria haver pássaros ali, aquela hora, depois do vendaval...


B A L A S     E    B A L Õ E S  (16/07/90)

Sou uma bala de mel.
Descobre o recheio de amêndoas dissolvendo a fina casca em tua boca.
Toma-me como a um presente e abre.
Observa. Te espanta com o conteúdo, ou entao sorri e veste.
É provável que te sirva, neste inverno ao menos.
Sou pedra de um antigo Egito, com inscrições, sinais e mistério.
Deixo me decifrar se me estudas a sério,
Na ânsia de entender os enigmas da minha história.
Sou um caracol que se esconde
Com um simples toque da tua agressão.
Mas, se me tocas suave e percebe,
Sou uma tal emoção,
Que apenas a flor da minha pele consegue transmitir igual.
Me esquece às vezes, mesmo que eu esteja.
E se entrares depressa, percebe a lágrima.
Não estou triste, acredita!
É apenas o som do piano visitando a vastidão do meu espírito.
Se me vires olhando o céu, aproxima-te e cala-te.
Busco apenas atrair luz da estrelas
Para brilhar no momento de te ver.
Se eu calar, como em um final de disco, é pausa apenas...
Recomeço depois, automático.
Deixa-me apreciar o azul do nada,
E sê cúmplice do meu silêncio.
Busco um lugar que não sei,
E o meu tempo é o que já não há mais.
Perco-me como um balão na mata, mas posso ser achado.
Mesmo que em pedaços.
Preciso que me descubras,
Sinto falta de espaço,
Sou um Universo...


M O R R E R  (05/09/86)

Não faz frio
Nem faz calor
Tampouco queima ou gela
É como um nada vindo do espaço
Para breve estadia.

E não há risos
Nem choro nem gritos
Tampouco existe indiferença ou certeza
Parece uma falta de ar surgindo
Quando as janelas se fecham para a tempestade lá fora.

Não se ve amigos
Nem inimigos existem
Tampouco novos contatos surgem ou partem
É uma sensaçao não estranha
De final de filme que a gente pensa em rever.

E não é dia
Nem cai a noite
Tampouco ocorre entardecer ou ser manhã
Parece algo que quer vir ao mundo, embora já esteja,
Para em seguida, de volta, se embrionar.

E não há o quê
Nem há porquê
Tampouco se imagina um talvez ou quase
É apenas, conclusão:
A fragilidade da vida é a única e próxima certeza.

Depois, em havendo um,
Tudo poderá ser especial.
As flores nascem... especiais?
E setembro chega.


Obrigado por ter vindo.

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