Bethânia e convidadas dão show nordestino em SP
Maria Bethânia sobe ao palco do Credicard Hall, dias 20 e 21/10/2000,
sempre às 22 horas, para cantar com quatro convidadas - três baianas, uma também
nordestina, porém maranhense: da Bahia, as expressões novas de Vânia Abreu,
Jussara Silveira e Belô Velloso; de mais de cima no mapa, a amiga de muitas
décadas Alcione.
O show é um excerto do Projeto Caixa Acústica Feminina, que foi criado em
Salvador, realizado na Concha Acústica do Teatro Castro Alves e teve como
madrinha Maria Bethânia. Na capital baiana, foram cinco espetáculos
diferentes, um deles esse mesmo a que São Paulo assistirá. Os outros shows
tiveram Nana Caymmi, Adriana Calcanhoto e baiana novata Noemi;
Margareth Menezes, Cássia Eller e Sandra de Sá; Simone e o
grupo baiano Penélope; por fim, num espetáculos dedicado às crianças,
apresentaram-se as moças do grupo As Meninas.
O Rio assistirá aos cinco espetáculos. Questões de data impediram que a
série completa viesse até aqui. Mas pode ser que ainda venha - Bethânia
não descarta. No que lhe diz respeito, por sinal, gostaria muito de repetir
sua apresentação. "Eu adoro dividir palco", diz.
Encontros - Nos últimos tempos, verdade, mesmo, tem dividido palco
com muita gente: com os Doces Bárbaros, com Gal Costa, com Gilberto Gil.
"Com todo mundo", simplifica a contabilidade. Ainda que sejam um tanto
difíceis, tais encontros - nunca há muito tempo para ensaios, é preciso
achar os pontos comuns dos repertórios, adaptá-los.
Com Gil, diz Bethânia, foi mais fácil do que com qualquer outro:
"Por vários motivos - ele foi o meu primeiro diretor musical, ainda
na Bahia", lembra. "E quando fizemos Nossos Momentos, no Rio, eu me
indispus com o Perinho Albuquerque, que era o diretor, 20 dias antes
da estréia, e foi o Gil quem ficou responsável pela direção."
Não apenas: "Dos três baianos" - ela fala de si, de Gil, Gal e Catetano -
,"o que mais se parece comigo, em palco, é o Gil, pois no show ele não é o
compositor, mas o bicho de cena, aquele do ´vamos tocar logo´, enquanto
Caetano e Gal têm o comportamento mais cuidadoso, mais meticuloso,
joãogilbertiano."
Não foi Bethânia quem bolou o projeto. Foi a produtora Maria Luiza Jucá,
que pensou numa coisa do tipo "... convida mulheres..." A primeira companhia
que Bethânia imaginou ter em cena foi a de Nana Caymmi, mas as datas de
Nana (que, filha de baiano, é carioca) estavam ocupadas: tinha uma noite,
apenas, no período previsto para os shows.
Bethânia pensou, então, em convidar cantoras que preenchessem os requisitos
de serem baianas, de expressão nacional, que não fizessem axé. "Expressões
femininas vocais baianas de conhecimento nacional", no resumo dela mesma.
Daí Vânia, Jussara, Belô - que, por acaso, por sorte, é sobrinha.
"Portanto, não é um show meu", acrescenta Bethânia. "É um espetáculo de
todas nós." E, para completar o elenco, ela quis chamar uma companheira de 35
anos de profissão, a maranhense Alcione, com quem Bethânia já dividiu faixas
em discos - uma participando de trabalhos da outra. "Ela é uma irmã,
nordestina como eu, gostamos de coisas parecidas, cantamos coisas parecidas",
estabelece.
Com Alcione, então, estava tudo certo, desde o início - mas e com as
outras? Simples: "Vânia, Jussara e Belô sabem o que querem, fazem o que
querem e estão serenas, sem ansiedades - e é assim que eu sou", diz.
"Escolher seus nomes foi opção muito natural."
A favor - Os ensaios foram poucos, mas isso não trouxe problemas:
"Desde o primeiro encontro foi tudo muito alegre, muito positivo,
tudo muito a favor", conta Bethânia. "E tinha de ser: eu aviso logo que,
se não for assim, não quero."
Pois é, ela jamais fez o que não quis, o que não lhe fosse agradável.
"Eu montei a estrutura do roteiro, mas fomos conversando; faço uma canção
com cada uma delas, extraída do meu repertório mais aberto -
necessariamente, para atender à diversidade de personalidades - e
elas cantam coisas de seu próprio repertório."
No início do show, entram as quatro cantoras; depois, Bethânia canta
com Alcione - coisas do Maranhão, que ela já gravou. Em seguida, vão
entrando as outras convidadas.
A banda que as acompanha é a fixa de Bethânia, formada por Jaime Alem
(violão e direção musical), João Carlos Coutinho (piano), Reginaldo Vargas
e Zero (percussão), Marcio Mallard (violoncelo), Ricardo Amado (violino),
Márcio Bahia (bateria) e Rômulo Gomes (contrabaixo).
Mauro Dias
O Estado de São paulo - 19 de outubro de 2000