Formalmente, Maria Bethânia e Gal Costa cantaram juntas, ao vivo, apenas outras duas vezes: em 1964, em Salvador, no show Nós, por Exemplo, que marcou a estréia profissional delas duas e de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Tom Zé e, em 1976, no espetáculo Doces Bárbaros.

Fora isso estiveram juntas, eventualmente, em programas de televisão - ou cantaram duetos, em discos de Maria Bethânia. Sempre nos de Bethânia: "Eu a convido para gravar comigo, mas ela nunca me convidou", diz Bethânia, que não está reclamando, mas achando graça da constatação.

De fato. Gal Costa, aliás, gravou pela primeira vez num disco de Bethânia, fazendo dueto com ela na linda e tristíssima canção Sol Negro, que Caetano Veloso escreveu para as duas.

Cantos opostos - Sol Negro, naturalmente, é um dos números do show que fazem juntas, amanhã e domingo, no Credicard Hall. Em 1964, quando cantaram a música pela primeira vez ("Na minha voz/Trago a noite e o mar/O meu canto é a luz/De um sol negro", cantava Bethânia, o grave rasgando noite e mar; Gal Costa, ainda conhecida como Maria da Graça, respondia: "Valha, Nossa Senhora/Há quanto tempo ele foi-se embora/Foi pra bem longe, para além do mar/Para além dos braços de Iemanjá/Adeus"), obedeciam a uma disposição de palco determinada pelo autor: uma em cada extremo da cena, Gal de preto, Bethânia de branco.

A disposição foi mantida e Gal continua de preto. Bethânia trocou o branco pelo prateado. O show de amanhã e depois é o mesmo que foi apresentado para casa lotada, no Rio, no fim de semana passado. Elas abrem juntas o espetáculo, com Os mais Doces Bárbaros, de Caetano Veloso, e Oração para Mãe Meninha, de Dorival Caymmi. Gal sai, Bethânia canta meia hora. "Não É A Força Que nunca Seca, nada formal; canto coisas que gosto de cantar, posso dizer um texto ou não dizer nenhum", conta. "Devo cantar Sampa: me faz bem cantar Sampa em São Paulo", adianta.

Estranha força - Depois Gal Costa volta e as duas cantam mais dois números. Bethânia sai, Gal apresenta uma versão reduzida do espetáculo dedicado à música de Tom Jobim. Para encerrar, cantam juntas mais quatro músicas. A última delas é Força Estranha, feita por Caetano para Roberto Carlos.

Mauro Dias
sobre o show: Gal Costa e Maria Bethânia
Rio de Janeiro - São Paulo 02/2000




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