Bethânia por Iacov Hillel
Rosa dos Ventos, o espetáculo que encantou uma geração
Teatro da Praia, Rio de Janeiro, rua Francisco Sá, filas na porta, uma
imensidão de homens e mulheres com cabelos compridos, sandálias e bolsas
a tiracolo, noite quente, muito quente, verão entre Copacabana e Ipanema.
No palco, aquele cenário fantástico de Flávio Império querendo sair da
moldura que o enquadrava, uma grande rampa coberta com material espelhado,
que vinha do fundo e ainda saía em direção à platéia num formato irregular.
No fundo, os músicos, e o mesmo material espelhado subia pelas paredes de
trás e pelas laterais, com fendas para as entradas e saídas.
Bethânia nesse show se transformou na Rainha dos Raios, que sua música
preconizava artista visceral, forte presença cênica; ela soltava a fera,
linda, de branco, com vários adereços que trocava durante o espetáculo,
conforme exigiam o roteiro e o clima das canções. Desde o começo da
temporada, a platéia já cantava junto, anunciando o tamanho do sucesso.
Cada canção passou a ser um hino.
O espetáculo teve direção primorosa do Fauzi Arap, sensível e poética,
misturava as canções com textos de Fernando Pessoa. Extremamente teatral,
retirava a cantora de sua prisão diante do microfone estático. Bethânia usava
todo o espaço cênico, criava situações dramáticas e, dizendo poemas,
encantava toda uma geração.
"Rosa dos Ventos" modificou o conceito de show de cantores. Tinha a
característica fundamental de exprimir o sentimento de uma época, a emoção
de grande parcela da juventude brasileira.
IACOV HILLEL
diretor de teatro
originalmente publicado na Folha de São Paulo