Maria Bethânia arrebata platéia na estréia de seu show "Maricotinha", no RioMaria Bethania inicia no Rio a temporada nacional do novo CD "Maricotinha" Maria Bethânia resumiu em quase 40 canções uma carreira que atravessou três décadas meia para desaguar em "Maricotinha", o CD espetáculo que aporta por três semanas no Canecão, Rio de Janeiro, antes de correr o Brasil. Ela e seu diretor, Fauzi Arap, costuraram um set list extremamente feliz, sem esquecer os poemas de autores clássicos em sua boca, como Fernando Pessoa, até seus amores mais recentes, as poetas portuguesas Natália Correa e Sophia de Mello Breyner. Bethânia faz mágica com as palavras, interpretando-as com arrebatamento que a banda regida pelo maestro Jaime Alem complementa com arranjos impecáveis que reforçam os fortíssimos e acalentam os pianíssimos. O espetáculo não tem cenário e apenas uma luz discreta. Bethânia reina soberana sobre um estrado colocado na frente, o palco limpo pela ausência de caixas de retorno, substituídas pela monitoração de ouvido. Ela só não dispensa seu microfone Shure com fio e nem os pés descalços. Enverga uma bela saia comprida em furta cor com blusa branca na primeira parte e um conjunto de calça comprida e blusa brancas na segunda parte, depois que a banda executa a instrumental "Pássara" para encerrar o Ato 1. Bethânia dividiu o repertório em módulos com canções agrupadas que ganham interpretações curtas e algumas evadas na íntegra. A mais forte delas continua a ser "Fera ferida", quando ela e a banda entram em órbita e a platéia vai junto. O mesmo aconteceu no bis, com "O que é o que é", o hino de Gonzaguinha sobre a beleza da vida e sobre a arte de ser uma eterna aprendiz. Coisa que Bethânia provou que também é ao esquecer a letra da última canção do show, "Amor de índio". “Gosto tanto dessa canção, queria cantá-la tanto e estou errando tudo,” lamentou. O público foi cúmplice, alguns sopraram a letra, ela recomeçou e foi adiante, encerrando sob aplausos delirantes. Mas antes passeou por seus anos, lembrando canções como a épica "Rosa dos ventos", antecedida de uma citação de "Opinião", de Zé Kéti, o sambista que estrelava o espetáculo homônimo com João do Valle e Nara Leão, que um dia a chamou para substitui-la e, com Carcará (que não canta agora), Bethânia se revelou. Ela passou por "Álibi", faixa título de um de seus grandes CDs dos anos 70, mas esqueceu-se do maior de todos, "Drama – Anjo exterminado". Lembrou Cazuza com "Todo amor que houver nesta vida", o Herbert Vianna que gravou no CD novo, "Quando você não está aqui", e sentou-se despojadamente no palco para "Baila comigo e Shangri-lá", de Rita Lee e Roberto de Carvalho, quase deitando-se no verso “tomar banho de sol”. Já que o Canecão fica na fronteira de Copacabana, ela homenageou o bairro cantando "Sábado de Copacabana", de Dorival Caymmi e lembrou seus primeiros dias na outrora Cidade Maravilhosa. “Quando eu cheguei no Rio foi Copacabana que me recebeu com seu cheiro de batata frita e gasolina, suas tardes de trovões e raios e suas noites de puro glamour, o Teatro Opinião onde estreei profissionalmente com o Zé Kéti e o João substituindo Nara. E as boates, eu cantei em quase todas, eu adorava fazer show em boate, foi onde eu aprendi tudo, porque o público de boate é diferente. Não fica assim, NESSA ATENÇÃO (enfatiza tremendo a voz), olhando pra pessoa (risos): bebe um pouco, namora um pouco, ouve um pedaço da música e a cantora pode aprender o ofício, o prazer de cantar e a disciplina. Eu aprendi tudo na boate, eram grandes artistas, um luxo. Quando eu cheguei no Rio de Janeiro, Elizeth fazia o Cangaceiro, Nara fazia o Barroco, Chico Buarque e o MPB4 faziam o Arpege, Silvinha Teles, a gente se encontrava toda noite no Bateau, isso era maravilhoso. Até hoje venho passear por ela à procura da primeira impressão, o seu perfume único, à procura da minha princesinha do mar e o seu colar de pérolas de espuma.” E atacou "Se eu morresse de saudade", a canção que Gilberto Gil lhe deu para "Maricotinha". Fez um set rural com "Bodocó", "Dona do dom" e "Festa", pulou para uma seqüência urbana com "Fotografia" e "Anos dourados". Extraiu novo significado de uma canção popular como "Casinha branca", que o público cantou com ela, ensaiou alguns acordes ao piano sob o olhar comrpeensivo de João Carlos Coutinho, o titular dos teclados e não esqueceu os tempos do Teatro da Praia, na mesma Copacabana , onde reinou soberana com temporadas longas em que sempre recorria a Fernando Pessoa, e dele recitou o "Poema do Menino Jesus" que diz numa das estrofes: “Ele dorme dentro da minha alma/ E às vezes acorda de noite/ E brinca com os meus sonhos./ Vira uns de pernas para o ar, /Põe uns em cima dos outros/ E bate palmas sozinho / Sorrindo para o meu sono.” Bethânia disse que mal teve tempo de ensaiar o show, ainda assim ele fluiu redondinho até o fim. Depois que estiver azeitado pela estrada pode render um bom CD ao vivo, daqueles que ela tanto gosta de gravar. Mas bem que podia incluir "Anjo exterminado", "Esse cara", "Explode coração"... Jamari Franca Globonews.com - 09/11/2001 Maria Bethânia homenageia Renato Teixeira em show em São PauloAntes e também depois de homenagear São Paulo cantando "Ronda", a mais representativa música para a cidade, segundo ela própria, Maria Bethânia aplaudiu, pediu desculpas e cantou para o compositor Renato Teixeira, que estava na platéia lotada do DirecTV Music Hall neste sábado, dia 8, para assistir ao show "Maricotinha".Depois de falar de Copacabana, onde "nasceu" a artista, Bethânia falou de São Paulo, das boates em que já cantou e, antes de engatar "Ronda", informou a presença de Teixeira na platéia, pedindo desculpas pelo fato da música "Juntar o que Sentir", de sua autoria, não estar no show. "Eu não poderia cantar esta letra, deveria lê-la", explicou a cantora, dona da poderosa voz que interpretou na apresentação de 2 horas Tom Jobim, Rita Lee e Cazuza, entre outros. Quase no final do show, Bethânia improvisou e cantou "Juntar o que Sentir", que está em seu novo CD, acompanhando a letra em uma folha de papel e ao som do piano. Num show recheado de poesia -vide os trechos retirados das obras de grandes autores e alguns de autoria própria-, Bethânia divertiu a platéia com suas histórias da época do teatro Opinião, no Rio, falando de sua estréia nos palcos, de incidentes como um incêndio na boate Ruy Barbosa e dando sua opinião (dificilmente vista nos jornais) sobre a época. No primeiro ato, ela incluiu "Negue", que não vinha sendo apresentada nos outros shows que ela realizou. Saiba como foi o show de Bethânia em São Paulo: Ato 1 Ato 2 MARCELO BARTOLOMEI Editor de entretenimento da Folha Online - 09/12/2001 |
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