Eu vou lhe contar que você não me conhece.
Eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve.
A sedução me escraviza a você, ao fim de tudo você
Permanece comigo, mas preso ao que eu criei e não a mim
E quanto mais falo sobre a verdade inteira um abismo maior nos separa
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções
Mas a mentira da aparência que eu sou e a mentira da aparência que você é,
porque eu não sou meu nome e você não é ninguém,
o jogo perigoso que eu pratico aqui, ele busca chegar ao limite possível
de aproximação através da aceitação da distância e do reconhecimento dela
Entre eu e você existe a notícia, que nos separa
Eu quero que você me veja a mim.
Eu me dispo da notícia,
E a minha nudez parada te denuncia e te espelha.
Eu me delato, tu me relatas.
Eu nos acuso e confesso por nós.
Assim me livro das palavras com as quais você me veste.
Texto de Fauzi Arap
Pássaro da manhã - Polygram - 1977