O ciúme
(Caetano Veloso)


Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, rio, Bahia
Só vigia o ponto negro, meu ciúme.
O ciúme lançou sua flecha preta
E acertou no meio exato da garganta
Que nem alegre, nem triste, nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta.
Velho Chico, vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei o que levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só, eu sou só, eu sou só, eu.
Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê?
Tanta gente canta, canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira a tenebrosa sombra do ciúme.

Maria - BMG/Ariola - 1988
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