"Omara é uma das maiores cantoras que conheci, que conheço... Ela tem uma musicalidade, uma inteligência, uma compreensão musical que não é muito comum...". Maria Bethânia a respeito de Omara Portuondo.
"A voz de Maria Bethânia tem uma cor, uma densidade... Ela preenche... É uma coisa maravilhosa. Ela tem uma segurança, uma sutileza... Esse encontro é muito interessante". Omara Portuondo a respeito de Maria Bethânia.
Os generosos elogios recíprocos trocados entre Maria Bethânia e Omara Portuondo foram feitos em depoimentos que compõem o documentário pilotado pelo diretor Bruno Natal para o DVD que acompanha a edição dupla do disco Maria Bethânia e Omara Portuondo, nas lojas a partir de 28 de fevereiro, pela gravadora Biscoito Fino, nos formatos de CD e de CD + DVD. Produzido por Jaime Alem (o maestro de Bethânia já há mais de 20 anos) e pelo violonista Swami Jr., o álbum foi idealizado a partir de encontro entre Bethânia e Omara em 2005, quando a cantora cubana voltou ao Brasil para fazer alguns shows. "Quando Omara esteve no Rio, fomos almoçar juntas e ela pensou em fazer um disco comigo... E aquilo ficou em nossas cabeças", conta Bethânia no documentário.
A boa idéia do disco foi concretizada em janeiro de 2007 quando Bethânia e Omara - em foto de Leonardo Aversa - o gravaram no Rio de Janeiro, sob absoluto sigilo, no estúdio da Biscoito Fino. O lançamento do álbum será acompanhado por turnê nacional que vai juntar as cantoras no palco em show inédito. A estréia será no Canecão (RJ), em temporada de duas semanas que vai de 7 a 16 de março. No show, as intérpretes vão mostrar o repertório do disco, que junta 14 músicas em 11 faixas. A seleção foi feita com base em pesquisa feita sob encomenda por Mozá Menezes e Rodrigo Faour.
Quase todo inédito nas vozes das cantoras, o repertório entrelaça músicas antigas de compositores de Brasil e Cuba. Algumas faixas foram gravadas em dueto por Bethânia e Omara. Entre elas, Para Cantarle a mi Amor - a música da lavra do compositor e pianista cubano Orlando de la Rosa (1919 - 1957), entoada em castelhano - e Só Vendo que Beleza (Marambaia), parceria de Rubens Campos (1912 - 1985) e Henricão (1915 - 1984), revivida pelas cantoras em português. A música foi sucesso com Carmen Costa (1920 - 2007).
Alguns boleros cubanos até já foram gravados anteriormente por Omara. São os casos de El Amor de mi Bohio, de Julio Brito (1908 - 1968), e Y Tal Vez, de Juan Formell, baixista que fundou a popular orquestra Los Van Van). Outro tema já gravado pela diva cubana é Palabras (Marta Valdés), que reaparece na voz de Omara reunido a Palavras (Gonzaguinha - na voz de Bethânia) e ao Poema LXIV, de Dulce María Loynaz. Ainda na seleção cubana, capitaneada por Omara, há Lacho (rara parceria do pianista Facundo Rivero com o flautista Juan Pablo Miranda que abre o CD), Mil Congojas (bolero do citado Juan Pablo Miranda) e Nana para un Suspiro (Semillita), acalanto de Pedro Luis Ferrer que fecha o disco, caracterizado por Bethânia como humaníssimo no documentário incluído no álbum.
Na parte brasileira, Bethânia selecionou Caipira de Fato (Adauto Santos), Menino Grande (Antônio Maria), Arrependimento (um já esquecido bolero composto por Dolores Duran com Fernando César) e Você, parceria de Hekel Tavares (1896 - 1969) com Nair Mesquita bem mais conhecida como Penas do Tiê. Enfim, o disco Maria Bethânia e Omara Portuondo parece totalmente fiel aos universos musicais e afetivos das intérpretes, que costuram tradições musicais com as memórias afetivas do Brasil e de Cuba.
Maria Bethânia e a cubana Omara Portuondo lançam CD e DVD juntas
Elas são duas divas da música. Mas se comportam como súditas quando estão uma defronte a outra. Maria Bethâniabuscar só se refere a ela como Dona Omara. Omara Portuondobuscar, baluarte da música cubana, declara admiração antiga pela baiana. E pede uma salva de palmas para a cantora durante a coletiva de imprensa que ambas deram nesta quarta-feira. 27, no Rio.
O motivo do encontro é o CD/DVD que será lançado em temporada de duas semanas no Canecão, a partir do próximo dia 7. A dupla depois segue para São Paulo e outras sete capitais brasileiras.
O álbum, gravado há um ano, traz no repertório músicas brasileiras e cubanas da década de 50, a pedido de Omara. "Ela me mandou muita coisa dela e da música cubana e eu sugeri algo do cancioneiro brasileiro", conta Bethânia. "Dona Omara é uma cantora urbana, muito sofisticada. Eu, que sou interiorana, pedi a ela uma canção jeca. Ela custou mas pegou o que eu queria", diz a cantora, referindo-se à música "El Amor Di Mi Bohío", a última das 11 que integram o CD.
SUAVE
Omara é fã de Bethânia desde 1986
O álbum é de extrema suavidade, por escolha das próprias cantoras. Traz canções dos brasileiros Antonio Maria, Dolores Duran, Gonzaguinha e Adauto Santos, entre outros. No repertório cubano estão incluídas músicas de Facundo Rivero, Julio Brito e Orlando De la Rosa.
"Quisemos fazer o disco com nossa assinatura, com nosso sentimento naquele encontro. Somos duas mulheres do mundo cantando seus países. Duas cantoras com personalidades fortes e completamente diferentes na maneira de se expressar, por isso tínhamos de priorizar a voz", explica Bethânia.
E Omara segue em elogios: "Ela tem uma voz que me estremece, tão sincera que me apaixona. Uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida foi cantar com Maria Bethânia".
"Imagina para mim", retribui.
ENCONTRO
A idéia de fazer uma parceria surgiu em 2005, quando Omara e Bethânia se encontraram no Rio de Janeiro. A cubana excursionava pelo Brasil e pediu para conhecer pessoalmente a moça que vira cantando em 1986, durante um festival internacional de música em seu país.
"Me encantei com a maneira como ela cantava e seu temperamento no palco, que mulher forte", lembra Omara.
"Uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida foi cantar com Maria Bethânia"
Bethânia ri e esclarece: seu show foi marcado por um episódio muito peculiar. Antes delas, um grupo de cantoras tinha se apresentado com um copo de água na cabeça e, ao entrar no palco molhado, descalça, ela levou um choque. "Eu voei na platéia, foi isso o que aconteceu", diverte-se.
A baiana diz que sua admiração pela música cubana também é antiga: desde a adolescência, em Santo Amaro, ouvia boleros. "Temos uma raiz africana muito próxima. Os escravos que chegaram aqui eram da mesma região dos que chegaram em Cuba. Isso une o balanço, o suingue, e a religião é permeada pela força da religião africana", observa Bethânia.
Acompanhadas de sete músicos, as cantoras vão se dividir no palco durante o show. Mas também se apresentam separadamente. E aí, mais surpresas: Bethânia adianta que vai cantar uma inédita - a música "Doce", composta por Roque Ferreira especialmente para ela.
O espetáculo - com cenografia de Gringo Cardia e iluminação de Maneco Quinderé - terá uma hora e quarenta minutos de duração.
"A expectativa é que as pessoas cheguem com o coração azul, vermelho e branco, as core de Cuba e da Bahia)", diz Bethânia, chamada de "chefe" por Omuara.
Já o DVD traz um documentário feito pelo diretor Bruno Natal, registrando a gravação do disco. Depois da turnês brasileira, a dupla fará shows na Argentina, no Chile e talvez em Paris.