"Pedrinha de aruanda" mostra Maria Bethânia na intimidade



Com bastante simplicidade e um pouco da intimidade de Maria Bethânia, o cineasta Andrucha Waddington mostra mais uma faceta da cantora com seu mais recente trabalho, o documentário "Pedrinha de aruanda". A produção está no festival É Tudo Verdade e é exibida nesta quinta-feira (29), às 21h, no Rio, e sexta, às 21h30, em São Paulo.

De formato enxuto - 60 minutos no total -, "Pedrinha de aruanda" começa com Maria Bethânia nos bastidores de um show ocorrido no ano passado em Salvador.

Mesmo após 40 anos de carreira, as câmeras captam um elaborado ritual de preparação e concentração de Maria Bethânia, até a entrada no palco, com a explosão do público e a interpretação de "Gita" (Raul Seixas/Paulo Coelho) em arranjo rock 'n roll.

A partir daí, o documentário se dedica a registrá-la ao lado da família durante a celebração de seu aniversário de 60 anos. Como em dos momentos da cerimônia pré-show, o lado religioso de Maria Bethânia é evidenciado quando a equipe acompanha a missa de celebração do seu nascimento, com a presença da mãe da cantora, dona Canô Veloso. Ela é a única entrevistada da produção e lembra passagens da infância e a inclinação para o canto que Bethânia demonstrou logo cedo.

A seguir, com a chegada do irmão Caetano Veloso à cidade de Santo Amaro da Purificação (BA), tem início a parte principal de "Pedrinha de aruanda": em uma roda de violão bastante informal, Caetano, Bethânia e dona Canô, após um jantar bastante simples, interpretam canções que marcaram a vida em família, como composições de Lupicínio Rodrigues, Dorival Caymmi e outros. Outro elemento presente são as declamações de poemas de Mario Quintana e Fernando Pessoa - este último em seus heterônimos.

Waddington, diretor do longa "Eu, tu, eles", investiu em uma produção singela, sem truques de câmera ou edição mirabolante, para capturar uma faceta contemporânea e madura da cantora.

"Pedrinha de aruanda" também entrará em circuito comercial no próximo dia 22 de junho.

Portal de Notícias da Globo
29/03/2007

Filme faz liturgia em louvor à senhora da cena

Sozinha no camarim, fora da luz mágica do palco, entre símbolos religiosos, Maria Bethânia exibe um ar compenetrado e senhoril. Poucos minutos depois, ela entra no palco da Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), para reinar soberana entre os súditos que a aplaudem e gritam seu nome da platéia. Por estas primeiras fortes imagens, tudo indica que o documentário Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda (em exibição esta semana no Rio e em São Paulo, dentro do festival É Tudo Verdade, e com estréia no circuito nacional prevista para 20 de julho) vai deixar o espectador entrar pelo camarim e pela alma de Bethânia. Só que o diretor Andrucha Waddington parece não ter sido o real condutor da viagem feita ao universo afetivo de Santo Amaro da Purificação (BA), onde Pedrinha de Aruanda começou a ser feito em 2005.

Bethânia é a condutora do roteiro. É quem guia, inclusive, o mano Caetano Veloso na viagem de carro pela estrada que liga Salvador a Santo Amaro. Na liturgia em louvor à senhora da cena, a elegia é feita na Igreja (em missa que celebra o aniversário de Bethânia ao som de preces e de cânticos religiosos como Maria Matter Gratiae e Ofertório, este de Caetano) e em visita na casa de Dona Canô. Aí quem conduz a cena é a matriarca quase centenária, fofíssima nos depoimentos orgulhosos sobre a filha famosa. "Ela era muito viva. Contava histórias cantando e dizia que queria ser artista. E até Saci Pererê ela representou", lembra Dona Canô com invejável lucidez.

Cena de grande significado é a interpretação de Motriz na estação ferroviária de Santo Amaro ao lado do violonista Jaime Alem. Na letra dessa música, lançada por Bethânia em 1983 no disco Ciclo, Caetano faz nostálgica viagem afetiva pelo trem que ligava Santo Amaro a Salvador e - em última análise - ao mundo. Em outra boa cena, a cantora refaz a trilha que a levava à cachoeira, na infância vivida na companhia do pai, José. Contudo, o vasto e rico mundo interior de Bethânia não se revela na viagem do filme, que, a rigor, nem pode ser enquadrado no gênero documentário. Pedrinha de Aruanda junta recortes afetivos da vida da atriz sem abrir a cortina que separa palco e platéia. A personalidade e seu público.

A seresta na varanda - com Bethânia, Caetano, Dona Canô alguns familiares e o violão de Além - ocupa quase toda a metade final do filme. Conduzidos pela matriarca, os irmãos desfiam belos temas como Chuá Chuá, Oração a Mãe Menininha, Felicidade, Exemplo, Foguete, Tristeza do Jeca e Lua Bonita. Sem edição. Bethânia erra a letra de Gente Humilde e a retoma do início. "Música velha é que bonita", sentencia Canô. E assim, entre músicas e poemas (como As Ruazinhas, versos de Mário Quintana recitados por Bethânia em off enquanto aparecem na tela imagens das ruas singelas de Santo Amaro), Pedrinha de Aruanda mantém intacta a aura mitológica criada em torno da senhora cantora Maria Bethânia.

Mauro Ferreira
29/03/2007

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