Eu agi sempre,
Eu agi sempre para dentro
Eu nunca toquei na vida.
Nunca soube como se amava...
Apenas soube como se sonhava amar.
Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos,
É que às vezes eu queria julgar
que as minhas mãos eram de princesa.
Gostava de ver a minha face refletida,
Porque podia sonhar que era a face de outra criatura.
Extraído do Livro do "Desassossego" de Fernando Pessoa
Imitação da Vida - EMI,1997
Eu tenho uma espécie de dever, de dever de sonhar
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que
uma expectadora de mim mesma.
Eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco,
cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas
e músicas invisíveis.
Extraído do Livro do "Desassossego" de Fernando Pessoa
Imitação da Vida - EMI, 1997
Outrora eu era daqui,
e hoje regresso estrangeiro,
forasteiro do que vejo e ouço,
velho de mim,
Já vi tudo, ainda o que nunca vi,
nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui.
Fernando Pessoa
Poemas extraídos do Livro do "Desassossego"
imitação da Vida - EMI,1997