No prêmio Shell, Bethânia diz que é impossível intérprete ser premiado sozinho

Em cerimônia de poucos flashes e um show com repertório surpresa, a cantora Maria Bethânia recebeu na noite desta terça-feira o 28º Prêmio Shell de Música, no Vivo Rio (centro da cidade). Na primeira vez que uma intérprete ganhou a premiação, Bethânia dedicou o prêmio à "voz feminina" do Brasil e aos compositores com quem fez parcerias.

"Um intérprete não pode receber o prêmio sozinho. É impossível. Por toda a minha vida tenho que contar com grandes artistas e amigos. Este prêmio é meu, estou orgulhosíssima dele, mas é de muita gente também", disse a cantora, ao receber o prêmio.

Logo depois, emendou um show com repertório surpresa, um "condensado da carreira" com 31 músicas, montado exclusivamente para a apresentação, segundo a produção.

Bethânia foi premiada pelo conjunto da obra por um júri formado pelo jornalista da Folha Luiz Fernando Vianna, por Arthur Dapieve, de "O Globo", pelo radialista Fernando Mansur, pelo produtor cultural Bruno Levinson e pelos produtores musicais Moogie Canazio e Zuza Homem de Mello. Até o ano passado, o regulamento restringia a premiação a compositores.

"Este prêmio sempre foi para autores, compositores, e eu sou uma intérprete. Então, eu fiquei comovida de os senhores [jurados] verem no meu trabalho alguma criatividade, alguma assinatura", disse.

Em discurso de seis minutos --mais curto que o da atriz Renata Sorrah, que apresentou a cerimônia-- Bethânia também dedicou o prêmio aos pais, a professores de escolas públicas onde estudou e a nomes como Nara Leão --que "descobriu" Bethânia na Bahia-- Zé Ketti, Bibi Ferreira, Augusto Boal, Caetano Veloso, Chico Buarque, os músicos de sua banda e "cada um dos senhores [da platéia]".

Na platéia, os 1.190 convidados da cerimônia --dez faltaram, segundo a produção-- variavam entre familiares e amigos de Bethânia, pouquíssimas celebridades, integrantes de fã-clubes da cantora e empresários da Shell.

A pedido da própria Bethânia, a idéia era fazer uma cerimônia simples, com um público menor do que a casa comporta (2.500 pessoas) para dar conforto aos convidados, segundo a assessoria de imprensa do evento.

A cantora também parecia à vontade nas 1h37 em que permaneceu em palco. Descalça, com saia, calça e jaqueta verdes, arriscou sambar em "Volta por Cima", riu com as mãos na cintura em "Olhos nos Olhos" e cantarolou ao errar por duas vezes a letra de "Vila do Adeus".

"Desculpe. Eu adoro essa música. Se deixar, canto a noite toda", disse, sentada em um banquinho do palco, com pouca decoração e um fundo que variava em preto e azul.

A platéia, na qual estavam Beth Carvalho, Sérgio Britto, Leda Nagle, Hermila Guedes e Zuenir Ventura, aplaudiu ainda tímida, mas foi se soltando aos poucos. Ao final, quando Bethânia fechou o repertório com "O que É o que É", todo o público estava de pé e se aproximava do palco para cumprimentar a cantora.



LUISA BELCHIOR
Colaboração para a Folha Online, no Rio
















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