Bethânia por Gabriel Villela


Como foi a sua experiência em dirigir shows com Maria Bethânia, Milton Nascimento e Ivete Sangalo?

Essas pessoas têm em comum a arte de representar. Eu disse para Bethânia que ela é uma excelente atriz, ela desconversou por humildade, por sabedoria e por prevenção. O Milton Nascimento é um grande ator, você só pode entender essa voz que lhe foi dada, esculpida à mão pela Santíssima Trindade - porque um só não daria conta - , se você considerar as qualidades de interpretação do ator que ele é. A Ivete Sangalo também é uma atriz nata. Os três intérpretes estão em estágios diferentes da vida. Bethânia vive a plenitude, ela é um orixá reencarnado. Já o Milton...A Elis Regina dizia que, se Deus tem uma voz, essa voz é a do Milton Nascimento. Falou a deusa, porque de todos, Elis, Até por não estar aqui, por ser finita, tornou-se infinita em sua expressão máxima - eu acho que ela foi a maior intérprete de todos os tempos, cumpriu a sua presença aqui na Terra e deixou essa definição pro Milton. A Ivete Sangalo é o mais jovem exemplo nesse sentido, ela é uma grande intérprete, mas está em processo de construção...
O Milton é filho de um grande mistério, que é o mistério mineiro e que prevê a dor, é um mistério doloroso. Também Bethânia é filha de um grande mistério, que é o baiano, o gozo, são os mistérios gozozos. Assim conquistamos dois shows distintos em forma, mas que foram profundamente confeccionados a partir desses conceitos, com esse grau de consciência que os dois têm. São dois grandes atores de latitude e longitude incalculáveis. Milton dentro de sua humildade, enquanto Bethânia sabiamente foge desse compromisso. Mas costumo dizer : "quem quer ter um aula de interpretação não precisa frequentar qualquer escola de teatro no Brasil, é só assistir a uma temporada dos dois para sair diplomado"

Gabriel Villela

Diretor de Teatro
Entrevista a Christian Petermann
Revista G Magazine - Edição 41 - Fev. 2001





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