CONCLUSÃO

A proposta de classificação dos desvios sexuais da criança, aqui apresentada, é uma primeira tentativa de estabelecer parâmetros genético-dinâmico-estruturais que ofereçam ao analista uma base de referência conceitual fundamentada na metapsicologia psicanalítica, mais do que na nosografia psiquiátrica infantil, permitindo-lhe uma categorizarão diagnóstica das perturbações sexuais precoces consoante com o referencial teórico que o formou.

O desvio na infância foi, durante muito tempo, um assunto do qual os analistas se aproximavam tanto com cautela diagnóstica como com perplexidade clínica, indagando a si mesmos se, por bizarras que se apresentassem, não se poderia atribuir tais manifestações às variações caleidoscópicas da expressão da sexualidade infantil perverso-polimorfa. Julguei, pois, importante, partindo de uma revisão ampla, histórica e detalhada da literatura psicanalítica sobre o assunto, acrescida de alguns questionamentos e proposições pessoais, adentrar-me neste intocável santuário que em alguns aspectos continua sendo a infância frente à louvável intrusividade da investigação teórica da psicanálise.

Todos os desvios sexuais são, em qualquer idade e essencialmente, desvios sexuais infantis. A organização dita perversa denuncia, talvez mais do que qualquer outra estruturação psicopatológica, com notável precisão e vividez, os avatares e as impossibilidades que pre cocemente se interpõem ao processo de constituição da identidade subjetiva e sexual. Pela persistência quase imodificada, mal reprimida, das particularidades do erotismo infantil, com defesas primitivas inicialmente estabelecidas para lidar com o impulso sexual em condições adversas, o desvio permite o acesso ao longo do trabalho analítico aos eventos traumáticos que se sucederam na história do indivíduo e se expressaram posteriormente, mais do que na forma de uma fantasia, sob a forma de um ato.

Quando estas distorções podem ser abordadas clínicamente num estágio, senão nascente, ainda inicial, sua lógica interna se faz mais evidente e compreensível e seu tratamento apresenta melhores perspectivas, porque a possibilidade de intervir também sobre o contexto das interações criança/família - além da abordagem analítica individual - e a relativa inconsistência estrutural da patologia nesse estágio oportunizam uma aproximação terapêutica certamente mais efetiva e eficaz.
 

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