Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, 26 de fevereiro de 1993.
A vida!... Ah! A vida...
Como é trágico o momento em que as cordas de luz que tecem a teia onde a vida se sustenta se arrebentam, e os nós que nos prendem à máquina se desfazem sem luta e resistência! Como é trágico este momento mesmo que esperado!
É difícil entender este limite entre a essência da vida e a máquina viva... Quem sabe para nós, humanos, impossível seja entender e vão o esforço e o tempo gasto para tal.
Talvez a vida não tenha mais significado do que aquele que damos a ela; talvez nossa única obrigação seja ser quem somos, fazer o que fazemos e acreditar no que acreditamos, sem que haja um "para quê" além daquele que enxergamos.
Talvez nossa única e grande missão na Terra e no Tempo seja sermos humanos (no sentido mais amplo possível!!).
O tempo não pára, e nossa vida é, mais que tudo, finita.
Talvez o único real pecado seja perder tempo que devería ser gasto vivendo intensamente e fazendo crescer, de alguma forma a frágil teia de luz que guarda o segredo do Universo.
Talvez devêssemos parar e pensar às vezes e perceber que não podemos continuar a viver como se pudéssemos reparar nossos erros, ou fazer deixar para fazer em outro momento algo bonito, ou delecier o coração com um momento, um gesto delicado e feliz...
Cada momento é como nós mesmo somos: único.
Fatos às vezes se repetem, mas nunca um momento retorna!
Chega de deixar para viver amanhã o que se pode viver hoje!
Porque desde que nascemos temos dia e hora marcados para morrer.
Sempre há um lado construtivo em tudo o que fazemos: seja acertando ou errando, amando ou odiando, nascendo ou morrendo...
Chega de pensar: "hoje é um bom dia, ontem foi um mau dia" , porque todos os dias são uma caixa de surpresas preparada pela Vida para vivermos!
Chega de fugir: que enfrentemos com coragem o que tivermos de enfrentar.
Chega de perguntar "por quê?": as coisas são como são porque tinham de ser assim e nunca em tempo algum poderiam ser diferentes!...
Que vivamos!
Que tratemos a nós mesmos com honestidade e coerência!
Porque tudo que vivemos, sentimos, sofremos e aprendemos só continua em quem fica... Tudo que é em nós humano morre com a máquina; porque o que é o prazer senão um fluxo elétrico em algum circuito especial do sistema límbico? O que somos além da máquina bruta e de nossa memória, que é uma complexa associação de sinapses eletroquímicas entre neurônios?
Morre o neurônio, morrem com ele o prazer, a culpa, o amor, o ódio, a memória adquirida, a memória genética... Morre tudo, e o que sobra?
Nada?
Tudo?...
Algo que não conseguimos nem imaginar, algo que para nós parece nada, mas é tudo...
Gens sendo trancritos, as verdadeiras fábricas mágicas que são as enzimas, átomos, átomos, átomos... que de um jeito são vida, de outro, carvão...
O que é a vida?
O que vemos ou o que não vemos e nunca conseguiremos ver?
A vida!... Ah! A vida...
Todo o segredo do Universo está no momento em que se rompem as finas cordas de luz que tecem a delicada teia onde se sustenta a vida, e quando os nós que prendem a essência à máquina relaxam e se desfazem libertando a Verdade a ela mesma.