Minha Formatura

       Minha formatura não foi lá muito fácil... Foi o rompimento do cordão umbelical de dependência total entre mim e minha família e o desfecho de tensões que existiam já há vários anos.

       O choque entre minha sexualidade cada vez mais ousadamente visível, os ideais religiosos dos meus pais e minha emancipação financeira inevitável culminou com minha saída de casa prematuramente uma semana antes da formatura. Foi uma briga terrível onde ambas as partes apenas se agrediram e se magoaram cuspindo palavras engasgadas há muito tempo.

       Quando isso aconteceu meu namorado era El-Jah. Ele me acolheu em sua casa e me deu um apoio inestimável.

       A festa de formatura de medicina, seguindo a tradição da UFPR,  normalmente é dividida em três partes em dias diferentes: a Colação de Grau, o Culto ecumênico e o Baile de Formatura.

       Nos preparativos para que fôssemos à festa de colação de grau no Teatro Guaíra, Elias foi passar minha beca com ferro quente... Só que quente demais!

       - A beca furou!... - disse ele olhando assustado o rombo que o ferro tinha feito em poucos instantes.

       Só me restou rir do nosso desepero.

       Por sorte Elias sabe costurar. Pegou um calção velho preto cujo o tecido tinha o brilho semelhante ao do da beca, recortou  na medida e tapou o furo. Rimos muito então.

      nbsp; A festa foi belíssima. Pena que meu pai não estava presente. Ele não esteve presente em nenhuma comemoração. Já minha mãe compareceu apenas na colação de grau.
 

       No outro dia choveu muito, o que atrapalhou o culto ecumênico que ocorreu na Catedral Metropolitana de Curitiba. Somente um amigo meu, Andrezinho, compareceu a este evento. Mais ninguém.

       Mas não me preocupei tanto, porque eu tinha planos para o Baile. Pena que eles também não se concretizaram...

        Na tradição, em torno de meia noite os formandos são convidados a dançar três valsas. A primeira com sua mãe ou quem a represente no caso dela não estar presente, a segunda com namorado ou namorada e a terceira com todo o restante do público. Bem, apesar dos meus pedidos, o Elias não quiz participar da festa. Se participasse, com certeza a segunda valsa seria dele! Mas fui obrigado pelas circunstâncias a dançá-la com minha prima Vera.

        Como minha mãe não foi, dancei a primeira com minha irmã Deny.
Eu sempre falei que ela era minha mãe psicológica... :)

        Com o final da festa veio a dura realidade... Eu estava fora de casa pela primeira vez, com a responsabilidade enorme de me sustentar sozinho pelos meus próprios meios. Mas pude contar com muita ajuda e apoio do Elias nesta fase de minha vida.

        Fiquei em torno de um mês desempregado antes de surgir a possibilidade de trabalhar em Guaraqueçaba, o que foi uma experiência interessante.

        Então, estes foram os acontecimentos relativos à minha formatura.

 

 

 
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