Biografia

 

Nome: Steven Allan Spielberg
Data de Nascimento: 18 de Dezembro de 1947
Naturalidade: Cincinnati, Ohio, EUA
Relações: Esposa: Kate Capshaw (atriz/roteirista); ex-esposa: Amy Irving; filhos: Max (com Irving); Sasha, Sawyer, Theo (adotado), Mikaela (adotada) e Destry Allyn; afilhada: Drew Barrymore (atriz)
Escolaridade: Faculdade Estadual da Califórnia em Long Beach
Endereço para fã:
C/O Amblin Entertainment
100 Universal City Plaza Bungalow 477
Universal City, CA 91608
USA

Durante 20 anos, ele teve com Hollywood o mais profundo e profícuo caso de crescimento retardado. Mas o menino de Tubarão tornou-se o homem de A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan. O solitário e precoce filho de um lar partido é hoje o amoroso pai de sete crianças. Terá a paixão de Spielberg pela vida e pelo cinema ajudado a atrair a indústria cinematográfica americana para sua própria maturidade?

Steven já passou dos 50 anos, a idade dos realistas. Quando um homem faz um inventário de suas condições físicas e começa a pensar não em construir um império, mas simplesmente na manutenção da saúde, família e da carreira - a preservação, por apenas alguns anos mais, do subitamente precioso status quo. As pessoas com quem se trabalha, que costumavam ser mais velhas, agora são mais jovens.

Spielberg pode ser imune a este peso da idade temporal; o sujeito que faz filmes que todo mundo quer ver não é qualquer outra pessoa. "Pessoas como Spielberg não surgem todo dia e quando isto acontece é uma coisa divertida. Como estar falando com Einstein. Ele não faz parte de um grupo de cineastas da sua idade. Ele está muito, muito distante", diz seu amigo e colaborador George Lucas.

Pode-se ainda perguntar como meio século e quase um quarto do século reinando como o mais bem-sucedido cineasta da história afeta o homem que carrega a patente da infância perene. Dos filmes que ele fez aos 12 anos, passando pelos arrasadores Contatos Imediatos do Terceiro Grau e E.T. - O Extraterrestre, até O Império do Sol e o autocrítico Hook - A Volta do Capitão Gancho, Spielberg analisou a solidão das crianças, testou sua inocência e celebrou sua capacidade de adaptação na mais doce autobiografia confessional da carreira de qualquer diretor. "Sinto que estou em todos os meus filmes. Sei que todos eles são sobre mim", diz. Por extensão, eles são o que ele foi, mas quem é ele agora? O Peter Pan cresceu?

Um pai extraordinário e um cidadão exemplar, o diretor de A Lista de Schindler, no mais nobre gesto deflagrado por um filme de sucesso, organizou a Fundação Shoah de História Visual, que grava o testemunho de sobreviventes do Holocausto.

Ainda mais importante para Spielberg é a qualidade e quantidade de tempo dedicado à sua família. Amy Irving deu-lhe seu primeiro filho, Max, em 1985. Com Kate Capshaw, 44 anos, com quem se casou em 1991, ele cuida de sete crianças: Max, Jessica, 21 anos (do primeiro casamento de Capshaw); Theo, 9; Sacha, 8; Sawyer, 6; Mikaela, 2 anos e Destry, 1 ano. O diretor sempre esteve preocupado em ser o pai perfeito. "Nas filmagens de Jurassic Park minha família estava comigo, mas não tenho certeza se eu estava com ela", diz o cineasta. Ele agora pode ser pai em tempo integral dos pequenos Capshaw-Spielbergs. Kate conseguiu também que Katzenberg prometesse que seu marido trabalharia apenas até às 15h30min.

Jantar na casa dos Spielberg é como em um parlamento. Este caos genial é capitaneado por Capshaw na mansão da família em Pacific Palisades, em Los Angeles. "É como um Cirque du Soleil", diz Tom Hanks, vizinho e amigo íntimo. "Eu realmente gosto da parte das fraldas e de cuidar dos cardápios. Steven faz coisas de que só ele é capaz: conta histórias e desenha criaturas inimagináveis", explica Kate. O aposento predileto da família é o da comida. "Temos cerca de seis quartos vazios em nossa casa, porque vivemos apenas na cozinha", diz Spielberg. Em uma parede fica pendurado um grande quadro onde se anotam as atividades de cada um, das aulas de caratê e arte às locações de filmagens do papai; perto protegido por um vidro resistente, fica um dos Rosebud originais de Cidadão Kane. "Há também este canapé que é a central de Steven", explica Capshaw. "Ele tem uma porção de roteiros para ler e fitas que pulam do videocassete. Mas se uma das crianças lhe pede para construir um castelo, vai imediatamente para o chão, construir o castelo. A criança sai de perto, Steven volta para o canapé e para o trabalho."

Spielberg tem outro grande orgulho, a DreamWorks. O cineasta lembra que em uma certa manhã no estúdio, olhou para sua agenda e viu que "todos os compromissos marcados não tinham nada a ver com dirigir filmes. Foi quando concluí que o que faço melhor é o que meus sócios querem que eu faça: dirigir." Katzenberg concorda. "A melhor coisa que Steven pode fazer para nós é ficar no set de filmagem."

O cara gosta de fazer filmes e gosta de fazê-los por menos que os grandes gastadores de hoje em dia. Com todos os seus efeitos especiais, O Mundo Perdido custou apenas $75 milhões, rendendo $615 milhões em todo o mundo e O Resgate do Soldado Ryan custou cerca de $85 milhões, rendendo até o momento $450 milhões de dólares. Esses orçamentos são realmente ninharia se comparados com Velocidade Máxima 2, que levou $140 milhões em orçamento e Titanic que levou $200 milhões, que em compensação trouxe nove vezes mais para a Fox. Durante uma entrevista anterior à filmagem de Amistad, Spielberg ironizou o executivo Walter Parkes, da DreamWorks, perguntando se do já relativamente frugal orçamento de $56 milhões de dólares não se podia cortar $20 milhões. "Eu vi O Paciente Inglês. Sei que podemos fazer por menos."

Spielberg gosta de falar sobre seu trabalho. "Estou resolvendo se uso minha torre ou meu bispo preto", ele diz enquanto prepara uma filmagem. "De que modo estou sendo atacado aqui? Como avanço? Dirigir é como enxergar 20 lances à frente enquanto você está trabalhando os próximos cinco." Ele mesmo faz todo o trabalho, se a pessoa designada não faz direito. "Gosto de esquentar os detalhes", diz. "A segunda unidade é que faz o auditório comer pipoca mais depressa. Fazer um filme sem dirigir os pequenos momentos é o mesmo que beber uma soda e deixar o gole mais gostoso para outro."

Pipocas. Melhor gole. O fluxo de referência da 'junk-culture' faz Spielberg parecer o garotinho mais esperto do mundo. "O que dá mais unidade aos meus filmes hoje é a idéia de solidão e isolamento e de ser perseguido por todas as forças dos outros personagens e da natureza. Isto vem do que fui e do que eu criei." O grande mistério que o maduro Steven teve de revelar é: que criança eu sou?

A resposta, durante décadas, foi a de Leah. Ela é a mãe que dá elaboradas festas para seus filhos. Spielberg adora Leah: "Aproveitei todas as oportunidades para estar bem perto do que ela é," testifica. "Só não consegui viver dentro dela." Em Fênix, onde os Spielbergs viveram de 1957 a 1964, quatro crianças, Steven e suas três irmãs mais jovens, enchiam a casa de barulho e alegria. "A gritaria era demais e Steven dizia algumas vezes que nós devíamos ser italianos," lembra Leah. Não, eles são judeus, e Steven era uma unidade de comando de um homem só contra os vizinhos que faziam piadas anti-semistas; ele se esgueirava para fora e sujava as janelas deles com manteiga de amendoim.

O imaginativo senso de destruição do garoto fez dele um terror para suas irmãs. Spielberg arrancou a cabeça de uma das bonecas delas e a colocou num prato com alfaces e tomates. Arnold Spielberg, um engenheiro eletricista, era o disciplinador da família. "Meu pai ficava preocupado, achando que Steven acabaria na cadeia, mas minha mãe o encorajava em suas brincadeiras", lembra Anne, uma das irmãs.

Os pais divorciaram-se quando Spielberg tinha 19 anos; ele ficou com Leah e com seu novo marido, Bernie Adler. "Bernie não queria que eu estivesse por perto", diz Arnold. "A situação ficou desconfortável. As crianças sofriam, e eu tinha de cair fora. Na pré-estréia de Tubarão, tivemos de ficar em lugares separados." Com o pai a distância, Steven procurou novas figuras paternas e a encontrou em Steven J. Ross, o carismático chefe da Warner Bros. Poucos anos depois, tanto Adler quando Ross morreram. Anne diz: "Aquilo chocou Steven mostrando a fragilidade das pessoas." Spielberg não queria ser tão envolvido. "Inexoravelmente, eu estava me reaproximando de meu pai. Era como ir para casa de novo, refazendo o tempo perdido entre nós. Agora estamos muito perto, é fantástico." Tão perto que quando Arnold se casou em 96, seu filho era um homem melhor.

De certa forma o homem ainda é um garoto. Ele tem a mania infantil de pôr a mão na boca. Só se livrou dos vícios de espremer os cravos depois que Capshaw lhe disse: "Eu gostaria mais dos seus cravos se você não os espremesse tanto." No estúdio, quando Spielberg pensa num assunto sério, põe os dedos na boca; os amigos chamam isso de 'ataque de pensamento'. Spielberg é um fã de comida barata. Outro dia, no carro, procurando um lugar para lanchar, abriu a janela e exclamou: "Este é o lugar onde devíamos comer". Era, claro, uma lanchonete Wendy's. A mãe Leah acha graça: "Spielberg pode ser rico, mas não tem classe."

O eterno garoto sentiu-se desconfortável quando dormiu no quarto de Lincoln, na Casa Branca, por duas vezes. Como muitos homens de negócios, Spielberg fez donativos para a campanha presidencial de Clinton. Ele diz que nunca usou a força do dinheiro para empurrar idéias políticas no presidente, mas que o favor deu lucro, pois a Primeira Família visitou a casa dos Spielberg e ainda compareceu à pré-estréia de Amistad.

Como bom burguês, Spielberg fuma charutos. "Pareço o John Ford?", perguntou a um visitante no set de Amistad. De vez em quando toma um drinque. Durante uma festa no primeiro dia de filmagem de O Mundo Perdido, Spielberg engoliu uma considerável quantidade de champanhe. "Não acredito que você está bebendo!", espantou Janusz Kaminski, o diretor de fotografia. "É mesmo. Estou fumando; estou bebendo, estou fazendo neném. Não fiz um filme durante 3 anos, mas peguei todos esses hábitos.", respondeu Spielberg.

Houve um tempo em que todos eram crianças. É só olhar para a metade dos anos 70 para ver aqueles prodígios cumprindo suas promessas: Spielberg com Tubarão e Contatos Imediatos, Lucas com Guerra nas Estrelas, Scorsese com Alice Não Mora Mais Aqui e Taxi Driver, Brian DePalma com Carrie, a Estranha e Terrence Malick com Terras de Ninguém. Mas Lucas e Malick pararam de dirigir. De Palma escorregou para sua autoparódia; Scorsese e Spielebrg foram grandes exceções com Idade da Inocência e A Lista de Schindler.

Graças à ajuda de Ross e Sidney J. Sheinberg, da Universal, Spielberg patrocinou o trabalho do próximo 'establishment' de Hollywood. Ajudou diretores como Robert Zemeckis ( De Volta parao Futuro e Forrest Gump), Chris Columbus (Uma Babá Quase Perfeita) e Joe Dante (Gremlins), e aos produtores Frank Marshall e Kathleen Kennedy (Congo). Spielberg diz que não procura diretores que sejam bebês Spielberg. "Não preciso de clones meus por aí. O delicado equilíbrio de apoiar alguém, não é criá-lo à sua imagem e semelhança, mas dar-lhe oportunidade de criar a si mesmo."

Para ele mesmo, Spielberg pode ter novas ambições como cineasta, pode procurar novos papéis. Embora espere dirigir mais um Indiana Jones com Lucas, ele diz que precisa fazer "muito entre o agora e aquilo que sempre me apavorou". Muito daquele tempo será gasto em outro intervalo como o papai sério. "A paternidade é o trabalho principal, mas eu preciso de duas coisas em minha vida: meu trabalho como diretor e meus filhos para me dirigirem."

Talvez o Spielberg adulto seja aquele que vê sua imortalidade não em seus filmes, mas em suas crianças. "Com Amy ele teve uma mulher e um filho, mas com Kate tem uma família", diz um amigo próximo. O pai do pai concorda. "Ele agora é um pai maduro e a maior razão é sua família. Kate é esperta, uma mulher adorável. Ela usou sua mente para conquistá-lo - este é o lado esperto. O lado adorável é a maneira de como cuida de seu marido", explica Arnold. E Spielberg é ainda mais enfático: "Encontrei o verdadeiro amor com Kate, e não digo isso com um sentimento piegas. Falo com a parte mais honesta de mim."

O sentimento que predomina hoje em Hollywood pode achar esta declaração enjoativa. É por isso que quase ninguém mais ousa fazer filmes como antigamente. Talvez o adulto Spielberg seja o primeiro a realizar esta façanha. "Quero fazer um romance que não pareça uma novela. Talvez eu possa contar a história de minha vida. Isto dará uma irresistível 'love story'!"

Mas se Indiana Jones rendeu 3 filmes, com certeza a saga de Spielberg vale pelo menos outra trilogia. Ele pode começar fazendo 'I'll Be Home', o roteiro que sua irmã Anne escreveu sobre como é ser irmã de Spielberg. Então viria a história de sua vida conjugal e seus triunfos cinematográficos. O clímax da trilogia? Isto ainda está para ser escrito. Afinal, para os mais sortudos, a vida começa aos 50.

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