Vampiros na África
Os povos da África, a despeito de sua mitologia, não são conhecidos pela sua crença em vampiros. Montague Summers, em sua pesquisa sobre o vampirismo em todo o mundo, nos anos 20, pôde encontrar somente dois exemplos: o asasabonsam e o obayifo. Desde Summers, muito pouco se tem feito para investigar o vampirismo nas crenças africanas.
O obayifo, desconhecido de Summers, era na realidade o nome Ashanti para um vampiro do Oeste africano que reapareceu sob nomes diferentes na mitologia da maioria das tribos vizinhas. Por exemplo, entre os dahomeanos, o vampiro era conhecido como o asiman. O abayifo era um bruxo que morava incógnito na comunidade. O processo para se tornar um bruxo era uma tendência adquirida - não havia laços genéticos. Portanto, não havia meios para determinar quem seria um bruxo. Secretamente, o bruxo era capaz de deixar seu corpo e viajar à noite como uma reluzente bola de luz. Os bruxos atacavam as pessoas - e sugavam seu sangue. Tinham também a habilidade de sugar o suco de frutas e legumes.
O asasabonsam era uma espécie de monstro vampírico encontrado no folclore dos povos ashanti de Ghana, na África ocidental. Na breve descrição fornecida por Sutherland Rattray, o asasabonsam tinha aparência humanóide e dentes de ferro. Morava nas profundezas da floresta e raramente era encontrado. Ficava no topo da árvores e balançava suas pernas, usando seus pés em forma de gancho para capturar pessoas desprevenidas que passassem por perto.
Trabalhando entre tribos do Rio Níger, na área do delta, Arthur Glyn Leonard constatou que os bruxos saíam de suas casas à noite para se reunir com demônios e para tramar a morte dos vizinhos. A morte se dava ao "sugar gradativamente o sangue das vítimas através de um meio invisível e sobrenatural, cujo efeito era imperceptível aos outros". Entre os ibo, acreditava-se que o processo de sugar o sangue era feito de uma maneira tão habilidosa, que a vítima sentia dor mas era incapaz de perceber sua causa física, mesmo sabendo que no final o resultado seria fatal. Leonard acreditava que a bruxaria era, na realidade, um sistema muito sofisticado de envenenamento (como o era na Europa Medieval, uma certa dosagem de magia).
P. Amaury Talbot, trabalhando entre as tribos da Nigéria, descobriu que a bruxaria era uma influência permeável e que a força mais temível atribuída aos bruxos era a de "sugar o coração" das vítimas sem que estas soubessem o que estava acontecendo. O bruxo podia sentar no telhado, à noite, e realizar sucção através de forças mágicas. Uma pessoa que estivesse morrendo de tuberculose era tida muitas vezes como sendo vítima dessa bruxaria.
Entre os povos Yakö, da nigéria, Daryll Forde descobriu a crença de que bruxos desencarnados atacavam as pessoas enquanto elas dormiam à noite. Podiam sugar seu sangue, e úlceras, acreditava-se, eram um sinal do ataque. Podiam operar como um incubus/succubus e sufocar as pessoas deitando em cima delas.
A questão de bruxaria era invocada por qualquer pessoa que estivesse em condição de sofrimento, e qualquer pessoa acusada era tratada severamente por meio de julgamentos das privações. Geralmente as mulheres estéreis ou na fase da pós-menopausa estavam mais sujeitas às acusações. Não era incomum sentenciar à morte pelo fogo uma bruxa declarada culpada. Melville Herskovits e sua mulher Frances Herskovits conseguiram relacionar um bruxo/vampiro, cuja existência foi reconhecida pela maioria das tribos africanas ocidentais, às figuras vampíricas encontradas no Caribe, o loogaroo do Haiti, o asema do Suriname e o sukuyan de Trindad. Esses três vampiros são virtualmente idênticos, embora fossem encontrados em colônias inglesas, holandesas e francesas. A crença nos vampiros parece ser um exemplo óbvio de uma aceitação comum levada da África pelos escravos que persistiu a por décadas de escravidão até o presente.
Mais recentemente, John L. Vellutini, editor do Journal of Vampirology, aceitou o desafio de investigar toda a questão do vampirismo na África. Os resultados de suas descobertas estão resumidos em dois longos artigos. Como no caso dos pesquisadores anteriores, Vellutini encontrou escasso material sobre o vampirismo no continente africano. Todavia, argumentou que, sob a superfície das crenças africanas sobre bruxaria, muito material análogo ao da Europa oriental ou ao do vampiro eslavo poderia ser encontrado. As bruxas eram vistas como figuras poderosas na cultura africana, com inúmeros poderes, inclusive a habilidade de se transformar em uma variedade de formas animais. Usando seus poderes, dedicavam-se ao ato de canibalismo, necrofagia (isto é, alimentar-se de cadáveres) e vampirismo. Essas ações constituíam atos de vampirismo psíquico, mais do que perniciosidade física. Thomas Winterbottom, por exemplo, trabalhando em Serra Leoa, em 1960, assinalou:
Com resultados similares, o abayfo, uma bruxa ashanti, suga o sangue das crianças enquanto voa em seu corpo espiritual, durante a noite. Entre os povos Ga, M. J. Field descobriu que as bruxas se reuniam em volta de um baisea, uma espécie de pote, que continha sangue de suas vítimas - embora qualquer pessoa que olhasse para dentro do pote pudesse ver apenas água. Aliás, acreditava-se que o líquido continha a vitalidade de suas vítimas.
Quando uma pessoa era acusada de bruxaria, ele ou ela eram colocados em privação para determinar a culpa, e se fossem declarados culpados, eram executados. Os métodos adotados por certas tribos eram estranhamente parecidos com os métodos aplicados a vampiros suspeitos na Europa oriental. Por exemplo, certa tribo iniciava a execução pela extração da língua, que era afixada ao queixo com um espinho (evitando, dessa forma, que pragas finais fosse endereçadas aos executantes). O bruxo ou bruxa eram então mortos a pauladas com uma vara afiada. Em algumas ocasiões, a cabeça era separada do corpo e este queimado ou largado na mata para os predadores.
Associados ainda de maneira mais próxima às práticas da bruxaria européia eram os esforços para verificar se a pessoa morta era uma bruxa. O corpo da bruxa acusada era levantada do chão e examinado, procurando-se sinais de sangue no local da cova, integridade e inchação anormal do corpo. A cova de uma bruxa verdadeira teria um buraco no chão, que ia do corpo até a superfície, para que ela pudesse usar a saída no forma de morcego, rato ou outro pequeno animal. Acreditava-se que a bruxa poderia continuar a operar após sua morte e que o corpo permaneceria como no dia da morte. Ao se destruir o corpo, o espírito não poderia continuar sua atividade de bruxaria.
As bruxas também tinham o poder de ressucitar os mortos e de capturar os espírito em retirada, que era transformado em fantasma, capaz de atormentar os parentes do falecido. Havia também uma crença bastante difundida na África ocidental o isithfuntela (conhecido por nomes diferentes por diversos povos), isto é, o corpo desenterrado de uma pessoa escravisada pels bruxas para realizar as suas vontades. Dizia-se que a bruxa cortava a língua da pessoa e enfiava um pino através do cérebro da criatura para que se parecesse com um corpo reavivado. Esse isithfuntela, da mesma forma, atacava as pessoas pelo hipnotismo e enfiavam um pino em suas cabeças.
Velluti concluiu que os africanos compartilhavam a crença com os europeus sobre a existência de uma classe de pessoas que podiam desafiar a morte e exercer uma influência maligna apartir do túmulo. Como os vampiros europeus, os vampiros africanos eram muitas vezes pessoas que morreram desafiando as normas da comunidade ou pelo suicídio. Ao contrário dos vampiros literários, os vampiros africanos eram tão-somente pessoas comuns, como os vampiros da Europa oriental.
Velluti especulou que as crenças africanas nas bruxas e na bruxaria talvez tenham se espalhado pelo resto do mundo, embora os antropólogos e os etnólogos não tenham encontrado essas crenças senão no século XIX. Embora perfeitamente possível, pesquisas adicionais e comparações com as provas para teorias alternativas, tais como as propostas por Devendra P. Varma para a origem asiática das crenças em vampiros precisavam ser completadas antes que se chegue a um consenso.