Mãe Natureza

 

  Sonho, sono delirante.

Verde vida semelhante

Templo natural da Vida

Que se faz e refaz em teu ventre.

 

  Como fugir dessa sina,

Livrá-la dessa mão assassina

Que, aos poucos,

A fere e extermina?

 

  Cumpro minha penitência

Nesse movimento ecológico

Lutando e sofrendo

Para que a poupem dessa destruição!

 

  Que rejeição medonha,

Recusar-lhe o verde manto,

Para erigir os templos

De meu próprio apocalipse.

 

  Se a firo, dia a dia,

Com o surdo martelar

De minhas ferramentas...

Com o barulho ensurdecedor

De minhas britadeiras...

 

  Sou seu filho pródigo

Tentando reconstruir

O paraíso perdido

Que me aqueça e acalente.

Para regressar ao seu seio

Seguro, contra todos os perigos

Desse Universo que me assusta.

 

  Que estranho paradoxo:

Ter, nas mãos, o seu destino

E, não ser capaz de deter

Esse estranho progresso...

Essa ameaça infernal.

 

  Que diabólica semente

Foi germinar em seu ventre.

Estranho poder de roubar-lhe

O segredo da própria sobrevivência.

 

  Ainda me lembro, com saudade,

A nossa breve convivência,

Em paradisíaca comunhão

Com toda sua beleza em flor.

 

  E, agora isso!!!

Essa selva de concreto armado.

Esse caminho sem rumo,

Labirinto explorado e consumido

Que não nos leva a lugar nenhum...

 

  Que será que ainda resta, Mãe?

Senão correr por suas planícies

Escalar as suas montanhas

Trepar em suas frondosas árvores

E, banhar-me nas águas

Dos seus rios, mares e cachoeiras...

 

  E, esperar pelo fim...

 

  Fernando A. Moreira

 

 

 

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