folha de cannabis sativa

Cannabis


História

A planta do cânhamo, Cannabis sativa, tem sido utilizada como fonte de fibras para vestuário e cordoaria desde à 12.000 anos. A primeira fonte que relata o uso desta droga é o Pen Ts'ao, uma típica produção chinesa sobre as plantas medicinais datada de 28 sec. a. C.

Na Europa ocidental foi, até ao final do ultimo século, uma importante substancia medicinal para uma série de doenças. Nas décadas seguintes, como é já do nosso conhecimento, foi, no contexto proibicionista, tornada uma droga proibida. Esta situação foi devida em grande parte às acções de Anslinger, o líder da enfraquecida proibição ao álcool. Os seus filmes de propaganda como o "Reefer madness" criaram uma imagem da droga com capazes de tornar os anjos em demónios.

Na Holanda, a cannabis alcançou notoriedade como droga ilegal no inicio dos anos sessenta. Inicialmente o seu uso estava maioritariamente confinado a um grupo relativamente pequeno de jovens (estudantes, artistas), mas cresceu rapidamente na segunda metade dos anos sessenta. Por volta de 1970 o consumo de cannabis tornou-se o principal símbolo dos hippies. Enquanto que no final dos anos sessenta o mercado da cannabis estava maioritariamente nas mãos de um grande numero de pequenos importadores e existia poucas intermediários entre os importadores e os consumidores (em muitos casos o importador era também o retalhista), a situação modificou-se rapidamente sobre a influencia da proibição.

Com o crescimento do numero de consumidores, o mercado grossista foi tomado cada vez mais pelo sector criminal. Após o rápido crescimento no inicio dos anos setenta, o seu consumo está hoje estabilizado, se bem que nos últimos anos se tenha verificado outra situação de crescimento acelerado na Europa e nos Estados Unidos.

A Holanda adquiriu uma posição importante como pais de transito. Esta situação não é tanto devida às penalizações relativamente leves aplicadas ao tráfico internacional de cannabis, mas sim ao facto de que sendo um dos maiores países de transbordo de mercadorias na Europa, a Holanda acaba por exercer a mesma função de transbordo, que desempenha nas mercadorias legais, com os artigos ilegais.

Farmacologia

A Planta da cannabis contem mais de 60 cannabinoides diferentes, o mais activo de entre ele é o tetrahidrocannabinol (THC).


O cannabinol (CNB) tem cerca de um décimo da potência do THC. O THC existe na planta sobre a forma de acido de THC, que não tem efeitos, mas que quando é aquecido se transforma totalmente em THC. A cannabis é distribuída sobre duas formas, as extremidades secas da planta feminina (marijuana) e a resina recolhida das flores e das folhas superiores (haxixe). A concentração de THC na marijuana varia entre 5 e 15%. O haxixe é um pouco mais forte.

A dose efectiva varia, quando fumada, entre 2 e 22 mg, e entre 20 e 90 mg quando ingerida oralmente. Nas condições normais, entre 16 e 19% do THC no cigarro é consumido, o resto é pirolizado.

A dose letal não é conhecida. Testes com animais indicam que a relação entre a dose letal e a dose efectiva pode ser estimada de 4.000 - 40.000. Como comparação, a relação correspondente no álcool é de 4 - 10.

Quando o THC entra na corrente sanguínea, é absorvido rapidamente pelos tecidos gordos (meia vida de 30 minutos). Regressa então de forma gradual ao sangue, é metabolizado, e é eliminado na urina e nas fezes (meia vida: alguns dias!). O uso repetido conduz à sua acumulação na gordura e no fígado, mas não no cérebro. Em resultado, os metabolitos do THC podem continuar a ser encontrados na urina semanas após o seu consumo.

Quando fumada, os efeitos agudos começam a aparecer após alguns minutos. A concentração plasmática tem o seu máximo após um intervalo de tempo ente 7 e 10 minutos, mas o seu efeito máximo é apenas sentido após 20 ou 30 minutos. Continuando a fazer efeito durante duas ou três horas. Quando consumida oralmente (bolos do espaço), apenas tem efeito após 1 ou 2 horas, e o seu efeito dura de 5 a 12 horas.

Mecanismo operacional

Durante muito tempo o mecanismo operacional do THC era um completo mistério. Foi apenas em 1990 que o receptor especifico do THC foi descoberto. Deste modo o nosso corpo tem também de produzir substancias semelhantes ao THC.

Este receptores estão situados no hipocampo (o que explica os efeitos do THC na memória, na amígdala ( será que isto contribui para o baixo nível de agressividade no fumador satisfeito?), e no córtex cerebral (responsável pela livre associação?).

O THC tem, devido a localização dos receptores de THC pré-sinápticos nas ligações sinápticas peptidergicas axoaxônicas com os neurónios dopaminérgicos (que por sua vez estimulam os neurónios peptidergicos) no núcleo acucumbens, um efeito potenciador no sistema de recompensa dopaminergico mesocortical. (Nota 84)

Dependência e tolerância

Em resultado do consumo de cannabis, não se verifica a ocorrência de dependência física, e a dependência psíquica é rara. No inicio do consumo existe uma tolerância invertida, mas que mais tarde, nos casos de consumo crónico, é possível que se verifique o desenvolvimento de uma fraca tolerância. Em alguns casos é possível que se desenvolva uma dependência psicológica.

Efeitos agudos

Os efeitos agudos são: euforia, percepção alterada do tempo, perturbação na memória de curto prazo (perturbação das impressões), redução da agressividade. Um aumento da sensibilidade aos sons (musica) e uma experiência subjectiva de maior liberdade no poder associativo. Existe algumas vezes um aumento notável no apetite. Somáticos: taquicardia, um aumento da pressão arterial quando o corpo se encontra na posição horizontal, mas uma redução na vertical, um aumento do afluxo do sangue ao cérebro, especialmente nas regiões frontais. (Nota 85) Um aumento das ondas cerebrais é perceptível num EEG. Existe uma redução no sono REM.

Doses elevadas podem provocar alucinações, ilusões e sensações de paranóia, resultando em sintomas de uma psicose tóxica.

A faculdade de conduzir é afectada negativamente, mas como os efeitos negativos são sobrestimados, esta diminuição é compensada por um comportamento mais cauteloso, em contraste com os efeitos do álcool, cujos os efeitos são subestimados. (Nota 86)

Existe uma demanda crescente no sentido de se valorizar as aplicações médicas da marijuana vegetal. O THC puro, com o nome comercial de Marinol, é actualmente utilizado nas situações de glaucoma, para contrariar as náuseas na citoestatica para abrir o apetite.

A combinação da cannabis com o álcool pode resultar num colapso temporário e em vómitos.

Efeitos crónicos

Tem sido feitos, ao longo dos anos, um imenso numero de afirmações sobre os efeitos prejudiciais do consumo de cannabis.

Tem sido suposto que o consumo de cannabis leva a psicopatologias, a comportamentos anti-sociais e criminosos, psicoses, ao uso de drogas mais duras devido a fundamentos farmacológicos (a teoria do degrau) e ainda ao "síndroma amotivacional".

Estas afirmações não podem ser verificadas pela pesquisa epidemiológica porque, mesmo que se encontre uma relação, esta não é necessariamente um relação causal. A relação pode também ser resultado de factores subjacentes comuns. O que melhor pode ilustrar esta situação é a uma investigação na qual 101 crianças foram seguidas da idade dos 3 aos 18 anos. Quando chegaram aos 18, foi aceite que é possível dividir estas pessoas com base no seu consumo de drogas, nas seguintes categorias: os que se abstiveram, os que experimentaram, e os que consomem frequentemente. Estas distinções podem ser seguidas no passado até as diferenças verificadas nas suas idades mais tenras e relacionadas com a relação entre pais e filhos. Acidentalmente, os que a experimentaram demonstraram ser os mais equilibrados, o que não significa que as experiências com drogas promove o equilíbrio! Este estudo também mostrou que o síndroma amotivacional está relacionado, não com o consumo de cannabis, mas sim com os primeiros anos da juventude. (Nota 87) O consenso geral é de que a cannabis actua como um inibidor no comportamento violento e agressivo, excepto nos casos de alguns indivíduos instáveis.

De forma semelhante, não existe indicações de que o uso de cannabis conduza a psicoses crónicas.

Assim como se deve rejeitar a "teoria do degrau". Se bem que seja verdade que muitos consumidores de heroína iniciaram o seu consumo de drogas ilegais com a cannabis, apenas muito poucos consumidores de cannabis passaram a consumir drogas mais duras. Se existe alguma pré-condicão para o consumo de cannabis, será o consumo de tabaco! Os não fumadores apenas muito raramente consomem cannabis. (para um exame extensivo da literatura ver: 88, 89, 90)

As perturbações na memorização enquanto efeito agudo do consumo de cannabis leva-nos colocar a questão sobre se o seu uso crónico conduz a efeitos similares persistentes, mas os dados disponíveis não nos oferecem uma resposta clara a esta questão. Alem disso, não foram anunciados nenhuns estudos futuros.

Ao nível físico, não existe indicações de toxicidade neurológica, perturbação da circulação cerebral, atrofia cerebral, ou redução das funções cerebrais. (Nota 91, 92, 93)

Se bem que a presença de receptores de THC nos leucócitos sugere um efeito imunosupressivo, não existe confirmação clínica, assim como um derivado sintético do THC, o dronabinol, foi aprovado como medicamento contra a anorexia resultante da SIDA.

O efeito crónico mais evidente será o que se verifica ao nível pulmonar. O consumo crónico de cannabis, pelo fumo, é uma causa potencial de bronquite, enfisema, cancro nos pulmões. A cannabis contem uma maior quantidade de substancias cancerígenas que o tabaco, mas isto é compensado pelo facto de que é fumada em quantidades muito menor que o tabaco.

Se bem que uma queda nos níveis de testoterona, FSH, LH e prolactina tenha sido visível em alguns estudos (Nota 94), foi confirmada fragilidade destes dados e das suas conclusões deles tirada. (Nota 95) Tem existido sucessivos relatórios sobre legados efeitos negativos no esperma, cujo o único suporte é a presença de(apenas alguns) receptores de THC nos testículos. E possível que o THC iniba o crescimento dos fetos, (Nota 96) mas esta hipótese não foi ainda confirmada num estudo previsto. (Nota 97, 98) Testes em crianças com idades compreendidas entre os 1 e os 3 anos que estiveram expostas na fase pré-natal ao THC não revelaram quais queres desvios, se bem que eles em recém nascidos tenham exibido mais tremores. Apenas aos 4 anos de idade se consegui detectar algumas diferenças muito subtis, mas que os autores afirmam poderem ser também resultado de uma dieta pobre durante a gravidez ou do relacionamento pós-natal entre a mãe e a criança. (Nota 99)


Tradução do texto disponível no Drugtext website.

Publicado com o consentimento da DrugText.

Junho de 1997

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ser@mail.telepac.pt


Como era vista o cânhamo na Encyclopædia Britannica de 1856

The Marihuana Tax Act of 1937

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