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OS FUNDAMENTOS DO MONISMO UBALDISTA

Pedro Orlando Ribeiro

   Palestra do Vº Congresso PIETRO UBALDI – Goiânia, GO

PARTE 1

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    Quem resolve ler a obra de Ubaldi pela primeira vez, leva um susto pelo tamanho da tarefa que tem pela frente. É uma imensa pilha de livros: 24 volumes, cerca de 10.000 páginas. Logo surgem as dúvidas: "Será que vou memorizar tamanha quantidade de informações e conceitos? Não vou me perder no meio de tantas coisas? Tem algum fim prático ou será que é mais um monte coisas obscuras e difíceis de entender? Existirá um fio condutor ligando os assuntos abordados nos vários volumes ou será uma multidão de temas mal-alinhavados e desconexos como acontece com muitos autores?"

      Ler um livro ou outro ainda vai. Mas, ler tudo isto para quem tem pouco tempo é uma loucura a não ser que haja um ganho que compense o esforço de ler sobre assuntos tão áridos. Geralmente esses tipos de livros são escritos numa linguagem obscura e de difícil entendimento e logo que acabamos de ler não lembramos de mais nada, tudo esvanece e cai no esquecimento. Para quem está a procura de alívio para as durezas da vida nada é mais contra-indicado. Existem muitos romances de sucesso por aí que fornecem este consolo de maneira mais fácil e mais divertida.

      Ubaldi abordou os mais variados assuntos. Fala da origem do universo, da política, da arte e da educação, da historia, da medicina, da Religião, do problema do mal de da dor, da Igreja, da Economia e da justiça social. Do Capitalismo e do Comunismo. Da Ciência e da Tecnologia. Sobre Psicologia descrevendo a personalidade humana, analisando a obra de Freud e de Jung. Opina sobre as obras de Sartre, de Nietzshe, de Teilhard de Chardin. Revela o futuro do mundo e prevê o iminente surgimento de uma nova civilização mundial baseada numa nova ética etc... etc...

      Apesar deste imenso leque de assuntos aparentemente sem conexões conceituais, existe no entanto, um fio condutor que liga tudo dentro de uma férrea lógica. Abordarei este fundo comum a todos estes assuntos. Este conhecimento preliminar servirá para orientar a leitura pois o leitor já terá um ponto de referencia para visualizar o parentesco entre os temas mais díspares.

      Pretendo mostrar que o tempo gasto na leitura desses livros é um investimento que traz um retorno lucrativo. Lucro na forma do entendimento de como funciona as coisas neste nosso mundo. Não se trata somente de assuntos ligados a alta Teologia e Filosofia. Os acontecimentos mais comuns e corriqueiros de nossa vida podem ser analisados com esta formidável ferramenta que Ubaldi nos legou. Não vou dizer que é tarefa fácil. Não basta memorizar algumas regras e leis para se tornar um expert. É preciso sobretudo aprender a ver no mundo que nos cerca a presença desta LEI ÚNICA, que a tudo dirige.

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   "Os menores problemas particulares não podem ser resolvidos, senão depois de atingida a solução dos problemas universais, que nos orienta na pesquisa. O nosso mundo procura soluções isoladas, mas problema nenhum é solúvel isoladamente, num universo onde tudo é ligado e comunicante, regido por uma só lei, fundamentalmente unitária." (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética).

   Ora, estes escritos não foram feitos para ser somente lidos, mas sobretudo para serem aplicados, pois que não constituem uma ginástica intelectual, um treinamento literário e só começam a revelar sentido quando forem vividos, porque então, e só então, poderão ser compreendidos. Quem simplesmente os ler, sem aplicá-los em si, não poderá dizer que os compreendeu. Sim; trata-se de vida, de conceitos-ação, de pensamento-força, trata-se de um verdadeiro dinamismo concentrado na palavra, à guisa de um explosivo capaz de imensa expansão em ambiente apropriado; trata-se de conceitos-germe, capazes de enorme desenvolvimento se caírem em solo fecundo. (P. Ubaldi - Ascensões Humanas)

   Repara que eu disse LEI ÚNICA. Sim existe uma Lei soberana que controla tudo o que existe: as grandes coisas e também as pequenas do nosso dia a dia. O que diferencia uma da outra é a adequação da Lei ao nível do fenômeno. Apesar dela ser aplicada a todas as alturas, esta Lei se diferencia conforme a altura em que é aplicada. Usa uma roupagem adequada ao fenômeno a que está sendo aplicada. Por exemplo ao se tratar de fatos ligados a matéria, como é o caso da Física e da Química, a Lei toma a forma de leis Físicas e Químicas. Na Biologia, as leis biológicas são uma representação proporcional desta Lei Única. No campo psicológico a lei toma a vestimenta de Leis Morais etc...


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   O universo é um organismo de estrutura harmônica constituído conforme um esquema unitário, pelo que o modelo fundamental, que o individualiza no seu conjunto, é repetido em todo particular, que assim é individualizado à semelhança do todo. (P. Ubaldi - Problemas do Futuro)".

   "....o universo é todo regido por conceitos harmônicos, analógicos, reduzíveis a princípios cada vez mais simples e sintéticos. Uma vez compreendido o conceito gerador de um processo fenomênico e seu ritmo, qualquer que seja sua altura na escala das formas do ser, ampliai com segurança esse conceito e esse ritmo, mesmo onde ainda falta o conhecimento objetivo. (P. Ubaldi – A Grande Síntese)".

   Assim por analogia com esta Lei Única podemos deduzir como qualquer fenômeno se desenvolve. Existe um modelo fundamental que serve de orientação para qualquer pesquisa. Por comparação com este modelo fundamental podemos deduzir as leis particulares de um determinado fenômeno.


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   Uma imagem simbólica de como esta Lei se aplica a todas as alturas é o das infinitas imagens formadas entre dois espelhos colocados frente a frente. Assim como a Lei a imagem muda sua proporção a medida que se afasta do primeiro plano, mas conserva as mesmas características.


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   O TODO é coligado e fundido num MONISMO ABSOLUTO, ou seja, é ESTRITAMENTE UNITÁRIO, reduzível a uma FÓRMULA ÚNICA e constituído por um só organismo em que se coordenam todos os fenômenos mais díspares, desde os do MUNDO FÍSICO aos do MUNDO MORAL.

(P. Ubaldi - Problemas Atuais)

   Na mais remota antiguidade os ocultistas já conheciam esta Lei Única. Hermes Trimegisto afirmou:

   O que está embaixo é como o que está no alto, e o que está no alto é como o que está embaixo, no milagre de uma só coisa.

   Ubaldi ampliou esta constatação desenvolvendo e detalhando o seu significado, dando-lhe uma roupagem científica. Esta colocação de Ubaldi fornece uma nova luz ao obscuro axioma de Hermes Trimegisto.


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   Tendes hoje diante dos olhos um sistema completo, que com um princípio unitário soluciona todos os problemas e traz resposta a todas as perguntas. Tendes hoje a orientação que vos fornece a chave para explicar os enigmas do universo. Podeis usá-la, desde já, também pessoalmente, para continuar a pesquisa ao infinito no particular analítico. As gerações passarão, contemplando a ciclópica construção de pensamento elevada para o Alto na hora do destino do mundo.(P. Ubaldi – Grandes Mensagens – Msg. Da Nova Era – 1953)

   Em 1953 após ter escrito os livros que contém os fundamentos da sua Teoria, Ubaldi recebeu esta mensagem, por via inspirativa, confirmando a veracidade dos conceitos da tese monistica de sua filosofia.

      É principalmente nos livros A Grande Síntese, Deus e Universo, O Sistema que vamos encontrar os conceitos fundamentais que lastreiam toda a obra e que constituem a linha mestra em torno da qual se desenvolvem os mais variados temas. Para entendermos esta Lei Única que a tudo governa, primeiramente é preciso compreendermos como surgiu o Universo e porque as coisas são desta forma que vemos e vivemos e não de outra. Aqui está o fulcro em torno do qual gira toda a obra de Pietro Ubaldi: A Teoria da Queda. Compreendida a Teoria da Queda fica mais fácil a compreensão de qualquer fenômeno.

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      O Sistema (1ª criação) surgiu da diferenciação da substância divina original em três momentos que correspondem a três modos de ser que são coligados por relações derivação recíproca: "Neste processo, Deus multiplicou-se, como que se dividindo num número infinito de seres e no entanto continuando um só" (P. Ubaldi). No primeiro momento tudo se acha em estado de puro pensamento (idéia abstrata). No segundo momento o puro pensamento torna-se vontade que executa a idéia abstrata. E no terceiro momento a idéia, por meio da ação , atingiu sua realização com a gênese da criatura. (Princípio da Trindade da Substância).

      Pietro Ubaldi ao longo de toda sua obra desenvolveu um sistema filosófico, partindo da causa primeira, ou seja, Deus e, desta forma, explicando as causas de todos os fenômenos, até os menores do nosso cotidiano. Segundo Ubaldi o Universo foi criado perfeito (1ª criação), mas posteriormente por iniciativa de parte das criaturas houve uma queda do universo espiritual no universo material (2ª criação) originando assim o mundo que conhecemos.

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      Assim de acordo com a Teoria da Queda desenvolvida por Ubaldi, os espíritos foram criados perfeitos e livres dentro de um organismo hierarquizado constituindo um Todo harmônico, sendo Deus o vértice desta hierarquia. Estes seres eram perfeitos porque foram criados da substância de Deus, cujo atributo principal é a perfeição. Seria um absurdo admitir que a imperfeição é filha da perfeição: o que é absolutamente perfeito por natureza não pode gerar o imperfeito já que não possui em si mesmo a semente da imperfeição.

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      Ubaldi nos informa: "Já dissemos sobre Deus criador, que a primeira criação dos espíritos puros produziu não uma simples multiplicidade, mas um verdadeiro organismo, um Sistema, com hierarquia de posições e distribuição de funções, como é indispensável em qualquer organismo ou sistema. A estrutura orgânica não foi apenas uma necessidade para contrabalançar o processo divisionista, de onde derivara a criação e que podia ameaçar a coesão da unidade do todo. O Sistema assumiu a estrutura orgânica sobretudo porque a criação de tantos seres diferentes se baseava no princípio do Amor, o qual foi a força que continuou a cimentá-los, o impulso que devia mantê-los unidos em sistema, o único possível num regime de absoluta liberdade. (P. Ubaldi – O Sistema)"

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      A revolta e a queda surgiram em virtude das criaturas serem livres, já que a liberdade é uma qualidade da perfeição. Deus não criou escravos, mas sim seres livres. A criatura que vivia num sistema hierarquizado quis ser igual ao Deus Criador, advindo daí a queda. Com a queda surgiu então a cisão dualística entre Sistema e Anti-Sistema. Sendo que o Anti-Sistema é uma contrafação do Sistema. Na realidade, houve um emborcamento das qualidades do Sistema. A existência concomitante de Sistema e Anti-Sistema não significa apenas cisão, mas oposição das duas partes, uma contra a outra.

(LEI DA DUALIDADE)

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      As explicações para este fenômeno da queda estão nos atributos fundamentais que caracterizam o Sistema: o egocentrismo e o amor. O egocentrismo subtende o conceito de liberdade e de separação (individuação). Já o amor representa a união, (organismo) é a força reequilibradora da unilateralidade do egocentrismo. A perfeição de um Sistema hierarquizado está no equilíbrio harmônico entre estas duas forças opostas e complementares. É fácil concluir que num Sistema dito perfeito, não se pode cercear a manifestação isolada de qualquer uma destas duas forças, pois, é direito da criatura livre, a prática e o uso de seus atributos.

      Se o equilíbrio fosse determinístico não existiria a liberdade e nem o amor e desta forma o Sistema seria uma imposição escravagista. Como o Sistema é hierarquizado o conhecimento da criatura era proporcional à sua posição no Sistema, e deste modo o ser não podia saber as conseqüências do abuso. Mas, como o Sistema é perfeito, já preexistia na sua constituição um mecanismo de recuperação automático. O binário das duas forças opostas e complementares e de mesmo módulo (amor e liberdade), tende a recuperar o equilíbrio originário, quando se estabelece momentaneamente a prevalência de uma sobre a outra.

(LEI DO EQUILÍBRIO)

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      Após o fenômeno da queda por ação da LEI DO EQUILÍBRIO inicia-se um movimento em sentido contrário para restabelecer o equilíbrio do Sistema. De uma maneira global estas transformações dividem em dois momentos, ou melhor, em dois semiciclos: o primeiro é o semiciclo involutivo em que aconteceu a derrocada de parte do Sistema (uma parte ficou incorrupta). O segundo representa a recuperação desta queda e é, por isso, chamado de semiciclo evolutivo. Estamos agora percorrendo esta segunda fase. Estes dois semiciclos constituem o grande ciclo involutivo-evolutivo.

(LEI DO RETORNO CICLICO)

      Podemos resumir estas transformações no seguinte esquema:.

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      Um ponto importante a salientar é que apesar da queda o ANTI-SISTEMA continua dentro do SISTEMA, só que de forma emborcada. Isto acontece em decorrência do SISTEMA ser infinito e, portanto, nada pode existir fora dele. Assim, a criatura decaída possue as qualidades antagônicas de ambos sistemas. Esta conclusão nos leva a compreender porque cada unidade resulta composta de duas metades inversas e complementares (LEI DA DUALIDADE) pois é constituída por um equilibrado paralelismo de forças emparelhadas, mas antitéticas. Ou melhor; a unidade compõem-se de metades inversas e complementares, em contraste e em equilíbrio. Desse contraste nasce a elaboração íntima que se chama evolução.(P. Ubaldi - A Nova Civilização do Terceiro Milênio)


Continua na parte 2

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