MAROLAS ANTROPOLÓGICAS:
IDENTIDADES EM MUDANÇA NA PRAIA DO SANTINHO
 
 

APRESENTAÇÃO

Toda vez que releio este escrito várias questões são recolocadas a ponto de "estranhá-lo" constantemente. Tal fato tem dificultado - e muito - o término deste trabalho. Enfim, após quatro anos de "vai-e-vem", acho que posso apresentar algumas idéias sobre a Antropologia, sobre os processos de mudança social e sobre identidade.

De uma maneira geral, esta dissertação trata de questões relativas às "mudanças" - "o deslocar-se de um estado para outro". Tal problemática, portanto, está relacionada com o "devir", o "vir a ser" e, conseqüentemente, está vinculada à questão da identidade - dos sujeitos sociais, das sociedade, etc...

Assim, no Capítulo I, me aproximo de algumas teorias que tratam da identidade percorrendo praticamente quatro áreas de conhecimento: a Psicologia, a Psicanálise, a Antropologia e a Sociologia. O "tom" do capítulo é o da "aproximação", pois o seu objetivo é o de "capturar" alguns elementos teóricos que nos possibilitem "olhar o outro" enquanto uma totalidade.

No Capítulo II, aprofundo a discussão sobre identidade tendo como ponto de partida minha experiência com a Antropologia - a experiência do "vir a ser antropólogo". Neste capítulo, apresento uma discussão sobre algumas teorias antropológicas que me deram alguns parâmetros teóricos para a compreensão deste processo. Tais teorias, por outro lado, me possibilitaram também fazer uma reflexão sobre minha experiência de campo: tal aproximação permitiu-me desvelar os aspectos subjetivos do pesquisador - implícitos na relação sujeito-objeto - como constituintes/constituidores do conhecimento antropológico.

O tema do Capítulo III também é o da mudança. Aqui discuto algumas transformações sociais observadas em Florianópolis, e mais especificamente no Santinho (comunidade pesqueira situada ao norte da Ilha de Santa Catarina), decorrentes da implementação das políticas para o turismo desenvolvidas pelas administrações públicas. Tomo como pano de fundo, para analisar este processo, o ideário da "modernização" implícito no discurso destas políticas e as suas expectativas de inserir Florianópolis no mercado turístico internacional. A partir deste ponto de referência, descrevo algumas mudanças no cotidiano dos moradores do Santinho, bem como as formas pelas quais esta comunidade tenta assegurar alguns aspectos de sua identidade.

No Capítulo IV, aproximo meu "olhar" para um grupo de adolescentes que mora no Santinho - é um grupo que pratica o surfe. A partir dele e da trajetória de seus membros - e na medida em que são adolescentes e, portanto, estão em processo de mudança - discuto a importância das relações sociais - emergentes no grupo e no Santinho - na configuração do processo de "vir a ser".

Por fim, faço algumas considerações finais, reafirmando a necessidade de se levar em consideração os aspectos subjetivos na construção do conhecimento antropológico - considerando o encontro intersubjetivo que se estabelece no campo como uma relação a partir do qual o antropólogo pode "conhecer-se". Em seguida, faço algumas considerações sobre a importância dos rituais para a comunidade do Santinho, assinalando que estes têm a função de, de um lado, assegurar alguns valores identitários do lugar, e de outro, re-atualizá-los, possibilitando aos moradores do local internalizarem as mudanças a que estão sujeitos em função do processo de urbanização e de implementação do turismo.

Na medida em que este escrito trata do "devir", eu o entendo como algo inconcluso, pois tanto aquele que o escreve - eu - como a realidade social que tento explicitar, estão em constante processo de mudança... Isto sugere que todo o conhecimento sobre a realidade social é um conhecimento que se inscreve no terreno da efemeridade.

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I - MIRADAS TEÓRICAS

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