Adriana dos Santos Marmori Lima**
Esta indagação atualmente tem sido objeto de estudo e discussão entre os especialistas em informática educativa , produtores de softwares, professores e alunos, afinal trata-se da implantação da informática em muitas escolas públicas que tanto almejam sair do estado de inércia e transformarem-se em centros de construção do saber via novas tecnologias da informação.
Mas uma indagação é oportuna : o computador na escola vem resolver os problemas educacionais que afligem toda uma sociedade ,tais como evasão, repetência, dificuldades de aprendizagem dos alunos, má formação dos professores e péssimas condições de trabalho no ambiente escolar ?
A introdução de "mais uma máquina" no âmbito educacional não vem sanar todos os problemas citados acima, haja vista que a origem dos mesmos é complexa e envolve fatores sócio-políticos e econômicos .
Além de uma política social que valoriza e incentiva o trabalho do professor necessário se faz reformularmos conceitualmente o papel do educador nessa nova era, através de estudos constantes e discussões que venham contribuir com nossa formação e consequentemetne impulsionar ações que façam da escola um espaço de construção do saber científico-cultural.
Precisamos utilizar este momento de modernização física das escolas ,ou seja, a introdução dos computadores como pretexto para repensarmos todo o processo educacional : Que homem a escola quer formar ? para qual sociedade? E que postura metodológica o educador pode construir para a formação desse novo indivíduo?
É sabido que a sociedade precisa ter como meta a formação de homens críticos, atuantes, capazes de transformar sua realidade em busca de uma melhor qualidade de vida: com saúde e moradia para todos, melhoramento nas relações interpessoais e um convívio equilibrado com a natureza , sendo assim cabe aqui discutirmos e projetarmos como a escola poderá contribuir para a formação desses indivíduos com a utilização de instrumentos tecnológicos .
Utilizar o computador é um dos passos para a concretização das metas educacionais citadas acima pois encontramos neste recurso a possibilidade de armazenar dados, intermediar a comunicação em tempo real entre pessoas do universo, simular situações reais, pesquisar informações nas mais diferentes ciências e utilizar softwares educativos . Este último, nosso principal objeto de estudo, por ser alvo de críticas de especialistas em informática educativa e meio de comercialização por parte de produtores.
Embora alguns softwares contribuam de forma significativa com as propostas pedagógicas progressistas por possuirem características tais como : interatividade, comunicabilidade, abertura para divulgação da criatividade dos alunos , estimula a pesquisa e possibilita a construção e socialização do saber coletivo; não significa que o uso e aplicação destes venha transformar o ensino. É preciso que os educadores conheçam uma infinidade de softwares, analise-os criticamente e utilize-os em consonância com seu projeto pedagógico e com as necessidades de sua classe .
A utilização competente de softwares poderá contribuir para uma educação igualitária e emancipadora ou servir de instrumento alienante se estes : não estiverem inseridos num projeto pedagógico sério e com objetivos claros , como aponta Sônia Sete (UFPE) : "o software por si não educa, o professor como mediador é necessário" e ainda se estes apenas contemplarem conteúdos livrescos camuflados por efeitos especiais próprios dos acessórios eletrônicos.
Segundo análise detalhada de alguns softwares apresentados no Encontro Regional/Nordeste de multiplicadores dos NTE’s ( Núcleo de Tecnologia Educacional , MEC e ASSRSPRO ( Associação dos produtores de Softwares ) realizado em Gravatá –PE, das empresas presentes Expoente, Positivo, ARS Consult , Byte and Brothers, TREND Educandus, MHW, Globo multimídia e Visual Class de 13 a 17/10/98 observamos que:
Os softwares possuem aspectos pedagógicos e técnicos que devem ser levados em consideração no momento de escolha para isso é preciso conhecê-lo segundo suas características:
Tipo de softwares |
Aspectos pedagógicos |
Aspectos técnicos |
AUTORIA |
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REFERÊNCIA |
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SIMULAÇÃO |
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APOIO CURRICULAR |
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Análise realizada com base nos critérios de análise de softwares elaborados durante o III encontro Nacional do PROINFO ( Pirenópolis- GO)promovido pelo MEC.
Portanto , softwares fechados são livros didáticos eletrônicos que passam um conhecimento cristalizado e cobram através de questionários respostas sempre corretas colocando o aprendiz numa verdadeira "Educação bancária"( P Freire) onde o erro deve ser punido com tiros, errado, risos de irônia de Extra Terrestres, e frases do tipo Tente novamente, ou seja a violência impõe ao aprendiz o sentimento de inutilidade , mostra o fracasso como natural e próprio daqueles que erram e que a única saída para não ser punido é repetir até acertar.
Introduzir tais softwares em nossas aulas como "produto moderno" , por ser um CD-ROM caríssimo a ser instalado em um MICROCOMPUTADOR, é antes de mais nada
uma prática questionável, trata-se do uso e aplicação de uma ferramenta de alienação modernizada, ou melhor, é estarmos contribuindo para uma modernização conservadora (P.Cysneiros) do processo educativo, onde evoluem-se os instrumentos e conserva-se a estrutura de educação bancária( P.Freire) onde o professor transmite e o aluno acumula informações de forma acrítica.
Infelizmente aproveitando a falta de oportunidade dos professores em estudarem sobre softwares, algumas empresas posicionam-se da seguinte forma : "os professores não estão preparados para utilizarem softwares abertos, preferem os fechados" postura que expressa claramente o quanto produtores de softwares fechados dependem da alienação e da postura pedagógica tradicional para investirem em softwares deste tipo e venderem mais , mantendo assim o status quo ( Bourdie e Passeron).
A preocupação com a formação dos educadores é evidente , uma vez que a prática do educador que media a construção do saber dos alunos e possibilita-os ver o mundo, ler nas entrelinhas a realidade conforme aponta Victor Theodoro :
"Cuidado com software para olhar. O professor deve construir situações lógicas que possibilite o ver". Daí a importância do professor na escola atual, comprometer-se politicamente com o ensino e preparar situações que desencadeiem o saber com o uso das novas tecnologia, escolher junto com os alunos os softwares que lhes acrescentarão algo em sua formação, buscar a interação homem máquina no sentido do primeiro dominar o segundo e utilizá-lo a seu benefício.
A análise de software nos possibilita afirmar que os professores precisam resgatar a autoconfiança no seu poder de educar, de formar cidadãos , de planejar ações significativas para o desenrolar da aprendizagem do aluno, de aprender a aprender a utilizar a multiplicidade de instrumentos que poderão enriquecer o seu trabalho. Precisa descobrir que para além da recompensa financeira atualmente "em baixa" do seu trabalho, existe em suas mãos o compromisso e a responsabilidade de educar numa escola que "deve ser capaz de construir um projeto político-pedagógico de qualidade, orientado pelos princípios da justiça social" (afirmativa retirada do texto final produzido no III encontro nacional do Proinfo-Programa de Informática Educativa/MEC realizado em Pirenópolis-GO) .
A confiança em si e a autonomia para decidir como trabalhar a educação utilizando ou não softwares educativos , passa por um grande desafio que é a inversão não parcial mas total de paradigmas educacionais . Esta necessidade de transformação ,hoje está presente em muitos discursos de profissionais envolvidos na área, numa tentativa de contribuir para a mudança de postura do educador, ou seja, de transmissor de conhecimentos para desafiador de aprendizagem:
"Conduzir o aluno para a evolução do conhecimento é diferente de transmitir conhecimentos",
"Nosso software cria situações de desafios para os alunos construirem seus conhecimentos",
"Estamos numa tentativa da construção de um trabalho construtivista"
"O importante é o processo de construção e não o produto"
"Os softwares de autoria são abertos e permitem que tanto professores quanto alunos contruam seus conhecimentos"
Se até mesmo os técnicos em informática, os não-pedagogos, seja por modismo ou jogada de marketing utilizam tal discurso. Por que os maiores interessados Professores e alunos ainda não acordaram para esta nova realidade ?
Os discursos progressistas precisam ser transferidos o mais rápido possível para as salas de aula em forma de ações , entendendo aqui que entre teoria e prática há sempre uma indissolubilidade necessária para a vida do processo educativo.
Apesar de muitos discursos não se concretizarem no âmbito educacional algumas mudanças substanciais podem ser observadas tanto nos softwares produzidos a partir dessas reflexões quanto a partir de observações presentes no dia-a dia da escola .
CONCLUSÃO
A possibilidade da melhoria da educação com implantação da informática nas escolas e consequentemente a utilização de softwares, depende muito mais da postura política do educador em escolher produtos não alienantes e que venham subsidiar seu trabalho de classe em direção a uma prática construtivisra, do que a inserção acrítica de softwares no ambiente escolar. O primeiro passo para a mudança da educação com certeza está sendo lançado a partir de eventos que promovam a reflexão e consequentemente uma transformação da ação como os organizados pelo PROINFO/MEC.
Fontes de consultas:
Parâmetros Curriculares Nacionais
Documento final do III Congresso Nacional de Informática e Educação: Uso e aplicações de softwares
Documento final do Encontro Regional/Nordeste : análise de softwares para a educação
Palestra ministrada por Victor Theodoro no segundo evento citado