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ou Yuzo Nakamura
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Belém - Pará - Brasil

Os condutores de que o mundo precisa raramente aparecem. Surgem como estrelinhas faiscantes, mas em geral ficam anônimos, quando não persegidos, anulados, esmagados pela mediocridade dominante.
Aluguns desses raros seres nem sequer saem da humildade em que nasceram.
O mundo não os entende. E muito menos lhes atende.
O mundo prefere continuar seu viver sofrido, entre choques de doutrinas, nacionalismos adversários, facciosismos conflitantes, impérios que crescem esmagando e fazendo injustiça, instalando a exploração, despertando ódios, derramando sangue... E tudo em proveito de mentirosas e efêmeras hegemonias.
Os gênios que poderiam conduzir o mundo à Paz continuam estrelinhas anônimas, ignoradas, isoladas, inacessíveis.
São estrelinhas num rasgo de céu em noite tempestuosa pejada de negros nimbos da violência e da ignorância.
Quando teremos nós, os homens, um céu todo estrelado?
(de Hermógenes)

* * *
Não há sabedoria maior do que a convicção de que ainda não sabemos o suficiente e o certo.
Não há maior humildade do que negar-nos a nós mesmos os méritos e prêmios das chamadas boas ações, reconhecendo que o verdadeiro obreiro e merexcedor é Aquele que nos utiliza como instrumento de seu sábio agir.
Não há maior amor do que aquele que devemos devotar ao Supremo, mesmo quando nos encontramos diante de um de seus multifários disferces menos amáveis.
Não há maior mal do que viver para valorizar o que é apenas miragem, sombra, efêmero - nosso eu.
Não há maior dávida a pedir a Deus do que Ele conceder desvelar-se diante de nós.
Não há distância mais funesta do que a do eu em relação ao Eu.
Não há maior ignorância do que supor que cada um de nós é um ser à parte, distanciado, diferente a seu vizinho, seu filho, seu adversário.
Não há maior paz do que aquela que alcançamos quando, com sabedoria, abandonamos a ansiosa busca da paz.
Não há luz maior do que aquela que não conseguimos ver, embora onipresente.
Não há solidão que nos pertube tanto quanto a que sentimos em plena multidão.
(de Hermógenes)

* * *
Tenho pena de ti, pobre homem abastado. Tua riqueza, teus negócios, tua empresa não te deixam lazer; não te deixam degustar o contato fresco da aragem de primavera, que a montanha nos manda.
Tenho pena de ti, frágil homem de poder. Eu vejo que não te sobra tempo para ficar olhando as ondas franjadas de branco alastrando-se na areia, alisando-a, embebendo-a.
Tenho pena de ti em teu maquinal viver.
Perdeste a sensibilidade. Não podes achar lindeza na gargalhada da minininha brincando com o seu cão.
Larga um pouco teus compromissos e vem apenas ver um simples pássaro, silhueta serena a cortar o vermelhão do acaso.
Esquece teus lucros. Só um pouquinho.
Vem redescobrir encanto nas coisas triviais.
Repara naquelas camisas coloridas, penduradas no varal. Vê como dançam com o vento brincalhão a tangê-las.
Vomos, estafado e rico amigo, larga um pouco tua ância por mais.
Volta-te - só um pouquinho! - para este necessário ócio gostoso e sábio, e vem deslumbrar-te com as múltiplas expressões do Onipresente.
(de Hermógenes)

* * *
Nebulosas, constelações, estrelas, letreiros luminosos na imensidão que trancende dimensões e a própria imaginação...
Em vós posso ler sobre Aquele que vos acende todas as noites.
Brisa fresca, nem e tocaste ainda. Mas eu já te sinto em mim, com o ver ao longe tuas carícias na epiderme enluarada da lagoa.
Não preciso ver a aflição do peixinho que ondas cobrem. Basta-me ver o tágico mergulho elegante da gaivota que vai pegar.
Vendo apenas a palhinha no bico do pardal, sinto a tepidez do ninho e nele, a presença do amor.
Da mesma forma, para mim: a sombra afirma a luz; a fumaça, o fogo que está lá atrás da serra; o efeito proclama a causa; o finito, o Infinito; o transitório, a Eternidade...
O que escuto canta para mim a canção do Inaudível.
Nunca, Realidade, estás ausente.
O pecado e a dor existem porque não Te vemos, embora estejas onipresente naquilo que Te oculta.
Na ansiedade da procura, é-nos impossível ouvir-Te, ó Silêncio!, no tumulo sonoro que existe Te revela.
( de Hermógenes)

* * *

A LAGARTA PERLA

[ 1- O Mundo Maravilhoso | 2- A Dúvida | 3- A Loucura | 4- O Sono | 5- O Pesadêlo | 6- O Mundo Diferente | 7- A Dor | 8- A Lembrança | 9- A Voz | 10- A Luz | 11- A Lagarta Peluda | 12- A Procura da Luz ]
Yuzo Nakamura
Em: nov/94
1
O Mundo Maravilhoso

Era uma vez, um Mundo Maravilhoso, onde todos os seres vivos falavam a mesma língua. Os seres da terra, os da água, os do ar viviam em harmonia e eram amigos.
A natureza em perfeito equilíbrio, respirava a luz radiosa do sol. O céu era límpido com nuvens brancas e a brisa acariciava a folhagem verde. A primavera parecia constante, onde as flores e os insetos, enchiam os campos e as florestas.
No chão, entre as folhas secas e a relva macia, vivia uma pequena lagarta, chamada Perla. Ela sabia, que só devia comer um pouquinho, da folhagem verde das plantas, para crescer e ganhar asas para voar.

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2
A Dúvida

Perla nasceu de um ovinho, que a mãe colocou numa folha de planta que crescia no campo. No início, era tão pequena, que mau se podia enchergar. Ela ficava junto com os irmãos e todos amontoados cabiam numa pequena folha. Eles eram verdes, porque só se alimentavam de folhas verdes.
Cada dia que passava, crescia um pouquinho e após uma semana, já se separara dos outros, passeando a vontade.
Ela vivia rodeada de amigos e era feliz. Mas, um dia, pensou:
- Por que só devo comer folhas? Tem tantas coisas aqui ...
Realmente, a relva rica e variada de vegetação exuberante, parecia não ter fim.
A planta, que estava próxima, falou:
- Temos muitas folhas, portanto, um pouco para alimentar nossos amigos não custam nada. E a flor amarela exclamou:
Adoro ver borboletas no ar!

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3
A Loucura

Com o passar do tempo, a curiosidade aumentou. Será que comendo mais, me tornaria uma grande borboleta? E se comer as flores? Ficaria tão bela e colorida quanto elas?
Sonhava acordada, sendo uma grande borboleta, multicores, bailando no ar, onde todos os insetos e flores exclamariam:
- Que bela borboleta!
- Que cores maravilhosas!
Ah! ... Ela deleitava em sua imaginação...
Um dia, ela não aguentou. Subiu numa plantinha e comeu todas as folhas, apesar do grito de protesto, da vítima. Não satisfeita, devorou todas as flores e botões que restavam no pé.
Passou assim, vários dias assaltando as plantas, aquí e acolá, satisfazendo a vontade.

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4
O Sono

Após vários dias de comilança, acordou e a claridade do sol doía-lhe a vista. Estava com tremenda dor de cabeça e muita moleza no corpo.
Ao sair da toca sentiu, forte olhar, por todos os lados.
As flores cochichavam:
- Que maldosa!
- Ela está louca!
- A pobre, perdeu o juízo.
- Coitada ... A vida dela não vai ser fácil.
E os bezouros zombavam:
- Oi Perla! Quando vais ser uma borboleta?
Oh! Que linda borboleta serás!
Ela, não aguentando a chacota, gritou:
- Ah! Vão embora!
- Estou com enxaqueca!
- Vou dormir.
E Perla recolheu-se triste, pois, nenhum amigo queria falar com ela. Todos a desprezavam.

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5
O Pesadêlo

Durante a noite ela teve um pesadêlo. Sentia muito medo, o ambiente de penumbra a cercava por todos os lados. Os gritos e vozes horrendas, rasgavam o silêncio. Não entendia o que falavam, mas prescentia o perigo, por todos os lados. Tentava fugir, mas não conseguia mover-se. Parecia estar petrificada, pois gritava, mas a voz não saia. Não conseguia ver ninguém por perto, sentia-se muito só e abandonada.

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6
O Mundo Diferente

Quanto tempo passou, ela não sabia.
Quando despertou, pensou que estava novamente sonhando, aquele pesadêlo horrível. Um lugar deserto e frio. O dia parecia noite e a noite era uma escuridão só.
Sentia fome e sede mas não tinha nada para colocar na boca. O chão era, terra escura e úmida, cheirando mal.
Movimentou-se de um lado para outro, enquanto ainda tinha forças, quase tateando, mas não encontrou nada e a paisagem era a mesma.
Uma dolorosa observação surpreendeu seu pensamento, não conseguia divisar, nem perceber a diferença do tempo entre o dia e a noite. Ah!! Estou enlouquecendo!

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7
A Dor

Não dormia, nem conseguia descansar. Na sua cabeça, aparecia e desaparecia a imagem da lagarta devorando as plantas e flores indefesas. Pior ainda, a lagarta era ela! Os gritos! os choros dos seres misturavam-se com os dela na sua mente, queria fugir mas não conseguia livrar-se. A sua cabeça parecia estourar de tantos vagalumes piscando sem parar.
A dor, não era no corpo, era no pensamento, sentia-se fraca e também imensa tristeza no coração. Queria alguma coisa que à aquecesse. Alguma luz que a confortasse.

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8
A Lembrança

Lembrava do campo verde e do céu azul.
Todos cantavam alegres e passeavam com as mãos dadas. As abelhas faziam acrobacias no ar, fazendo aquele zumbido. As borboletas graciosas e leves, dançavam no ar, beijavam as flores mimosas e acanhadas.
Os pássaros levantavam vôo, batendo as asas, saudavam a aurora. Nos galhos das árvores, os rouxinóis afinavam trinos melodiosos, enchendo a natureza de rumor alegre e encantador.
Que alegria! Que calor! Que luz!
Ah! que saudade...
Pela primeira vez ela sentiu remorso de ter destruído as plantas. Pensou, de algum modo, a situação atual tem a ver com o que fizera de mal. Queria que alguém explicasse tudo isso. Como achar o caminho de volta? Como? Oh! Mãe Natureza! queria tanto...

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9
A Voz

Ficou muito tempo pensando no que fizera e pedindo ajuda.
Cansada, ela demorou a perceber, que alguém a chamava. Olhou para todos os lados e não viu nada. Mas, sentia a voz suave dizer:
- Perla!... Perla!... Acorde!...
A voz carinhosa, a envolvê-la e confortá-la, como um cobertor quente numa noite fria.
- Oh! Mamãe? És minha mãezinha?
- Sou mãe de todas as criaturas perdidas como você.
Por que fiquei tanto tempo só e abandonada nesta escuridão?
Oh! Perla. Você nunca esteve só.
- Sempre estive presente ao seu lado, mas você não me escutava. Quanto ao ambiente frio e escuro, foi você mesma quem apagou a fonte de luz, quando violou a Lei da Natureza, sendo egoísta, vaidosa e má.
- Ao sentir a culpa, recuperou um pouco da luz que perdera.
-Agora, pense o que pode fazer, para reconstruir a Natureza. Mas, pense com firmeza e com todo o coração.

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10
A Luz

Pensou nas plantas e nas flores que destruíra. Queria, tanto, ser boa e amiga para recompensar a maldade que fizera. Queria voltar a ser simples para contribuir de algum modo na formação da beleza do campo.
A claridade começou a aumentar no ambiente, iluminando o céu, como num alvorecer e sentiu mais forte a presença de sua mãe. Viu a luz intensa, que a ofuscava, sentia o calor envolvê-la, anestesiando todo o seu corpo.
-Durma...
-Durma e descanse agora...
- Você vai passar pelas dificuldades mas não esqueça, o seu desejo de melhorar sempre. Precisará provar que não será mais egoísta, nem vaidosa e nem má.

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11
A Lagarta Peluda

Quando ela acordou, novamente entre as folhas verdes, sentiu-se tão feliz e agradecida. Recebeu, maravilhada, os raios da manhã que penetravam entre a folhagem cheia de orvalhos.
As lagartas maiores não eram bonitas, mas eram carinhosas e pacientes. Ensinou-a todas as coisas que precisava saber.
Os amigos gostavam muito dela, por ser alegre, bem humorada e prestativa. Alguns chamavam-na de feia ou peluda, mas ela não ligava para essas bobagens. A única coisa que ela tinha pavor, era a escuridão. Não suportava a noite escura, apesar de ter hábito noturno.

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12
A Procura da Luz

Quando finalmente ganhou asas para voar, sempre a noite, muitos insetos e plantas achavam-na horrorosa. Muitos bichos como: sapos, corujas e morcegos, caçavam-na para se alimentarem. Mas apesar de todas as dificuldades ela não esmorecia. Não se importava ser mariposa, feia, peluda e de cor marrom-cinzenta que só sai à noite. Importava sim, um dia, ser uma linda borboleta, cheia de graça e felicidade. Bailando com as flores sob um sol generoso que a iluminava e aquecia todo o campo.
Quantas vidas precisasse, suportaria, para alcançar a luz. Um dia, serei uma linda borboleta.
Por isso, quando encontrar uma mariposa rondando a luz das lâmpadas, não a machuque. Pode ser a Perla, desejando alcançar a luz tão sonhada. Torça para que ela se torne, em breve, uma borboleta.
E você? Quando vai ser uma borboleta?

Yuzo Nakamura
Em: nov/94
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