Estabelecimento do Domínio Espanhol

    Em Lisboa, era visto que os serviços das Índias Orientais já davam bastante empregos e o Brasil com a sua pobre e hostil população não atraia para os portugueses o que as regiões asiáticas ofereciam, por este motivo e que poucos estabelecimentos nesta época foram criados. Somente após a descoberta de prata pêlos espanhóis no Rio da Prata, foi que Portugal em 1530 passou a dar atenção para a exploração do interior, não querendo o rei deslocar as suas forças da metrópole de suas atividades no oriente, para a nova tarefa de exploração, distribuiu concessões no modelo em uso nos Açores, deu a empresários particulares a impudência de ocupar e colonizar parte da costa brasileira, todavia o sistema não deu o resultado que era esperado, assim ao governo não restou outra saída, senão de nomear um governador geral e confiar nele as rédeas da administração brasileira. Em 1549 o monarca investiu para o cargo Tomé de Souza, homem de rara habilidade, que conseguiu tirar bons proveitos junto a donatários e colonos, em vista disto acabou fundando na Bahia de Todos os Santos a cidade da Bahia, que veio a se tornar a sede do governo do bispado brasileiro e do mais alto tribunal de justiça e o empório central da primeira capitania régia e o principal porto do Brasil.

             Na Holanda por esta época todos sabiam que para conquistar essa capital tão bem defendida por fortalezas bem guarnecidas, só seria possível efetuar com uma poderosa força de combate, por este motivo em 1623 a Companhia das Índias Ocidentais equipou uma frota de vinte e três navios sob o comando do Almirante Jacob Willekens e do Vice Almirante Pieter Pieterszoon Hein e no comando geral da tropa de desembarque foi dado a Jan Van Dorth destinado ao posto de governador da conquista. Em 8 de maio de 1624 a esquadra holandesa deu entrada na barra da cidade da Bahia, porém o Governador Diogo de Mendonça Furtado como já estava avisado a respeito da expedição, tratara de melhorar as fortalezas de Santo Agostinho e de Itapagipe para melhor proteger a cidade; convocou gente do recôncavo e vizinhanças para se juntarem aos integrantes da tropa, sob o comando do Capitão Antônio de Mendonça para a resistência da cidade. Com grande superioridade numérica e inegável capacidade militar e exato conhecimento do país os holandeses atacaram no dia seguinte, após breve resistência, os invasores anularam a oposição encontrada, com exceção do Governador Diogo de Mendonça, que havia ficado com a sua família na cidade,defendeu-a durante muito tempo em seu palácio, não obstante foi preso com os poucos que com ele estavam e remetido para a Holanda.

    Os moradores que tinham fugido da cidade e se escondidos em distritos vizinhos, logo após passaram a se reunir nas aldeias indígenas no Espírito Santo, afim de organizarem uma reação contra os holandeses, inicialmente nomearam um substituto do governador preso e para ocupar o posto, foi nomeado o Governador de Pernambuco Matias de Albuquerque, e para capitão-mor interino Antão de Mesquita e logo a seguir substituído pelo Bispo Dom Marcos Teixeira, passando de seu caracter episcopal para o militar que logo começou a organizar a resistência mediante criação de companhia de emboscada e transferindo o acampamento do Espírito Santo para o Rio Vermelho, e após três meses de ocupação dos holandeses, uma companhia de emboscada encontrou-se com o Governador Holandês Coronel Van Dorth a cerca de uma légua da Porta do Carmo, quando o mesmo voltava de uma inspeção, na luta que se seguiu Francisco de Padilha veio a matar o Coronel Van Dorth, que foi substituído por Albert Schouten. A corte imediatamente decidiu levar a efeito um contra ataque aos holandeses estabelecidos na Bahia, afim de evitar que os mesmos formassem uma base de operação contra o comércio colonial. Em Olinda, Matias de Albuquerque como novo governador não partiu de imediato para a Bahia, organizou alguns socorros, que sob o comando do capitão-mor Francisco Nunes Marinho que chegara ao arraial levantado pelo Bispo Dom Marcos Teixeira, que recebeu auxilio que chegara de Portugal sob o comando do brasileiro Dom Francisco de Moura, nomeado capitão-mor do recôncavo, para o cerco da cidade da Bahia onde ainda se mantinham entrincheirados os invasores holandeses.

   

              Não obstante numa das escaramuças morreu o Comandante Albert Schouten, e nesta época chegava da Holanda um pequeno reforço para os sitiado, porém foram insuficientes para conter a chamada Jornada dos Vassalos, que foi organizada pelo próprio Rei Felipe II e seu principal ministro, o Conde Duque de Olivares, que contou com o auxilio de particulares e inúmeros fidalgos e de setenta navios sob o comando espanhol de Dom João Fajardo de Guevara e português de Dom Francisco de Almeida; Dom Manuel de Meneses era o General de Terra português e além das tropas dos países Ibéricos vinha um terço de Nápoles ligado a coroa espanhola sob o comando do Marques de Torrecuso e integrado pelo Sargento-Mor Conde de Bagnuoli que mais tarde se tornaria o comandante da resistência contra o invasor holandês no Brasil.

O comando geral das forças de terra e mar, fora confiada a Dom Fadrique de Toledo Osário,  marquês de Vilanueva de Valdueza, em 22 de Março de 1625 chegava a poderosa esquadra a capitania da Bahia de Todos os Santos, no encontro entre Dom Francisco de Moura e Dom Fadrique acertaram os detalhes para o desembarque de parte das tropas para reforçar as posições já existente, e atacar as posições holandesas na cidade e aos navios holandeses atracados no porto. Devido a ação desenvolvida, os holandeses se estabelecerem com as suas baterias no Terreiro de Jesus, Ernest Kijf que substituíra Willen Schouten no comando batavo, que resistiu até quando pode, em 30 de Abril Kijf propôs a sua rendição. Quatro semanas após a rendição chegava a Cidade da Bahia reforços holandeses compostos de trinta e quatro naus, sob o comando do Mestre de Edan Bondewijin Hendrikszoon para arrebatar a cidade recém conquistada, tendo em vista a situação desfavorável por ele encontrada, Bondewijin não se posicionou para a batalha contra os navios de Dom Fadrique, prosseguiu seu rumo para a baia da Tradição na Paraíba, onde ali realizou o desembarque de suas tropas, porém a mando do Governador Matias de Albuquerque foram logo desalojados. Em Agosto de 1625, Dom Fadrique deixou a Bahia de regresso a Espanha, continuando no governo o Capitão Mor Dom Francisco de Moura até ser substituído em fins de 1626 por Diogo Luiz de Oliveira.
Nem pelo forte revés sofrido, a Companhia das Índias Ocidentais não desistiria de suas pretensões na América do Sul e especialmente no Brasil, pois Pieter Heyn a partir de Março de 1627 começou assaltando embarcações atracadas no porto da Bahia e saqueando engenhos no recôncavo, foi quando veio a falecer em combate o Capitão Francisco Padilha e seguindo em suas ações Pieter Heyn continuava seus ataques e pilhagem para obtenção de recursos para empreender um novo ataque ao Brasil. Não obstante, por esta época a coroa de Madri já se preocupava com a defesa da região nordestina do Brasil, razão por que entre outras providências adotadas, era nomeado Matias de Albuquerque para o cargo de Superintendente da Guerra na capitania de Pernambuco e visitador e fortificador das capitanias do norte, com os poucos recursos que dispunha organizou a defesa e aguardou o invasor, até que em Fevereiro de 1630 chegava a Pernambuco uma grande expedição da Companhia das Índias Ocidentais composta de cinqüenta e seis navios com três mil setecentos e oitenta tripulantes e trezentos e cinqüenta soldados fortemente armados sob o comando geral de Diederik Van Waerdenburch que tinha como auxiliar no posto de comandante da frota Hendrick Corneliszoon Lonck que desembarcou suas tropas no Pau Amarelo região ao norte do porto de Recife, e avançou em direção a Olinda guiadas por um judeu de nome Antônio Dias, e em início de Março acabaram por invadir Recife, onde os invasores sofreram uma resistência heróica comandada por Antônio de Lima e seus comandados, e devido aos ataques dos holandeses os moradores de Olinda e Recife foram-se refugiar nas matas próximas a cidade.

E o governador ordenou a retirada de suas tropas para um lugar elevado onde levantou um acampamento desde logo chamado de Arraial de Bom Jesus, de onde iniciou a longa resistência contra os invasores holandeses com a ajuda de vários senhores de engenho, escravos e indígenas amigos entre os quais Antônio Felipe Camarão. Fortificados em Recife passaram os holandeses a sofrer constantes ataques das guerrilhas comandada por Matias de Albuquerque e seus comandados, e nas estradas de acesso a Recife, as companhias de emboscada interceptavam o abastecimento de viveres dos holandeses. Nesta época, de todos os lugares como Olinda, Recife, das vilas, das plantações de cana, e da capitania da Paraíba chegavam forças auxiliadoras, quando se colocaram a disposição homens como Martins Soares Moreno, Luiz Barbalho, João Fernandes Vieira e outros bem como das ilhas portuguesas do Atlântico e de Portugal e Espanha, todavia os holandeses mantinham-se consolidados no Recife.

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    Waerdenbuch reuniu alguns homens e empreendeu uma investida contra o Arraial de Bom Jesus, porém a tentativa de apoderar-se dessa posição fortificada fracassou deploravelmente, com isto os holandeses por determinado período deixaram de fustigar estas posições e passaram a se dedicar ao fortalecimento das posições já conquistadas; o primeiro forte construído tomou o seu nome em homenagem a Johan de Bryne e na Ilha de Antônio Vaz em um convento edificado pêlos portugueses, foi convertido em uma cidadela que recebeu o nome de Fort Ernestus e para assegurar a ilha eles iniciaram a construção de um segundo forte chamado de Fortaleza Frederik Hendrik ou cinco pontas em homenagem ao Príncipe de Orange, querendo a Companhia da Índias Ocidentais submeter a sua própria administração as novas terras, juntara a expedição os senhores Johan de Bryne, Philips Serooskerken e Horatio Calendrini e na impossibilidade de sustentar as posições devido aos freqüentes ataques dos inimigos, eles solicitaram a Companhia das Índias Ocidentais que fossem enviado urgentemente soldados e viveres para as suas defesas, em respostas as solicitações eles receberam ordem de aguardarem a chegada de uma nova expedição e que se mostrassem hospitaleiros e simpáticos com os habitantes de Recife e os incentivassem ao trabalho.

 

Continuação

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